Kirilla, se levantando da rocha, antes de ir,
ainda disse:
-Lembre-se, Ran Atok: eu mando em você, e você
não manda em mim, e você não me tocará se eu não permitir, certo? E Não, Não
nos deitaremos juntos todas as noites e você nunca mais me verá nua!
-Mas eu nem vi...foi no escuro...
-Nem verá mais !Você vai me ajudar a criar
este filho e será meu amigo e só, nada de intimidades !
-Está bem, como você quiser !
-Vamos lá então!
E trataram de ir comer.
O tempo foi passando, e finalmente, numa bela
manhã, Kirilla entrou em trabalho de parto.
As demais mulheres a ajudaram no parto, que
transcorreu extremamente doloroso e perigoso, mas a criança nasceu viva, e
Kirilla sobreviveu, algo que eera raro naquela época. Karanna também ajudu no
parto.
-É uma menina ! Como ela irá se chamar?
Perguntou a Matriarca.
-Kayawa!
Disse Kirilla.
-Não é de nossa língua, o que significa?
-Significa “aquela que é do Povo do Meio”,
Matriarca !
-Povo do meio?
-Sim, olhe para ela: olhe para ela: a pele
dela não é nem tão escura quanto a sua, nem tão clara quanto a minha. Está
vendo este osso que tenho acima dos olhos e que vocês não tem? Ela tem só um
pouco. E este osso na ponta da maxila que vocês tem e eu não tenho? Ela tem !
Sem falar nos olhos azuis que Ran Atok tem e eu não tenho.Ela tem coisas de
ambos os povos nela, então, ela é a primeira de um futuro povo que será o Povo
do Meio, nem Ka-Gigar, nem Ke-Gemmar !
-Agora que você falou, reparando bem, sim, é
verdade, e a testa dela é mais baixa do que de nossas crianças!
-Mas mais alta do que das crianças Ka Gigur !
-Assim é, assim será ! Bem vinda, Kayawa !
Disse a Matriarca.
Karanna estava toda sorridente, encantada com
a nova criança.
A menina logo se agarrou no seio de Kirilla e
começou a mamar.
As mulheres a recostaram numa pedra para ela
descansar, e cortaram o cordão umbilical e tiraram a placenta fora com a pedra
de descarnar.
Kirilla berrou de dor, o que assustou a
criança, que começou a chorar, e Karanna a pegou no colo tentando acalmá-la.
Umas duas horas depois, melhor recuperada, mas
ainda recostada na pedra, e recebendo comida das mulheres, que a recolhiam das
caças que os homens traziam, a alimentavam e procuravam cuidar dela o melhor
que podiam.
Foi quando Ran Atok chegou.
-Muito bem, agora você é pai !Conheça a sua
filha, Kayawa !
Ran Atok imediatamente afeiçoou-se ‘a menina,
encantado por ela, e se abaixou para vê-la de perto.
Kirilla a entregou nos braços dele, que a
pegou com infinitos de cuidados.
-Ela é linda !Lembra você!
-Tem seus olhos ! Me dá ela aqui, ela está
assustada com você e precisa mamar novamente, pode me deixar sozinha?
-Claro !
E assim foram se passando os dias, e a pequena
Kayawa foi crescendo.
Doze anos se passaram e agora, ela já era uma
adolescente.
Porém, a situação já não era tão benévola:a
cada ano, os invernos iam se prolongando e se tornando mais e mais rigorosos, e
a caça ia escasseando.
Agora, já não era mais possível ficar
escolhendo que caça queriam, e eram obrigados a tentar caçar presas maiores e
mais perigosas.
Com isto, os homens foram diminuindo em
quantidade, e com menos homens para caçar, mais desprotegido o povo ficava, e
menos comida podia ser levada, e Kirilla viu
que só a caça logo não mais sustentaria aquele povo.
Caminhando pela praia, ela se preocupava: ela
já estava com trinta anos de idade, e logo começaria a ficar grisalha e velha,
e não conseguiria mais caçar, nem proteger sua filha.
E via a menina, correndo ao longe, ao largo da
água gelada do mar.
A menina catava conchinhas na praia e brincava
com elas, e foi mostrar para a mãe que algumas conchas, na verdade moluscos
ainda vivos, agonizando, soltavam uma tinta preta.
Isto deu a Kirilla algumas idéias, mas algo
mais urgente apareceu: um grande peixe, de ao menos um metro de comprimento,
encalhara na praia, jogado a terra por uma tempestade na noite anterior.
Curiosa, Kirilla viu o peixe recém morto, e teve
a idéia de leva-lo para a caverna para comer.
No início, as mulheres, estupefatas, pois nunca
tinham visto um peixe na vida, não sabiam o que fazer com ele, e experimentaram
abri-lo, e descobriram que além das entranhas estranhas, havia carne.
-Bom, acho que se rasparmos nossas pedras de descarnar
na pele dele, conseguiremos tirar esta pele esquisita e separar a , Karanna !
-Podemos tentar, Kirilla !
Depois de muitas tentativas frustradas, encontraram
o modo certode descamar o peixe e separar a carne, e o assaram no fogo.
O povo todo adorou e chegaram ‘a conclusão de que
poderia ser a solução para a fome que se avizinhava.
Porém, como encontra-los, como pegá-los, do que
se alimentavam?
Kirilla estava disposta a descobrir !
Ela, Karanna e Kayawa passavam horas observando
a água e até se aventurando até a cintura dentro da água, procurando ver se achavam
outros peixes, pois estava claro: não podiam se dar ao luxo de esperar outro encalhar
na praia !
(Por Continuar)
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