-Então vamos deixar esta conversa boba para lá e
trabalhar, Imediata !
-Sim, senhora !
-O treinamento das crianças já terminou?
-Sim, Capitã, a Hellen me disse que considera as
três já bem treinadas e hábeis na espada !
-Muito bom, quanto mais mulheres ativas tivermos
em nossa tripulação, melhor. Agora só precisam perder o medo de matar!
-Mas Capitã, será que devemos mesmo ensinar isto
a elas?
-Eu aprendi com menos que a idade delas, e sem
ninguém me ensinar, aos dez anos de idade, Imediata.Felizmente ou infelizmente
que seja, elas estão a bordo de um navio pirata e são piratas e todo pirata tem
de aprender a matar para não morrer.Não podemos poupar elas disto, ou elas
nunca se protegerão sozinhas, e teremos de protegê-las pelo resto de nossas
vidas.Para o Bem ou para o Mal, elas terão de ficar adultas rápido, se quiserem
sobreviver e não colocarem a tripulação em risco!
Escondida atrás do mastro principal, Françoise
escutou as palavras duras de June, e foi ter com as outras crianças, contando o
que ouviu.
-Vamos ter de aprender a matar? Mas matar
quem?Será que vão nos colocar para lutar na próxima abordagem?
-Não sei, Celine...
-Eu ouvi falar que piratas aprendem a matar
capturando uma foca e a colocando no tombadilho e acertando a ela com a espada,
até matá-la!
-Será possível, Melissa? Mas por aqui não existem
focas!
-Ou talvez pesquem um golfinho para a gente
matar, Fran...
-Ah, não, um golfinho eu não tenho coragem de matar...golfinhos são
tão bonitinhos, espertos, brincalhões...
-Pois é, nem sei,Celine, sei lá, viu...
Disse Françoise.
Só que tinha alguém escutando a conversa delas e
elas, distraídas no papo, nem perceberam...
-Eu ouvi tudo o que vocês disseram, crianças...
-Mamãe ?
Gritou Fran.
-Hellen?
Gritaram as outras duas.
-Não precisam ficar preocupadas. Não vamos mandar
vocês matarem nem uma fofa, nem um golfinho. E não seria muito esperto colocar
vocês para matar logo durante um assalto.
-Mas então, como vai ser, mamãe, conta !
-É, conta, conta, Hellen.
-Nós faremos o próximo assalto ainda sem a
participação de vocês. Depois que terminar o assalto, levaremos um dos
moribundos, quase morto, para nosso navio e o amarraremos no mastro principal. Aí
cada uma de vocês terá de usar suas espadas e enfiar na barriga dele para mata-lo
de vez e não o deixar sofrendo tanto.
Apesar da intensa naturalidade com que Hellen
falou, os olhos arregalados de espanto das meninas e sua expressão de horror ,
era tudo bem nítido.
-Por que este espanto todo, crianças? Depois de algumas
mortes nas costas, você se acostuma e vira coisa corriqueira, pois matar faz
parte de nosso ofício, assim mesmo.
Quando você está numa situação de matar ou morrer, você perde os escrúpulos de
matar rapidinho !
As três correram a abraçar Hellen com lágrimas
nos olhos.
-Sim, eu sei, eu sei que é duro, crianças,
especialmente nas primeiras vezes não é fácil, mas a gente também não pode nos
deixar morrer, não é mesmo?A vida , especialmente a vida de pirata é uma vida
cruel e nada fácil, nada sofrida, de modo que até matar vira uma vitória e uma
alegria- a alegria de ser o outro a ter morrido e não nós!Mas fiquem
tranquilas, eu e as outras piratas vamos apoiar vocês e consolá-las sempre que
for preciso !Não é por que matamos que somos desumanas, afinal, nossos inimigos
matam tanto quanto a gente também, e eles não terão dó de nós, por que
poderíamos ter dó deles?Agora tenho de subir no mastro da mezena e trabalhar.Vão
falar com a Capitã e a Juliette que com certeza haverá algum trabalho para
vocês fazerem!
E Hellen seguiu seu caminho, enquanto ,
pensativas e tristes, as crianças foram ter com June, que ordenou que as três
fossem arrumar e limpar sua cabine e trocar a roupa de cama.
Neste meio tempo, o navio Barracuda Feliz seguia
seu curso, sempre em frente.Ariadne, diferente de Marlene, era uma Capitã mais
humana e compreensiva, menos autoritária, menos ditadora, sem castigos
constantes, sem chicotes para exigir eficiência da tripulação.Com isto, ela era
mais reconhecida e amada por sua tripulação, que odiava Marlene. Não que
Ariadne não fosse temida, ela o era; mas não era tanto quanto a feroz Marlene.
(Por continuar)
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