Uma vez na segurança da areia, Kirilla abraçou
sua filha e Karanna, e as três choraram uma no ombro da outra.
Agora estavam por suas próprias contas e
riscos, e Kayawa ainda era uma criança, ainda não teria como caçar e ainda
teria de ser protegida.Há muito, Karanna não via e sentia sua vida tão
rofundamente mergulhada em incertezas como agora !
Fora o almoço mais triste da vida delas, e
Kirilla decidiu-se, logo após todas terminarem a refeição, a ir embora daquelas
paragens de morte!
Traumatizara-se com o Mar e não queria vê-lo
nunca mais em sua vida.
Assim, naquele mesmo comecinho de tarde, as
três pegaram suas coisas e partiram numa viagem sem rumo. Seguiam desanimadas
pela costa, pois não sabiam se no interior não encontrariam predadores.Queriam
apenas um refúgio seguro onde pudessem viver e Kayala pudesse crescer em
segurança.
Mas ver o mar constantemente incomodava a
Kirilla terrivelmente, pois a toda hora lhe vinham lembranças da trágica morte
de Ran Atok.
Por fim, a praia terminou num imenso rochedo,
e finalmente descobriram que havia uma passagem , em rampa inclinada, mas possível
de escalar até para uma criança, pela lateral.Era uma rampa natural, que
conduzia a um platô rico em capim e
árvores, e do alto dele, se podia ver o mar no precipício lá em baixo.
As árvores era frutíferas e elas, já com fome,
puderam se saciar nas frutas abundantes.
O platô tinha um formato mais ou menos
retangular, e tinha aproximadamente dois quilômetros por um , e quando chegaram
ao fim dele, outra rampa pedregosa foi descoberta, conduzindo para um istmo,
cuja ligação da ilha com o continente por terra ficava submerso durante a noite
e exposto durante o dia.
A ilha era grande com capacidade
tranquilamente para abrigar uma população humana. E tinha bosques, montanhas,
riachos e cavernas nela. Parecia segura e tranquila, com todo o necessário para
viver bem ali.
Porém, estavam todas cansadas e resolveram
acampar no platô mesmo naquela noite.
Elas viram enormes Gliptodontes escavando a
terra em busca de raízes, então resolveram segui-los para coletar as muitas
raízes de batatas que eles deixavam para trás, e depois fazer uma fogueira e
assá-las.
A não ser pelos ancestrais gigantescos dos
tatus, parecia que nenhum outro animal tinha descoberto aquela região ainda.
No dia seguinte, rumaram para a ilha.
Ali, pareciam ter prosperado apenas pequenos
animais, e não havia sinais de grandes predadores-ou, pelo menos, acharam que
não teria.
Encontraram, perto da costa, uma caverna
adequada, nem grande , nem pequena demais .Kirilla não queia mais ver o mar e
prometera a si mesma nunca mais pescar ou comer peixe, mas não tinha jeito, a
caverna dava vista para o mar, então resolveu ignorá-lo.
Elas se instalaram na caverna, mas logo
descobririam, em suas caçadas, que havia predadores lá sim: leopardos,e uma
espécie de felino dentes de sabre menor que o Homotherium- era o Megantereon!
Enquanto o primeiro era do mesmo tamanho ou
maior que um leão, o segundo tinha o tamanho de um leopardo, bem menor, o que
não significava que não fosse perigoso. Mas ao menos não vivia em bandos, era
um caçador solitário de emboscada , e por ser menor, era mais fácil de Kirilla
enfrenta-lo.
Assim, o tempo passou, e Kayawa foi crescendo
e agora já tinha quatorze anos, e já fora ensinada a caçar e aprendeu com a mãe
todas as táticas, e como depelar e descarnar animais.
E também aprendeu a interpretar o olhar dos
animais e recebeu os ensinamentos passados a ela por Kros Ganik.
Kayawa agora era uma moça bonita, que tinha
traços tanto Neanderthal como de Homo sapiens, seu rosto era um exato meio
termo entre os dois. Sua pele não era tão clara como de sua mãe, mas também não
era tão escura como de seu pai. Sua estatura estava a meio caminho entre a média dos Neanderthal e os Homo sapiens.Ela
logo se revelara muito inteligente e crescia rápido. Porém, não era tão
musculosa, nem tinha ossos tão fortes quanto os de sua mãe, e conservada belos
olhos verdes,e seus cabelos eram em um tom de marrom.
Era muito jeitosa e carinhosa, e conseguia
manipular objetos menores e mais delicados com mais facilidade que a mãe,
devido a seus dedos mais compridos e finos.
Com ela, uma Transição de Sangue se
completava, era o início da miscigenação que um dia geraria o Homo sapiens
sapiens, substituindo tanto os Neanderthal como os Homo sapiens arcaicos.
Quando Kayawa
se tornou adulta, alguns anos depois, Kirilla já estava ficando velha, e
agora era a filha quem caçava para a mãe, enquanto Karanna cuidava dela.
Foi quando um contingente de Homo sapiens nômades
chegaram na ilha.Bem a tempo, pois mais e mais animais predadores descobriam e chegavam
lá também, tornando as caçadas por demais perigosas e arriscadas.
Kirilla e Karanna, porém ficaram muito tristes
em saber que aqueles nômades não tinham encontrado mais nenhum Neanderthal em toda
a sua jornada e que fazia anos que não viam mais um.
Assim, um novo Povo nascia, logo Kayawa se apaixonaria,
engravidaria, e teria ela mesma um filho. Karanna ajudou com esta nova geração,
mas já estava ficando idosa demais para isto, e morreu numa queda.
Agora Kirilla também já estava velha, e, e desgostosa
com o falecimento de sua velha companheira de tantos anos, se entregou e acabou
por morrer dormindo.
Assim, Kayawa e seu novo povo foram vivendo, e
por fim deixaram a ilha , já pequena para tanta gente, e se espalharam pelo continente.
Kirilla e Karanna foram as últimas Neanderthal
do planeta- a Extinção enfim tinha terminado !
FIM