-Ran Atok, meu amigo
você é, e sempre será !
-Muito obrigado,
Kirilla.
E foi assim,
desafiando os homens, que Kirilla conseguiu conquistar o respeito do povo Homo Sapiens, afinal, aqueles eram
tempos brutos, onde respeito era algo raro e difícil de se obter.
E o respeito a ela
garantiu também o respeito aos irmãos Ran Atok e Lur Okow, embora
ressentimentos e mágoas tenham ficado nos corações daquela gente.
Quando a noite
chegou, já perto da hora de dormir, finalmente o Xaman, depois de muito pensar,
e depois do que ele chamava de
“consultar os espíritos”, ele voltou para a fogueira com suas decisões:
-Quero agora
anunciar que, de agora em diante, serei o Xaman e também o Chefe de nosso
povo.E os espíritos me aconselharam também:amanhã partiremos em viagem, pois
este lugar não é nosso e está vazio, há pouca caça e não nos sustentará !
-Ah, paciência, vem,
Karanna, vamos dormir na outra caverna, já é tarde!
-Tudo bem, eu estava
quase dormindo aqui !
E lá se foram as
duas, e as demais mulheres as seguiram, além dos vigias.
No dia seguinte,
todos pegaram suas tralhas e partiram, em plena madrugada gelada.Saíram do vale
escalando uma passagem mais baixa entre as montanhas seguindo rumo Norte, e o
terreno se abriu para uma imensa e gélida campina a perder de vista.
O Xaman,vendo que
aquela direção não ia dar em nada, resolveu então mudar o rumo para o
Oeste.Todos aceitaram , pois, naquelas alturas, tanto fazia a direção, parecia
não haver nada em lugar algum mesmo.
Passou-se a manhã
toda, e a neve começou a ceder e o frio amainou um pouco, mas o vento não
contribuía.A fome reapareceu, e a necessidade de caça foi ficando
urgente.Finalmente, avistaram uma floresta ao longe, e suas esperanças se
reacenderam- mas também seus temores-pois poderia haver predadores ‘a espreita
ali.
Então divisaram ao
longe, ao largo da floresta, uma enorme sombra escura nas brumas enregeladas,
de seres imensos, os quais, pela sua altura, não deixou dúvidas, mesmo sendo
apenas silhuetas mal traçadas: era uma manada de Mamutes !
-Vamos segui-los!
Melhor do que irmos para a floresta agora !
Disse o Xaman.
E aquela fora uma
sábia decisão!
Os Mamutes,
enfraquecidos de fome, vinham na direção contrária, buscando a floresta, mas
para tanto, teriam de atravessar um rio congelado. E eles hesitavam, pois
sabiam o tamanho do perigo.
Não que o rio fosse
muito largo, ele não tinha mais do que dez metros de largura; mas o peso das
toneladas dos paquidermes poderia romper o gelo e eles caírem numa armadilha
mortal.
A matriarca do bando
procurou com os olhos, de um lado a outro, tentando achar uma maneira de
contornar o rio, mas logo ficou claro que não havia como.
Porém, uma jovem
afoita, semi- adulto,em sua inexperiência, desobedeceu a matriarca e passou na
frente e tentou atravessar, no que foi repreendido pelo urro da fêmea mais
velha do bando.
Porém, enlouquecida
de fome, arriscou-se...e perdeu!
No meio da
travessia, o gelo se quebrou e ela afundou, e ela trombeteou por socorro.
O rio não era dos
mais fundos, mas era profundo suficiente para ela ficar com os olhos para baixo
da linha da água e só sua tromba a permitia respirar. E não poderia urrar
agora, ou se afogaria. O fundo lodoso do rio não colaborava com seu desespero,
e seu pelo molhado não mais a isolava do
frio intenso e seu corpo começou a se entorpecer perigosamente. Apenas o alto
de suas costas, sua corcova e de sua cabeça, além de sua tromba estavam fora da
água.
Suas patas buscavam
escalar de volta, mas não conseguiam.
Suas pupilas
dilatadas e olhos arregalados miravam o fundo vazio do rio, em exaspero.
Já a Matriarca
decidiu não tentar socorrê-la. Ela sabia que se tentassem, a vida de todo bando
estaria em risco. Assim, o bando inteiro virou as costas cruelmente para a
jovem condenada e foram embora, procurando uma maneira de contornar o rio.
Foi nesta hora, em
que os Mamutes não se conseguiam ver no horizonte, que os humanos chegaram, e
como eram leves, o gelo não cedeu ao peso deles. Eles subiram nas costas do
mamute preso, e , ‘a maneira Neanderthal, afundaram suas lanças nas carnes
dele, que viu, horrorizado, o sangue dele se espalhar na água, e a dor
lancinante das lãminas de pedra afiadas a lhe rasgarem os músculos.
-Ele não vai poder
reagir, e morrerá de qualquer jeito, sem falar que daqui a pouco animais
caçadores chegarão aos montes! Vamos arrancar os pedaços de carne dele que
pudermos carregar e ir para a floresta!
Disse o chefe.
A jovem fêmea Mamute
então teve suas costas descarnadas e sua corcova arrancada ainda viva, e os
ossos da coluna começavam a despontar, brancos.
Mas mais que os
ferimentos, foi a hipotermia foi quem a matou , ajudada pela perda colossal de
sangue.
Os humanos trataram
de se afastar dali o mais rápido que podiam, pois já escutavam ao longe os
uivos amedrontadores dos lobos gigantes.
Uma vez na floresta,
eles aproveitaram a abundância da lenha e fizeram uma fogueira, e começaram a
assar a carne.
Agora sim a fome ia
sendo mitigada, mas eles tinham de comer depressa, para não chamar a atenção
dos predadores.
Com os lobos gigantes
indo na direção do mamute morto, os humanos decidiram atravessar a floresta e ver onde ia dar. Não podiam se dar ao luxo de um
enfrentamento desnecessário.
Depois de horas e horas
de nervosa travessia, a floresta terminou e a campina se abriu novamente.
E, curiosamente, ela
se inclinava para baixo, numa ladeira cada vez mais acentuada, mas, ainda assim,
sem dificuldades para descer.
Eles foram notando que
quanto mais desciam, menos frio ficava o clima, e mais rarefeita a neve, até que
esta acabou e revelou as gramíneas verdejantes.
Naquele ponto, ao longe,
puderam ver que ao longe, na direção Norte, o rio voltava a ser encontrado- e não
mais congelado.
Então viram o mesmo bando
de Mamutes, também distantes chegando naquelas paragens e finalmente pastando alegremente na vegetação.
-Parece que encontramos
nosso refúgio, finalmente !
Disse Kirilla para Karanna.
(Por Continuar)
(Por Continuar)
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