Não havia tempo a perder, pois os animais necrófagos e os predadores não iriam
esperar, então, todos começaram a escavar uma vala rasa comum para enterrar os
mortos. As mulheres encontraram plores por perto para decorarem os corpos e foi
jogada terra por cima, e o Chefe, que também era Xamã, fez uma brevíssima
b~enção deles e depois correram atirar os pedaços de carne que puderam do
búfalo e levaram para longe dali, cerca de uns setecentos metros, onde acharam
um pequeno platô pedregoso. Ali juntaram a lenha, acenderam o fogo e começaram
a cozinhar a carne na fogueira.
Como sempre faziam, comeram o mais rápido que
puderam, aproveitando-se de que as Jienas Gigantes estavam ocupadas a devorar a
carcaça do búfalo.
Depois, já de estômago cheio, o Chefe ordenou
que continuassem viagem e seguiram no rumo Norte, em direção ao Mar.
Agora a situação ficara complicada pois tinham
seis homens a menos para caçar, o que diminuía a eficiência das caçadas e os
expunha mais vulneráveis a animais caçadores que viviam em bandos.
Procuravam afastar-se tanto dos herbívoros
como dos carnívoros, evitando cruzar seu caminho, e com atenção redobrada para
ver se não tinha ninguém os seguindo. Por precaução, vários deles carregavam
tições em suas mãos, para o caso de algum predador mais atrevido aparecer.
Mas eles tiveram sorte.
O terreno de capim enfim começou a dar lugar a
um rochoso, e depois, arenoso.
Eles chegaram então aos montes de rochas nuas,
e os contornaram, para então descobrirem uma série de cavernas de tamanhos
generosos, mais do que suficientes para os abrigar.
Á frente das cavernas havia uma faixa de areia
da praia, muito extensa, com mais de trezentos metros de largura, e depois
vinha o grandioso mar.
Inicialmente, eles nem repararam, pois a
prioridade deles era encontrar um abrigo seguro.Eles exploraram as cavernas
para ver se não tinham donos, pois poderiam ser abrigos para felinos dentes de
sabre, ursos gigantes, lobos gigantes, hienas gigantes e leões das cavernas,
mas felizmente, estavam desocupadas.
Escolheram uma delas pela entrada mais
estreita e por terem algumas câmaras de difícil acesso para animais grandes,
onde poderiam se esconder.
Não muito
longe dali, na campina atrás dos morros, havia lenha ‘a vontade, de modo
que poderiam fazer suas fogueiras sem dificuldades.
Finalmente podiam descansar agora!
Mas Ran Atok estava inconsolável, e seu pranto
era contínuo.
Kirilla condoeu-se dele e procurou tentar
aliviar seu sofrimento com atenção e carinho, e abraçou-o.
Mas tal atitude chamou a atenção de todos,
então ela teve uma idéia.
Pegou-o pela mão e o levou a uma das cãmaras
isoladas e escondidas.
Lá , dispondo de privacidade, beijou-o na
boca, e então, ali , no escuro, desnudou-se completamente.
Não demorou, incentivado pelos carinhos e
carícias dela, ele entendeu as intenções dela e logo os dois estavam fazendo
amor, e , eis que pois, o coito consumou-se.
Agora era um tempo de sossego, e nos dias
posteriores aquele povo foi se organizando e montando sua vida diária, e foram
caçando, e vivendo suas vidas.
Porém, Kirilla começou a se sentir diferente e
vira que sua menstruação não vinha.
A anciã dos Homo sapiens, a mais velha mulher
do grupo, não teve dúvidas:
-Você está grávida, Kirilla!
-Grávida, eu?
-Sim, em breve sua barriga vai crescer e terás
um filho, ou filha.Com quem o fizestes?
-Com Ran Atok...
-Então agora serás dele, ele terá a posse sua
e de seu filho, são as tradições de nosso povo!
-Eu não sou, nem serei de ninguém ! Ninguém me
tem só por que fez um filho comigo, e não me deitei com ele para ter filhos, me
deitei com ele para consolá-lo por que ele estava triste com a perda do irmão e
fiquei com dó dele !
-Mas aconteceu, e o resto é consequência,
inevitável, sempre foi assim...
-Não é inevitável, e não é por que sempre foi
assim, que continuará sendo !
-Conseguirás caçar sozinha, com barriga
grande? Como vai enfrentar um urso, um leão, um leopardo, sem os homens, e
prenhe?
-Ele é meu amigo, não meu dono. Se ele me
quiser ajudar , ótimo, mas não poderá mandar em mim, nem sair anunciando a
minha posse para todo o povo!
-Se ele não fizer isto, outros homens vão
querer se deitar com você, minha jovem, e homem nenhuma aceitaria não ter sua
posse tendo filhos com você!
-Ran Atok aceitará, tenho certeza. Ou senão,
nunca mais terá o meu favor, meu amor, meu carinho, serei uma completa
desconhecida para ele.
-Minha jovem,ouça a quem já é avó, não vá por este
caminho, esta trilha só lhe trará infortúnio...
-Não, eu não sou uma conformada ! Vou falar com
ele assim que ele voltar da caçada!
E Kirilla saiu da caverna e começou a caminhar
sozinha pela orla da praia, até encontrar um rochedo ‘a beira mar.
Até então , estivera tão compenetrada em organizar
sua vida na caverna, que nem prestara atenção no mar, sequer olhara para aquele
lado.
Mas agora, de pé em cima do rochedo, que tinha
uns dez metros de altura, ela pela primeira vez em sua vida vislumbrava o Mar, com
os cabelos flutuando ao vento.
-Então, este é o Mar... meu pai falou dele quando
eu era criança, e o descreveu como um rio que não dava para ver a outra margem,
mas na verdade ele nunca vira o mar, só Fros-Hostorn.
Só que...é impossível descrever, é lido demais, eu não tinha idéia de que algo pudesse
ser tão grande como o céu assim !
Ela se sentou de pernas cruzadas, abraçou as próprias
pernas e olhou o horizonte, e disse para si mesma:
-Qual será o meu futuro?O que espera por mim?
(Por Continuar)
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