terça-feira, 5 de novembro de 2019

Episódio 12-(Minissérie) -Eternidade !


Episódio 12 : Determinação


O brilho das estrelas parecia se fundir ao brilho das águas , e por onde a vista alcançasse, só se conseguia ter uma pequena noção da imensidão do oceano.
Em meio a tão grandioso panorama, naquela noite perdida de lua cheia,uma  megaloceta, mamífero marinho parecido com uma baleia terrestre, mas um pouco mais primitiva,estava em meio ao difícil processo de parto.
Ela sofria muito, e o filhote ficara preso, e se não saísse logo, morreria afogado.Ela também não agüentaria muito mais tanto esforço, e se afogaria também.Sem falar que perdia muito sangue, e poderia chamar a atenção de muitos predadores.
O tempo passava e o seu desespero e o do filhote aumentavam.
Não muito longe,cruéis répteis marinhos , predadores muito grandes e perigosos, já farejavam a trilha de sangue, e nadavam na direção da megaloceta.
No entanto, o desejo dela de ter aquele filhote e de sobreviver era muito grande e ela não iria querer se entregar assim.
Quando olhos brilharam na escuridão, e ela percebeu que eles estavam chegando, e não eram um, dois, mas dúzias deles, seu desespero se tornou maior ainda. Ela e o filhote pareciam fadados 'a morte certa, e seriam despedaçados num turbilhão de sangue muito rapidamente.
A descarga de adrenalina no sangue dela chegou ao máximo, assim como o instinto maternal dela.
Mas não eram só aqueles olhos que a observavam.
Muito próximo estava um navio, e nele, um velho marinheiro.
Ele estava na amurada do navio quando viu o movimento na superfície da água, e se comoveu com a situação da megaloceta.
Armado de um lança arpões de repetição, ele irrompeu em meio ao bando de répteis, com seu navio, atropelando e ferindo seriamente vários deles. Parou o motor e começou a atirar.
Os predadores porém não se assustaram e continuaram a atacar, arrancando grandes pedaços de carne da gigantesca presa de dimensões próximas ao do próprio navio, que era de médio porte.
Orthuu, o velho marinheiro, continuava atirando, matando mais e mais predadores, e começou a concentrar-se nos que se aproximavam mais da sofrida cetácea.
Os répteis predadores então mudaram seu alvo e começaram a atacar o navio,e assim a megaloceta pôde descansar um pouco e prosseguir com o trabalho de parto.Apesar de assim tão ferida, estava firmemente a ter aquele filhote e faze-lo sobreviver, ainda que custasse sua própria vida.
-Luta! Luta! Os desgraçados não vão conseguir vencê-la! Bradava o ancião, enquanto vinham-lhe lembranças de soldados  estraçalhando sua mulher ainda viva, a golpes de machado de guerra, em pleno trabalho de parto, pisoteando seu filho a meio caminho de nascer,esmagando-lhe a pequena cabeça, tudo na frente dele.
-Eu não pude ter meu filho, mas você  terá o seu, nem que eu tenha de morrer para isto!
Metralhava  de arpoes os predadores, até que um deles bateu mais forte com a cabeça na amurada do barco, e o velho caiu ao mar.
A megaloceta viu, e interpôs- se heroicamente  entre o senhor de idade e os predadores.
Mas ele sabia nadar, e sua arma continuava funcionado de baixo d ´água, então ele continuou atirando.
Logo o último dos predadores estava morto, e a cetácea , ainda que bastante ferida, continuava a lutar para liberar seu filhote.Não faltava muito, porém , para que os dois morressem afogados.
Orthuu viu que ela não conseguiria sozinha, mergulhou e apoiou os pés no ventre dela e , com toda a sua força puxou o filhote para fora.
Quando já estava exausto, quase afogado, conseguiu, e num sacão, o filhote se libertou e subiu 'a tona para respirar.
O velho marinheiro começou então a afundar...
Mas não por muito tempo. A megaloceta mergulhou e foi por baixo dele, acolhendo-o com sua enorme cabeça.Levou-o para cima, e com um golpe forte da cabeça, o jogou de volta ao navio.
Quando ele recobrou os sentidos, o olhar dela para ele foi tão profundo e impressionante que ele jamais se esqueceria.Era igual ao olhar da sua mulher para ele antes de ela morrer.
As lágrimas abundavam em seus olhos, e ele chorava copiosamente.
Uma comunicação se fez, e não eram precisas palavras, apenas sentimentos.
Gratidão, agradecimento eram pouco , muito  para exprimir os significados dos gestos e emoções que ali estavam ocorrendo!
Ele não sabia se por miragem de fome ou cansaço, ou se estaria sonhando, mas ele podia jurar que enquanto via a megaloceta indo embora aos saltos com o filhote, via no horizonte a figura de sua esposa com seu filho no colo, caminhando sobre as águas,lancando-lhe um olhar de orgulho, gratidão e alivio,como que liberada de um grande fardo de dor e penitência, e um sorriso doce e meigo, e depois caminhando em direção ao horizonte...

(Por Continuar)

sábado, 2 de novembro de 2019

Episódio 20- Sensibilidade de Viver:Adendos Finais



-Kombini de novo? Salsicha, omelete  e arroz?
Disse Rena.
-Está reclamando de quê, mocinha?
A questão que Lune colocou para ela a lembrou do fato de que ela estava vivendo ali de favor.
-Desculpe, tia...
-Tudo bem, tudo bem, sem problemas...
A tarde passou, a noite chegou e pouco antes do jantar, Ruri estava de volta.
Ela estava radiante de alegria, com um largo sorriso no rosto e quando ela entrou no quarto de Rena, mãe e filha se abraçaram.
Lune apareceu no quarto também, e disse:
-E aí, Onee-san, como foi seu primeiro dia de trabalho?
-Maravilhoso !
-É, eu estou vendo mesmo...agora, este sorriso malandro no rosto significa provavelmente que você e ele...
-Ahaaam, não na frente das crianças, depois te conto tudo, Lune-nee-chan...
Ruri corou de vergonha.
-Depois a senhora conta o quê para ela? Quero saber !
As duas ficaram constrangidas com a curiosidade da menina.
-Ah, querem saber? Não quero saber de suas transas !Poupe-me destes detalhes!
-Rena-chan !
Disse Ruri , em um gritinho.
-Não é isto que você  está pensando!
-Ah, não, tia?
Disse Rena, com olhar desafiador.
-Você é muito pequena para saber de suas coisas !Continue no seu videogame e pare de se intrometer em conversa de adultas !
-É isto mesmo, a Onee-chan tem razão !Vem, Onee-chan, vamos para o meu quarto...
Rena fez um beiço do tamanho de um bonde, frustrada.
Mas de fato, Ruri tinha mesmo feito amor com seu patrão, e estava absolutamente apaixonada por ele !
No entanto, o tempo voa, e passaram-se cinquenta dias.
Agora faltava apenas dois dias para as licenças de Lune e Takeo terminarem, e Rina tinha recém desmamado, agora que estava com seis meses de idade.
Naquela manhã de inverno, com a neve caindo lá fora, e o frio intenso, Ruri deu uma notícia surpreendente durante o café da manhã:
-Queria contar uma novidade a vocês! Uma novidade  fantástica !
-Qual, Onee- san?
-Eu  e a Rena vamos nos mudar, e ir morar com o Dieter-kun !
-Opa ! Que maravilha, Onee-san !
-Parabéns, Ruri-san !
-Obrigada, Takeo-san !
-Bom, já fazem vários meses que vocês estão namorando sério, e parece esta dando certo...
-Ele, eu sinto, onee-san, é o homem definitivo da minha vida !
-Então siga seu coração, Ruri-nee-san !
-O Dieter-san é superlegal, adoro ele !
Disse Rena, animada.
-Bom, então precisamos providenciar a mudança para vocês duas!
-Não precisa, Takeo-san, ele disse que é tudo por conta dele !
-Huh ! Maravilha então !Nós as ajudaremos com a organização da mudança, não é, Lune-san?
-Claro, amor!
-Tio Takeo está doido para a gente ir embora logo ! Acho que ele não nos aguenta mais !
-Rena-chan ! Que grosseria é esta?
Disse Ruri, refletindo o constrangimento de todos os adultos ali.
O próprio Takeo resolveu tentar quebrar o gelo:
-Vamos levantar um brinde ‘a felicidade de Ruri-san, Rena-chan e Dieter-san !
Não demorou e logo todos tinham terminado o desjejum matinal.

(Por Continuar)

Episódio 58- Admirer Voyages:Peregrine !




 Geraldine então descreveu para Valéria um complexo e detalhado relatório sobre a sua irmã desaparecida.
Tudo foi gravado e transcrito automaticamente pelo computador da nave e salvo devidamente.
-Muito bem, Tenente-Comandante, muito obrigada por suas informações sobre sua irmã. Antes que seja dispensada, é meu dever alertá-la que não terás aqui nenhum tratamento especial por ser irmã de capitã, ok?
-Sim, senhora, Capitã, entendido !
-Excelente ! Vou convocar uma reunião para briefing da missão daqui a duas horas, na sala de reuniões da nave, quero que esteja presente !
-Sim, senhora !
-Está bem, assuma seu posto. Dispensada !
Geraldine bateu continência para Valéria, que respondeu ao cumprimento com o gesto adequado, e saiu da sala.
Valéria então viu que já estava perto da hora de almoço e resolveu degustar sua refeição antes do resto da tripulação da Ponte, então se dirigiu ao refeitório.
Lá chegando, encontrou a cozinheira.
-Bom dia , Capitã ! O que vai querer hoje?
-Escalopinhos com molho madeira, purê de batatas, salada de tomate com palmito, aspargos, champignons e azeitonas pretas, e de sobremesa, um pudim de leite condensado!
-E para beber?
-Meio litro de K-cola !Com bastante gelo !
-Sim, senhora, vou preparar tudo no sintetizador de alimentos, ficará pronto em um instantinho !
-Muito obrigada !
De fato, não demorou, e logo a obesa e idosa senhora trouxe a lauta refeição, e Valéria se esbaldou.
Quando terminou, ela chamou Cecília pelo seu comunicador anexado em seu uniforme.
-Sim, Capitã?
-Cecília, informe a Geraldine, a Anne Paula, a Rita, a Dra.Kátia, e a Christine que me encontrem na sala de reuniões em uma hora e meia, Você também está convocada;  providencie as substitutas temporárias para cada um dos cargos antes da reunião.
-Com quem ficará o Comando, Capitã?
-Com a oficial mais graduada que sobrou na Ponte, a Alessandra. Convoque uma substituta para o posto dela também !
-Sim, senhora, providenciarei imediatamente !
-É assim que gosto de ouvir. Sua Capitã, desligando !
Valéria, no entanto, não estava disposta a passar esta uma hora e meia na ponte.
Resolveu ir no departamento de Biologia.
Pegou o elevador, desceu dois decks , caminhou no corredor por alguns metros e entrou em uma sala relativamente ampla.
-Capitã?Em que posso ajuda-la?
-Rosimary, me diga: o que sabe da fauna do sistema Hydra VII ?
-Bom, Capitã, este sistema tem oito planetas, com um total de doze luas, apenas um é classe M, e suporta vida. O planeta Hydrium é o quarto contando da estrela para o último planeta, e o animal mais comum lá  é chamado de Octotherium hallucigenias, tem oito pernas, é herbívoro, é revestido de placas de queratina, tem olhos compostos, dois pares de antenas longas, e tem seis metros de comprimento por dois e meio de altura...
-Hydrium é o planetoide que procuramos?
-Não Capitã,ele tem um tamanho próximo ao planeta Saturno, do sistema solar, o planetoide fica mais para o final do sistema, entre o penúltimo e o último planeta, e tem metade do tamanho da Lua terrestre.
-Fauna?
-Ele não é Classe M, Capitã, não suporta vida. Pelo que ouvi dizer, é uma imensa pedra de gelo redonda, com atmosfera de cloro puro em estado gasoso, altamente corrosiva. Impossível qualquer animal respirar isto Inclusive por que a temperatura média lá é de 120 graus abaixo de zero !   

(Por Continuar)

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Episódio 11-(Minissérie) Eternidade


Episodio 11: Solidão



O Sol nascera na grande cidade e ninguém percebera.O Céu estava sem nuvens, mas o frio era intenso.O vento navalhino  corria pelos corredores das grandes avenidas vazias, parecia que todos tinham deixado aquele lugar.
Não encontrava ali nenhuma viva´lma. Era um dia fantasmagórico de feriado, e ate´o ar  parecia parado nos becos, onde o vento não entrava.Parecia apenas um mundo sujo, frio, sem sentido.Nem sequer os pequenos animais urbanos perambulavam pela urbanidade.Tudo parecia perene e eterno.
O vento carregava pequenos pedaços de esperança e as folhas de alguma arvore espiralavam em frenética dança.
O mesmo vento fazia oscilarem os cabelos de Uthuu, andando tropegamente pelas avenidas desertas.A menina estava como sempre aos farrapos, tremendo de frio.Depois de tanto esforço para evitar os dentes baterem, os músculos do rosto tinham-se exaurido,e os dentes batiam numa dança tonitruante,trepidando com violência, em um ritmo sinistro que fazia intensa harmonia com os calafrios e o tremor do corpo inteiro.
Uthuu não conseguia mais pensar, e seus músculos cansados estavam rijos, e arroxeados.Ela mal enxergava, e a fome intensa mitigava qualquer esperança  de um esforço maior.
Não havia mais arco íris no Céu.
Uthuu não queria ir as estações de metrô, pois lá poderiam haver guardas, ou mendigos tarados, e ela poderia ser estuprada ainda mais uma vez.
A menina tinha só a morte como companheira,que parecia apenas aguardar ela fechar os olhos para finalmente leva-la consigo.
Sentia que não faria a menor falta ao mundo, que ninguém jamais notaria sua presença.Normalmente, entre tanta gente, em meio as multidões dos dias normais, ela estava sempre sozinha, consigo mesma,e não conhecia a ninguém.Só dirigia a palavra a quem quer que fosse para pedir um prato de comida ou uma esmola.
Mas não havia ninguém para pedir nada.
Não havia nada, só via um branco, nada tinha significado algum, não sabia sequer se vivia ou sonhava, não havia mais consciência sequer de si mesma, e ate´a dor nas juntas  de todo o corpo ela ignorava, enquanto o vento cruel lhe lanhava o corpo todo como em chibatadas.
Finalmente chegara ao parque da cidade, com suas alamedas  de jardins e arvores outrora frondosas, agora de galhadas nuas devido ao frio intenso.
Próximo de uma arvore o que ela viu então foi um pequeno pássaro, caído de seu ninho.Era um filhote,e estava fadado a morte por inanição.
Ela caiu desfalecida,e bem próxima do filhote veio ao chão.
Quando suas pálpebras tão pesadas enfim se abriram novamente, ela apanhou o passaro com sua mão, e e olhou para ele ainda deitada:
-Finalmente...alguém!
Sua voz era mais débil que um murmúrio, e a fome parecia lhe torcer por dentro todos os órgãos, e estava ruidoso seu estômago.
-Você não está sozinho, passarinho, agora você tem a mim...eu vou cuidar de ti.
Uthuu não sabia se pensava ou delirava, nem tinha idéia do que dizia e a quem.
Ela se sentia incrivelmente sozinha, e parecia que quanto mais compania tivesse, mais só se sentiria.
O que se seguiu no entanto no foi pensado, foi instintivo.
Por que continuar aquela dor de viver, porque não morrer?
Seu corpo porem parecia não se desanimar nunca, e continuava insistindo em sofrer.Porque, ela nunca tivera idéia, mas não havia mais como pensar.
Um impulso forte a movia por dentro e não deixaria ela perecer.
Uma mão se fechou, um braço se fechou, uma boca se abriu, e de seus lábios machucados e sensuais,belos e desnutridos,escorreu sangue , que respingou nas folhas mortas.
O pássaro não proferiu um pio.Na verdade nunca mais piaria.
Os músculos doloridos da boca de Uthuu doíam ainda mais ante tal esforço, e ela mastigava com dificuldade, semi sufocada pelas penas.
Enfim, engoliu, e seu estômago agora parecia doer menos. E ela dormiu novamente.
Quando enfim acordou, estava nua , imersa em uma banheira.
A água corria quente e lhe acariciava o corpo todo machucado.
Uthuu achou que sonhava.
Uma voz mansa então lhe dirigiu a palavra:
-Finalmente você acordou!
-Quem e´vocô?
-Soirhuu, o guarda do parque.Você estava 'a beira da morte quando eu a recolhi e a trouxe para casa.
-O que é uma casa?
-É onde você está. Como você se chama?
-Uthuu.Você vai me estuprar, moço?
-Não, porque?
-Todos só se aproximam de mim para me estuprar. Mas não sinto nada.
-Não se sinta assim. Uma moça tão linda como você merece uma vida melhor.E eu vou cuidar de você.
-O que é ser linda? Uma vez eu vi um arco íris, e o achei lindo., mesmo sem saber o que é ser lindo.
-Huum, o arco íris é mesmo algo lindo de se ver, mas difícil de aparecer aqui na cidade.Pegue este espelho de mão.Olhe –se nele.
-Quem é esta pessoa?
-E´você, querida. Depois que eu cuidar de você, você olhará no espelho novamente e aprenderá o que é ser linda.
-O que é ser querida, Soirhuu?
Ele estendeu a mão ao rosto dela e a acariciou com tanta delicadeza e cuidado que poderia se pensar que a pele dela era feita da mais fina porcelana.
-É isto que você sentiu agora,minha doce menina.
LÁgrimas começaram a descer pelas faces, delicadas e cristalinas como o sentimento que ela percebeu na carÍcia.Nunca antes tinha sido acariciada por ninguém.
O guarda gentilmente aparou as lágrimas dela com a mão, e seu olhar para ela foi de uma doçura incontida, olhar respondido pelo olhar mais profundo que ele já viu, um olhar de uma meiguice e delicadeza tão grandiosas e sinceras que só mesmo uma mulher consegue ter.Ela , mesmo sem se dar conta se o que fazia era consciente ou instintivo,o abraçou com força.
Palavras não eram mais necessárias agora.Ele a apertou contra si enquanto ambos choravam convulsamente. Os corações haviam se entendido um ao outro, ainda que vivendo vidas diferentes, mas um sentimento mutuo agora os ligava de maneira desesperada.
Após  se recompor,Soirhuuu pegou um sabonete e começou a lavar a moça inteira. Enquanto isto, continuou a falar:
-Você não se sente sozinha, Uthuu?
-Sempre estive sozinha, não conheço a ninguém, moço.
-E não sente falta de conhecer a ninguém?
-Quem? Eu bem que sempre quis  conhecer alguém  que não me desse apenas uma esmola, um prato de comida, um pouco de água, ou não viesse ate´mim para me estuprar ou bater em mim. Até voce me encontrar e me salvar.
-Eu entendo, eu também moro aqui sozinho, não tenho a ninguém, sei o que é a solidão. Você teve sorte, conheceu alguém, alguém que se afeiçoou a você e lhe quer bem.Levante-se, vou te enxugar com a toalha.
-Por que olhas tão fixamente meu corpo?
-Porque lhe tenho admiração, porque gosto de você, porque  és linda, e não é só a beleza do seu corpo que me atrai, a beleza dos seus sentimentos, sua sensibilidade, a beleza de seu coração e alma, seu jeitinho todo delicado de ser,por você ser assim tão encantadora por inteiro...
Respondeu Soirhuu, após um longo suspiro.
-Sou apenas uma mulher, moço...não tenho nada de mais...não sou tudo isto, não sou ninguém, só uma moça de rua...
-Não se desvalorize a si mesma, querida, por favor,quando me abraçou , seu coração me mostrou a preciosidade de mulher que és, você é muito especial e muito valiosa para mim, e vou cuidar de você com todo o amor e carinho, e você nunca mais se sentira sozinha no mundo!Pronto, já está seca e vestida,espere ai, acho que tenho ainda aqui no baú algumas peças de lingierie e uns vestidos que minha ex-mulher esqueceu aqui em casa quando se separou de mim, e guardei para me lembrar dela...aqui estão, vista-as, por favor, meu bem.
Ao ver que ela tinha dificuldades em se vestir, ele a ajudou, com muita delicadeza, respeito e carinho.
-Olhe-se no espelho, veja como és bela!
-Quem é esta mulher, Soirhuu?
-É você, Uthuu.Agora você já não e´mais a mendiga das ruas,aquela ficou no passado, agora você e´esta moça bonita ai do espelho!
O estômago dela no entanto começou a roncar.
Ele serviu a ela o mais lauto jantar que pôde, e ela comeu até se fartar.
Ele a convidou para sair para passear, e juntos visitaram museus,shoppings, e os pontos turísticos da cidade, e então passeavam de mãos dadas pelo parque, quando alguma coisa chamou a atenção de Uthuu.
Do alto da galhada de uma arvore, em um ninho,um filhote de pássaro ensaiava seu primeiro voo.Quando a mãe  o empurrou para fora do ninho, ele ainda não estava autoconfiante de sua capacidade de voar. Mas instantaneamente, ainda que fosse instintivo, ele soube voar, e voou,e em seus pequenos olhinhos ,Uthuu viu uma alegria de viver, uma alegria tão explosiva e comovente, um prazer tão grande,jubilo pela liberdade, que não se conteve.
Pela primeira vez na sua vida, um sorriso franco e luminoso  enfeitou seu rostinho de anjo, cabelos esvoaçando ao vento,uma onda de felicidade  arrebatava seu coração,e ela saltou no ar, olhos lacrimejando,e gritou a plenos pulmões:
-Que lindo!

(Por Continuar)