Mas Sofia possuía uma grande amiga, uma amiga de
verdade: Débora.
Esta, vendo a amiga chorar ajoelhada no meio da
praça central da cidade quando por lá passava por acaso, a acudiu:
--Sofia !O que aconteceu?Por que está chorando
deste jeito?
E abraçou a amiga, que, depois de alguns minutos
de choro intenso, se recobrou e explicou o acontecido.
-Entendi, amiga, eu estou vendo sua taverna
inteirinha destruída, você ainda perdeu a família inteira...olha, eu tenho uma
sugestão: eu tenho uma tia minha que mora na ilha vizinha, Mistral, e pode te
dar um emprego e um lugar para dormir. Está certo que não se compara a você ser
dona de sua taverna, mas agora não tem jeito, você vai ter de recomeçar de
baixo, melhor do que virar mendiga ou prostituta. Vamos fazer o seguinte, eu
vou com você e a apresento para ela e peço a ela para te ajudar!
-Mas eu não tenho dinheiro, estou falida...
-Tudo bem, Sofia, sem problemas, olha, eu tenho
uma idéia: o navio mercante “Jolly
Swordfish” vai sair daqui a pouco do Porto, para Mistral. Vamos entrar nele
como clandestinas e aí, quando aportarem, a gente desce, é só um dia de viagem!
-Está certo, muito obrigada, Débora, você é uma
grande amiga mesmo !
-Faço tudo para seu sorriso voltar novamente,
minha amiga. Então vamos logo, que eles não demoram a sair !
Não demorou e elas correram para o cais. Lá o
navio esta quase terminando de carregar sua carga, e elas entraram escondidas
atrás dos sacos de víveres, e desceram até a última galé, onde se esconderam
num cantinho da proa, atrás de grandes sacos de farinha de trigo.
Não foi uma viagem fácil. Ambas enjoaram e
regurgitaram diversas vezes com o balanço do navio, e tinham de aguentar firme
o pavor da multidão de ratos e insetos.
Por fim, o navio aportou , já quase ao cair da
noite, no porto de Mistral, e elas
aguardavam uma chance de saírem sem serem vistas.
Foi quando ouviram dois marujos conversando,
pegando alguns sacos no meio do navio:
-Você viu a briga que houve na taverna Barracuda
Feliz ?
-Não vi, mas ouvi falar que a coisa foi feia: a
Capitã Firehair June e suas mulheres derrotou os homens do Capitão Gold
Moustache !
-Sim, isto mesmo, e até o nosso Capitão morreu na
briga, e nosso Imediato teve de passar a ser Capitão! Até nosso amigo John Archibald
Fetcher faleceu na briga também!
-Pobre John...sua esposa morreu do coração ao
saber da morte dele, ainda bem que a jovem filha única dele, Débora Fetcher não estava em casa no
momento da comunicação da morte do pai...vai ver a pobrezinha nem sabe que o
pai morreu...e foi a própria Capitã June quem o matou !
E foram embora carregando os sacos.
E logo que saíram, foi a vez de Débora cair
ajoelhada e chorar com as mãos no rosto !Da noite para o dia, também ela tinha
perdido mãe e pai !
-Des...desgraçada...desgraçada...maldita sejas,
June Asthon, maldita, maldita !
Gritou Débora, inconformada, consternada com o
que acabara de ouvir.
Isto chamou a atenção de um marujo, que as
encontrou:
Ei, ei, quem são vocês?O que fazem aqui?
-Ela é Débora Fetcher, filha de John Archibald
Fetcher, e eu sou a amiga dela, a dona do Barracuda Feliz !
O marujo ficou espantado: ele era um dos que
conversara a pouco com o colega, e era amigo do pai de John A. Fetcher.
Sem outra saída, explicaram que viajaram clandestinas
e por quê.
-Olhem, em respeito e memória de seu pai, que eu
adorava, eu vou deixar vocês fugirem e fazer de conta que não as vi.Mas saiam
depressa, por que meus colegas que não as conhecem, certamente as estuprarão
como pagamento da viagem. Vão logo, depressa, e cuidado para não serem pegas !
-Muito obrigada...vamos, Débora, vamos sair daqui
depressa!
Disse Sofia, se levantando e levantando a amiga.
Saíram correndo e com o amigo distraindo os
marujos, elas conseguiram sair do navio sem serem vistas e logo ganharam o
porto.
Uma vez numa distância de segurança, uma abraçou
forte a outra e ambas choraram nos ombros uma da outra. Estavam juntas na
miséria agora, e ambas queriam a morte da Capitã June.
Foi quando passaram por um pequeno bando de
mulheres diferentes: vestidas como piratas, e com espadas nas cinturas,
passando por ali.
-Ei, olha, elas parecem mulheres piratas...será
que são a tripulação da Capitã June?
-Não, Débora, são outras. Aquelas eu conheci na
taverna e não estou reconhecendo a nenhuma delas. Mas, ei, não há vingança
melhor do que virarmos piratas também e perseguirmos nossa algoz !
-Verdade, Sofia, vamos conversar com elas !
E as duas foram correndo na direção das piratas.
-Ei, ei, vocês aí? Vocês são piratas ? Queremos
ser piratas também !
Disse Sofia.
O bando parou e Ariadne falou com ela:
-Somos sim, mandriãs, e estamos procurando mais
gente para compor nossa tripulação !
Sofia contou o acontecido com ela e sua amiga.
-Huum, então a Capitã June andou por Macaira, e
aprontou tudo isto, e vocês querem a sua vingança delas?Bom, nós também, ela
matou nossa adorada Capitã e eu era a Imediata, e com o triste falecimento de
nossa nobre comandante, eu passei a ser a Capitã.Quais suas habilidades?
-Sou uma excelente cozinheira !
Disse Sofia.
-Sou uma grande costureira !E já costurei velas
de navios !
Disse Débora.
-Estão contratadas, podem se juntar a nós!
-Sim , senhora, Capitã !
As duas disseram em uníssono. Pela primeira vez
desde seus infortúnios, elas agora sorriam...
(Por continuar)
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