domingo, 14 de julho de 2024

Conto: O Túnel


Aquele era O Túnel.

Tratava-se de um pequeno túnel ferroviário perdido no meio do nada.

As cercanias em volta do túnelzinho , que não tinha mais do que uns dez metros de comprimento,eram compostas de pequenas campinas de grama rala e falha, com a terra nua aparecendo aqui, ali, acolá, e  algumas árvores pequenas esparsas, mais distanciadas, sem nenhuma elevação do solo que justificasse construir um túnel ali.

No assoalho do túnel se via um trecho minúsculo de velhos trilhos, enferrujados, muito antigos,  com bitola estreita, típicos dos velhos trens a vapor do século XIX.

O curioso e enigmático, era por que aquele pequenino túnel fora construído ali?

Não havia montanhas por perto, nem rios, nem acidentes topográficos, era uma paisagem  bem plana por pelo menos cinquentos metros dali em qualquer direção.Nem nunca houve nada  que o justificasse nos últimos duzentos anos.

Ninguém sabia quem o construira, nem quando, mas havia o rumor de que teria mais de cento e cinquenta anos de existência.

A cidade mais próxima só aparecia a vários quilômetros dali, ninguém morava na região, e muito poucos transeuntes de passagem vagavam por aquelas paragens desertas esquecidas pelo tempo.

A maioria dos que por ali passavam, simplesmente ignoravam o velho túnel e sequer olhavam para ele.

Entretanto, eis que pois , um curioso que por ali passava o viu, e resolveu dar uma olhada.

Ele estava consciente da lenda que dizia que quem ali entrasse, desapareceria para sempre, nunca mais voltava.

Porém, havia décadas que ninguém desaparecia ali.

Mas, incrédulo, e com a ousadia que só os ignorantes conseguem ter, o curioso atreveu-se.

Tinha acabado de chover, e poças de água se formavam, nos intervalos dos pedaços de madeira apodrecida , entre um e outro, que serviam para manter os trilhos separados.

De cada extremidade do túnel, os trilhos não iam mais do que três metros de distância.

A primeira coisa que o temerário curioso notou era que, bom, um túnel pequeno daqueles era para dar para ver o outro lado com facilidade e seria iluminado pelo sol em quase sua extensão, permitindo ver seu interior em quase toda a sua extensão, mas, pasmo e intrigado, descobriu que, no primeiro momento sua presunção se fazia realidade, no segundo, não.

E dali por diante, idem.

Simplesmente não se conseguia ver o outro lado do túnel, cuja saída estava tomada por intenso breu,  e mesmo o início, a boca do túnel, se revelava cinzenta escura, sem revelar seus detalhes,sua textura, rugosidades, nada, o que era estranho, pois por fora o túnel parecia ser feito de pedras e tijolos á vista.

O homem  deu a volta, á certa distância, por fora do túnel para o outro lado e ficou embasbacado de que ali não tinha nada de mais, só a campinas e uma ou outra árvore, e  daquela extremidade também não dava para ver o término do túnel, mas caminhando ao largo era público e notório de que o túnel tinha início e fim, e que era pequeno, contradizendo e desafiando as leis da Física e da óptica.

Ele voltou , novamente marjeando o túnel a uma distância de uns cinco metros dele, para o outro lado.

Outro evento que lhe chamou a atenção foi um intenso e profundo, desagradavelmente forte cheiro de carniça-porém , não havia urubus nem abutres por perto, nem sobrevoando ali.

Aliás, era notório e intrigante que, no raio de mais de quintos metros dali, não havia um só passarinho no céu, nem nas poucas árvores ao derredor.

Então olhou para a poça d’ água nos trilhos, já disposto a ir embora, pois não suportava mais o cheiro de carniça dali.

Então fez uma careta, horrorizado, segundo-se um rictus de horror: todos os seus cabelos e pelos se eriçaram em um  instinto ancestral, seus olhos se arregalaram, com as pupilas dilatadas e vidradas até doer, sua boca aberta em  um ângulo doloroso, de tão inclinado,lágrimas corriam qual  cachoeiras, e um grito medonho de uma dor profunda e repentina, que lhe calava fundo, com uma voz que não era sua, imensamente profunda e lancinante soou.

Mas ninguém escutou, só ele mesmo.

Começaram os espasmos por todo o corpo, que se transformaram em dolorosas contorções  e ele caiu no chão.

Estava morto!

Porém, estranhamente a poça ainda refletia o que ele vira: seu próprio esqueleto !

Súbitamente,ele desapareceu no ar, como se nunca tivesse existido, e seu reflexo na poça também sumira.

Evaporara-se no ar qual um vapor que se dissipa no ar até desaparecer!

Enquanto esteve vivo, a memória que ficara era ter sentido o mais forte cheiro de carniça que já sentira na vida, que parecia vir de dentro do túnel- mas não se conseguia vislumbrar nada morto lá dentro, nem mesmo ossos, o túnel aparentava estar absolutamente vazio.

O que realmente o incomodara enquanto esteve vivo ali é que o cheiro lhe parecia ser o de sua própria carniça, como se ele já estivesse morto e em decomposição!

Pouco depois que ele desaparecera, um curioso Puma passava pelo local, atraído pelo cheiro intenso de carniça, que lhe aguçara sua curiosidade.

Caminhou pelos trilhos e com ele , o mesmo rictus de horror macabro ocorria agora, com ele caído no chão, se contorcendo qual epilético, e com berros muito diferentes do que qualquer felino poderia emitir, mas que desapareciam a poucos metros da boca do túnel.

Mesmo que houvesse alguém a poucos metros dali nada escutaria.

Olhos esbugalhados, mandíbula caída num ângulo impossível, duro como uma estátua, também o Puma desvaneceu e desapareceu.

Um cão que passara logo depois, a mesma coisa ocorreu.

Dias depois, a família do homem desaparecido soube que ele passara pela região do túnel e resolveram investigar seu desaparecimento.

Também os familiares, ao tentarem adentrar o túnel, faleceram e desapareceram em meio a um dolorosíssimo rictus de horror.

O caso então virou manchete em jornais e telejornais, nas redes sociais, e a polícia foi acionada, e ninguém que foi, jamais voltou.

Outros policiais subiram em um helicóptero e sobrevoaram o Túnel.

Do chão, ele era perfeitamente visível, do ar, nada.Fotografaram o local onde o túnel era para estar, e nada apareceu na foto, apenas uma campina vazia.

Investigadores no chão  também fotografaram o Túnel nos seus celulares, mas nas fotos  novamente o Túnel não aparecia.Só a campina vazia.

Olhando de cima, a bordo do helicóptero, também não se via o túnel onde ele deveria estar por mais vezes que se olhasse, e isto para todos os cinco policiais a bordo; é como se ele não existisse

Investigadores buscaram junto a Historiadores informações sobre o Túnel.

Tudo para descobrirem que, nada constava nos registros históricos, sequer constava uma malha ferroviária ali, nenhuma foto, nenhum documento, nenhuma reportagem, nenhuma menção a este túnel  ali, ou de trilhos na região, nada,nunca tinha havido trilhos nem túnel naquela paragem, historicamente, é como se O Túnel nuca tivesse existido!

O mais intrigante é que quem por ali passasse, por via terrestre, todos viam que ele de fato existia.

Não poderia ser uma ilusão de ótica enganando a centenas de pessoas que o olharam !

Um segundo helicóptero foi mandado, e desta vez a tripulação do helicóptero o viu e foi descendo devagar até ele.

Mas quando a aeronave pairava a poucos metros de altura do teto do túnel,repentinamente houve uma misteriosa falha total nos sistemas do helicóptero, que, desrespeitando todas as leis da física, parpu a turbina repentinamente,e os rotores ao memo tempo e o helicóptero caiu em cima do túnel como uma pedra.

Isto não era para acontecer, inclusive, normalmente quando a turbina falha, o helicóptero permanece com os rotores girando por inércia por algum tempo, no chamado “efeito solo”, que o permite voar ainda alguns metros em queda controlada.Mas não fora o que ocorrera, A turbina, ao invés de ir parando aos poucos como quando é desligada, parou de vez, e os rotores iden, junto e ao mesmo tempo, com ela.

O que centenas de espectadores curiosos, mantidos a dez metros de distância do Túnel viram, no entanto, foi o corpo do helicóptero se contorcer qual animal em desespero enquanto caía a uma velocidade anormalmente lenta,com um rugido tétrico qual uivo de agonia, sair da máquina parada, por segundos parada em pleno ar, e ao tocar o teto do Túnel, quase como se estivesse caindo emcâmera lenta, desaparecer como um vapor que se dissipa.

A multidão, em polvorosa, ao notar que o helicóptero caíra em cima do túnel sem qualquer dano a este, explodiu feito estouro de gado, mas não foram longe: todos se contorceram em agônico sofrimento,caíram mortos e desapareceram.

Mas as câmeras da imprensa caídas no chão registraram o pânico por alguns segundos e transmitiram as imagens  nacionalmente, antes de desaparecerem.

O caso ganhou notoriedade nacional, e satélites fotografaram o Túnel.

Mas as fotos enviadas só mostraram uma campina vazia.

Então, muito tempo depois, outro desavisado passou por ali ao anoitecer.

O que ele viu lhe arrepiou os cabelos, mas o que ele ouviu lhe gelou a espinha !

Parecia vir de dentro do Túnel:

Um barulho ensurdescedor de buzina de trem a vapor, em seguida, o que lhe pareceu ser um coro de vozes ´tetricas:

-Aaaaaaaaaaaaaah ! Aaaaaah !

Então, olhou para o céu, estranhamente vazio, sem lua ou estrelas, mas também, sem nuvens.

Subitamente, algo no céu apareceu, que lhe pareceu uma Aurora Boreal.

Porém, e ele sabia disto, aquele lugar estava muito, mas muit distante de locais onde auroras boreais aparecem.

Ela vinha em ondas rolando pelo firmamento, em tons de vermelho, ouviram-se trovões , relâmpagos e raios,só que sem chuva, e então, o mais tétrico ocorreu:

De entro do túnel, passando através do teto dele, esqueletos de todas as pessoas e animais que morreram por ali subindo ao céu, e desaparecendo ao chegar na altura da aurora vermelha!

O infeliz que pôde observar, pralalizado de terror aquele espetáculo terrífico,o qual ele não sabia, ocorria todas as noites, voltou a poder se mexer- mas para as contorções e espasmos impossivelmente intensos, seguidos de uma dor desesperadora e lancinante, ele, o que ele parecia sentir era como se seus ossos estivessem sendo arrancados de dentro de seu corpo ainda vivo,e seus olhos se arregalaram e suas pupilas se dilataram ao máximo e seus olhos explodiram, e seu berro foi trojevante e logo caiu duro no chão, já morto.

Seu esqueleto também flutuou e voou para a Aurora vermelha e desapareceu, assim como seu corpo, que foi ficando mais e mais diáfano até sumir.

No dia seguinte, o Túnel desaparecera completamente, como se nunca tivesse existido.

O túnel que não tinha sentido existir, que em tese nunca existiu, não aparecia nem em fotos nem em emissões de radar, nem em nenhuma outra forma de detecção, que existia sem nunca ter existido ou podido existir, deixara de existir.

E ninguém nunca mais se lembrou de um dia ter existido.

Mas existiu, por mais de cento e cinquenta anos. Ou não?

Tão subitamente quanto aparecera, desaparecera.

Apareceria de novo no futuro?

Ninguém o sabia, pois oficialmente, nunca existira.

Mas quem duvidou, pagou com a própria vida

   

                    FIM

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