Logo Sakuya já estava sentada
no sofá da sala, conversando com a Família Tamasuki:
-Mas que linda casa vocês tem
!
-Muito obrigada, Sakuya-san !
Disse Momiji, constrangida,
pois por educação teria de elogiar a convidada e dizer que ela era bonita, mas
ela não conseguia ver beleza naquele corpo musculoso e nas feições delicadas do
rosto ornadas por um cabelo extremamente curto, cortado em estilo militar .Para
ela, mais parecia que a filha tinha trazido um soldado para dentro de casa.
-Sakuya-san, eu estou achando
que você está tão bem, está bonita !
Disse Lune, e o restante da
família, ao contrário de Lune, que estava a vontade e fazia um elogio sincero
(como sempre eram os poucos elogios que ela fazia) ,constrangida, concordou com
movimentos de cabeça por educação.
Na verdade, Lune era a única
ali que achava Sakuya bonita!
- E você é militar,
Sakuya-san?
-Não, mas eu me identifico
com o visual deles, acho que combina comigo, Kazuo-dono !Eu sou uma
fisiculturista, uma atleta dos músculos e ganho dinheiro com o meu esporte que
tenho como profissão!
-Ah,então você deve gostar de
homens fortes, musculosos, tipo Arnold Swarzenegger !
-Sabe que não, Ruri-san? Na
verdade eu não fui sempre assim, e quis ficar assim justamente por causa de um
namoro malfadado, um relacionamento que me fez sofrer muito !
-Onee-san, só porque ela tem
músculos definidos ela teria de gostar de caras musculosos também? Comentário
preconceituoso o seu !
Disse Lune, censurando a
irmã.
Ruri corou de vergonha,
inclinou o torso e disse:
-Desculpe ! Desculpe !
Momiji olhou feio para Lune e
depois para Kazuo, com ar de reprovação.
Neste ínterim de clima de
constrangimento, Sartre , o gato, apareceu ,e foi se enroscar nas pernas de
Momiji, que não teve como abrir um sorriso, aliviando a tensão no ar.
Lune pegou o gato nas mãos e
o levou até o colo de Sakuya.
Mas ele não gostou e se
arrepiou todo e saltou dali, não sem antes arranhar o braço dela !
-Mas que gato feio ! Vem,
Sakuya-san, eu vou fazer um curativo no seu braço ! Papai, o senhor pode por
favor levar as malas dela para o quarto de hóspedes, por favor?
Acudiu Lune, aflita.
-Claro, filha, pode deixar !
Lune levou Sakuya ao lavabo
da sala, onde lavou o ferimento, saiu e depois voltou com a caixa de primeiros
socorros para fazer o curativo.
-Não precisa não, Lune-san,
daqui a pouco sara, não foi nada demais...
-Sakuya-san, amigas de
verdade cuidam das amigas, deixe comigo !
Lune pegou o spray
cicatrizante e passou no ferimento, depois de lavá-lo, e colocou um band aid em
cima.
-Obrigada, você é muito
gentil !
-É o mínimo que eu podia
fazer por você, minha amiga.
-Ah, Lune-san, eu fico tão
feliz de ter uma amiga legal como você, viu?
Lune corou de vergonha, toda
tímida:
-Imagine, amiga, eu é que
fico sem graça da recepção da minha família a você...eles ainda não aceitam
direito pessoas que não são do padrão convencional a que estão acostumados!
-Ah, não esquenta, eu não
ligo, estou acostumada a estas coisas. Agora, os gatos, por outro lado , ao
contrário dos humanos, mostram claramente de quem não gostam ou não foram coma
cara !
Disse Sakuya, em um risinho.
-Aquele Satre-san não tem
jeito, só apronta,viu? Se ele não gostou de você, ele tem mau gosto !
As duas se riram a valer.
-Bom, vou te levar ao seu
quarto agora, você deve estar cansada e louca por um banho agora ! Acho que meu
pai já deve estar levando suas malas para o seu quarto !
Elas saíram do banheirinho,
no qual Sakuya mal cabia, e foram subir as escadas, quando viram que Kazuo e
Momiji sofriam barbaridades para conseguir carregar uma das malas escada acima!
-Ai, desculpem, por favor !
Estas malas tem meus halteres, pode deixar que eu mesma carrego !
Disse Sakuya.
O que Kazuo e Momiji não
conseguiam nem levantar com os dois braços juntos, Sakuya levantou com um braço
só e levou escada acima como se estivesse carregando um travesseiro !
Lune deixou o banho pronto
para a amiga, e se despediu dela, fechando a porta enquanto Sakuya tirava as
roupas para entrar no chuveiro.
Ela desceu as escadas e
encontrou a mãe logo que pisava no último degrau:
-Você não tem vergonha não,
menina? Será possível que você é burra e ainda não aprendeu até hoje a não
colocar sua família numa situação constrangedora?
-Eu, ao contrário de vocês, não
tenho preconceitos. Com licença, mãe?
-Tem horas que não suporto
sua arrogância, sabia?
-Sim, eu sei que você
interpreta erroneamente meus comportamentos como arrogantes e isto te irrita. Mas
não vou mudar o jeito que sou por sua causa nem por ninguém. Eu não me encaixo
nas fôrmas sociais suas onde quer me limitar, desculpe, mas não sou assim !
-Além de tudo é egoísta e
individualista!
-Por que não mudam vocês então,
mamãe? Por que só eu quem tenho de mudar?
-Por que nós estamos certos e
você está errada, será que não entende? Nós somos maioria e você minoria,
pombas !
-Ah, sim, belo discurso
ditatorial e autoritário o seu ! Depois a egoísta e individualista sou eu! Pois
eu penso o contrário ! E quer saber, certas unanimidades são burras !
Aí foi demais para Momiji !
Este insulto ela não suportou
e o tapa dela na cara da filha fez Lune cair da escada e se esborrachar no chão.
Lune, porém, não se entregava
e deu uma rasteira na mãe, que também caiu!
Desta vez, no entanto, ao invés
de se engalfinhar com a filha, Momiji se ajoelhou no chão e começou a chorar. Subiu
as escadas correndo e se trancou em seu quarto, onde o seu pranto se
intensificou em um choro convulsivo, entrecortado por soluços angustiantes, e a
depressão lhe vinha em ondas que lhe rasgavam o coração.
Lune se levantou, e voltou a
seu quarto serenamente, como se nada tivesse acontecido.
Foi quando Kazuo entrou no
quarto do casal e encontrou a esposa em estado deplorável.
Ele a abraçou com ternura e
afagou seus cabelos e distribuiu carinhos nas costas dela.
Ela o abraçou forte, e ainda
chorando, disse:
-Está difícil...está difícil
demais...por que fomos ter ‘a ela? Por que fomos ter uma filha assim?Eu não
aguento mais, Kazuo-kun, eu não aguento mais...francamente...eu...meu coração
rasga ao dizer isto, mas eu fico aliviada dela ir estudar em outra cidade e não
conviver mais comigo...não dá, não tem jeito...eu não aguento...eu estou velha
demais para estas coisas, será que ela não entende? Ela não cansa de me
provocar, me enfrenta, me desobedece, não aprende, sei lá...nem parece minha
filha...onde foi que eu errei? O que eu fiz de errado? O que foi que fiz para
tudo isto acontecer comigo?
(Por continuar)
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