‘As duas da tarde, finalmente, o
cerimonial terminou e os convidados foram embora. Sasami foi logo depois do
enterro.
Já a família Tamasuki foi levada de
limousine para o aeroporto, onde o helicóptero os esperada e os deixou no
aeroporto de Osaka, onde todos pegaram seus carros.
O Casal Tamasuki voltou para casa,
já Lune preferiu voltar junto com Takeo no apartamento dele para passar o dia e
dormir com ele.
Porém, naquela noite, ninguém teve cabeça
para fazer sexo: dormiram os dois abraçadinhos, apoiando um ao outro.
Só assim Lune conseguiria dormir,
pois as imagens daquele horrendo necrotério
não saíam de sua cabeça.
No dia seguinte pela manhã, Lune
voltou para sua própria casa, e na noite seguinte, teve terríveis pesadelos com
o necrotério: sonhou que via os corpos de Rina, Rena, Washu, seus pais e Takeo
lá, mas o último pesadelo foi o pior: sonhara que vira seu próprio corpo lá !
Aí não conseguiu dormir mais !
Levantou-se, ainda de camisola, e só
de calcinha , saiu de seu quarto e foi para a cozinha assaltar a geladeira.
Estava tremendamente assustada, e
quando Sartre passou por ela se esfregando nas pernas dela, ela pulou da
cadeira com tanta violência que a cadeira caiu no chão, e ela soltou um grito
de terror tão forte que assustou o gato, que saiu correndo!
Ela finalmente caiu em si de que era
apenas o seu próprio gato e finalmente se acalmou.
Mas qualquer barulhinho lá fora a
assustava.
Depois de terminar de comer uma
montanha de bolachas, biscoitos, doces e um monte de bolo, além de tomar mais
de meio litro de sorvete, resolveu ir para a sala e se sentou na velha poltrona
capitonée em que seu pai costumava se sentar para ler seu jornal ou seus
livros.
Sentou-se na poltrona de cócoras,
abraçando as próprias pernas, sem ao menos perceber que nesta posição sua
calcinha estava á mostra.
Enterrou a cabeça no meio dos braços
cruzados e ficou lá, amedrontada, escutando cada barulhinho. Até o ligar do
motor da geladeira lhe dava sobressaltos !
Foi quando escutou barulho de água
pingando.
Um pingo, dois, três, quatro,
cinco...aí que entendeu: estava começando a chover !
Isto a ia deixando insegura e
apreensiva. Começou a colocar na cabeça que um ladrão poderia estar andando na
rua e resolver se abrigar da chuva na casa dela. E que poderia entrar lá e
estupra-la!
A chuva ficou mais forte, e agora o
temor não era mais de um ladrão, mas de uma quadrilha inteira , na cabeça
dela,que quisessem fazer um estupro coletivo com ela e passarem-na de mão em
mão!
O rictus do horror estava no
semblante dela, nos olhos arregalados e cheios de lágrimas, e quanto mais o
tamborilar da chuva caindo, mais temerosa ela ficava.
Então, a situação piorou:começou a
ouvir trovões ao longe e nas janelas da casa os relâmpagos e raios iluminavam a
casa escura, pois ela deixara só a luz da cozinha acesa.
Foi quando, repentinamente, um raio
caiu no distribuidor de energia da rua e a luz da cozinha se apagou de repente!
Foi aí que ela sentiu um calafrio
percorrer até sua alma !
Histérica, ela começou a berrar a
plenos pulmões, nem sabia o que gritava e subiu as escadas correndo e começou a
dar socos na porta do quarto de seus pais em desespero, com tamanha força que
mais parecia que a porta ia se quebrar,e fazia isto urrando sem parar!
Kazuo se levantou, assustado e
reconheceu os gritos da filha.
Momiji também, e ela mandou o marido
ir ver.
Kazuo abriu a porta e o coração de
Lune quase parou de medo, chegou mesmo a doer !
Só então reconheceu o pai pela barba
branca, e chorou recostada no peito dele, e ele a abraçou com carinho,
procurando acalmá-la.
Os trovões ribombavam e os raios
iluminavam o corredor, já que as portas
do quarto de Lune e do quarto de Ruri estavam abertas.
Lune só se acalmou quando a
tempestade passou, e Kazuo ficou o tempo todo abraçado com ela, pacientemente.
Ela sentiu as pernas bambearem,
fracas de tanto tremerem e de ficar em pé e ela desfaleceu, mas foi amparada
pelo pai, que a carregou nos braços até a cama dela, a colocou na cama, e
colocou a coberta por cima dela delicadamente, e ficou sentado na beirada da
cama, ao lado dela, acariciando seus cabelos e seu rosto, olhando
carinhosamente para ela.
Ela finalmente acordou e viu seu pai
novamente.
-Desculpe ter te acordado e te dado
trabalho, papai...
-Esquenta não, filha, fique
tranquila, os pais são para estas coisas...
Lune explicou seus pesadelos,
contando o quanto ficara assustada.
Finalmente o dia começava a
amanhecer.
-Filha, eu sei que foi muito
traumatizante ir lá no necrotério e ver todos aqueles corpos, foi um choque
muito forte para você. Mas encarar a morte, em especial a morte alheia, por que
a nossa a gente não encara, faz parte da Vida.Pelo tempo de nossas vidas a
gente sempre vai ver muita gente morrer. E você inclusive já viu gente morrer
na sua frente, nos seus braços, gente querida como a Rina.Mas procure se
lembrar que não há mais pessoas naqueles corpos, são corpos vazios...
-É justamente isto que me assusta,
pai..o Nada ! Meu corpo se esvaziar, e ficar rígido, naquelas cores horrendas,
com aquelas feições medonhas, ou todo dilacerado, como o de Ryu...não ter mais
ninguém no meu corpo e os vermes os devorarem e não sobrar nem isto de mim, meu
esqueleto...
Kazuo foi até um armário no quarto
dele e trouxe um envelope.
Dentro havia uma foto.
-Filha, olhe isto. Este aqui é um
raio –x de seu crânio. Esta é a sua morte que reside dentro de você. Todos nós
carregamos dentro de nós a nossa morte, nosso esqueleto, ele faz parte de nós,
sem ele, não viveríamos. Agora, encare sua morte de frente !
Lune soltou um grito ao ver a foto de
seu próprio crânio de frente.
Tremia de pavor !
-Aceite, filha, esta é você !Ter
medo de seu esqueleto é ter medo de você mesma ! Seus trauma não vai passar
enquanto você não enfrentar a si mesma, sua própria realidade, isto é parte
integrante e importante do que você é, o esqueleto é o que todos nós seremos
um dia, no futuro !Ter medo de seu próprio esqueleto é ter medo de si!
-Mas é muito assustador !
(Por Continuar)
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