sábado, 13 de janeiro de 2018

Episódio 27-Neanderthal 2: Transição de Sangue !



-Ran Atok, meu amigo você é, e sempre será !
-Muito obrigado, Kirilla.
E foi assim, desafiando os homens, que Kirilla conseguiu conquistar o respeito  do povo Homo Sapiens, afinal, aqueles eram tempos brutos, onde respeito era algo raro e difícil de se obter.
E o respeito a ela garantiu também o respeito aos irmãos Ran Atok e Lur Okow, embora ressentimentos e mágoas tenham ficado nos corações daquela gente.
Quando a noite chegou, já perto da hora de dormir, finalmente o Xaman, depois de muito pensar, e  depois do que ele chamava de “consultar os espíritos”, ele voltou para a fogueira com suas decisões:
-Quero agora anunciar que, de agora em diante, serei o Xaman e também o Chefe de nosso povo.E os espíritos me aconselharam também:amanhã partiremos em viagem, pois este lugar não é nosso e está vazio, há pouca caça e não nos sustentará !
-Ah, paciência, vem, Karanna, vamos dormir na outra caverna, já é tarde!
-Tudo bem, eu estava quase dormindo aqui !
E lá se foram as duas, e as demais mulheres as seguiram, além dos vigias.
No dia seguinte, todos pegaram suas tralhas e partiram, em plena madrugada gelada.Saíram do vale escalando uma passagem mais baixa entre as montanhas seguindo rumo Norte, e o terreno se abriu para uma imensa e gélida campina a perder de vista.
O Xaman,vendo que aquela direção não ia dar em nada, resolveu então mudar o rumo para o Oeste.Todos aceitaram , pois, naquelas alturas, tanto fazia a direção, parecia não  haver nada em lugar algum mesmo.
Passou-se a manhã toda, e a neve começou a ceder e o frio amainou um pouco, mas o vento não contribuía.A fome reapareceu, e a necessidade de caça foi ficando urgente.Finalmente, avistaram uma floresta ao longe, e suas esperanças se reacenderam- mas também seus temores-pois poderia haver predadores ‘a espreita ali.
Então divisaram ao longe, ao largo da floresta, uma enorme sombra escura nas brumas enregeladas, de seres imensos, os quais, pela sua altura, não deixou dúvidas, mesmo sendo apenas silhuetas mal traçadas: era uma manada de Mamutes !
-Vamos segui-los! Melhor do que irmos para a floresta agora !
Disse o Xaman.
E aquela fora uma sábia decisão!
Os Mamutes, enfraquecidos de fome, vinham na direção contrária, buscando a floresta, mas para tanto, teriam de atravessar um rio congelado. E eles hesitavam, pois sabiam o tamanho do perigo.
Não que o rio fosse muito largo, ele não tinha mais do que dez metros de largura; mas o peso das toneladas dos paquidermes poderia romper o gelo e eles caírem numa armadilha mortal.
A matriarca do bando procurou com os olhos, de um lado a outro, tentando achar uma maneira de contornar o rio, mas logo ficou claro que não havia como.
Porém, uma jovem afoita, semi- adulto,em sua inexperiência, desobedeceu a matriarca e passou na frente e tentou atravessar, no que foi repreendido pelo urro da fêmea mais velha do bando.
Porém, enlouquecida de fome, arriscou-se...e perdeu!
No meio da travessia, o gelo se quebrou e ela afundou, e ela trombeteou por socorro.
O rio não era dos mais fundos, mas era profundo suficiente para ela ficar com os olhos para baixo da linha da água e só sua tromba a permitia respirar. E não poderia urrar agora, ou se afogaria. O fundo lodoso do rio não colaborava com seu desespero, e seu pelo molhado  não mais a isolava do frio intenso e seu corpo começou a se entorpecer perigosamente. Apenas o alto de suas costas, sua corcova e de sua cabeça, além de sua tromba estavam fora da água.
Suas patas buscavam escalar de volta, mas não conseguiam.
Suas pupilas dilatadas e olhos arregalados miravam o fundo vazio do rio, em exaspero.
Já a Matriarca decidiu não tentar socorrê-la. Ela sabia que se tentassem, a vida de todo bando estaria em risco. Assim, o bando inteiro virou as costas cruelmente para a jovem condenada e foram embora, procurando uma maneira de contornar o rio.
Foi nesta hora, em que os Mamutes não se conseguiam ver no horizonte, que os humanos chegaram, e como eram leves, o gelo não cedeu ao peso deles. Eles subiram nas costas do mamute preso, e , ‘a maneira Neanderthal, afundaram suas lanças nas carnes dele, que viu, horrorizado, o sangue dele se espalhar na água, e a dor lancinante das lãminas de pedra afiadas a lhe rasgarem os músculos.
-Ele não vai poder reagir, e morrerá de qualquer jeito, sem falar que daqui a pouco animais caçadores chegarão aos montes! Vamos arrancar os pedaços de carne dele que pudermos carregar e ir para a floresta!
Disse o chefe.
A jovem fêmea Mamute então teve suas costas descarnadas e sua corcova arrancada ainda viva, e os ossos da coluna começavam a despontar, brancos.
Mas mais que os ferimentos, foi a hipotermia foi quem a matou , ajudada pela perda colossal de sangue.
Os humanos trataram de se afastar dali o mais rápido que podiam, pois já escutavam ao longe os uivos amedrontadores dos lobos gigantes.
Uma vez na floresta, eles aproveitaram a abundância da lenha e fizeram uma fogueira, e começaram a assar a carne.
Agora sim a fome ia sendo mitigada, mas eles tinham de comer depressa, para não chamar a atenção dos predadores.
Com os lobos gigantes indo na direção do mamute morto, os humanos decidiram atravessar a floresta e  ver onde ia dar. Não podiam se dar ao luxo de um enfrentamento desnecessário.
Depois de horas e horas de nervosa travessia, a floresta terminou e a campina se abriu novamente.
E, curiosamente, ela se inclinava para baixo, numa ladeira cada vez mais acentuada, mas, ainda assim, sem dificuldades para descer.
Eles foram notando que quanto mais desciam, menos frio ficava o clima, e mais rarefeita a neve, até que esta acabou e revelou as gramíneas verdejantes.
Naquele ponto, ao longe, puderam ver que ao longe, na direção Norte, o rio voltava a ser encontrado- e não mais congelado.
Então viram o mesmo bando de Mamutes, também distantes chegando naquelas paragens e finalmente  pastando alegremente na vegetação.
-Parece que encontramos nosso refúgio, finalmente !
Disse Kirilla para Karanna.

(Por Continuar)

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