Aturdido, Bertrand
agora não entendia mais nada !
-Não, não tenho
como lhe dar respostas. Terás de chegar ‘as suas próprias conclusões...
Até então,
Bertrand a ouvira sempre de costas para ela, mas enfim resolveu voltar a cabeça
para trás.
Ia olhar, mas no
meio do giro de sua cabeça, parou. Não, não ali em frente do corpo da
menininha.
-Me siga !
Ele disse
simplesmente, sem perceber que pela primeira vez respondia a ela.
Ele voltou ao seu
quarto.
-Não preciso
seguir voc~e. Estou em todo lugar...
A voz soara tão
perto, e ele ainda não tira coragem de olhar para trás.Então olhou na vigia, a
escotilha de vidro que o deixava ver o mar de seu quarto.
E viu a menininha
flutuando nas águas, do lado de fora !
-Não é possível !
Ninguém consegue ficar vivo nesta profundidade !
-Viva ou morta, é
questão do ponto de vista, de que lado você está...
Respondeu a
menina.
Atônito, Bertrand
agora que não entendia mais nada. Mas para seu pavor absoluto, ao se virar de
frente para seu quarto, viu a menina deitada em sua cama, sorrindo para ele, em
seu vestidinho cor de rosa sem decotes que ia até os joelhos.
-De que lado você
está?
Bertrando soltou
um grito !
Estaria ele já
morto e não sabia?
Se não havia no
manifesto do navio nenhuma garotinha, então não poderia haver nem a morta, nem
a que falava com ele !
Para seu horror,
ao se arregalarem seus olhos, percebeu: era outra garotinha, não era a morta, a
falecida tinha um rosto diferente, cord de cabelos diferentes, penteado
diferente, tudo diferente, até a cor dos olhos não batia !
Estaria sua mente
perturbada criando tudo aquilo? Mas por que ele criaria uma ilusão assustadora,
baseada em lembranças tão tristes e doces? E o que ela quis dizer que ali o
tempo não existia?Ou ele estaria morto e vvendo outros fantasmas?Dúvidas,
dúvidas, ele se desesperava !
Voltou ao
corredor, e olhou o corpo da menininha falecida .
Estranhamente, nas
primeiras vezes o corpo estava virado com o ventre para cima, agora esta para
baixo, de bruços.
E não fora ele
quem a tinha virado !
Ele então a virou
de frente e olhou seu rosto, bem de perto.
E podia jurar que
ouvira dela um sussurro assustador:
-Eu também não sou
ela, nem sua filha...
Ele saltou para
trás, coração acelerado, em taquicardia !
Não, não, não
havia para onde fugir!
-Desculpe, mas
terás de conviver com nós duas...
Era a menina que
lhe falava e lhe seguia.
-Já que você
chamava sua filha de Terése, pode me chamar assim também...”papai” !
A última palavra,
“papai” soou um tanto zombeteira em seu tom.
-Mas você não é
minha filha !
-Claro que não,
sempre quis ter, mas você nunca teve filha. Nem esposa. Nunca morou no Vale de
Loir ! Você inventou um passado para voc~e que não existe, papai ! VVoc~e, no
entanto a quis tanto, que agora tem duas !
-Duas?
-A morta. Ou
estaria viva? Depende. De qual lado você
está? Você ainda não me respondeu, papai !
-Como, como assim?
-Todos os corpos
se deteriorarão e desaparecerão, menos o dela. Nós o acompanharemos sempre,
papai. E não, não somos irmãs, nem somos relacionadas, e também não somos
amigas...
-Como adivinhas o
que estou pensando...ah, eu devo estar louco mesmo, falando com fantasmas,
delírios, ilusões, sei lá!
Loucura é outra
coisa que depende do lado, do ponto de vista. Está vendo como minha pergunta
sobre de qual lado você está tem mais de um sentido?
-Ei, ei, espere
aí...crianças de sete, oito anos não falam deste jeito, não são tão
inteligentes assim...
A garotinha riu-se
toda.
-Definitivamente,
não sabes de nada...Olha na gaveta de seu criado mudo, tem uns escritos seus
ali, leia-os, por favor, papai !
(Por Continuar)
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