Já no Black Marlin,
a situação estava tranquila, e Cléo treinava junto com as crianças. Havia-se
passado uma semana e ela já se acostumara ao balanço do mar e a viver em um
navio.
Depois das lições de
esgrima, as crianças iam brincar, como sempre, mas era numa delas, Françoise,
que Léa estava de olho.
Mas a noite caiu, e
após o jantar, foram todas dormir.
Porém, Françoise
estava com insônia: na verdade, não conseguia dormir por que tivera outro
pesadelo com Marlene.
Ela foi até a proa,
bem na ponta e ficou recostada, distraída, olhando as estrelas.
Na vigia, Diana
dormia. No timão, sonolenta, Bianca.
Passos abafados e
sorrateiros mal se ouviram, e a sombra denotava uma mão com uma adaga afiada se
aproximando.
Mas alguém viu sombra e correu para a primeira galé, avisar
a alguém.
Ouviu-se o zunir
sinistro da lâmina cortando o ar, mas ao mesmo tempo, uma voz:
-Filha, cuidado !
Françoise se desviou
e ficou de frente para seu algoz: Era Léa !
A menina soltou um
grito, mas imediatamente a assassina sentiu o aço frio e afiado em suas costas,
e teve de se virar de frente.
Bianca recebeu Fran
em seus braços, haja vista que a menina veio correndo até ela.E havia uma boa
razão para isto:
-Você ousou tentar
matar minha filha !E se eu não tivesse chegado a tempo a teria matado mesmo !Sua moréia imprestável,
traiçoeira desalmada, eu vou te matar agora !
Autoconfiante mesmo
diante dos olhos coléricos de Hellen, Léa sacou sua espada e fez sinal com os
dedos da outra mão, como quem diz “vem, vem !”
E Hellen foi. O
duela começou encarniçado e feroz.Léa era mais habilidosa e tinha mais
conhecimento de esgrima que Hellen, porém, esta tinha a seu favor a fúria da
mãe que protege a cria. Seus golpes eram velozes e violentos e ela parecia ter
adquirido uma força sobre humana.
Logo June, Juliette
e Long Legs Laura chegaram, mas não quiseram intervir.
Hellen já tinha
vários cortes superficiais nos braços e pernas, mas isto não a demovia.
As espadas
continuavam sua dança da morte, com seus silvos sinistros, em golpes tão
rápidos que o olho humano nem conseguia captar.
Súbitamente, o único
olho de Léa arregalou-se, e do ventre dela verteu uma poça de sangue, e ela
regurgitou outra. A ponta da espaça apareceu brilhante e ensanguentada para
fora das costas dela, e quando foi retirada, o ventre se abriu, expondo os
intestinos e outros órgãos, que caíram no tombadilho em meio a uma lagoa de
sangue.
Léa, ainda com seu
olho aberto, vidrado, arregalado e uma expressão de surpresa e horror, tombou
morta.
Françoise largou
Bianca e caiu diretamente nos braços de Hellen, e ambas choraram
convulsivamente nos ombros uma da outra !
Tão logo se
recuperou, Hellen voltou-se para June:
-Capitã, eu matei
uma das nossas...se quiser me punir, estou ‘a sua disposição !
Mas o semblante de
June exibia um sorriso:
-Não, Hellen, você
defendeu sua filha e salvou a vida dela. Eu nunca poderia ser contra uma mãe
!Depois, a Léa teve o que mereceu, ela , ao tentar matar a Fran, nos traiu, e
pior, pelo que me contaram, ela tentou matar na base da traição, pelas costas,
sem chances de defesa, e tentou matar uma criança.Tudo isto é imperdoável, e se
você não a tivesse matado, eu a teria. Ah, a partir de agora, Cléo ficará no
lugar de Léa e com as atribuições dela. Legs Laura, por favor, ajude a Hellen e
jogue o corpo e as entranhas da Léa no mar para os tubarões. E você, Hellen,
depois que a Laura fizer o serviço pesado, limpe o sangue do convés e depois
pode ir dormir.Fran, você deve ter ficado muito impressionada, então, você e as
demais meninas podem ir brincar na minha cabine até sua mãe terminar.Quando ela
terminar, ela te chama para vocês irem dormir juntas.Bom, pessoal, dispensadas,
vamos dormir !
Agora que Hellen
cometeu a façanha de matar a temida Léa, ganhou um novo status de respeito
dentre as piratas. Ela era agora aquela que matara a mais temida pirata comum,
e com ela ninguém mexia.
No dia seguinte pela
manhã, o Black Marlin avistava a ilha de Záppara e lá aportou, no porto
oficial.Lá compraram provisões, quando souberam que os demais piratas estava
furiosos com Marlene, na passagem dela por ali. Questionados sobre qual direção
ela tomou, eles lhe apontaram.
Sem querer perder
tempo, June chamou todas de volta , depois de apenas algumas horas na ilha e
tomou o rumo apontado.
Agora era que se via
a diferença que fazia uma tripulação experiente: sabendo aproveitar ao máximo o
vento e as correntes marítimas, não demorou mais que dois dias para que o
Moréia Negra fosse avistado.
-Navio ‘a vista !
-Qual, Diana?
-É um navio pirata,
Capitã !
-Eu vou subir aí !
June subiu até o
cesto de vigia, e com sua luneta, olhou para a popa do navio:
-É o Moréia Negra !
Achamos a elas !
Mas no navio de
Marlene, o de June também fora avistado.
-Elas estão fazendo
uma curva apertada a estibordo, Capitã !
-Pode deixar comigo,
Diana !Vou descer para dar as ordens, vá observando os movimentos delas !
Já no tombadilho, June bradou:
-Bianca,curva a estibordo ! Tente segui-las e
ficar no mesmo ãngulo, de modo que possamos atingir a popa delas !
-Sim, senhora !
Mais rápido e menor, o Black Marlin era capaz de
curvas mais fechadas que seu inimigo.
-Juliette, as canhoneiras já estão a postos e com
canhões prontos?
-Sim, senhora !
-Então, postos de batalha, todas em seus postos
de batalha !
Já no outro navio:
-Capitã, elas estão fazendo uma curva a estibordo
também, estão bem atrás de nós !Acho que querem atirar na nossa popa !
-Entendi, Denise ! Postos de batalha, todas a
seus postos de batalha ! Canhoneiras, preparem os canhões !Timoneira, continue
a curva a estibordo , tente fechar a curva o máximo possível !
-Sim, senhora !
Mas já era tarde demais: o Black Marlin já estava
a poucos metros do outro navio e o ângulo depois da curva do navio inimigo,
deixou o Moréia Negra em posição extremamente exposta. Ao invés de ficar um
atrás do outro, estavam lado a lado, na posição perfeita para atirar. Só que os
canhões do Black Marlin já estavam prontos, os do outro, ainda estavam sendo
carregados.
-Canhoneiras, atirar ! Fogo !
Dez canhões do Black Marlin atiraram ao soar a
ordem de June, e atingiram o outro navio ‘a meia nau, ‘a queima roupa. O alto
Moréia Negra balançou perigosamente e
por pouco não adernou. Quase todos os canhões de sua lateral foram destruídos, assim com boa parte do
convés central e o mastro principal ruiu com um estrondo pavoroso !
-Droga, droga, nos pegaram !
Disse Marlene.
-Fomos gravemente atingidas, Majestade!
-Eu sei, Ariadne, não precisa me dizer o
óbvio/Pensa que sou cega?Acaso não vi este rombo enorme no tombadilho !Atirem ,
atirem ! Fogo !
-Não há jeito, Majestade, todos os canhões deste
lado se foram!
-Vamos fazer uma curva a bombordo e atingi-las
com nossos canhões do outro lado!
-Majestade, se tentarmos fazer uma curva fechada,
com o navio desequilibrado deste jeito, podemos adernar !
-Vamos enfrenta-las então, é o jeito!
-Perdemos vinte marujas, Majestade.
-Não importa ! Preparar para invadir !
Na verdade, foi o Black Marlin quem se colocou ao
lado e jogou o pranchão.
-Atacaaaaar ! Gritou June.
-Atacaaaar ! Gritou Marlene, a começou a batalha
!
Desta vez, porém, as do Black Marlin estavam em
vantagem numérica, e a luta foi furiosa.
No fim, das piratas do Moréia Negro, só sobraram Marlene, Ariadne, Denise,
Lola, Rita, Lorena, Elise e Verônica.
Todas, menos Marlene e Ariadne, se renderam.
-Traidoras !Vocês deveriam defender este navio
até a última mulher !
-Se a
senhora merecesse, Capitã Marlene, mas estamos cansadas de seus maus tratos e
castigos !
-Só me restou você, Ariadne, a única com quem
sempre pude contar...
-Eu a defenderei com a minha vida, Majestade !Sempre !
Frente a frente, June disse para Marlene:
-Lembra dela? Aquela que você matou a família
inteira e o povo inteiro e abandonou para morrer depois de ela ter lhe recebido
com a maior hospitalidade? Pois é, agora ela aprendeu esgrima e é uma pirata
feita, e ela tem contas a acertar com você !
E Cléo apareceu ao lado de June, com um olhar
feroz , de tigresa.
-Ela é toda sua, Cleópatra! Garotas, abram espaço
!
-Naaa, ela não será páreo para mim, mas já que
insiste...
Disse Marlene, num sorriso arrogante.
E Cléo atacou. Com toda a sua fúria, toda a sua
revolta, toda a sua dor, e mais parecia um furação em forma humana, algo que
surpreendeu sua rival.
A luta foi furiosa, com golpes velocíssimos, mas
Marlene tinha razão: era muito mais experiente e hábil.E tinha tudo para
perder, apesar de sua raiva e desejo de vingança.
Estava cheia de cortes superficiais nas pernas,
nos braços, nos ombros e estava ficando cansada, já que Marlene ia ditando o
ritmo do combate.
Foi quando uma bota surgiu. Uma bota de criança
que se levantou e que, concentrada na batalha, Marlene não viu e ao recuar,
tropeçou para trás.
Agora a espada de Cléo foi certeira e o braço
direito de Marlene, com espada e tudo, foi arrancado fora, e ela berrou de dor.
Ela ainda tentou pegar a espada com o outro
braço, mas a lãmina inimiga se afundou em seu crânio de cima para baixo,
partindo-o em suas fatias, e espalhando pedaços de cérebro e sangue por todo
lado.
Ariadne soltou um grito :
-Majestade ! Nãaaaaao !
-Deixe esta comigo, ela é forte demais para você
!
Disse June, e se colocou na frente.
Cega de fúria, vendo tudo vermelho, Ariadne
avançou contra sua inimiga.
Capitã June e Ariadne lutaram como leoas,numa
ferocidade impressionante.
Golpes velozes ‘a esquerda, direita, para cima ,
para baixo, e as espadas dançavam sua dança da morte.Até que...
-Zliiiiiin !
A espada de Ariadne caiu no chão, e June
postou-se acima dela, com a espada no pescoço dela.
-Me mate ! Me mate logo ! Sem minha Rainha não mereço viver !Minha vida não
vale nada sem a dela !
-Pobre criatura ! Ariadne, você é uma mulher ou
um capacho?
-Me mata logo de uma vez !Eu quero morrer para me
juntar ‘a minha dona !
-Garotas, prendam-na e a amarrem no mastro do
nosso navio. E vocês, querem se juntar a nós e fazer parte de nossa tripulação?
Quanto a você, Ariadne, lamento muito por sua falta de dignidade e amor
próprio. Você é mais do que uma escrava,
por que escravas se revoltam e tentam se libertar, e você não. Eu só consigo ter pena de você !
-Sim, Capitã, queremos servir ‘a senhora !
Disse Denise em nome de todas as demais que
faziam parte da tripulação do Moréia Negra.
-Enttão venham, vamos deixar este antro de morte
!
Disse June.
Assim, mais piratas se juntaram a tripulação e
Cléo teve sua vingança.
Mas dentre estas novas piratas, uma em especial era uma semente do Mal. Tinha um sorriso cruel em seu rosto.E Cléo não
se conformava em ter algumas de suas algozes ao seu lado no mesmo navio.Elas
também não gostavam dela. Uma vingança leva a novas vinganças, e , amarrada no
mastro, Ariadne planejava a sua. Tempos tempestuosos estavam por vir !
Por ora, o clima seguia alegre com a maioria da
tripulação,enquanto o Black Marlin deixava o avariado Moréia Negra sozinho a deriva na imensidão do mar, para
afundar na próxima tempestade. Mas as aventuras da Capitã Jne e sua s piratas
estavam longe de terminar !
Fim
!
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