sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Episódio 46- Sensibilidade de Viver:Interlúdio ETP



Kazuo  então repentinamente abriu a porta  e viu que as duas tinham se conciliado, abrindo um largo sorriso no rosto.
-Se arrumem para a gente almoçar fora, vocês duas,ok?
-Ai, não, esqueci de fazer o almoço !
Disse, aflita, Momiji.
-Deixa que te ajudo, mãe, afinal, a culpa foi minha !
-Pode deixar, amor, eu dou um jeito rapidinho ! Estamos com visitas e não podemos leva-la para almoçar fora logo no primeiro dia !Vem, Lune-san, vem me ajudar então!
As duas desceram as escadas correndo e para a surpresa delas, o almoço estava quase pronto !
-Eeee? Quem fez o almoço?
-Fui eu, mãe !Eu também sei cozinhar, sabiam?
Lune e Momiji olharam com cara de espanto uma para a outra depois das palavras de Ruri !
-Filha, eu não tinha nem idéia !Deixa eu ver o que você fez !
-Huum, deve estar ótimo, o cheirinho já me deu até fome !
Disse Kazuo, que acabara de chegar .
-Huum, o cheirinho da comida está gostoso !
Era Sakuya, que acabara de chegar do banho, já que demorara a se arrumar e vestir.
-Oi, Sakura-san, então, minha irmã nunca tinha cozinhado para nós antes, e realmente voc~e e meu pai, tem razão, o aroma da comida está fantástico !
Disse Lune, feliz com o progresso da irmã.
-Bom, gente, o que estão esperando então? Está tudo pronto, vamos nos sentar e almoçar !
Disse Ruri, colocando a comida na mesa.
Todos se sentaram e se serviram, e Sakuya não se fez de rogada em elogiar:
-Huuum, mas é o melhor tekyaki que já comi na minha vida !Parabéns, Ruri-san! Isto sim é que é comida, não aquela gororoba lá do Pensionato !
Todos riram-se ‘a vontade e Ruri ficou corada de vergonha, mas agradeceu:
-Muito obrigada, Sakuya-san !Fiz o que pude, dentro dos meus estritos limites, ainda estou aprendendo !
Todos na mesa fizeram questão de elogiar os esforços de Ruri, que apesar de encolhida de vergonha, ficou muito feliz !
Terminado o almoço, Momiji ficou lavando a louça, enquanto todos os outros foram para a sala conversar.
-Então, Sakuya-san, a comida na pensão é tão ruim assim?
-Olha, Ruri-san, eu estava brincando, a comida da senhora Natsume não é ruim, mas voc~e apesar de tão jovem , já cozinha melhor que ela !
-A Senhora Natsume é a dona do pensionato.
Explicou Lune.
-Mas filha, me explica uma coisa: com quem vc aprendeu a cozinhar deste jeito?Com sua mãe não foi !
Kazuo agora estava curioso.
-Com a Sasami-san!
-Com a Sasami-san?
Kazuo e Lune interpelaram, incrédulos.
-Mas a Sasami-san eu nem sabia que sabia cozinhar, nunca provei da comida dela na minha vida !
-É que você não frequentava a casa dela como eu, Lune-nee-san ! A mãe dela é excepcional cozinheira, e ensinou a Sasami direitinho!
-Mas a Sasami-san sempre me pareceu uma garota tão independente, tão feminista, sempre me pareceu que a última coisa que ela iria querer saber é de prendas domésticas !
-Pois é, pai, mas as aparências enganam, basta a gente conviver mais com as pessoas !
Respondeu Ruri.
-Quem é a Sasami-san?
-Ah, Sakuya-san, é a namorada do Ryu, o irmão do Talkeo-kun, enfim, minha futura cunhada...rsss
-Por falar nela, Lune-neee-san, a gente podia ir fazer uma visita para ela hoje a tarde, o que acha?
-Acho uma excelente idéia, irmãzinha ! Vamos sim ! Aliás, eu nunca fui na casa da Sasami-san, ela que sempre vinha aqui ou a gente se encontrava em algum lugar ! Eu nem sei o nome da mãe dela !
-A mãe dela se chama Momoka, Lune-nee-chan !
-Um nome incomum !Mas ,e aí, Sakuya-san, quer ir conosco visitar a Sasami-san?
-Vamos sim, Lune-san, quando vocês quiserem !
-Por que não aproveitam para ir agora, então?Eu tenho de trabalhar agora e a Momiji também estará ocupada o dia todo com tarefas domésticas...
-E o senhor, nada de ajudar a ela , não, paizinho?
Diante do comentário de Lune, Kazuo ficou todo sem graça:
-Você me deu uma boa idéia, eu vou ajuda-la !
As garotas riram gostosamente.
-Bom, então vamos !
-Vamos no meu carro, Lune-san?
-Acho que ele é um pouco grande demais para o trânsito daqui, Sakuya-san, mas no meu você não cabe, e o meu também só tem dois lugares, mas eu tenho uma idéia!Pai, tome as chaves do meu carro!Nós vamos pegar o seu emprestado !
Lune pegou as chaves do grande sedan Mitsubishi do pai e foram todas para a garagem, onde Lune foi dirigindo.
Sakuya, para caber, teve de recuar o banco ao máximo e reclinar bem o encosto, e Ruri foi no banco de trás.

(Por continuar)

sábado, 12 de setembro de 2015

Episódio 98- Depois daquela fria manhã de Outono



Mas também isto Kaede também reprimia dentro de si e tentava desesperadamente lutar contra isto. Ela queria muito parar de ser assim, e estava se esforçando para isto, porém não era uma batalha fácil!
-O que aconteceu, filha, por que você está assim?
Maki contou sobre a cena do filme de desenho animado e o efito psicológico que ele surtiu nela.
Kaede foi a primeira a se pronunciar:
-Filha, olha, eu sei que a sua dor com relação ‘a perda de sua mãe biológica e de sua irmã foi e é muito forte. Sempre vai ser ! Eu não poderia tomar o lugar delas em seu coração nem que eu quisesse, não teria como. Mas, apesar de eu estar presa nesta cadeira de rodas, sou eu, com todas as minhas limitações, que estou no papel de mãe adotiva agora, e a amo como se você fosse minha própria filha biológica, que aliás, nunca tive. Quero te pedir desculpas por ser tão brava e grosseira com você e quero que saiba que estou lutando muito para melhorar, para não ser mais assim com você !
-Obrigada, mamãe! Eu também a amo e a senhora tem sido uma verdadeira mãe para mim, afinal, se uma mãe não tiver um lado bravo, não é mãe de verdade, não é? Agora falta é o papai ser mais rigoroso comigo e fazer menos as minhas vontades, não é papai?
Tetsuo ficou sem graça , mas respondeu assim mesmo:
-Eu também te amo como minha legítima filha e prometo que daqui por diante serei mais rigoroso com você !
-Posso falar também, Maki-chan?
-Claro, Akane-san!
-Eu também a amo como se você fosse uma filha, e quero ser sua eterna amiga e te dar todo o carinho e ternura que você merece !
-Ebaaaa, obrigada, Akane-san !
Foi então que o rádio da policial tocou e ela foi a um canto atender. Após um breve diálogo, ela disse:
-Gente , vou ter de sair agora, me desculpem a pressa, mas preciso atender uma ocorrência urgente !
-Vou descer com você para abrir a porta !
Disse Tetsuo.
Quando eles chegaram na porta, antes de sair Akane beijou-lhe a boca de língua e depois disto disse, psicando um olho:
-Não pense que me esqueci de você não, viu?
E entrou correndo no carro de polícia, saindo em disparada, cantando pneus, com giroflex e sirene ligados.
Neste meio tempo, Kaede se dirigiu para Maki:
-Filha, você pode me levar para a sala, por favor?
-Claro, mamãe, vamos lá !
A camaleoa Maki parecia ter mudado outra vez !
Ela já não era mais tão inocente e imatura como antigamente, mas também já não era mais fria, calculista , individualista, maniqueísta , pervertida e cruel como nos tempos de sua convivência com Myumi, ela parecia ter encontrado um ponto de equilíbrio algo indeciso e instável entre as duas personalidades!
Ela levou Kaede para a cadeirinha de correr elétrica e a sentou lá e acionou o motor elétrico que desceu a cadeira suavemente pelo corrimão até o piso térreo da casa.
Enquanto isto, Maki carregou a cadeira de rodas escada abaixo e  a abriu novamente, para depois  sentá-la confortavelmente.
Só então a cuidadora de Kaede, Kemeko, chegou.
-Kemeko-san, estou cansada, me leve até o átrio e me coloque deitada no divã, quero conversar com meu amigo corvo, que já deve estar me esperando lá!
-Sim, Kaede-dono !
Ao chegarem lá, Kaede disse:
-Kemeko-san, agora me deixe aqui sozinha e vá fazer o jantar , que já estou com fome, por favor!
-Sim, senhora ! A senhora quer que eu traga alguns biscoitos para a senhora minorar sua fome até o jantar?
-Sim, pode trazer, e um copo grande de refrigerado bem gelado também !
-Sim, Kaede-dono, com licença !
Não demorou, Kemeko volto da cozinha e trouxe uma bandeja com biscoitos e o refrigerante.
-Está dispensada, querida, pode ir !
-Sim senhora !
E lá se foi Kemeko outra vez.
Não demorou, o corvo apareceu e se empoleirou no ombro direito de Kaede.

(Por continuar)

Episódio 45- Sensibilidade de Viver:Interlúdio ETP



-Eu sei que um dia no futuro eu posso até ter de enfrentar uma situação destas, porém, não dá para conjecturar com precisão sobre uma hipótese ainda não vivida, Pai !
-Sei, sei , espertinha, está preferindo escapar por uma resposta evasiva para não ter de enfrentar a questão!
Disse Kazuo, com um leve sorriso no rosto, cheio de auto confiança.
Lune enrubesceu pois sabia que o pai dela estava certo, e que ela errara subestimando a inteligência dele.
-Você certamente já deve ter ouvido falar em “Teoria da Mente”, não, filha? A capacidade das pessoas de se colocarem no lugar das outras?
-Sim, eu tenho isto, uso muito, vivo fazendo isto, pai...
-Sim, tem e faz uso, então por que não responde a questão que propus a você?
Agora Lune estava encurralada e acuada em um canto e seu sentimento de inferioridade gritava enquanto seu cérebro parecia ter ligado um turbo e acelerava a milhares de rotações por minuto!
O mais angustiante era não ter o tempo desejado e necessário para pensar com calma e detalhes, e era um dos motivos pelos quais Lune não gostava de ter longos diálogos com as pessoas que não os propostos por ela- era jogo rápido e odiava ter de improvisar, responder de qualquer jeito, sem pensar muito antes! Mas para sua salvação, uma inspiração lhe ocorreu de repente e ela decidiu usá-la:
-É muito diferente se colocar no lugar da pessoa imaginando como ela pensa e vê a situação, e se colocar no lugar da pessoa imaginando a situação dela com o nosso modo de pensar e ver as coisas. No primeiro caso a chance de errar é grande, por que a gente nunca conhece a pessoa tão bem quanto a gente pensa que conhece, pois não temos como estar dentro da mente dela. No segundo caso, a chance de errar também é grande, pois não estaremos nos sentindo como ela se sentiria  na situação dela, mas como nós nos sentiríamos.
-Se te questionei o que você faria se você tivesse uma filha como você, está claro que se trata da segunda situação, filha. Não é uma questão tipo “ o que eu faria se fosse você”...pare de enrolar e tentar desviar o assunto , Lune-san, eu sei que você é perfeitamente capaz de responder esta questão; pensa que não sei que você só usa sua Teoria da Mente quando isto lhe favorece, lhe agrada ou quando quer? E não faça esta carinha, não há por que se sentir inferiorizada em relação a seu pai, afinal eu tenho sessenta anos de idade e você tem dezoito, e ainda tem muito a aprender; não tanto em termos de conhecimentos, mas em matéria de experiências de vida ! Você precisa deixar um pouco de ser tão maquiavélica e passar a usar a Teoria da Mente quando ela te coloca em uma situação difícil e dolorosa. Filha, deixe-me te dizer uma coisa: nenhuma Teoria da Mente é realmente válida se você não se colocar no lugar dos outros para sentir a dor dos outros, a dor, a raiva, a frustração , a angústia, a tristeza e até a depressão dos outros, e todos os sentimentos negativos que as pessoas sentem em tantas situações na vida. Veja que meu objetivo não é lhe inferiorizar, te chamar de burra, nem te fazer se sentir culpada por seus atos, mesmo por que sei muito bem que você já se sente. Então deixe seu orgulho para lá, é bobagem você ficar procurando uma alternativa para tentar escapar das minhas conclusões, entenda que não estou tentando te manobrar nem manipular, nem tenho a mínima intenção de vencer o debate como você tem, minha única intenção é te ensinar, te ensinar mais sobre a vida e a compreender melhor as pessoas, estimulando-a a se colocar no lugar da dor das outras pessoas, fazer da dor do outro sua própria dor para então reavaliar como você vê as outras pessoas e seus próprios atos...
Os olhos de Lune baixaram, então se fecharam, e um rictus de exaspero contorceu seu rosto de traços delicados, e por fim, as lágrimas rolaram.
Ela simplesmente não conseguia falar e abraçou o pai, que acariciou suas costas e cabelos com carinho.
-Não precisa falar nada, filha...suas lágrimas já foram a resposta...vai lá conversar com sua mãe, vai....
Lune saiu do quarto e correu para o quarto dos pais, e abriu a porta com estardalhaço, e correu novamente de braços abertos e abraçou  Momiji, espantada com a chegada repentina.
-Desculpe, mãezinha, me perdoaaaa...
Ao ver as lágrimas da filha, as de Momiji também desabaram pesadamente e ela correspondeu ao abraço com ternura. Toda a mágoa, toda a angústia, o desespero, a impotência se dissiparam como num passe de mágica.
Foram momentos emocionantes que pareciam durar uma vida, e que ambas nunca mais se esqueceriam !
Ambos os olhares eram meigos, ternos e cheios de amor uma para a outra.
-Obrigada, filhinha, eu precisava tanto disto...muito obrigada ! Você me conhece, sabe que eu sou rígida, brava, mas tenho coração de manteiga, eu nunca deixei de te perdoar e não iria ser agora...
-E eu sou orgulhosa, convencida e grossa, e preciso aprender a perdoá-la também...me ensina, mamãe?
-O que é que nesta vida não te ensino, minha filha? Mas fica difícil, você já sabe tanto...na verdade o que você me pediu, você já sabe, só falta usar mais...

(Por continuar)