Ainda impressionada
e aturdida com sua experiência, Kirilla se levantou da mesa de pedra, toda suja
de fuligem e cinzas.
Pegou sua lança e
seu archote e , insegura e amedrontada, fez o caminho de volta até a boca da
caverna.
Depois foi se
encontrar com Karanna.
-E aí, como foi?
Matou as saudades de sua infância?
-Prefiro não tocar
no assunto, se não se importa...
Respondeu Kirilla,
com semblante soturno.
-Estou com fome...
-Eu também, Karanna.
Então vamos colher umas frutas das árvores próximas e procurar algum animal
pequeno para caçarmos !
Pegaram suas armas e
foram até uma florestinha próxima.Lá coletaram frutas, ovos de aves, mataram um
cervo comum, magro e desgarrado, e o levaram para a caverninha.
Não demorou, estavam
jantando.
Como de costume, por
precaução levaram o que restou da carcaça para longe da caverna e voltaram para
próximo da segurança da fogueira.
E lá, na caverninha,
dormiram.
No dia seguinte,
pela manhã, Kirilla levou Karanna para um pequeno “tour” pelo vale, mostrando
os locais onde tiveram lugar diversas passagens da vida de Kros-Ganik. Um
deles, era uma pequena caverna no alto de uma montanha, bem pertinho, onde
havia uma lagoa rupestre de águas límpidas.
-Aqui, Karanna, que
meus pais fizeram amor pela primeira vez para eu nascer! Muitos anos mais
tarde, antes de eu ir embora, meu pai me levou aqui, e me banhei nestas águas.
-E?
-E não aconteceu o
que voc~e está pensando, sua boba. Ele virou as costas para mim e saiu da
caverna enquanto eu me banhava e só voltou quando eu me vesti! E não, ele não
ficou me olhando!
-Eeee, mas eu não
disse nada...
-Mas insinuou, não
é?
-Deixa de ser
maldosa, Kirilla...vamos aproveitar que estamos aqui e nos banharmos aqui então
!
Kirilla aceitou e as
duas se divertiram brincando nas águas.
Depois voltaram para
a caverninha.
-Karanna, eu resolvi
que não ficaremos muito tempo aqui!
-Mas me pareceu tão
agradável !
-É, mas aqui quase
não há caça para nós, e eu acho que já me lembrei demais da minha infância.
Amanhã seguiremos viagem !
-Que pena...tudo bem
então !
-Então vamos caçar
de novo, que já estou ficando com fome !
-Vamos lá !
E lá se foram elas,
para a florestinha novamente.
Repentinamente,
Kirilla estacou.
-Oh,oh !
-O que foi ,
Kirilla?
A garota mais velha
apontou para a garota mais nova uma série de pegadas ainda frescas.
-Huuum, não estou
gostando disto !
-Nem eu...são lobos
! E pelo visto, a julgar pelo tamanho das pegadas, lobos gigantes !E nunca é um
só, eles sempre andam em bandos !
-Kirilla, eu estou
com medo, vamos embora daqui, depressa !
-Eles ainda não
sentiram nossos cheiros.Mas não demorarão a nos encontrar, se já tiverem visto
nossas pegadas, e devem estar famintos !
Agora que Karanna
ficou apavorada mesmo!
-Mas...ei...ali tem
outras pegadas, e um rastro de sangue !
-Pegadas de...
-Garras Grandes, e a
julgar pelo tamanho das pegadas, é um filhote desgarrado !Bom, vá lá, um
adolescente, ainda não é um adulto !
-Não terá a menor
chance !
-Não mesmo, mas nós
teremos, se aproveitarmos que eles estarão distraídos com ele !Vamos sair da
floresta, mas pisando exatamente em cima das nossas pegadas, para confundi-los,
vem !
Assim fizeram.
E tão logo saíram da
floresta, ouviram os uivos aterradores, e o lamento do Eremontherium, que logo
estava morto. Os lobos se refastelaram nele.
Elas voltaram para a
caverna e a proteção da fogueira, ainda acesa, e trataram de reforça-la.
-Ah, agora sim,
estamos seguras !
-Não conte com isto
!Aquele Garras Grandes não os deterá por muito tempo, e também não os
alimentará muito. Eles são espertos e logo nos descobrirão!Vamos nos armar com
tochas e ficar de vigília, com certeza seguirão nosso rastro e nos atacarão
aqui !
-Ai, não !Estou
apavorada !
-Medo não adianta
agora. Teremos de lutar por nossas vidas e , se com nós duas nossa chance já é
pouca, imagine eu sozinha !Mas anda, vamos ao menos comer as frutas que
colhemos, nos dará alguma força !
Elas tinham
reforçado tanto a fogueira, que ela tomava quase toda a frente da caverninha.
E de fato, Kirilla
tinha razão. Os Lobos gigantes já tinham terminado de devorar o filhote de preguiça gigante, mas queriam
mais, continuavam com fome, e não tardaram a encontrar o rastro das meninas.
Já faltava apenas
uma hora e meia para escurecer, quando eles chegaram na frente da caverninha, e
eram duas dezenas. Enormes, ferozes e famintos, donos de um apetite insaciável,
com um olhar assustador, eles uivavam e rosnavam na frente da caverna, prestes
a atacar!
Acuadas, as meninas
armadas de tições incandescentes, atacavam os mais afoitos, impedindo -os de
entrar na caverna.
As duas estavam
apavoradas, mas lutavam por suas vidas, e as feras não se intimidavam com o
fogo alto, tentando passar por ele e se queimando.
-não vamos aguentar
por muito tempo !Eles não desistem !
Disse Karanna.
-Aguente firme, e
não pare de atacar !
Disse Kirilla
queimando o focinho de mais um, que ganiu de dor.
Mas elas , após
minutos de luta constante, estavam ficando fracas e cansadas. E preocupadas,
por que sabiam que a tática dos lobos era vencer pelo cansaço, e ela também
sabiam, como os lobos também sabiam, que a fogueira não duraria para sempre.
Então...
-Rwaaaaaaaorrrrrrrr
!
-Eu conheço este
rugido ! É uma Morte de Dentes Longos !
-Ai, Kirilla, já
estava horrível, e agora ficou pior !
Na verdade, ao menos
por enquanto, ficara melhor.
Os lobos ouviram o
rugido e se voltaram para trás, e lá estava o Homotherium e sua dentuça afiada,
rugindo.
Eles o atacaram, e
uma verdadeira guerra começou em frente da caverna.
-Eu conheço esta
Morte de Dentes Longos ! É o Karajjar !
Sim, era o
homotherium que elas tinham salvo quando filhote, que estava pagando, com sua
vida, sua dívida de gratidão para com elas.
O heroico felino
conseguira a façanha de matar oito lobos até enfim sucumbir e ser despedaçada
viva.
Kirilla e
principalmente Karanna, choraram ao ver a cena!
As garotas tinham
conseguido matar dois lobos também, então ainda restavam dez, que voltaram ‘a
carga e a luta delas pela vida recomeçou.
(Por Continuar)
Nenhum comentário:
Postar um comentário