O olhar de June era feroz, e ela estava calada.
Quem a conhecia bem, sabia perfeitamente o que isto significava. Não demorou e
toda a tripulação acordou para assistir.
Sem falar nada, a Capitã acertou com o punho de
sua espada na boca do estômago de Léa, que gritou de dor e regurgitou sangue, após ter seu torso
chocalhado e levantado no ar até quase ficar na horizontal, ainda segura nos
braços de Carmen e Rachel.
-Então você ousou me desobedecer, mandriã? Você
sabe muito bem o que acontece com quem me desafia, não sabe? Acaso está
querendo se amotinar? Heim?Heim, camarão? Pois agora você será punida ! Long
Legs Laura, dê uma boa surra nela! E crianças, vocês não devem ver isto, vão
dormir !Aliás, todo mundo, vamos dormir, deixem só as duas aqui !
Todas as demais piratas foram dormir.
Em pleno tombadilho, sob a luz da lua cheia, Léa
apanhava como nunca apanhara na vida.
De sua rede, na primeira galé, Françoise podia
ouvir os gritos lancinantes de dor ,mais intensos e altos que os de uma mulher em pleno parto e o choro
convulso de Léa enquanto Long Legs Laura a espancava com seus braços
fortíssimos e suas longas e robustas pernas, em total silêncio.
June dormia
como se nada estivesse acontecendo.
Depois de quase uma hora de surra contínua,
completamente exaurida, sem ter tido sequer chances de se defender, e cheia de
hematomas e derramando sangue por várias feridas, Léa, toda moída , foi para
sua rede.
A dor era tamanha que ela nem conseguia pensar em
nada. Mas a dor em seu ego era muito, muito pior. E sua raiva de Françoise
aumentou, pois ela ouvira rumores de que quem a denunciou fora a menina
loirinha que um dia foi Princesa. Ela iria continuar planejando sua vingança
contra Fran também, além da Capitã. Mas não agora, agora só havia espaço para a
dor!
E ela sabia que sofreria ainda mais no dia
seguinte, por que ela sabia que as demais piratas iriam ficar fazendo troça
dela por ter apanhado de Long Legs Laura, outra de quem Léa jurava a si mesma
se vingar. Nem lhe passava pela cabeça que não tinha valido a pena se
sacrificar tanto e se arriscar tanto por um homem.
No dia seguinte, Juliette apareceu na porta do
quarto de June e disse:
-Bom dia, Capitã !
-Bom dia, Juliette.
-A senhora tem me parecido um pouco nervosa nos
últimos dias...
June cochichou no ouvido dela:
-É por que estou para entrar naqueles dias...sempre
fico muito nervosa!
-Ah, desculpe, Capitã, não deveria ter
perguntado...
-Tudo bem, acorde e reúna a tripulação, deixe uma
meia dúzia de piratas tomando conta do navio e o resto vem com a gente para a
cidade !
-Sim senhora !
Léa nem dormira naquela noite. O olho que lhe
sobrara ( pois do outro ela já era cega) estava roxo, inchado e quase fechado,
e ela mal enxergava alguma coisa. Seus ferimentos ainda abertos doíam, e seus
músculos também estavam doloridos, e câimbras percorriam seu corpo. Mal se
aguentava em pé, e caminhar era um enorme sacrifício. Suas costelas , só de
respirar, pareciam que iam se quebrar, a
dor era intensa. As costas, com a coluna massacrada pelos chutes
ferozes, o busto atingido por socos violentos, também doíam muito e extravasavam
sangue pela borda dos mamilos com a pele.,meio pendurados O pescoço então, nem ela não sabia
como não quebrara; só de lembrar de Long Legs Laura a segurando por um braço
e a chutando fazendo-a girar no ar até
quase ficar de ponta cabeça e voltar, e receber novo chute, e outro, e outro,
numa sucessão que lhe parecera interminável, por vários minutos seguidos,deixava
a própria Léa surpresa de como ela não morrera naquela noite. Inclusive por
causa das torções, a junção dos braços com o tronco exibiam uma dor insuportável.
Ela já sabia antes que a gigante Long Legs Laura era muito mais forte que ela
em termos musculares, mas agora tinha certeza. E como era previsível, a maioria
das demais piratas ficou fazendo troça dela, e ela sabia que não poderia
reagir, ou seria pior. Aliás, no estado em que estava, nem conseguiria. Mas ela
sabia que na dura vida a bordo, mesmo depois de uma surra destas ela teria de
continuar desempenhando seus trabalhos no navio. Desta vez teve sorte, pois
iriam passar o dia na ilha, mas, se houvesse luta, seria exigido dela que
lutasse.
Finalmente Juliette devolveu sua espada e a
mandou descer com as outras.
Enquanto isto, no Castelo:
- Ariadne ! Eu quero ela aqui , na frente do meu trono ! Vá busca-la,
Lorena !
-Sim, Vossa Majestade !
Lorena era
o braço direito de Ariadne, também fazendo parte da guarda real.
A garota bateu na porta do quarto da General, e
quando esta abriu a porta, Lorena soltou um gritou de horror:
Ariadne, cheia de ferimentos que ainda não tinham
se cicatrizado, vertia sangue no chão e havia um rastro de pingos de sangue
atrás dela.
-O que você quer
-Senhora, Vossa Majestade está chamando a Vossa
Excelência !
-Já estou me trocando! Feche a porta !
-Sim, senhora !
E Lorena a obedeceu.
Alguns minutos depois, a General aparecia com
novas roupas escuras, para disfarçar o sangue. Caminhou com dificuldade até a
sala do trono.
(Por continuar)
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