Se as coisas já eram assustadoras para uma
tripulação experiente e bem treinada com a do Black Marlin, bem menor,
imagine-se como estava sendo para a tripulação de primeira viagem como a do
Aranha do Mar !
Marlene tomou a pior decisão possível para uma
Capitã: abandonou sua tripulação e se trancou em sua cabine, absolutamente
apavorada.
Mas nem lá ela estava segura: as ondas enormes e
o balanço violento da embarcação a jogavam constantemente para fora da cama com
violência, e jogava a cama e os demais móveis contra as paredes de modo
perigoso, e , não raro, jogava Marlene para o alto com violência,chegando ela a
bater a cabeça no teto.
E ela não fazia outra coisa que não chorar e
berrar por socorro!
Mas ninguém a ouvia. Estavam todas lutando pela
vida e várias piratas foram tragadas pelo mar.
Mesmo sem experiência, e tendo de se virar
sozinha, Ariadne pegou uma corda e se amarrou na amurada, pois era o que seu
instinto a mandou fazer, e jogou uma longa corda para as demais piratas fazerem
a mesma coisa.
Algumas que tinha ficado nas galés inferiores,
achando que estariam mais seguras , se afogaram ou foram tragadas pelo mar, ou
esmagadas pelos canhões que rolavam com o balanço, pois pelas janelas dos canhões
entrava e saía muita água.
A timoneira inexperiente, mas também com bom
instinto e raciocínio, procurava sozinha
manter o navio alinhado de frente para as ondas, o que não era nada
fácil,mas não estava amarrada, e repentinamente uma onda gigante quase colocou
o navio a pique, inclinando-o até quase capotar para a frente, e com o
tombadilho quase na vertical, também ela foi levada pela água.
Enfim, ouviu-se pouco depois um estrondo surdo, e
o som horrível de madeira se quebrando.
O navio batera fortemente numa rocha e naufragou,
e as tripulantes que ainda estavam vivas foram jogadas com violência nas areias
de uma praia de uma ilha desconhecida.
Marlene estava com a testa sangrando e com vários
hematomas pelas pernas, braços e tronco, e voou para fora da vidraça traseira
de sua cabine e caiu no mar. Para sua sorte, um pedaço de madeira flutuava ali
perto e ela conseguiu chegar na praia.Ao chegar, caiu na praia inconsciente.
O Aranha do Mar fora destroçado e seus escombros
ficaram presos nas rochas, fustigados severamente pelas ondas impiedosas.
Finalmente a tempestade passou, e Ariadne
acordou.
Tinha sido arremessada na praia ainda amarrada ao
pedaço de amurada onde se prendeu.
Ainda tonta, se levantou e procurou por sua
Capitã, e depois de caminhar um pouco, achou-a desmaiada.
-Majestade, majestade1Acorda, fala comigo!
Após um borrifo de água do mar, nem assim ela abriu os olhos.
Em desespero, Ariadne abraçou o corpo inerte de
Marlene, e então notou que ela ainda respirava.
Ariadne não teve dúvidas: beijou a boca de
Marlene com todo o seu sentimento, que, repentinamente abriu os olhos,
arregalados, e saltou para trás assustada.
-Está ficando louca?Quer morrer?
-Capitã, eu apenas quis salvá-la...
-Me agarrando, sua tarada?
-0Desculpe, Capitã ...
-Argh, que gosto horrível na minha boca ! Nunca
beijei um homem, quanto menos faria com uma mulher !
Agora Ariadne se magoou profundamente. De
cócoras, de costas para seu amor
platônico, desandou a chorar convulsivamente.
-Ora , cale esta boca imunda !
Disse Marlene, chutando as costas dela e a
derrubando na areia.
- Vamos procurar as outras e ver se mais alguém
sobreviveu !
Berrou Marlene, com o mau humor de sempre.
Humilhada, mas conformada, Ariadne obedeceu.
-Siga atrás de mim, não ao meu lado, plebeia !
E cuspiu na cara de sua Imediata, que de tão
servil, lambeu a saliva e a engoliu , animando-se e tentando convencer-se a si
mesma de que aquele fora um beijo indireto.
Seu amor por Marlene era tamanho que quanto mais
apanhava e era humilhada, rejeitada e espezinhada, mais amava sua Capitã.
Por fim, encontraram, também desacordadas,
Denise, Lorena e Verônica. Foram as únicas que sobreviveram. Outras sessenta e
seis piratas estavam mortas ou desaparecidas.
Agora as cinco teriam de se virar e tentar
sobreviver naquela ilha.O que restava de mantimentos no navio era pouco, e além
das roupas do corpo, em frangalhos, só tinham suas espadas.
Era uma manhã luminosa de sol, e resolveram
procurar por comida.
(Por continuar)
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