Sim, era mais uma
fase Glacial que estava se iniciando, e os animais já tinham pressentido e
estavam fugindo daquele inverno sem fim com sua migração.
Acima de suas
cabeças, os pássaros testemunhavam a gigantesca manada capitaneada pelos Mamutes!
Eram tantos, incontáveis
a perder de vista!
Kirilla e Karanna
ficaram espantadas de ver tantos animais reunidos e indo numa só direção, e até
os animais que moravam na florestinha ali perto se juntaram ao bando!
E atrás deles, uma
horda de predadores gigantes e outros menores, mas todos famintos e perigosos.
Nenhum herbívoro se
atrevia a ficar para trás, nenhum filhote se desgarrava da manada, ou estaria
entregue ‘a morte certa, pois ninguém iria parar e voltar para salvá-lo e
arriscar a vida.
Mesmo os velhos e
doentes faziam o máximo esforço para permanecer com os demais, a miríade de
dentes caninos afiados arreganhados permanentemente para eles era assustadora.
As duas garotas os
seguiam de longe, e, apesar de tudo, de tantos predadores reunidos, se sentiam
seguras, pois eles estavam focados apenas nas presas migrantes, apenas procuravam
não chamar a atenção, para evitar serem as próximas refeições.
Mas claro que o
vento gelado e a neve logo alcançaram a todos, animais e humanos.
Kirilla e Karanna
caminhavam embrulhadas nas colchas de pele de mamute, e ainda assim, tiritavam
de frio.
A preocupação delas
era imensa: não bastava o perigo de algum predador sentir-lhes o cheiro, a
caminhada era longa demais, dura demais, na neve espeça, fofa, mas que
dificultava os passos imensamente, e elas não podiam ir caçar animais da migração,
tinham de esperar algum se desgarrar e torcer para não ser precebido pelos
predadores.
Também não poderiam
se desviar do caminho e procurar outros animais a caçar, ou se perderiam da
manada.
E como no caminho os
animais locais iam se juntando na manada, a tendência é que fora dela, tudo
estivesse vazio de vida e não restasse nada a caçar.
Assim, a fome seria
inevitável, assim como o cansaço depois de horas e horas de lenta caminhada.
Enquanto isto, bem
distante dali, Lur-Okow e Ran Atok , expulsos da caverna Neanderthal, viajavam,
enregelados de frio, com neve até os joelhos e tudo o que viam, por quilômetros
a fio eram planícies brancas e florestas vazias cobertas de branco.
Menos musculosos, e
com menos adaptações para o frio, eles sofriam mais que os Neanderthal.
Foi quando
encontraram um imenso casco de Gliptodonte (tatu do tamanho de um carro),
vazio, e resolveram tentar se abrigar do frio e da neve ali.
Eles tentaram fechar
a frente e a traseira do casco com peles de Mamute, o que não era cem por cento
eficiente, mas conseguiu conservar um certo calor lá dentro.
Tinham encontrado um
abrigo improvisado, mas até quando? Aquelas nevascas podiam durar meses e meses
e eles não tinham comida com eles. Tentar caçar naquele frio era loucura, sem
falar inútil: todos os animais da região já estavam na migração.
Já os Neanderthal
que tinham ficado na caverna se deram melhor , mas apenas por enquanto:
Havia fogueira, e
eles mataram o Urso das Cavernas que hibernava no fundo da gruta, e conservavam
sua pele, carne e gordura na neve que traziam de fora.
O fundo da gruta
tinha um rio subterrâneo, onde eles podiam beber água.
Assim, eles tinham
abrigo, quentura , comida e água, mas...por quanto tempo?
Nem eles mesmos
sabiam !
Voltamos então a
Karanna e Kirilla:
Para elas, ainda não
havia nenhum abrigo, e nem sinal de caverna por perto, nem mesmo uma toca de
animal grande.
-Kirilla, eu...eu
estou com tanta fome..tanta fome, que comeria sozinha um Mamute !
-E eu, se pudesse,
dois, Karanna, mas por enquanto hão há o que fazer...
-Você viu? Aquele
Garras Grandes velho que ficou para trás? Os lobos gigantes o despedaçaram vivo
, depois as Mortes de Dentes Longos foram para cima deles e depois um Urso
Gigante e então as Hienas gigantes chegaram e só vi sangue voando para todo
lado, um monte de animais caçadores morreram, e outros foram de alimentar
deles, e no fim, nada sobrou para nós!
-Sim, eu vi, um
horror, um horror...eles já são ferozes, mas com a fome crescente, enlouquecem
completamente!
-E aquele Cauda
Mortal então? Ficou para trás, e os caçadores o cercaram e tanto fizeram que
conseguiram revirá-lo de cabeça para baixo, e o mataram e devoraram!
-Por favor, pare de
falar em comida...e meus pés, meus pés estão me matando de tanto caminhar,
estou com cainbras, mal consigo andar...
-Eu também, a mesma
coisa..minhas unhas estão ficando pretas....precisamos encontrar um abrigo e
comida de qualquer jeito, ou vamos morrer, Kirilla!
-Vamos resistir,
Karanna, calma, vamos conseguir encontrar alguma coisa...
-Será que não seria
melhor a gente deixar os animais irem e procurarmos algum abrigo?
-Não sei se vale a
pena, sinceramente...que situação difícil...
-Podemos seguir as
pegadas deles depois...
-A neve e o vento
logo encobrirá os rastros deles, Karanna...e nem sabemos para onde estamos
indo...
-Os animais também não
! Só sei que estão indo na direção em que o Sol se põe....
-Verdade, isto nós
podemos fazer... mas ficando perto da manada, podemos tentar pegar alguma
sobra...
-Mas os animais
caçadores não tem deixado nada para trás, só ossos !
E no momento,
passavam por dezenas de carcaças de predadores mortos e de presas idem.
-São paragens de
Morte, essas...não sei, ainda estou indecisa, do que devemos fazer...
-Olha para aquele
lado! Montanhas! Onde tem montanhas podem ter cavernas, Kirilla!
-Sim, mas podem não
ter também. E se não tiver o que
caçarmos lá?
As duas pararam e
olharam para ambos os lados.
De um, a manada. Do
outro, as Montanhas. A decisão iria definir se iriam sobreviver ou
morrer...qual caminho escolherão?
(Por Continuar)