Elas empunharam suas
lanças também e os encararam, dispostas a uma luta de morte por sua liberdade.
Agora foi a vez de
Lur Okow e Ran Atok se colocarem no caminho deles, de lança empunhada também.
As mulheres
perceberam a chance e foram embora, caminhando.
Agora só restava uma
única mulher, velha demais para ter filhos.
A mãe de Karanna
apareceu e com suas mãos baixou as armas dos homens prontos a se digladiar.
-Deixem-nas ir. Elas
não conseguirão se proteger sozinhas e acabarão voltando e pedindo para ficar novamente...
As armas baixaram.O
pai resignou-se, buscando acreditar nas palavras da esposa.Mas ainda estava
muito nervoso e tinha de extravasar sua impotência e raiva em alguém !
-Vocês dois Ke
Gemmar só trouxeram a discórdia e a cizânia para nosso povo, não nos servem de
nada, já somos tão poucos...se elas não voltarem, será culpa de vocês !Três
luas ! Se em três luas elas não voltarem, vocês podem pegar suas armas e nos
deixar !
Mas novamente a mãe
de Karanna chamou o marido ‘a razão:
-Se eles forem embora,
só restarão dois para caçar e você já está ficando velho, daqui a pouco não
conseguirá mais caçar !E um só não mata um Mamute nem um rinoceronte !
-Aaaaah !
E o pai de Karanna
se recolheu ao fundo da caverna , revoltado. A mãe, no entanto, pegou o cervo
morto do chão e começou a prepara-lo para o cozimento. Em sua experiência e
sabedoria, sabia que todos os desentendimentos se dissipam quando a comida é
servida.
Enquanto isto, as
mulheres se afastavam e viam a movimentação dos animais do Vale.
Cervos , cavalos e
gazelas correram assustados, ao ouvirem um trovão ao longe, atrapalhando os botes dos leões .
Tal algazarra
irritou os rinocerontes lanudos que pastavam um pouco longe, e estes começaram
a perseguir os cervos, o que os trouxe para perto das pessoas que discutiam. Os
cervos, mais velozes , correram para as florestinhas, mas os rinocerontes
estavam próximos das meninas. Eles, em um grupo de três indivíduos, enxergavam
mal, mas sentiram o cheiro das mulheres, e lembraram de antigas caçadas, em que
humanos tentaram abate-los, e abateram vários membros de suas familias. Eles logo se enfureceram e
irromperam galope em direcao em direcao
`a Karanna e Kirilla.
-Os rinocerontes! Eles vem vindo em nossa direção!
-O olhar não vai
funcionar com eles, não agora, esquece !
-E quem disse que eu
iria olhar para eles, Kirilla?
Os três rinocerontes
estavam chegando em desabalada carreira, em fúria, nove toneladas de
ferocidade!
-Nossas lanças não
farão nada contra a couraça deles! E não
adianta fugirmos, eles correm mais que nós !
-Temos que acertá-los
no olho! E o pior e’ que não há’ tempo para acender tochas!
Kirilla disse se postando
a frente deles, peito enfunado para a frente, lança em riste.
Entao uma tempestade
desabou violentamente. Elas já tinham notado que a tempestade já estava se
formando há’ algum tempo, e agora, os raios caiam por todos os lados. Chovia
torrencialmente com vento forte e
gelado, e as três feras viram chegando. Uma delas veio diretamente para
Kirilla, e Karanna instintivamente resolveu ficar ao lado da amiga. E foi a
sorte !
O sangue fervia em Kirilla, nervosismo a flor da pele,
não havia tempo para o olho no olho, teria de enfrentar mesmo, e la’ vinha a
fera, bufando e grunhindo ensandescidamente. Quando já estava quase ao alcance
da lança, um raio caiu exatamente entre
a fera e a mulher, e o rinoceronte, assustado, escorregou no capim molhado, e
caiu, e mesmo assim, veio na direção dela, que saltou o quanto pôde, e postou sua lança com toda a forca, acertando-a
precisamente no olho da fera, e esta atravessou a cabeça de fora a fora. Ela conseguiu
se desviar do rinoceronte caído ainda escorregando em alta velocidade no capim,
e usou o próprio rinoceronte para apoiar seus pés para um segundo salto. O
rinoceronte caído colidiu com outro, e ouviu-se o barulho característico de
ossos quebrando, quando o segundo rinoceronte tropeçou no primeiro, já morto,
com certeza ele tinha quebrado as duas pernas dianteiras, no mínimo. Estava
fora de combate, mas o terceiro, que estava atrasado, era justamente o maior
deles, se assustou e foi embora.
-Uff, nos salvamos !
-Verdade, Karanna
!Mas agora precisamos arrumar uma caverna onde nos abrigarmos da tempestade !
-Onde vai ter
caverna por aqui?
Os relâmpagos, no
entanto iluminaram uma série de pequenos montes ao longe, na direção leste.
-Ali, acho que ali
deve ter !Vamos lá !
As duas, encharcadas
até a medula, correram para lá, e de fato, em um dos montes havia uma pequena
caverna, e elas lá entraram.
-Kirilla, isto aqui
não está com muita cara de caverna não...
-E não é, me parece
a toca de algum animal grande, bem grande!
-Rinoceronte?
Mamute? Cauda Mortal?Ou uma Morte de Dentes Longos?
-Rinocerontes e
Mamutes não usam tocas, e Caudas Mortais
não me parece não...
-Uóooooo !
O mugir trovejante ,
alto e próximo gelou as espinhas delas,
que arregalaram os olhos:
-Garras Grandes !
As duas gritaram ao
mesmo tempo , apavoradas !
O Eremontherium
estava no fundo da caverna, de pé nas patas traseiras, com suas garras
gigantescas sendo brandidas assustadoramente!
-Foge !
Disse Kirilla, e as
duas trataram de correr!
Aquele animal quando
acuado ou defendendo o território, apesar de ser herbívoro, podia ser bem
feroz, e suas patas dianteiras era enormes e muito musculosas, e as garras
gigantescas eram afiadíssimas. Normalmente era necessário um bando inteiro de homens para conseguir
abater um, ‘a custa de muitas vidas humanas.
As duas estavam de
volta na chuva, mas depois de correrem por uns trezentos metros, encontraram
outra pequena caverna, esta sim parecia desabitada.
Na primeira, o
filhote saiu de detrás da mãe, que se abaixou e foi lamber sua cria.
Enquanto isto, na
caverna do povo de Karanna, o pai, a mãe e o irmão dela, além dos dois irmãos
Homo sapiens se abrigavam da chuva.
Eles tinham feito
uma fogueira, que os aqueciam e agora dormiam, pois com a tempestade não havia
o que fazer.
De repente ouviu-se
vozes ao longe.
As vozes foram se
aproximando, eles acordaram e se levantaram, e viram, então, um grupo de pessoas
seguindo em direção da caverna. Eram Neanderthais!
-Olhe, pai! São Ka
–Gigurs! Existem várias mulheres entre
eles, nosso povo esta salvo!
Disse o irmão de
Karanna.
(Por Continuar)
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