sábado, 13 de junho de 2020

Episódio 2 (Minissérie)- O Enigma de Bertrand



Ele não conseguia mais se localizar , se vivia a realidade, um pesadelo tenebroso do qual não conseguia acordar, ou se delirava em devaneios malucos e sem sentido, a própria visão se turvava, e por vezes, nem distinguir se seus olhos estavam abertos ou fechados ele conseguia !
E o frio? Aquele ambiente era gélico como o próprio Polo Norte ! Nunca sentira tanto frio na vida, e por vezes ele tremia de o que lhe parecia uma febra mortal, que as aspirinas que ele achara em uma gaveta não lhe conseguiam aliviar. Achara um termômetro, mas com sua visão turva e escurecida, não conseguia interpretar os números direito. E ele tremia tanto que não conseguia manter objetos segurados nas mãos !
Fora dores musculares em espasmos horríveis por todo o corpo , numa tortura tonitruante !
Havia um calendário na cozinha, mas aquilo não mais lhe fazia sentido e acabou por parar de riscar os dias que se passavam ali.
Ele mesmo não sabia como ainda estava vivo, se o ar a cada dia mais rareava, e mais rarefeito ficava.
Passados dias, não se dava mais conta de seus tremores e dores, parecia simplesmente ignorá-los, mas o frio atroz-ah, deste ele não se esquecia !
Porém, até a isto acabou se acostumando.
Em um átimo de consciência, conseguiu entender o que estava escrito em um livro de medicina encontrado com um dos mortos, que falava dos efeitos da narcolepsia por falta de oxigênio, em que a pessoa sufocada e com dificuldades para respirar e com ar insuficiente, levava a temerários delírios.
Mas fora só um rompante: o horror da consciência de que os delírios narcopleticos seriam o último estágio antes da morte o deixava em pãnico !
Sim, sim, seu instinto de sobrevivência ainda funcionava, apesar de sua mente atormentada em meio a sofrimentos torturantes e de preocupações sem fim, não tinha paz...haveria alguma esperança afinal?
Não, ele não queria estar ali...queria estar na sua casa de campo, de sua família, nos campos verdejantes do Vale do Loire !
Então se lembrou de sua falecida esposa, que morrera pouco antes da guerra, quando esperava sua filha tão amada, e desejada, mas mãe e filha faleceram durante o parto, e Terése nunca chegara a nascer. Lembrou-se do funeral de Letice , sua esposa , tão jovem, tão jovem, e Terése, como chorou, como chorou...
Aos prantos com suas lembranças, ainda com as cenas do acolhimento de seus pais a ele após a morte de esposa e filha, Qual fantasma Bertrand percorria os corredores, e então reparou em um dos cadáveres ali:
Sim, era uma menininha, de não mais do que oito anos, tão linda, tão linda, ainda de vestidinho delicado e colorido.
Seu semblante era sereno e ela falecera agarrada a um ursinho de pelúcia, e diante dela Bertrand chorou seu pranto copioso, ajoelhado, chorou tão profundamente que se transformara em uivos, que ressoavam pelo que restava do navio!
Desolado, ele sentia o luto por aquela menininha, era como se tivesse perdido sua filha pela segunda vez!
Em sua mente, ressoava sem parar:” -Poderia ter sido minha filha ! Poderia ser ela!É tão parecida com o que eu imaginava que ela ficaria com esta idade...”
Então, de súbito, ouviu uma voz. Era uma voz aguda, de criança.
-Por que choras?
-Estarei eu louco? Ouvindo vozes? Falando sozinho?
-Estou aqui com você...
E ele sentiu um toque de uma mão de criança, bem delicada, em seu ombro.
Não era possível ! Era tão real !
-Não, não sou ela, sei o que você está pensando, nem sou sua filha que você perdeu. Mas se quiser, posso ficar no lugar dela e te chamar de pai, se isso  te conforta...
Bertrand estav a gora todo arrepiado, em pãnico, apavorado ! Seria ela um fantasma?
Ele nem respondeu.
Entrou em um escritório onde achou o último manifesto de passageiros do navio, ou seja a lista, e que continha também todos os nomes dos tripulantes e as idades.
E não havia nenhuma criança, muito menos uma menina ali ! Como poderia?Como?
Ele voltou ao cadáver da menina, e tocou nele.Sim, lhe parecia real, havia a sensação tátil de pele de gente morta, endurecida e o cheiro também. Até a temperatura da pele era de uma morta, mas como isto seria possível?
-Não, ela não era uma clandestina também, ah, e aqui, aqui o tempo não existe !

(Por Continuar)

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