Como sempre fazia, June quis ir numa taverna,
onde , numa tabuleta, se lia “A Barracuda Feliz”.
E lá, quem era o dono na verdade era uma dona, Sofia,
uma jovem espanhola que herdara a taverna do pai e era famosa pela comida
deliciosa que fazia. Esta taverna era costumeiramente frequentada por piratas,
de modo que Sofia estava acostumada a lidar com eles. O pai dela, antes de ser
taverneiro, fora pirata também, mas depois que ele teve uma perna decepada numa
luta, a esposa dele o fez jurar deixar a pirataria e então ele se estabeleceu
em terra e abriu a taverna, de grande sucesso.
Sofia só não fora abusada e estuprada por toda a
sua vida por que o pai e seus dois irmãos a protegeram, e eles a ajudavam,
servindo as mesas. O pai por anos a ensinou a gerir e cuidar de uma taverna, mas
a ferida da amputação reabriu e gangrenou e ele morreu de septicemia.
Havia seis meses que ela e seus irmãos enterraram
o pai. Já a mãe contraiu uma doença que a levou dois meses após o marido. Na
época, Século XVII, ninguém sabia, mas fora câncer.
Assim, os três irmãos tocavam seus negócios.
Até que June e suas piratas chegaram em sua
taverna.
As piratas se sentaram todas numa imensa mesa,
que os irmãos de Sofia tiveram de providencial juntando várias mesas.
A taverna estava, no entanto , coalhada de
homens, todos piratas também.
Logo começava um burburinho:
-Olhem, é a Capitã Firehair June , do Black
Marlin, filha do Capitão Barba Branca !
Sim, a fama de June já percorrera todas as ilhas
da região e já começava a se tornar lendária por suas façanhas!
-Capitã, está todo mundo olhando para nós !
-Deixa eles, Juliette, não queremos encrencas
aqui.
-O olhar deles me dá medo, Capitã, parece até que
nos coitam com os olhos !
-Sim, Bianca, é a sem vergonhice deles, mas se
formos nos alterar com algo a que estamos sempre sujeitas, nunca vamos ter paz,
melhor ignorarmos.
Disse June.
Logo um dos irmãos de Sofia apareceu e foi
anotando os pedidos. Depois se retirou.
Não demorou, um pirata forte, musculoso e
bigodudo se levantou e foi até a mesa delas:
-A donzela aqui não gostaria de subir comigo para
meu quarto na estalagem ao lado?Muito me agrada sua graça e seus encantos !
Hellen, o alvo da cantada, nem respondeu. Sequer
olhou na cara dele.
-Ei, moça, estou falando com você ! Você é surda
por acaso?
June sussurrou alguma coisa no ouvido de Long
Legs Laura.
Hellen continuou o ignorando.
-Eu estou falando com você, cadela prostituta! Quando
o Cão fala, a cadela levanta as cadeiras !
Foi quando o pirata sentiu um cutucar algo
violento no ombro e olhou para trás.
Era Long Legs Laura, que lhe deu um soco
violentíssimo na cara, e ele caiu com o rosto na mesa.
-Ei, o que é...
Laura nem o deixou falar. Com sua mão poderosa,
empurrou a cara dele contra a mesa de madeira maciça várias vezes, até
que ele quebrou o maxilar e uma poça de sangue se fez na mesa.
O capitão deste pirata viu o acontecido e gritou:
-Esta provocação não vai ficar assim ! Homens,
ataquem !É guerra ! Agora é guerra !
Ao que June respondeu:
-Garotas, postos de batalha !Atacar !
Os piratas e as piratas se levantaram e sacaram
sua espada, e iniciaram uma batalha sangrenta !
A luta se seguiu feroz, e cadeiras e mesas voavam
para todos os lados, inclusive para cima do balcão, e Sofia e seus irmãos
entraram em desespero !
Para piorar, parte dos demais piratas ficou do
lado dos atacantes e parte ficou do lado de June, e no fim da batalha, a taverna
ficou completamente destruída. Dezessete homens morreram e outros tantos
ficaram feridos.
Mas as meninas foram incríveis. Mesmo lutando com
homens mais musculosos e experientes, elas, mais jovens e com mais agilidade e energia, os
derrotaram, com quatro mortas e oito feridas sem gravidade.
June e sua tripulação foram embora dali, assim
como os demais piratas e na taverna vazia, Sofia chorava. Estava arruinada, sua
taverna, que fora da família por tantos anos, estava destruída e ruíra, só
sobraram escombros, e ela não tinha dinheiro para construir outra. Pior ainda: seus
irmãos foram atingidos por estilhaços de madeira durante a confusão e morreram.
Agora estava sozinha no mundo, sem proteção,
falida, arruinada, sem destino, sem lugar sequer para dormir. Só sobraram as
roupas do corpo, em frangalhos, ela agora mais parecia uma mendiga, uma
indigente.
-Eu te mato, Capitã June Ashton, eu te mato !Eu
juro ! Juro pelo meu pai, minha mãe, meus irmãos, minha taverna !Você me tirou
tudo o que eu tinha, você me destruiu !Eu te odeiiiiooo!
Bradou Sofia, ajoelhada, erguendo a cabeça e as
mãos para os céus.
(Por continuar)
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