Foi quando um serviçal entrou no salão e disse:
-Majestade, o jantar está servido !
Marlene finalmente parou de bater.
Ariadne caiu no chão, desfalecida, encolhida em
posição fetal.
-Vocês capturaram e colocaram para assar viva
aquela criancinha que estava presa no calabouço?
-Sim, Majestade !Será servida com batatas !
-Ótimo. Podem mandar a Aia desta infeliz
recolhê-la. Já terminei com ela !
De volta na cidade, um lauto jantar foi oferecido
na taverna, de graça para as piratas em agradecimento.
-Você está brincando, Antoinette ! É sério que a
Baronesa se alimenta de carne humana?
-Sim, senhorita, infelizmente é verdade. Ela
manda os soldados capturarem nossos filhos e netos, e os prende no calabouço
para os engordar, depois os assa vivos e os devora ! Olha a que nível chega a
crueldade deste monstro ! Eu vi com meus próprios olhos, que a terra há de
comer ! No tempo da Rainha Beatrice era tudo secreto, mas agora já deve ser tudo 'as claras. A Rianha Marlene sempre colocou no Castelo as pessoas mais perversas do reino para trabalhar lá, só bandido da pior espécie !
-Que horror, que horror !
Exclamou June, espantada, de olhos arregalados !
Todas na mesa ficaram horrorizadas também. Menos
Léa, que não comentou nada, mas não viu nada de mal nisto. Entretanto, ela nem
estava prestando muita atenção na conversa, com seus olhares indecentes para Pierre, cujos olhos pareciam
travados no decote dela e ele sequer disfarçava.
-Aham !Pigarreou alto a Capitã, ao perceber o
envolvimento dos dois.
Léa e Pierre levaram um susto daqueles !
-Senhor rebelde, o nosso presente combinado já
lhe foi servido e não há mais nada contratado! Ou preciso ser mais clara?
-Não ,Capitã, eu entendi !
-Capitã, eu...
-Você não diz nada, fanfarrona !Você é
inteligente, Léa, entendeu perfeitamente o que eu quis dizer !
-Sim, mas...
June bateu com o punho da espada na mesa e aumentou o tom de voz:
-Minhas ordens não se discutem !Cale-se ou terá
consequências !
Agora até a valente e feroz Léa tremeu de medo. Ela sabia que não era páreo
para sua capitã. Mas por dentro, o ódio e o rancor, a revolta estavam crescendo
. Ela estava enlouquecida de vontade de se deitar com Pierre de novo, mas não
podia. Entretanto, uma vingança já se desenhava em um plano em sua cabeça.
Inexperiente e auto confiante, Pierre, que ainda
conhecia pouco ’a June, tentou conciliar a situação e defender Léa:
-Senhorita June, por favor reconsidere, podemos,
de repente, firmar novo contrato e...
A espada da Capitã voou na direção dele e se
fincou na mesa a um centímetro do peito dele, tão repentinamente que ele deu um
salto para trás a ponto de cair da cadeira!
Logo tinha a Capitã com a espada tocando seu
pescoço:
-Com quem você pensa que está mexendo, mandrião?
Onde está sua coragem agora? Tem certeza que quer desafiar minha autoridade?
Ele, caído deitado de barriga para cima no chão, disse,
com cara assustada:
-Não, não, senhorita !
-Então cale a boca e comporte-se ! Outro olhar
indecente e me certificarei de que não consigas nunca mais se deitar com
ninguém, fui clara?
E June fincou sua bota com salto de madeira
maciça na virilha dele com toda a força, que berrou de dor como um porco que está sendo aberto
vivo!
-Sente-se e coma quieto. Bico calado !E você,
Léa, venha se sentar do meu lado !
Léa, cabisbaixa, mas rangendo os dentes de raiva,
obedeceu prontamente.
-Garotas, fechem seus decotes !
Todas as piratas obedeceram a ordem da Capitã.
Pode parecer que June ‘as vezes fosse autoritária, mas o ambiente pirata era
selvagem e um Capitão precisa manter sua autoridade inquestionada, ou poderia
sofrer um motim, ou mesmo ser desafiado pelos seus comandados, que poderiam
tentar lhe tirar o posto. E não era em todas ali que June confiava cegamente.
Ela sabia direitinho em que realmente poderia confiar totalmente, e em quem não
poderia confiar de maneira alguma. de certa
forma, foi uma maneira de mostrar a Léa
quem mandava ali e porque June era a Capitã.
Por um tempo, o ambiente na mesa ficou gélido,
depois foi voltando ao normal.
-Bom, garotas, vamos voltar ao navio para dormir
agora. Amanhã teremos um longo dia pela frente. Ah, e senhor Pierre: homens não
são permitidos a bordo , então daqui irás direto para tua casa, e sozinho,
entendido?
-Sim, senhorita !
Todas se despediram de Antoinette, e foram para o
navio. June deixou Carmen e Rachel de vigias para impedir uma fuga de Léa, ou
uma entrada clandestina de Pierre.
Mas Léa, já em sua rede, estava inconformada e
furiosa! Ela sabia que ela nunca mais poderia se deitar com Pierre, e que a
culpa disto era de June.
Quando eram altas horas da madrugada, tentou se
levantar, pé ante pé, no maior silêncio possível, e foi caminhando pelo
corredor de redes até a escada para o tombadilho.
O que ela não sabia, porém, era que Françoise
estava com insônia, depois de ter pesadelos com sua prima. Sonhara que Marlene
a amarrara num espeto e a estava assando viva, pronta para devorá-la , e não
conseguiu dormir mais. Estava sentada na escada, e , na penumbra da noite de
lua cheia que entrava pelo vão da escada, viu Léa tentando fugir.Ela subiu a
escada no maior silêncio possível e acordou Carmen, que cochilava. E esta
avisou Rachel.
Léa percebeu que alguém subira as escadas e
voltou correndo para sua rede.
Porém, não demorou e Carmen e Rachel
aproximaram-se dela, a pegaram pelos braços e a levaram escada acima e acordaram Juliette também, e pediram a ela,
para acordar a Capitã. Juliette retirou a espada da cintura de Léa, e uma faca
também.
Não demorou e June chegou, ainda com as roupas
parcialmente desabotoadas. Era a hora de Léa acertar suas contas com a Capitã !
(Por continuar)
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