Episódio
1
O navio
transatlântico Farewell Lights, em plena Segunda guerra mundial levava
refugiados da guerra que fugiam do nazismo, e também soldados, marinheiros e
aviadores fugidos da Inglaterra para os EUA, e , para tentar escapar dos
submarinos alemães, aventurou-se perigosamente nas águas gélidas do círculo
polar ártico.
Porém, ainda
assim, não teve sorte: fora encontrado pelos nazistas e, torpedeado, afundou no
meio do mar.
Bertrand era um
soldado francês , que fugira da França ocupada e, aterrado pelos horrores da
guerra, conseguira emprego naquele
navio, onde trabalhava nos decks mais baixo, abaixo da linha dágua. Ele
desertara, por decento, já que entrara na guerra forçado, contra sua própria
Natureza e sua sensibilidade.Antes fora um bom vivant de família nobre falida
pela guerra e fora convocado pelo Exército.
Quando o navio
afundou, ele viu pelas escotilhas que o navio estava se movimentando para baixo
e ouvira os ruídos aterradores qual choro funesto, do navio se partindo com o
peso da água.
Ele trabalhava na parte
da frente do navio, ou seja, a proa, e os torpedos tinha atingido a parte
traseira, ou seja, a popa, e foi a parte de trás que afundou primeiro, cheia de
água.
Porém, o
rompimento do casco se dera de tal maneira que isolou a frente do navio, onde
uma bolha de ar se criou. A frente estava com todas as escotilhas e portas
internas fechadas, por isto o ar se conservou e a água não entrou, então a
frente afundava vagarosamente, enquanto a traseira afundava rápido , e Bertrand
viu, horrorizado, a traseira do navio caindo rapidamente e rostos de gente
afogada ou desesperadamente se afogando, em gritos silenciosos de socorro.
Aquilo calou fundo
nele...
Porém, ele tinha,
ao menos por enquanto, um pedaço de navio de uns cem metros de comprimento, com
alguns andares acima e outros abaixo de onde estava, que parecia seguro.
Ele sentiu o
impacto do pedaço em que estava assentar-se em uma rocha do que ele pensou ser
o fundo do mar.
Na verdade, aquele
pedaço estava numa fissura de rocha onde tinha se encaixado, a cem metros de profundidade, na beira de um
precipício de mais de dois mil metros de profundidade, e foi neste abismo que a
traseira do navio caiu, para jamais ser encontrada.
Bertrand agora
tinha de pensar o que faria na vida. Sabia que não podia sair daquele caixão
retorcido de metal, pois iria se afogar, e a pressão ali seria demasiada,
fatal.
Ele tinha idéia da
profundidade onde estava por que ele estudara autodidaticamente oceanografia e
reconhecia os peixes que via, sabia que eram peixes típicos de oitenta a cento
e cinquenta metros de profundidade. Mas não do desfiladeiro onde estava
dependurado perigosamente.
Sabia também que a
corrosão da água acabaria por destruir a proa e o matar, que aquela proteção
era transitória, e imprevisível era o prazo que poderia continuar vivo ali.
Mas ele percorrera
todo aquele pedaço do navio de cima a baixo, e sabia que seu quarto estava
intacto, que havia uma pequena cozinha e refeitório dos marinheiros ali, com um
pequeno depósito de mantimentos e água doce, e sabia principalmente que ele
fora o único sobrevivente, e que havia corpos de mortos nos corredores.
E por fim sabia
que sua chance de ser resgatado dali era zero e que seu destino estava selado.
Tão selado quanto a própria parte do navio que o aprisionava por um lado, e o
protegia , por outro.
Ah, o tédio! O que
havia para fazer ali, naquele ambiente farto de rangidos misteriosos e
assustadores?
Olhar os peixes
pelas vigias não lhe alentava!
Sob a luz
bruxuleante de velas ele tinha terríveis dúvidas: as velas consumiam o pouco
oxigênio que lhe restava, mas como viver na escuridão? E ele se perguntava :valeria
a pena continuar a viver numa existência breve e condenada, da qual já se sabia
o terrível destino?
Já não mais
dormia, aliás nem se era noite ou dia, ele não mais o sabia, o que lhe assombrava
era medo de fantasmas...
Não que os visse,
por decerto, mas com tanta gente morta pelos corredores e salas daquela proa,
como não acreditar que seus fantasmas não apareceriam?
A sua vida se
tornou um lúgubre limbo onde realidade, sonho, fantasia, e delírios se
misturavam.
(Por Continuar)
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