sexta-feira, 26 de junho de 2020

Episódio 3-(Minissérie) O Enigma de Bertrand


Aturdido, Bertrand agora não entendia mais nada !
-Não, não tenho como lhe dar respostas. Terás de chegar ‘as suas próprias conclusões...
Até então, Bertrand a ouvira sempre de costas para ela, mas enfim resolveu voltar a cabeça para trás.
Ia olhar, mas no meio do giro de sua cabeça, parou. Não, não ali em frente do corpo da menininha.
-Me siga !
Ele disse simplesmente, sem perceber que pela primeira vez respondia a ela.
Ele voltou ao seu quarto.
-Não preciso seguir voc~e. Estou em todo lugar...
A voz soara tão perto, e ele ainda não tira coragem de olhar para trás.Então olhou na vigia, a escotilha de vidro que o deixava ver o mar de seu quarto.
E viu a menininha flutuando nas águas, do lado de fora !
-Não é possível ! Ninguém consegue ficar vivo nesta profundidade !
-Viva ou morta, é questão do ponto de vista, de que lado você está...
Respondeu a menina.
Atônito, Bertrand agora que não entendia mais nada. Mas para seu pavor absoluto, ao se virar de frente para seu quarto, viu a menina deitada em sua cama, sorrindo para ele, em seu vestidinho cor de rosa sem decotes que ia até os joelhos.
-De que lado você está?
Bertrando soltou um grito !
Estaria ele já morto e não sabia?
Se não havia no manifesto do navio nenhuma garotinha, então não poderia haver nem a morta, nem a que falava com ele !
Para seu horror, ao se arregalarem seus olhos, percebeu: era outra garotinha, não era a morta, a falecida tinha um rosto diferente, cord de cabelos diferentes, penteado diferente, tudo diferente, até a cor dos olhos não batia !
Estaria sua mente perturbada criando tudo aquilo? Mas por que ele criaria uma ilusão assustadora, baseada em lembranças tão tristes e doces? E o que ela quis dizer que ali o tempo não existia?Ou ele estaria morto e vvendo outros fantasmas?Dúvidas, dúvidas, ele se desesperava !
Voltou ao corredor, e olhou o corpo da menininha falecida .
Estranhamente, nas primeiras vezes o corpo estava virado com o ventre para cima, agora esta para baixo, de bruços.
E não fora ele quem a tinha virado !
Ele então a virou de frente e olhou seu rosto, bem de perto.
E podia jurar que ouvira dela um sussurro assustador:
-Eu também não sou ela, nem sua filha...
Ele saltou para trás, coração acelerado, em taquicardia !
Não, não, não havia para onde fugir!
-Desculpe, mas terás de conviver com nós duas...
Era a menina que lhe falava e lhe seguia.
-Já que você chamava sua filha de Terése, pode me chamar assim também...”papai” !
A última palavra, “papai” soou um tanto zombeteira em seu tom.
-Mas você não é minha filha !
-Claro que não, sempre quis ter, mas você nunca teve filha. Nem esposa. Nunca morou no Vale de Loir ! Você inventou um passado para voc~e que não existe, papai ! VVoc~e, no entanto a quis tanto, que agora tem duas !
-Duas?
-A morta. Ou estaria viva? Depende. De qual lado você  está? Você ainda não me respondeu, papai !
-Como, como assim?
-Todos os corpos se deteriorarão e desaparecerão, menos o dela. Nós o acompanharemos sempre, papai. E não, não somos irmãs, nem somos relacionadas, e também não somos amigas...
-Como adivinhas o que estou pensando...ah, eu devo estar louco mesmo, falando com fantasmas, delírios, ilusões, sei lá!
Loucura é outra coisa que depende do lado, do ponto de vista. Está vendo como minha pergunta sobre de qual lado você está tem mais de um sentido?
-Ei, ei, espere aí...crianças de sete, oito anos não falam deste jeito, não são tão inteligentes assim...
A garotinha riu-se toda.
-Definitivamente, não sabes de nada...Olha na gaveta de seu criado mudo, tem uns escritos seus ali, leia-os, por favor, papai !

(Por Continuar)

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