segunda-feira, 25 de abril de 2016

Episódio 60- Sensibilidade de Viver:Interlúdio ETP



Era a primeira experiência da vida de Lune de dividir seu quarto com alguém.
Não que ela já não tivesse recebido Rina em seu quarto ou não tivesse ido dormir na casa de Rina, nem tivesse recebido Ruri para dormir em seu quarto com ela e vice versa, nem que já não tivesse dividido seu quarto com Takeo e Soichiro, mas agora era diferente: seria uma divisão sistemática, de convivência no mesmo quarto, de todos os dias, ainda que cada uma tivesse e dormisse na sua própria cama.Seria uma troca e divisão de intimidades cotidiana a que ela não estava acostumada e nunca tivera na vida, pois é muito diferente passar uma semana na casa do namorado e agir como se fossem casados, de vez em quando, ou receber uma visita de pernoite fortuita, aleatória.Agora não, seria por anos e nesta experiência ela precisaria aprender a conviver com outra garota no dia a dia, dividir o banheiro com ela, dar de cara com ela todo dia ao acordar, etc, e , claro, choques e discórdias seriam inevitáveis, mas fazem parte.É muito diferente manter uma amizade com cada uma em sua casa, mesmo que vizinhas, e manter uma amizade com alguém que mora no mesmo quarto que você e que você tem de encarar todo dia, toda hora !
E por que Lune decidira por algo tão radical? Dó de sua nova amiga? Não. A razão principal e o raciocínio eu ela usou foi o de que (confiando e esperando que Mercedes não fosse) com a amiga no mesmo quarto, ela evitaria as visitas indesejadas de colegas lésbicas que viviam querendo fazer amor com ela.
O que ela não ponderou, no entanto, e que iria lhe trazer problemas no futuro, era a possibilidade (bastante real, aliás) de má ou maldosa interpretação de suas colegas, achando que as duas poderiam estar namorando sério e estarem envolvidas em relações sexuais uma com a outra !
Lune abriu a porta de seu quarto e  convidou Mercedes para entrar.
-Com licença, Lune-san !
-Imagine, fique ‘a vontade !
-E vou ficar mesmo, não aguento mais esta roupa quente, vou colocar algo mais leve, ‘a vontade. Ah, eu sei que não é muito polido para os costumes japoneses, mas eu ainda não estou muito acostumada, nem afeita aos sufixos depois dos nomes, você se importaria, ou melhor, me permitiria , que só entre nós, sem ninguém por perto , eu a trate apenas como Lune e você me trate apenas como Mercedes? Eu sei que isto deve soar como algo um pouco íntimo demais para você, mas é que na Espanha não faz parte de nossos hábitos e eu estranho muito ainda...por favor !
-Tudo bem, Mercedes, se você prefere assim...fico realmente um pouco constrangida, mas apenas procure tratar-me convenientemente em público para não me criar situações vexatórias, certo?
-Tudo bem, obrigada !
E Mercedes deu um abraço em Lune, que a repeliu delicadamente.
-Não faz parte dos costumes nipônicos tanta intimidade, tanto contato, Mercedes...
Lune ruborizou levemente.
-Ai, desculpe ! Esqueci, é que no meu país a gente se abraça com muita frequência, até eu me acostumar com os costumes daqui...mas vou me vigiar, juro !
Enquanto falava, Mercedes ficou quase nua, só de calcinha, enquanto escolhia novas roupas na mala.
O motivo real da ruborização de Lune não fora só o abraço, fora a nudez de sua amiga.
-Lune, você me acha bonita? Você acha que eu tenho um corpo bonito?
-Ahaaam, eu não costumo opinar sobre beleza ou corpos de outras mulheres, eu sou heterossexual, e não curto este lance de lesbianismo como várias colegas da faculdade e da pensão.
Agora que ruborizou foi Mercedes, colocando a camisa do short doll na frente do corpo.
-Ai, desculpe de novo, amiga...eu também sou hétero e não curto este negócio de namorar meninas, pode ficar tranquila, nunca a assaltarei nem invadirei sua cama ou seu banho, nem nunca vou querer fazer amor com voc~e, fique tranquila, não precisa ter medo de mim não, pode confiar !É que me olho no espelho e encano que eu tenha celulite e estrias e ainda sou tão jovem, eu não me conformo com meus pneuzinhos...
Vendo que a menina tinha problemas de auto estima e carência afetiva,Lune respondeu com um sorriso torto e sem jeito, bastante constrangida:
-Não estou vendo celulites ou estrias, nem pneuzinhos em você não, você está exagerando ! Você vai precisar usar o banheiro agora? Eu queria tomar um banho...
-Pode ir, Lune, eu não vou precisar agora não...
Lune pegou uma toalha e  seu pijama de dormir no armário, além de lingierie nova e foi ao banheiro e trancou a porta.
-Lune , eu vou dormir um pouquinho, estou cansada ! Você não se importa, não é?
-Não !Respondeu Lune de dentro do banheiro , já completamente nua.
Ao sair do banho, já que Mercedes já tinha ido dormir, ela resolveu se trocar no quarto mesmo, após se enxugar.
Quando a toalha caiu no chão...
-Aaaahn, nossa, Lune, mas você tem um corpo perfeito ! Que inveja !Nenhuma celulite, estria, pneuzinho, nada !
-Aaaaaaaah !
Gritou Lune, de susto, e imediatamente colocou a toalha na frente do corpo.
-Ai, desculpe, é mesmo, eu não devia ter olhado...
-Você não disse que estava dormindo? Por que ficou me olhando? Que intenção é esta?
Gritou, irada, e com uma careta brava, Lune, já enrolada na toalha.
-Nada, nenhuma, juro, perdoa, eu acordei com o barulho da porta abrindo, só isto...
-Vira para o outro lado e não ouse olhar para mim até eu mandar ! Na próxima vez vai levar um tapa bem dado na cara para você aprender a me respeitar!
Triste e com vontade de chorar, Mercedes deu as costas para a amiga, que se trocou com a velocidade de um furacão.
Mas Mercedes não conseguiu se conter. Até então calada, começou a chorar baixinho, até que sentiu o impacto de um peso no colchão, arregalando os olhos de susto e engolindo em seco.
-Desculpe...eu...eu fui muito grossa e agressiva com você, mas é que...eu...eu sou muito tímida e tenho uns traumas...
Mercedes se virou de lado e percebeu Lune, de pijama , sentada ao seu lado, na beira de sua cama.
-Imagine, não foi nada, eu que te desrespeitei e cometi um erro grosseiro...
Lune se levantou e deitou na cama dela, deixando livre a cama da amiga.
-Vou te contar sobre a minha vida. Acho essencial você saber e conhecer, para aprender a lidar comigo.
Por horas, Lune contara muito de sua vida até então, apara a amiga, com riqueza de detalhes.

(Por continuar)

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