terça-feira, 31 de julho de 2018

Episódio 2- Minissérie: Anjo de Aço



Ela permitia que, a cada pancada, a cada dano que o  cyborgue recebesse, não só se auto consertasse, mas ficasse mais forte.Porém, ainda estava muito limitada, pois era comandada pelos impulsos cerebrais e pelas emoções, e era fortemente afetada pela psiquê do cyborgue, inclusive, nos testes, com a indução ‘a depressão, esta tecnologia perdia totalmente seu efeito.
Ainda assim, como ele queria que sua filha fosse eterna, e conseguisse se defender sozinha de qualquer perigo e caso precisasse lutar, fosse invencível, ao menos nas especificações técnicas da época, ele adotou motores e pistões eletrohidráulicos muito mais potentes que o usual para um corpo daquele tamanho.
Ou seja, a nova Norma continuava baixinha e magra, aparentemente delicada em suas dimensões, mas tinha uma força absolutamente absurda para seu tamanho!
Por semanas o Doutor trabalhou dia e noite no aperfeiçoamento daquele corpo, muito mais caprichado do que costumava fazer com outros, era sua obcessão !
Finalmente, em plena madrugada, ele instalou o cérebro delicadamente no novo corpo, com a tecnologia de operação por nano robôs, milhares deles, a única maneira possível de interligar milhões de neurônios naturais a artificiais.
Ainda assim, estava perto de amanhecer quando ele terminou, e o coração artificial do novo corpo começou a bombear o sangue clonado  de Norma por seu cérebro, e os pulmões artificiais começaram a fazê-la respirar. Os órgãos artificiais imitavam perfeitamente as funções dos humanos, com estômago, intestino,  pâncreas, tireóide, supra renais, rins, tudo, todo o sistema digestivo, hormonal , excretor e inclusive, o capricho foi tamanho, que até aparelho reprodutor ela tinha, com útero, vagina e ovários artificiais, munidos com óvulos clonados da Norma original, comcódigo genético copiado até os mínimos detalhes.
Ossos, músculos, e pele, eram todos artificiais , feitos da liga MEPOX, altamente resistente. No caso dos ossos, estes eram cem vezes mais fortes que o açõ puro.A única desvantagem era a de que ela ficaria bem mais pesada que uma menina da mesma idade, noventa quilos.
Mas ainda assim, o corpo foi feito para ter uma agilidade e elasticidade sobre humanas.
Enfim, foi feita a inicialização do corpo e a programação da parte robótica, de modo a ser psicosensível e responder aos estímulos e ordens cerebrais.
Bastou a tecla enter no computador, e o cérebro de Norma foi reativado.
Ela abriu os olhos, ainda com uma expressão séria no rosto e o que viu foi o Doutor olhando para ela.
-Aaaahn...quem é você?
Imediatamente as lágrimas de alegria e emoção no rosto do Doutor se transformaram lágrimas de tristeza e preocupação. Seus olhos se arregalaram e seu espanto estava estampado em seu rosto:
-Você não se lembra de mim, Norminha?
-Não...quem é Norminha?
-Não se lembra de seu próprio nome?
-Eu me chamo Norminha? Mas quem é você?Como sabe meu nome, se nem eu sei?
-Eu sou seu pai !Não se lembra do acidente?
-Acidente?Não...
Em desespero,  o Doutor levou um espelho e o colocou em frente aos olhos dela.
-Quem é ela?
-É você, minha filha!
-Eu?Este corpo não é meu, não me reconheço...o que estou fazendo aqui?
O Doutor lhe mostrou numerosas fotos dela, mas ela não se reconheceu em nenhuma. Nem reconheceu suas amigas, sua falecida mãe, parentes, os cães que já tivera, nada.
-O senhor diz que sou eu nestas fotos com o senhor, com esta senhora, que sou eu com estas meninas, mas não reconheço a ninguém !O Doutor ficou preocupado...ao contrário do que ele pensara, o cérebro tinha sim ficado danificado, ela parecia ter perdido completamente a memória !
-Quem sou eu?O que sou eu?O que estou fazendo aqui?
-Você é Norma Chappman, filha do  Doutor Chappman,que sou eu, e você tem dezesseis anos !
-Não me lembro de nada disto. Nunca te vi na minha vida...

(Por Continuar)

Episódio 40- Sensibilidade de Viver:Gestação




Lune chegou toda contente em sua sala de trabalho!
Ela normalmente não ligava para se socializar, mas bastou Keiko a colocar para chefiar algumas colegas, e ela logo se encheu de orgulho e se enturmou com uma naturalidade que surpreendia até a ela !
Pediu para que a colocassem a par  do projeto e do pé em que ele estava, e logo pode soltar toda a sua ansiedade para ser o centro das atenções e para demonstrar seu conhecimento, buscando impressionar as colegas.
Daí para dar suas primeiras ordens e organizar o trabalho, as rotinas, os rituaizinhos a seu gosto, foi um pulo.
Ela era muito didática e sempre falava com um ar professoral, e deixava mesmo as colegas embasbacadas com seu conhecimento da área.
Seus métodos eram criativos e bem heterodoxos, o que causava estranheza de  dificuldades ‘as colegas, mas Lune era adepta do zero bitolação, e teve toda a paciência do mundo paraexplicar como queria que trabalhassem.
O primeiro dia foi, portanto, de aprendizado mútuo.
Ela almoçou com a equipe na cantina da Universidade, e continuou seu prazeiroso trabalho, que lhe era muito mais prazeiroso do que ficar dando aula numa sala de aulas cheia de alunos, sem brigar com professores e sem perseguições.
Lune, ao fim do dia, retornou para casa cansada sim, mas sobretudo, feliz !
Mal entrou no apartamento e já foi abraçando e beijando Takeo, que tinha acabado de chegar e estava já esquentando os kombinis.
-É, pelo visto, querida, você adorou trabalhar lá !
-Adorei mesmo, querido, foi maravilhoso, uh, me sinto realizada, meu emprego dos sonhos !Gente bacana, amiga, séria,nada de aulas, muita pesquisa, muita organização a fazer, perfeito, simplesmente, perfeito !
-Que bom, fico feliz por você, meu anjo !
-E você, como foi o seu dia?
-Uh, nossa , que milagre ! É a primeira vez desde que nos casamos que você me pergunta isto !
-Aproveite que estou interessada !
Respondeu Lune , piscando um olho para o marido.
-Mas que convite irrecusável ! Então, hoje seu pai foi exigente como sempre, ele é muito cobrador, sabe?Tive de refazer várias páginas ! E hoje entrou uma colega nova...
-Ei, ei, espere aí...UMA colega nova?
-Sim, não são só homens que trabalham lá...
-UMA colega nova...e é bonita?
O olhar de Lune já mostrava seus ciúmes e mostrava que se ele respondesse que era bonita, apanharia!
-É...é simpática...
-Tem peitos grandes?É gorda ou é maga /Tem traseiro grande?
-Imagine, amor, eu não fico reparando nestas coisas...
Lune avançou no marido e o agarrou pelo colarinho:
-Não minta,Takeo-kun !Você pensa que não te conheço?Acha que eu nasci ontem?Voc~e já me traiu muito no passado que eu sei !Desembucha !
-Estou falando a verdade, amor...
-Confessa de uma vez !
O olhar dela agora era colérico e ela arreganhou os dentes feito uma loba furiosa!
-Não tenho nada a confessar, não fico reparando nas colegas, tenho muito trabalho lá a fazer e elas também !
-Elas? Quais elas?
-Eu já disse, não tenho só colegas homens lá...a equipe é de dez pessoas, mais seu pai, são sete homens e três mulheres! Uma é a secretária e outras duas são desenhistas! Seu pai lidera uma das sub equipes, e eu a outra, tem duas na sub equipe do seu pai, e entrou agora uma na minha !
-E você foi logo contratando, não é?
-Não, só seu pai pode contratar novos empregados.
-Você ainda não me respondeu: ela é bonita?Com se chama?É magra, tem peitos e traseiro grandes?
-Ah, meu santo, eu mereço...bem, ela é apenas simpática e tem o biótipo físico típico japonês, uma mulher absolutamente comum, como tantas outras por aí...
-Huuum, não me convenceu...me passa seu celular! Deixa eu  ver se tem fotos dela ou mensagens dela...
-Nossa, quanto ciúmes !Isto é invasão de privacidade !
-Quem não tem crime cometido, nada tem a temer...e não esconde nada !
-Hja paciência...toma, pode olhar !
Lune olhou e vasculhou o celular inteiro,mas não achou nada.
-Estou de olho em você, senhor marido ! Lembre-se de que você está casado e sua esposa está grávida e logo logo terás uma filha !
-Nunca me esqueço disto...
Disse Takeo, retomando seu celular, com mau humor.
Ele deixou a mesa em silêncio, magoado.
Mais tarde, quando o casal já estava na cama para dormir:
-Amor, fala a verdade, você não teve nada com ela mesmo?Não beijou ela, não passou a mão nela, não a levou para um motel?Confessa, vai...
-Você não confia em mim !
-Claro que confio...
-Se confiasse, não ficava desconfiada deste jeito, não ficaria duvidando de mim, você está cometendo uma grande injustiça!
-Apenas preciso ter certeza, me sinto insegura...
-Por favor não insista, me deixa dormir !Estou magoado com você !Eu não suporto ser chamado de mentiroso, assim, na cara dura !Você não entende que me machuca?
-Takeo-kun, por favor...
-Se você continuar insistindo , vou dormir no sofá da sala e te deixo sozinha na cama aqui !
Takeo deu as costas para Lune, gesto que a machucou profundamente. Ela pegou no ombro dele e puxou-o para que ele ficasse de frente para ela  e a olhasse nos olhos.
-Nunca me dê as costas !Não quero me sentir rejeitada por você !
Só então ela reparou que ele estava com os olhos marejados de lágrimas.
Aquilo finalmente a convenceu de que ele falava a verdade.
Isto e o olhar colérico dele para ela também.
-Takeo-kun...desculpe...por favor me perdoa...eu o pressionei demais, abusei de você, não confiei em você, te machuquei...
Agora eram os olhos de Lune que estavam rasos.
-Não fica assim não, meu amor...eu também fui muito grosso com você e te machuquei...
-Ai, Takeo...kun...
Os dois se abraçaram forte e choraram copiosamente um no ombro do outro.
No fim, acabaram dormindo abraçadinhos.

(Por Continuar)

Episódio 302-Admirer Voyages !



 A reação ao acontecido gerou reações muito diferentes em Dina e em Sasha:
Dina estava claramente traumatizada, amparada por Amber, chorando convulsamente.Já Sasha estava calada, mas no fundo, satisfeita por o caso de Terry Jr. ter tido o desfecho que ela sempre quis.Para ela, era como se as crianças abusadas por Júnior tivessem sido vingadas e a justiça tivesse sido feita.
Já Dina visa a coisa pela ótica mais maternal, de enxergar Júnior como uma criança que se desviou para um mau caminho, mas que poderia ter sido corrigida, tratada. E ela se sentia profundamente culpada por ter dado a ordem de execução, ela não queria ter  de ordenar a morte de ninguém, e ela mesma jamais teria coragem de apertar o gatilho , por mais criminoso que fosse o garoto, por que, ao ver dela, era só uma criança...
Dina quis passar o comando direto para Amber, mas sua Imediata não estava também em condições psicológicas para comandar nada, então ela passou o comando direto para Wendy, a terceira oficial mais graduada da nave, e foi para seu alojamento, onde se deitou sozinha em sua cama e foi dormir e descansar.
Foi então que Dina teve um sonho daqueles:
Sonhou que Terry Jr. chamava por ela e ela o abraçou enquanto ele chorava, e ela chorava também.
Repentinamente, seu uniforme desapareceu, e ela estava nua em pêlo na frente dele, e ele estava visivelmente excitado sexualmente, e a visão dele assim a excitou também, embora ela se recusasse a aceitar que tinha desejo sexual por ele.
Súbitamente,as mãos dele desceram para as nádegas dela, e o rosto dele se aninhou entre seus seios, e ela tentou se desvencilhar, mas não conseguia.
Oras, ela pensava, como, se ele era apenas um menino e ela como adulta deveria ser muscularmente mais forte do que ele?
O garoto parecia ter uma força sobre humana e a empurrou e ela caiu de costas numa cama, de ventre para cima e ele agilmente saltou para cima dela, e ela começou a gritar;
-Não !Nãaaao !Pára ! Pára ! Nãaaaaaaao !
Mas suas contorçoes e esperneamentos e gritos de nada adiantaram e o garoto implacável  abriu suas pernas , que resistiam com tanta força que Dina sentiu os ligamentos das pernas se romperem, numa dor insuportável, e então, logo depois, num vai e vem frenético, sentiu ele inteiro dentro dela coitando-a com histeria, e gargalhando, e ela gritando de terror e desespero, e ao mesmo tempo se culpando por sentir prazer sexual naquele estupro medonho,e, para sua agonia, ele continuava e gontinuava, até ela sentir a invasão de um líquido quente e espesso em seu útero, grudando dentro dela como cola-e ele só gargalhando e depois a beijou na boca calando seus gritos e mordendo sua língua, mais parecia um animal predador  devorando-a !
Ela continuava esperneando e se debatendo em exaspero, até que ele saiu de dentro dela e lhe disse:
-Agora você está grávida de mim !Eu vou renascer de dentro de você !Ahahahahahaha!
-Nãaaaaaaaao !Isto nãaaaaaaaaaaao !
Ela respondeu, envergonhada, enquanto ele ainda nu, se desvencilhava dela e lhe dava as costas e se afastava contra um fundo escuro, e depois ouviu-se tiros de laser, e todo o ambiente ficou tomado de sangue queimado.
Ela ficou ajoelhada na cama, e viu o sangue dele nas mãos dela, e nos braços, nos seios, no seu sexo, nas pernas, no umbigo, costelas, ela estava coberta de sangue dele !
-Nãaaaaao !Isto não pode estar aconteceeeeendoooo !
Ela gritou, em desespero, e então acordou.
Ela estava lívida e tremia da cabeça aos pés, com o rosto rubro de vergonha.Aquilo parecia tão real !
Mas nunca tinha acontecido na realidade, ela nunca teve contato com ele, muito menos sexual e a nível consciente, não sentia o menor desejo por ele.
Então por que um sonho tão constrangedor e desesperado?
Foi então que começou a se sentir estranha, um desconforto abdominal esquisito, um pouco de tontura e náuseas, e seus olhos lacrimejavam sem parar.
Ela usou o comunicador de seu uniforme e pediu para Stephanie avisar a Dra. Nádia ir busca-la com enfermeira em seus aposentos.
Não demorou e logo a Oficial Médica Chefe da nave chegou lá, com duas enfermeiras r  a porta do quarto da Capitã foi aberta.
-O que foi, Capitã/Não está se sentindo bem?
-Doutora, eu...eu estou estranha...acho...acho que estou grávida !
-Grávida?Grávida de quem, se aqui na nave só tem mulheres?Até onde eu saiba, não temos nenhuma hermafrodita na nave...
-Do menino que matei hoje...o Terry Jr !
-A senhora transou com ele, Capitã?
-Não...
-Então?Como?
-Podemos conversar um pouquinho a sós antes de irmos para a enfermaria?
-Claro !Saiam um pouco, meninas, por favor !
As enfermeiras obedeceram.
Foi quando Dina contou seu sonho.
-Bom, eu já estou desconfiada de alguma coisa, e vou te levar na enfermaria para te medicar e te examinar, mas depois que sair de lá, é melhor você se consultar com a psicóloga da nave !
-Sim, Doutora...
Nádia ajudou Dina a se levantar e chamou as enferemeiras, que  apoiaram sua capitã até chegarem na Enfermaria, e a colocaram no leito de exames.

(Por continuar)

domingo, 29 de julho de 2018

Episódio 1-Minissérie: Anjo de Aço !


Anjo de Aço
Só mais uma vez !


Episódio 1

Naquele amanhecer, a escuridão da noite  aos poucos cedia espaço para a penumbra, limbo misterioso ente a noite que ora findava, e o dia a iniciar sua aurora.
Ali era onde a Ciência e a Tecnologia  se encontravam, ali era onde Morte e Vida  se reuniam em uma só estranha entidade,ali era o laboratório de construção de cyborgues, onde cérebros humanos eram unidos a corpos robóticos e órgãos artificiais que imitavam as funções dos naturais.
Aquilo era a vida do Doutor, seu maior projeto de sua vida, que ele realizava secretamente, em suas horas vagas, quando não trabalhava na Indústria  de Robótica , mais conhecida como A Indústria.
Ali era  o ano 2168,e robôs  de todo tipo proliferavam na Sociedade.
No entanto, apesar de expoente ao mesmo tempo da Medicina e da Robôtica,  o Doutor tinha uma filha, sua única filha, de quatorze anos de idade,a quem criava sozinho como podia, pois sua esposa morrera quando a menina tinha apenas sete anos de idade.Até então, a morte da esposa nunca ficara esclarecida, nem mesmo a filha sabia, e o Doutor mantinha absoluto segredo sobre ela.
Norma era o nome da garota.Ela era uma menina alegre, cheia de vida, adorada pelo pai, que tudo fazia por ela, sua prioridade absoluta, a qual, nem mesmo sua paixão pela robótica sobreescrevia.
O Doutor gostava de criar cyborgues, por que não acreditava nos robôs puros e não acreditava que nenhum cérebro artificial conseguiria substituir ou superar o humano.Ele sabia que experimentos com inteligência artificial e emoções artificiais tinham uma tendência, até então insolúvel, de levar os robôs a enlouquecer e escaparem de controle, já cyborgues, com seus cérebros humanos inseridos em corpos robóticos, eram muito mais controláveis e confiáveis.
Por isto mesmo, era relativamente comum, embora caro, recuperar crianças e adultos que morreram, mas mantiveram seus cérebros intactos, criando novos corpos artificiais para eles , que imitavam os naturais, e, para muitos pais, aquilo era uma bênção, por que teriam eternas crianças, já que , ao serem inseridos nos corpos artificiais, os cérebros não se desenvolviam (ou muito pouco), permanecendo eternamente cérebros infantis. De alguma forma misteriosa, o contato do cérebro com o corpo artificial limitava muito a plasticidade cerebral natural, e ninguém sabia dizer o por quê até então. E esta era justamente uma das pesquisas do Doutor, tentar descobrir por que isto acontecia e como.
Ele estava desenvolvendo uma nova tecnologia de liga metaloplástica orgânica, chamada MEPOX, a qual ele tinha esperança de resolver esta questão.
Um dia , porém, apenas uma semana após Norma fazer seu aniversário de dezesseis anos, comemorando-o na casa de uma amiga, ela faleceu.
Um veículo de carga desgovernado entrou dentro da casa e atropelou Norma, esmigalhando seu  tronco, seus braços e suas pernas.A cabeça, no entanto, permanecia viva, e o Doutor foi avisado imediatamente, e ele, por sorte, morava na mesma rua, poucas casas acima da em que o acidente ocorreu.
Ele chegou logo, e viu o que sobrara de sua filha, pegou-a em seus braços, ajoelhado dentro dos escombros da casa, que tinha perdido até seu telhado, e , olhando para os céus, bradou:
-Norma !Nãaaaaaaaaaaaaaooooooooooo!
Olhos rasos de lágrimas profundas, o Doutor teve o lampejo de uma idéia.
Levou o corpo inerte de sua filha para sua casa, onde ficava seu laboratório,e lá começou a trabalhar.
Ele, que por tantos anos devolvera a vida para dezenas de crianças, adolescentes e adultos alheias, agora fazia este trabalho por sua própria filha.
Ele abriu-lhe o crânio,após constatar que o cérebro ainda estava vivo, com o sangue acumulado na cabeça, e extraiu-lhe o c´´erebro, e o colocou na máquina preservadora cerebral, que tinha uma bomba que bombeava sangue artificial, misturava com oxigênio e o filtrava.Conseguira bem a tempo, o cérebro ainda não se degradara o bastante para inviabilizar a instalação.
Restava saber em qual corpo mecânico ele iria instalar. Havia ali dezenas de corpos robôs prontos para a instalação cerebral, mas , como era a filha querida dele, ele queria algo muito especial. Este, ele queria, que permitisse ao cérebro crescer, amadurecer, tornar-se adulto, plenamente desenvolvido.
Foi quando ele se lembrou de um corpo especial. Estava sendo construído usando o corpo de sua filha como inspiração e molde, e tinhas as dimensões exatas do corpo natural dela. Era diferente porque usava a nova tecnologia MEPOX.Esta sendo feito para uma outra menina da mesma idade que falecera recenemente, mas dois dias antes do acidente de Norma, o cérebro da outra menina falecera por causa de um preservador de cérebro com defeito.
O novo corpo usava outras tecnologias novas, que ele estava experimentando como  a de Auto Regeneração Robótica, ARROX. Esta tecnologia estava sendo desenvolvida para os campeonatos de  luta livre de robôs e cyborgues, e ainda era experimental, e exclusiva do Doutor.

(Por Continuar)

Conto: Reflexões a respeito de uma breve visita a um passado Morto



Reflexões a respeito de uma breve visita a um passado morto



Tratou-se de uma breve, mas estranha experiência, a qual jamais esquecerei na vida, e à qual estou ligado para todo o sempre. Eu estava dormindo em minha cama, naquela madrugada, e um defeito no computador de orientação da minha nave a desviou da rota original. Eu fora designado, policial espacial que sou, para patrulhar a rota Antares-Andrômeda, e , por um motivo que ainda desconheço, estava agora chegando  ao cemitério de naves , distante quatro horas a oeste da rota prevista .Então, o leve zumbido dos motores  da nave cessou, assim como a débil trepidação contínua que eles causavam, e foi isto o que me acordou. Quando olhei pela janela, vi o cemitério de naves espaciais já muito próximo, e então a nave parou, ficando só a escuridão e o frio do espaço.
Na verdade, a escuridão não era total: o cemitério ficava próximo a um pequeno sistema solar, com uma estrela pequenina a uma distancia segura, mas seu brilho iluminava fracamente as naves destruídas ou semi, revelando seus contornos misteriosos. Curiosamente, minha nave parou ao lado de uma nave gigantesca, um transpacial, o equivalente de hoje em dia aos navios transatlânticos de passageiros do século vinte. Seu desenho , inclusive, lembrava muito estes antigos navios. Pelo que consultei no computador, era  a “Rainha das Galáxias II “, uma nave em que seus passageiros morreram misteriosamente em seu vôo inaugural, datada de 2110, ou seja, tinha exatamente cem anos de existência. Ninguém jamais soube por que esta nave foi encontrada à deriva, com passageiros e tripulação mortos,  quase já em Andrômeda, faltando apenas quatro dias para completar sua jornada.  Apesar de algo assustado, pois os boatos diziam que  o cemitério era maldito, e que ninguém voltava de lá vivo, meu dever era investigar, e assim, vesti meu uniforme, coloquei minhas pistolas lazer na cintura, e fui até a sala do finger de atracação.
O que me aturdia era que minha nave estacou estranhamente bem em frente do ponto de atracação da grande nave, e na distância certa.
Estendi o finger, que se acoplou perfeitamente à escotilha da outra nave. O computador da minha nave acusou que a nave, embora tivesse muito pouca energia residual, ainda tinha atmosfera de oxigênio, e a gravidade era mantida a 0.95 atmosferas, e a temperatura ambiente era fria, oscilando entre 10 e 14 graus centígrados  positivos. Então, estava seguro. Acendi minha lanterna de plasma, percorri o curto corredor do finger e entrei na grande nave.
Estava tudo absolutamente escuro, e então, a luz se refletiu, assustando –me. Era um imenso espelho, em um enorme salão. Porem, minha imagem no espelho não durou muito: repentinamente foi substituída por uma imagem turva, leitosa, brilhante e vaga, difusa, mas que se consolidou em seguida.
Quando sua consolidação terminou e esta figura saiu do espelho, vi, espantado que era uma garota, por volta dos vinte anos, em um diáfano e semitransparente vestido, muito leve, e farto, em medidas, que esvoaçava  delicadamente tão logo uma gelada brisa o tocava, brisa esta que ia e vinha, não se sabe de onde.
Tratava – se de uma linda moca, magra, extremamente atraente e sensual, com corpo curvilíneo e esguio, generosas e delicadas curvas, longos cabelos louros, e gigantescos olhos de um azul profundo, e, no entanto estava pálida com cera, mas ao mesmo tempo uma aura dourada e muito brilhante a rodeava toda, e ela ensaiou um sorriso tímido. Quando tocou minhas mãos, elas estavam geladas, mas a pele era macia e sedosa.
Um fantasma pensei, só pode ser um fantasma!
Mas havia algo magnético nela, que me atraia, enchia meus olhos com sua beleza. Ela me abraçou, com risinhos, mas não falava nada. Então as luzes se acenderam.
O salão estava em estado miserável, mas podia-se ver como um dia fora sofisticado e ainda havia sinais de requinte e bom gosto por toda a parte, detalhes sobreviventes  e resistentes ao abandono.
Ela me conduziu até a uma cômoda, acima da qual, jazia , muito empoeirada, uma velha foto, daquela menina descansando a sombra de uma arvore. Estava desbotada, empoeirada e mofada, mas ainda era possível distinguir muitos detalhes.
A garota apontou para a foto, e apontou para si mesma. Depois, olhou-me  e  com um  alegre sorriso desafiador e cheio de confiança estalou os dedos, e , o que vi, deixou-me deslumbrado:
Quando dei por mim, o salão estava de volta ao velho esplendor, como se fosse novo em folha, brilhando de limpo, como um dia o fora.
Sons de violinos começaram a tocar e dançamos uma valsa, trocando olhares. Então, ela conduziu-me através do espelho, e mergulhamos em um campo florido, o qual notei, era o mesmo do quadro. Porem o ambiente era todo sépia e cinzento, desbotado, parecia morto nas cores, mas cheio de vida, e ela corria atrás das borboletas, esfuziante, com uma alegria de viver incontida, que me comoveu pela sua intensidade.
Mas a mesma alegria dela não me contagiava, pois eu estava vivendo um passado que não era o meu, um passado morto, pertencente a uma pessoa que já não fazia mais parte do mundo dos vivos, a qual estava irremediávelmente presa a seu próprio passado, capaz de levar outras pessoas para conhecer o que viveu, mas incapaz de vivenciar o passado ou mesmo o presente das pessoas vivas.
Houve por minha parte uma profunda compaixão por ela, um profundo entendimento de que isto não era provavelmente um destino somente dela, mas de todos os vivos, pois um dia todos morrem, e como cada pessoa somente ė capaz de viver sua própria vida e seu próprio passado, provavelmente ao morrer, ficam presos a sua própria historia de vida, eternamente, suspensas no ar, no tempo, por assim dizer, o tempo para quem morre para de repente, não existe mais tempo presente, apenas um passado estacionado, que se repete até o fim dos tempos, indo do nascimento à morte, repetições iguais do mesmo período histórico que a pessoa viveu, um passado, que, se enquanto estamos vivos ele ė sempre colorido, sonoro e dinâmico, pelo que presenciei, quando morto ė quase parado, sépia e cinzento, e restrito e travado no intervalo de tempo em que a pessoa viveu, os sons são ecos distantes e quase calados, como em um sonho estranho que nunca acaba, um pesadelo, uma pantomima grotesca de imitar uma vida passada já morta. E como era triste estar fadada a tal eterna existência, ou seria uma falsa existência, a existência tênue de uma não existência?
Tudo no passado dela parecia envelhecido, e mesmo vendo que ela tinha se transformado em uma menina de cinco anos, via – se no rosto dela as marcas da passagem do tempo, ela não mais brilhava, a aura dourada não mais brilhava, nem mesmo existia, ela estava murcha e ressecada.
Ela olhou para mim, com o mesmo sorriso infantil e inocente, tímido e brincalhão ao mesmo tempo, e sorri para ela.
Um gesto tão sutil resultou em um grande júbilo: ela cresceu, ficou com vinte anos novamente, abraçou - me  e beijou-me um beijo gelado , mas carinhoso, seu rosto iluminou-se em um sorriso franco, seus olhos brilharam, faiscantes, e a aura dourada dela retornou, resplandecente em todo o seu brilho. Ela parecia ter remoçado.
Conduziu-me pela mão, e atravessamos o espelho novamente. Lá estava o salão, novo em folha, brilhante. Ela me abraçou novamente e disse em meu ouvido :
-Obrigada !
Então as luzes começaram a tremular, ouviram-se rangidos tenebrosos, e ouviu-se um miado pavoroso. Uma sombra parecia estar na iminência de aparecer, e a garota respondeu com um grito de terror. Assustada, ela deu a entender que precisava abreviar minha visita, e encostou a testa dela na minha, e uma de suas mãos tocou o quadro. Quando dei por mim, lá estava a minha imagem no quadro junto à dela!
Ela me conduziu pela mão  corredores adentro, enquanto o miado apavorante parecia se aproximar, e corríamos esbaforidos. Entramos em outro salão, que parecia o mesmo em que eu já estivera, mas agora já puído e escuro, e entramos em outro espelho, e então, ela empurrou-me para fora, e sai  através do espelho do meu quarto em minha nave. Ela acenou para mim, mandou – me um beijo, e voltou espelho adentro, a imagem dela desapareceu e a minha apareceu. Antes disto houve tempo para que eu também acenasse para ela e lhe retribuísse o beijo mandado. Escutei então o finger da minha nave se recolher. Subi à ponte de comando da minha nave, e o painel de controle, antes escuro, iluminou-se e os motores religaram - se sozinhos, e a nave começou a se mover. Voltei correndo ao meu quarto e olhei pela janela, e a vi acenando por uma escotilha, acenei também, e ela sorriu, rosto iluminado. Aturdido com tudo o que vira, subi novamente a ponte de comando, enquanto a nave acelerava celeremente sozinha e deixava o cemitério de naves para trás.
Lembrei-me da minha imagem no  velho retrato, e não conseguia parar de pensar: agora faço parte do passado dela, uma parte de mim está morta e vive um mundo morto, parado na vida e no tempo. Mas pelo menos ela já tem companhia. O que será que me espera, no final de minha vida? O que esta moça misteriosa fará com esta parte do meu ser?
Terei eu este tempo todo vivido mesmo tudo isto ou quem sabe, sem me dar conta eu estivesse apenas sonhando e teria   acabado de acordar?
Não importava mais, fosse o que fosse, doravante eu não iria mais conseguir dormir...

Fim

 

Cristiano Camargo