sábado, 6 de junho de 2020

Episódio 1- (Minissérie)- O Enigma de Bertrand


Episódio 1


O navio transatlântico Farewell Lights, em plena Segunda guerra mundial levava refugiados da guerra que fugiam do nazismo, e também soldados, marinheiros e aviadores fugidos da Inglaterra para os EUA, e , para tentar escapar dos submarinos alemães, aventurou-se perigosamente nas águas gélidas do círculo polar ártico.
Porém, ainda assim, não teve sorte: fora encontrado pelos nazistas e, torpedeado, afundou no meio do mar.
Bertrand era um soldado francês , que fugira da França ocupada e, aterrado pelos horrores da guerra, conseguira emprego  naquele navio, onde trabalhava nos decks mais baixo, abaixo da linha dágua. Ele desertara, por decento, já que entrara na guerra forçado, contra sua própria Natureza e sua sensibilidade.Antes fora um bom vivant de família nobre falida pela guerra e fora convocado pelo Exército.
Quando o navio afundou, ele viu pelas escotilhas que o navio estava se movimentando para baixo e ouvira os ruídos aterradores qual choro funesto, do navio se partindo com o peso da água.
Ele trabalhava na parte da frente do navio, ou seja, a proa, e os torpedos tinha atingido a parte traseira, ou seja, a popa, e foi a parte de trás que afundou primeiro, cheia de água.
Porém, o rompimento do casco se dera de tal maneira que isolou a frente do navio, onde uma bolha de ar se criou. A frente estava com todas as escotilhas e portas internas fechadas, por isto o ar se conservou e a água não entrou, então a frente afundava vagarosamente, enquanto a traseira afundava rápido , e Bertrand viu, horrorizado, a traseira do navio caindo rapidamente e rostos de gente afogada ou desesperadamente se afogando, em gritos silenciosos de socorro.
Aquilo calou fundo nele...
Porém, ele tinha, ao menos por enquanto, um pedaço de navio de uns cem metros de comprimento, com alguns andares acima e outros abaixo de onde estava, que parecia seguro.
Ele sentiu o impacto do pedaço em que estava assentar-se em uma rocha do que ele pensou ser o fundo do mar.
Na verdade, aquele pedaço estava numa fissura de rocha onde tinha se encaixado, a  cem metros de profundidade, na beira de um precipício de mais de dois mil metros de profundidade, e foi neste abismo que a traseira do navio caiu, para jamais ser encontrada.
Bertrand agora tinha de pensar o que faria na vida. Sabia que não podia sair daquele caixão retorcido de metal, pois iria se afogar, e a pressão ali seria demasiada, fatal.
Ele tinha idéia da profundidade onde estava por que ele estudara autodidaticamente oceanografia e reconhecia os peixes que via, sabia que eram peixes típicos de oitenta a cento e cinquenta metros de profundidade. Mas não do desfiladeiro onde estava dependurado perigosamente.
Sabia também que a corrosão da água acabaria por destruir a proa e o matar, que aquela proteção era transitória, e imprevisível era o prazo que poderia continuar vivo ali.
Mas ele percorrera todo aquele pedaço do navio de cima a baixo, e sabia que seu quarto estava intacto, que havia uma pequena cozinha e refeitório dos marinheiros ali, com um pequeno depósito de mantimentos e água doce, e sabia principalmente que ele fora o único sobrevivente, e que havia corpos de mortos nos corredores.
E por fim sabia que sua chance de ser resgatado dali era zero e que seu destino estava selado. Tão selado quanto a própria parte do navio que o aprisionava por um lado, e o protegia , por outro.
Ah, o tédio! O que havia para fazer ali, naquele ambiente farto de rangidos misteriosos e assustadores?
Olhar os peixes pelas vigias não lhe alentava!
Sob a luz bruxuleante de velas ele tinha terríveis dúvidas: as velas consumiam o pouco oxigênio que lhe restava, mas como viver na escuridão? E ele se perguntava :valeria a pena continuar a viver numa existência breve e condenada, da qual já se sabia o terrível destino?
Já não mais dormia, aliás nem se era noite ou dia, ele não mais o sabia, o que lhe assombrava era medo de fantasmas...
Não que os visse, por decerto, mas com tanta gente morta pelos corredores e salas daquela proa, como não acreditar que seus fantasmas não apareceriam?
A sua vida se tornou um lúgubre limbo onde realidade, sonho, fantasia, e delírios se misturavam.

(Por Continuar)

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