-Então vá
para a primeira galé e se vire ! A Capitã está com fome e é bom que o jantar
dela saia rápido !
-Sim,
senhora !
E
Verônica foi para lá. O caldeirão estava numa imundície de dar medo, com centenas
de ratos e baratas se refastelando nos restos de comida no fundo do caldeirão.
Com muita
dificuldade, ela baixou e inclinou o caldeirão, o que levou os ratos a fugir,
mas muitas baratas continuavam lá.
A Solução
foi pegar um grande balde, encher o caldeirão de água do mar, e acender o fogo
e deixar a água ferver, e depois deitar a água fora.
A água
fervente escorreu sebosa e imunda, com restos de baratas mortas para todo lado,
o que atraiu mais ratos e baratas para devorar os cadáveres no chão.
Este
procedimento, porém, não lavou completamente a sujeira o caldeirão, muito pelo
contrário, mas ela não ligou. Pegou e abriu um barril de água doce e o despejou
no caldeirão, pegou as batatas e cenouras roídas pelos ratos e as cozinhou com
uma carne seca conservada no sal , igualmente roída e cheia de excrementos de
ratos, e a jogou no caldeirão.
Ela não
sabia, mas era a carne das crianças que Marlene mantinha prisioneiras nas
masmorras de seu castelo para assar e comer.
O sino de
bronze tocou, e Ariadne apareceu, pegou um prato e talheres, serviu-se com a
concha e levou a nojenta refeição para sua soberana.
O
ensopado era tão ruim que até cheirava mal !
Mas
Marlene não se satisfez em ser servida na mesa de seu quarto, isolada de
todos.Ela saiu de lá antes de comer, reuniu todas as marujas e as mandou
continuarem trabalhando até que ela terminasse de comer. Só depois que ela
terminasse é que as demais poderiam se servir !
E assim
foi.
Só quando
Ariadne chegou com o prato sujo de Marlene
na primeira galé, é que Verônica pôde chamar as demais piratas, que já
estavam verdes de fome.
Já no
Black Marlin, a situação era outra:
As
piratas já tinham terminado suas refeições e já tinham voltado a trabalhar.
Foi
quando, do alto de seu observatório no mastro principal, Diana, a vigia,
gritou:
-Navio ‘a
vista !
-Vou
subir aí !
Disse
June, que após subir, estendeu sua luneta telescópica.
-É um
navio mercante holandês !É presa !
June
desceu do mastro e anunciou:
-Temos
uma presa ! Todas aos postos de batalha !
-E nós,
Capitã?
Perguntou
Celine, acompanhada de Fran e Melissa.
-Vocês
ainda não estão suficientemente treinadas, crianças! Vão para a última galé e
só saiam quando mandarmos, é para a própria proteção de vocês !
Obedientes,
elas logo estavam descendo as escadas.
-Curva a
estibordo, Bianca !
-Sim,
senhora !
O Black
Marlin fez a curva e logo estava ao lado
do navio mercante, que não tinha canhões.
A vítima
tentou fazer uma curva para tentar escapar, mas June mandou dar um tiro de
advertência, e logo ambos os navios estavam um do lado do outro e o pranchão
foi colocado.
Trinta e
seis piratas entraram no navio mercante, onde os marinheiros estavam de mãos
para o alto em sinal de rendição. Foram todos amarrados juntos, inclusive o
Capitão e seu Imediato, junto ao mastro principal, e as piratas saquearam o
navio, levando ouro, prata, especiarias e boa parte dos víveres. Após levar
tudo de valor do navio, as piratas os desamarraram, e foi neste momento que os
marujos mercadores se revoltaram e tentaram ir para cima das garotas, e em resposta,
Long Legs Laura saiu espancando os revoltosos.
Havia, no
entanto um corajoso garoto com não mais do que dezesseis anos, que veio para
cima de Vivian com uma adaga afiada.
Léa,
quase que institivamente, reagiu trespassando o garoto com sua espada no ventre
dele, de fora a fora, e ele, de olhos arregalados, regurgitou sangue, fora o
que escorreu tanto onde a espada entrou como onde ela saiu, e caiu morto no
tombadilho.
Houve
tumulto entre os marujos mercantes, revoltados com a morte do garoto, e as
piratas os ameaçaram com suas espadas.
Repentinamente
um dos homens veio e se ajoelhou diante do garoto morto, e gritou:
-Meu
filho ! Filho...nãaaaaaaooo !
Léa se
aproximou para rasgar suas costas, mas June interveio:
-Não. Ele
tem direito de chorar a morte do filho dele. Vamos embora daqui.
Léa, já
escaldada de sua última surra por desobediência, parou e calou-se.
As
piratas se retiraram de espadas na mão e de frente para os civis, e retiraram o
pranchão, afastando-se do navio holandês.
Enquanto
isto, um pai pranteva a morte do filho,
com seus colegas consternados.
Já
recolhida em sua cabine, longe dos olhares de todas, de frente para a vidraça
traseira de seu quarto,a Capitã June caiu ajoelhada no chão e chorou. Chorou
convulsamente de piedade do homem que chorava a morte de seu filho e pela morte
do rapaz. Aquela cena tocou seu coração, e as lágrimas corriam copiosas pelos
vãos de seus dedos na frente do rosto. Aquela fora uma morte desnecessária, que
poderia ter sido evitada. E que trouxe enorme risco de provocar uma grande
batalha.
No
convés:
-Você não
precisava ter matado aquele menino ! Era quase uma criança ainda !
-Ele ia
matar a Vivian, Rachel !
-Era só
ter segurado ele pelo braço, e agora, os holandeses vão espalhar para todos os
portos que somos matadoras de crianças, e aí poderemos ter tudo quanto é pirata
contra nós, fora os militares holandeses, graças a você !
Arrematou
Suzanne.
-Reze
para que a Capitã não me ordene outra surra em você, por que é isto o que tenho
vontade de fazer com você agora !
Disse
Long Legs Laura, com um olhar que gelou a espinha de Léa,que engoliu em seco.
Neste
interim, Juliette desceu ‘a ultima galé, e liberou as crianças.
-Podem
subir, meninas, o assalto já terminou.
As
meninas, aliviadas, pois detestavam aquele lugar, subiram as escadas correndo,
mas o que encontraram no tombadilho foi um clima bem hostil.
Havia uma
multidão de piratas cercando Léa.
-O que
aconteceu aqui enquanto fui nas galés?
Perguntou
Juliette.
A turba
explicou o motivo do cerco.
-Não
toquem nela. Vou chamar a Capitã e ela decidirá o que fazer.
Logo
ouviam-se batidas na porta da cabine de June.
A Capitã
enxugou o rosto com um lenço, limpando as lágrimas e levantou-se, indo até a
porta.
-O que
foi,Juliette?
A Imediata
lhe explicou o acontecido.
-Vamos lá
antes que isto vire um motim, ou um linchamento!
Respondeu
a Capitã, que dirigiu-se para a multidão resolutamente.
Imediatamente
todas abriram o caminho e saíram da frente.
June,
escoltada por Juliette e Long Legs Laura,estava frente a frente com Léa.
Sua
expressão em seu rosto era terrível.
-SPLAAAFT!
Soou o
tapa na cara de Léa, que já estava tremendo de medo.
-Por
acaso te dei ordem para matar o rapaz?
-Não,
Capitã...
-Foi uma
morte estúpida, desnecessária, que nos colocou em risco e nos deixou mal
afamadas , sua irresponsável !Long Legs Laura !
-Sim,
senhora, Capitã !
-Amarre-a
no mastro da popa até o anoitecer, sem água nem comida !E que ninguém se
aproxime dela ! Léa, você só escapou da surra por ter salvo a vida da Vivian,
mas minha paciência já está se esgotando com você !Você é a única que me dá
trabalho aqui !Pode leva-la, Laura !
Este não
seria um castigo menos benevolente do que a surra. Ficar amarrada no mastro, em
pé, debaixo do sol escaldante por horas a fio, amarrada, judiava da circulação
das pernas e braços, que geralmente adormeciam, e causavam muitas dores
musculares. Depois de algum tempo, era uma tortura dolorosa !
(Por Continuar)