terça-feira, 21 de novembro de 2017

Episódio 2- Neanderthal 2:Transição de Sangue !




-Ela não vai atacar. Ela está ferida, está vendo nas patas traseiras? Acabou de lutar com a fêmea dominante e perdeu, teve sorte de sair viva. Ela é uma perdedora.
Karanna olhou-a profundamente nos olhos. Pôde perceber aquele olhar de ferocidade e crueldade profunda, que amedrontava ate’ a alma. Mas percebeu também no olhar dela algo diferente. Não havia aquela auto confiança assustadora, mas havia uma débil sensação  de derrota, de humilhação nela, e que ela desesperadamente tentava esconder. Estava, em seu intimo assustada, pois podia-se ver que quase perdera a vida há pouco. Ela não estava  tocaiando, estava se escondendo, fugindo de seu bando. Karanna olhou para ela com um olhar firme e penetrante, o que a surpreendeu. Ela arreganhou os dentes, rugiu muito alto, tentando  assustar a garota. Lur Okow estava paralisado de medo, mas a menina não. Continuou enfrentando o olhar dela, resoluta, até que os olhos dela abaixaram. A boca se calou e fechou, ela deu alguns passos para trás, e saiu trotando na direção contrária, com a cabeça baixa.
-Karanna! Você é incrivel! Como é corajosa ! Você enfrentou uma Morte de Dentes Longos! E não precisou nem de armas...
-E você é um covarde, Lur Okow, não a enfrentou e ficou morrendo de medo, fala para eu interpretar os olhares dos animais, mas não teve a coragem de fazê-lo desta vez.Será que você aprendeu mesmo os ensinamentos de Kros Ganik? De que adianta aprender, se não aplicar o que sabe?
Os olhos de Lur-Okow baixaram também. Karanna, apesar de pequena, sentiu-se poderosa, ninguém era capaz de enfrentar o seu olhar! Então ela viu que começavam a cair lágrimas dos olhos dele. Ele me abraçou comovido e lhe disse:
-Estou orgulhoso de você, menina...
Agora ela compreendia o que ele queria dizer. Ela era mesmo como Kros –Ganik, e tinha agido exatamente como ele o teria feito. Ele devia estar orgulhoso de ter feito aprendizes, lá do alto da pista de caça celeste!
Ela tinha ensinado ao próprio Lur-Okow, uma grande lição, e ela estava feliz e orgulhosa de si mesma. Olhou nos olhos dele, e choraram um no ombro do outro de tanta emoção, ela estava aprendendo tudo perfeitamente, e ele também. Mas ela estava errada, ela concluiria mais tarde em sua vida.  No fundo, Lur Okow não era um covarde, ele deixara que ela mesma aprendesse e ensinasse, e aplicasse seus conhecimentos.
Os dias se passavam, e Karanna  crescia e se desenvolvia, e observava, insegura, o olhar cada vez mais cobiçoso e desejoso de Lur Okow para com ela, e aquilo a incomodava. Afinal, ele olhava do mesmo jeito para Kirilla, mais velha que ela. Mas notou também que Ran Atok também a olhava assim, o que lhe assustava , pois com ele ela não tinha a mesma identificação e uma amizade tão intensa quanto com Lur Okow, e o olhar dele era muito mais pervertido e maldoso. Ran Atok era algo soturno, calado, muito prático, e quase só falava com o pai e o irmão dela, ele não tinha o mesmo pendor a pensar que o Lur Okow. Mas ela  já estava ficando muito boa na lança, e sabia usá-la muito bem, estava bem treinada agora, e sabia usa-la tanto `a maneira Ka gigur , como `a maneira Ke- gemmar. Mas era esta ultima técnica que ela mais gostava de usar, e resolveu que era hora de ir com os homens para caçar.
Ela disse ao seu pai que queria ir na próxima caçada com ele, seu  irmão, Lur Okow e Ran Atok.
-Filha, mulheres não caçam, deixe de pensar como homem. Você e’ mulher, deve ficar com sua mãe. Você não tem a força de um homem, e pode ser morta por um cervo gigante, um mamute ou rinoceronte!
-Vocês também correm este risco, pai. Eu quero ir. Lur- Okow  e Kirilla me ensinaram muito bem, estou bem treinada e pronta. Já sei seguir pistas e pegadas !
-Não!Mulheres não caçam , já disse !
-Ah, certo, e como o senhor explica que Kirilla caçe então?
 -Agora chega! Não quero mais discussão! Vá ajudar sua mãe. Se quiser, pode  até ir conosco para colher, nós lhe protegeremos enquanto você colhe frutas para acompanhar a carne, mas caçar, não! E largue esta lança, que isto e’ perigoso e não e’ para mulheres, vai acabar enfurecendo os espíritos fazendo isto!
-Não mesmo !
E Karanna saiu bufando, nervosa e frustrada.
Ele era teimoso, e não queria a deixar ir. Então,  ela resolveu que iria logo atrás deles, quando eles notassem, já estaria com eles. E assim fiz. E nem mesmo a Kirilla ela avisou!
O dia seguinte amanheceu, e os homens acordaram e pegaram suas lanças.
Karanna esperou a voz deles desaparecer, pegou sua minha lança, sem  dar muita atenção ao choro da  mãe dela, que temia pela sua morte, e não queria que ela os acompanhasse, e a menina seguiu a pista deles.
Aos prantos, a mãe dela suplicou que Kirlla fosse atrás dela e a tentasse demover da idéia de caçar.
Kirilla, que mal acordara, fingiu que aceitou, mas a intenção dela era outra: proteger e servir de retaguarda para Karanna, caso algum animal perigoso a atacasse. Vestiu-se, pegou sua lança e seguiu na direção que a mãe da menina apontou. No entanto, ela estava uns quinze minutos para trás da menina e dos caçadores.
Karanna desceu a ravina do vale  em direcão ‘as planicies, aonde os animais se amontoavam as margens do rio para beber agua. Ela os podia ver agora, a distãncia entre ela e os homens não era maior do que o alcance da minha lança. Uma manada de búfalos pastava um pouco ‘a frente, e ela viu que os caçadores estavam escolhendo um deles.
Mas Karanna percebeu que eles não tinham notado um bando de leoas das cavernas prontas a cercar o bando também, e a situação estava perigosa, pois da maneira como estavam fazendo, iriam ficar entre os búfalos e as leoas.
Uma delas parecia estar muito próxima do  irmão de Karanna, e armando o bote para atacá-lo. Elas eram animais espertos, sabiam que matar um homem e’ muito mais fácil e rápido do que matar um búfalo.  Mas ela acabou percebendo seu cheiro, virou-se e olhou para a menina. E rugiu alto, arreganhando os dentes. Só então que os homens viram que ela estava em sérios apuros. O olhar desesperadamente preocupado de Lur Okow tocou seu coração. Karanna cravou seus olhos nos  da leoa, com a lança em riste.
O olhar dela era diferente daquela Morte de Dentes Longos que vira antes. Era um olhar de fome profunda, autoconfiante, feroz, mas não tinha aquele ar, aqueles estigma de crueldade, aquele brilho de quem mata não por causa da fome, mas porque gosta mesmo de matar por pura crueldade, que só as Mortes de Dentes Longos tem. Mesmo assim, era um olhar profundo e assustador!
Karanna logo viu ali que com aquela leoa não haveria submissão de olhar possível, e aquela técnica simplesmente não funcionaria com ela !
Quando os homens tentaram intervir, as demais leoas, acompanhadas agora por um leão gigantesco, os cercaram. Os búfalos, aproveitando a deixa, fugiram.
Súbitamente, a leoa saltou por sobre a menina. Tudo ocorreu muito rápido, ela estava muito próxima para ela jogar a lança nela, então, usando a velha técnica Ka gigur, manteve a lança em ângulo baixo, levantada com a ponta afiada para cima, mas a fera se desviou, terminou o salto ‘a frente dela, girou nos calcanhares para ficar de frente para ela e estava chegando, chegando, já podia sentir seu hálito, quando algo malhado saltou sobre a menina na direção contrária e aparou o salto dela, jogando-a ao chão com o impacto.

(Por Continuar)

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