segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Episódio 6 (Minissérie)-Eternidade


Episodio 6 : O Dilema e a Fera



Mitthu acordou ao raiar do dia. Mais um dia para viver, mais um dia para fugir, mais um dia para sofrer, mais um dia para continuar o que aos poucos ocorre desde que se nasce : morrer.
Quando Mitthu abriu seus olhos,no entanto,notou que não estava mais na escuridão da Floresta, mas em um Vale, próximo da mata em que tinha se embrenhado anteriormente.
Podia ouvir o som das águas límpidas de um Rio, e as bestas voadoras a gritarem entre as Montanhas que cercavam o vale.
O vento da manha acoitava sua pele,lanhava seu animo e congelava sua motivação.
Foi então que percebeu uma sombra aproximando-se dele.Não era uma sombra qualquer, era gigantesca, e a insegurança  que Mitthu sentia a tornava ainda maior.Ele logo encolheu-se em posição fetal.
-E´esta a coragem e a nobreza de coração  dos Soldados  do Imperador de que tanto ouvi falar?
A voz vinha da sombra, e para Mitthu, mortificado de pavor,parecia trovejante e assustadora.Engolindo em seco, o soldado respondeu timidamente:
-Quem e´você?
-Trata-se de uma excelente questão esta que você levantou.Alguns me chamam de  Besta Fera, outros de Monstro do Vale,outros ainda já me chamaram de Morte.Nenhum deles sobreviveu,por isto e´que todos que aqui chegam jamais retornaram.Eu mesma prefiro  me chamar Voihuu,a Predadora.
-Estou então no Vale da Fera! Então, estou mesmo morto !
-Ainda não. Eu o encontrei caído na floresta vizinha ao vale, e o resgatei de la, para que as outras feras não o devorassem.
-Entao,você salvou minha vida! Porque?
-Por que sou cruel, meu caro soldado.Mas, eu te pergunto: terei eu salvo mesmo a sua vida?
Mitthu tinha no rosto a pura expressão da angustia, de não so´entender o que ela dizia,como também não saber o que responder.
O vento gelado soprava com forca , ondulando a densa pelagem de Voihuu.
O Sol aparecia ainda timido , a lua branca ainda podia ser vista, em contraste com o espetáculo de cores  que se descortinava para eles, e o brilho dos raios solares que inundavam as campinas de relva verdejante que oscilavam qual maré,sob o efeito do vento cortante como faca, que castigava a pele nua do torso de Mitthu,com seu rosto contorcido de agonia.
O soldado então ergueu a cabeça e la estava a Fera, bem próxima:ela alcançava três vezes a altura de um homem médio,era humanóide,ficando de pe´nas patas traseiras, que lembram muito a dos ursos,mas as dianteiras  lembravam mais as de um gorila.A cabeça lembrava a de um felino, e os caninos em forma de sabre ,com cerca de quarenta centímetros de comprimento, saiam para fora da boca.As orelhas, no entanto lembravam mais as de um elefante, mas proporcionalmente menores.Os olhos eram grandes e verdes, e brilhavam como esmeraldas, em contraste com  a pelagem de um azul bastante escuro.A cauda era fina e serpenteante, longa, e lembrava  a de um grande felino.No entanto, o torso se afinava  a meio caminho entre as omoplatas e a bacia, como nas mulheres, e como nelas, seios grandes e redondos, muito peludos, com exceção  dos mamilos rosados e grandes.
Na região pubiana os pelos se tornavam ainda mais densos e bem negros.
Da cabeça, e entre as orelhas, uma cabeleira negra , lisa e sedosa descia ate´as nádegas, que eram de proporções generosas.
Tanto as mãos , como os pés, terminavam em garras muito compridas e afiadas, mas estas eram semi retrateis, e se recolhiam parcialmente para dentro, quando não estavam em uso.Sendo assim, quando recolhidas, pareciam muito menores e temíveis.
Os dentes eram especializados em dieta carnívora,e todos eles, assim como a própria cabeça em si, eram grandes e volumosos, tanto quanto os músculos de mastigação e o cérebro, com aproximadamente o mesmo tamanho e complexidade do humano.
A musculatura era pelo menos duas vezes mais poderosa do que a de um Urso polar.As pernas, no entanto, ficavam constantemente meio dobradas, acumulando energia, e ainda que o andar fosse desajeitado,ela podia correr muito , tanto em duas como em quatro patas,e saltar com grande agilidade, apesar de suas duas toneladas de peso.
Voihuu então sorriu um sorriso tétrico, com um que de autoconfiança e uma segurança sinistra.Todos os dentes estavam ali, a mostra,enormes,prontos para estraçalhar o que bem entendesse.
-Você não me parece muito autoconfiante, meu caro. Como você se chama?
-Mitt...Mitthu!
-Huuum, então este era seu nome.Espero que você tenha aproveitado bem sua vida, Mitthu, pois esta a ponto de perdê-la.
As garras das mãos da fera saltaram para fora.
-Espere! Por que quer me devorar? Se assim o quer, porque me poupou ate´agora?
-Salvei sua vida para depois tira-la, pois sou cruel.Na verdade, não estou com fome agora, mas estou com vontade de matar.
-E qual o sentido de matar?
-E qual o sentido de viver,Mitthu?
-Não há´sentido em viver,se a morte se inicia com o nascer.Mas não há sentido em morrer, também.Por que nada pode ser eterno?Porque tudo e´cíclico?
-E´um ciclo virtuoso ou vicioso? Já me perguntei muito a este respeito também, Mitthu, e nunca achei a resposta. Mas , gostei de você.Você e´inteligente. Então lhe digo que nada pode ser eterno,mas no fundo, justamente tudo e´eterno.Eternidade e´uma repetição de ciclos de modo interminável,tudo começa onde tudo termina.O Porque disto para mim e´um mistério.
-Um mistério e´um dilema  a ser descoberto ou que não tem solução, Voihuu?
-Eis outro ciclo! Um mistério e´um dilema porque ainda não foi descoberto e ainda não foi descoberto porque ainda não se achou a solução.Mas que pobreza de raciocínio a humana, achar que tudo pode ser descoberto ou solucionado.O que apavora o Homem e´a falta de solução. Para vocês, o aterrador e´constatar que para certos mistérios simplesmente não existe solução alguma, e a inexistência de soluções e´a própria solução do mistério.Ele existe por si mesmo, não para o Homem.Tudo existe porque existe, não para ser entendido.
-Isto e´natural, como os demais fenômenos naturais, os instintos?
-O que e´ser Natural para você? Considerar que tudo o que não seja humano nem fabricado pelo homem e´natural, e´ser presunçoso.Tudo e´natural. E por falar em instinto, saiba que sou a ultima da minha espécie.Então, e´hora de um outro instinto, que  me leva a poupar sua vida mais uma vez,ao menos por enquanto: a reprodução.
-Mas somos de espécies diferentes!
-Diferentes em espécie e gênero, mas iguais em instinto.E depois, quem disse que quero ter filhotes? Afinal, ser cruel também e´fazer sofrer! E porque não explorar a ambigüidade humana, dor e prazer?Enfim, e´uma ordem!

(Por Continuar)

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