A água era límpida e clara, e dava para ver os
peixes nadando no rasinho, o que deixava as duas encantadas, pois era absoluta
novidade para elas.
Kirilla então tentou apanhar algum com sua
lança, mas eles eram muito ágeis e rápidos para serem atravessados pela lãmina da arma.
Karanna viu então algumas algas no raso e
começou a brincar com elas.
Um camarão ficou enroscado na alga e um peixe
veio comer.
A menina então, brincando, puxou a alga, mas o
peixe não largou sua presa.
Ela então, instintivamente puxou com força e a
jogou para trás.
O peixe voou para fora da água e caiu na
areia, e começou a se debater, morrendo sufocado.
Kirilla observara tudo, e, curiosa, foi ver o
peixe, que rapidamente morreu.
Não tinha mais que vinte centímetros de comprimento, mas já era um tira-gosto.
Ela viu que Karanna continuava brincando de
atormentar os peixes com a alga, e resolveu entrar na brincadeira também,
depois de levar o peixe para a caverna.
Só que ela teve uma idéia: abriu o peixe, o
descamou, cortou alguns pedacinhos de da carne dele eusou pequenas agulhas de
osso para prender as carnes nas algas, e
então, a cada vez que um peixe mordia a isca, ela o jogava na praia- tinham
aprendido a pescar !
Ao anoitecer, mais de uma dezena de peixes
pequenos e médios tinham sido pescados, e complementaram a refeição da noite!
E aquela descoberta logo se tornaria crucial
para a sobrevivência daquela pequena população, pois os dias foram se passando
e ficando cada vez mais frios, e agora só restavam oito homens e seis mulheres,
mais o bebê de Kirilla.
Com tão pouco efetivo, foi necessário se
recorrer cada vez mais ‘a pesca, e um belo dia, foi a vez de Ran Atok dar sua
contribuição: ele percebeu que os espinhos
de peixe eram flexíveis, e melhores para segurar a carne com mais
eficiência do que as agulhas de osso- estava inventado o anzol !
Agora a pesca era mais eficiente, e graças a
ela, evitaram de passar fome.
Mas os tempos eram duros, os peixes eram
pequenos, e ainda não substituíam completamente a carne vermelha, então, não
teve jeito, depois que a filha de Kirilla desmamou, tiveram de aceitar que ela
caçasse junto com os homens.
Ela ensinou outras mulheres a caçar, e agora
só ficavam na caverna Karanna, a Matriarca e mais uma mulher. O resto ia caçar.
E tinham de ir cada vez mais longe e ficava
cada vez mais perigoso, já que estavam em poucos, e estava claro: logo a
quantidade de caçadores ficaria
insustentável, pois virava e mexia, morria mais um.
Até que o inverno recrudesceu de vez, e agora
até pescar era um sacrifício.
Assim, estava Kirilla, Karanna e Kayawa
pescando numa ponta distante da praia, já que Ran Atok achara melhor que
Kirilla ficasse, pois temia que ela morresse nas caçadas, cada vez mais
perigosas, já que quanto menos presas havia, mais predadores apareciam.
E, naquele dia, ocorreu o inesperado:
Um bando de leões das cavernas encontrou a
praia e, atraídos pelo cheiro de comida, invadiram a caverna dos Homo sapiens.
Foi um massacre !
Os poucos homens bem tentaram enfrenta-los com
tições e lanças, mas foram dilacerados
impiedosamente por caninos e garras afiadas !
Quando as três voltavam, ouviram os rugidos
temíveis!
-Ah, não...venham, vamos para o outro lado
antes que nos vejam e nos farejem !
As três, apavoradas, correram na direção
contrária, dobrando um a ponta de rocha,
até que acharam, uma outra praia, com mais cavernas, do outro lado.
Entraram em uma delas que tinha uma câmara de
passagem estreita, escavada pelo mar em rocha sólida.
Por ali, nem uma cabeça de leão passaria, e
elas mesmas mal conseguiram passar, por pouco não entalando.
Dormiram naquela caverninha por uma noite, e
no dia seguinte, voltaram ‘a caverna dos
Homo sapiens.
Encontraram homens e mulheres destroçados, já
virando carniça. E , numa pequena câmara apertada e escondida, refugiara-se Ran
Atok, o único sobrevivente.
Porém, as pegadas de leões eram frescas, o que significava que
poderiam voltar a qualquer momento, então resolveram voltar para a outra
caverna no outro lado da praia, que os leões ainda não conheciam.Agora eram só
Ran Atok, KIrilla, Karanna e Kayawa.
-Como faremos agora?Somos só três, pois nossa
filha é um bebê ainda...e se os leões nos acharem aqui?
-Não poderemos ficar aqui por muito tempo, Ran
Atok.Eles vão acabar descobrindo nossa trilha e nos pegando, teremos de viajar
e procurar um kugar mais seguro...
-Mas Kayawa é muito novinha, não vai aguentar
os rigores do inverno, e a fome que a gente passa nas viagens...
-Não tem jeito, teremos de ficar aqui até o
inverno melhorar e nossa filha crescer um pouco mais...
A dúvida campeava na mente de Kirilla: se
ficassem, os leões poderiam acha-los, e fugissem, Kayawa poderia morrer, e eles
também se encontrassem bandos de animais ferozes.Se aoo menos tivesse mais
gente !
-Bom, vamos ficando por aqui, enquanto vamos
pensando numa solução, e tomara que eles não nos encontrem tão cedo!Como somos
poucos, vamos caçar apenas peixes, vamos evitar ao máximo de caçar por enquanto.
Disse Karanna.
Porém, no dia seguinte, os quatro acordaram
sobressaltados ao amanhecer: eles conheciam aqueles rugidos: eram de um grupo
de leões das cavernas e de um temerário urso gigante!
Eles se esconderam na cãmarazinha secreta até
os rugidos silenciarem.
Depois, Ran Atok armou-se de coragem e foi na
direção dos rugidos ver o que tinha acontecido.
Encontrou um leão e quatro leoas mortas na
praia, e um urso gigante cambaleante e semi destroçado, todo estraçalhado, se
arrastando na praia até cair. Estava morto !
Os dias se passaram e nunca mais se encontrou
pegadas de leões, apenas das hienas gigantes que se refastelaram com as
carcaças dos mortos, o que mostrava que o perigo do bando de leões passara.
As hienas, todavia, depois que as carcaças foram
devoradas, sumiram e nunca mais apareceram.
E assim, foram levando a vida na nova caverna.
Mas Kirilla não desistira de seu plano de ir
embora dali.
Esperava só o inverno amainar, e enquanto
isto, Kayawa crescia, e agora já aprendera
a falar e já caminhava sozinha, completara três anos de idade.
Mais tr~es anos se passariam, para enfim,
oinverno ceder e o sol brilhar, e as temperaturas ficarem mais amenas, e a neve
derreter.
Agora Kirilla já pensava em viajar, pois, achou
ela, com seis anos Kayawa já seria capaz de enfrentar uma viagem.
Porém, naquele mesmo dia, estavam todos na praia
pescando, e Ran Atok resolvera ir aventurar-se mais para o fundo, co a água batendo
no peito.
Porém, o peixe que ele vira não era presa, era
predador. A tétrica barbatana para fora da água se aproximou dele em velocidade,
e Karanna soltou um grito de terror!
O que elas viram parecia se dar em câmara lenta:
o tubarão, enorme, com mais de dois metros de comprimento, mordeu Ran Atok no ventre,
que se abriu e se rasgou, liberando seus intestinos na água em meio a uma nuvem
de sangue !
-Ran Atok...Nãaaaaaao !
Gritou, desesperada, Kirilla.
Ao ver que uma miríade de tubarões apareceram despedaçando
o corpo dele ainda vivo, ela imediatamente retirou-se da água e tirou as outras
duas da água também.
Ran Atok, como as outras, nunca tinha visto um
tubarão na sua vida, e não tivera noção do perigo, e pagara com sua vida por isto.
Estava morto !
(Por Continuar)
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