sábado, 22 de agosto de 2015

Episódio 44- Sensibilidade de Viver:Interlúdio ETP



 Kazuo ,por sua vez, ficou condoído da esposa, e procurou lhe dirigir um olhar meigo e doce, e acariciou- lhe o rosto, enquanto respondia:
-Minha adorada, não precisa se sentir culpada. Olha, nossa filha ainda está amadurecendo e ainda tem muito a aprender...com certeza ela errou e você estava certa, porém vocês duas tem gênios fortes, por isto acabam se atritando. Decerto que a Lune-san deveria parar de te provocar, e a própria Ruri-san deve ter ficado muito chateada por ter sido censurada em público, na frente da visita! Concordo plenamente que a Lune-san não deveria ter feito isto com a irmã, e , consequentemente com a gente, e vou conversar seriamente com ela sobre isto, e vou pressioná-la a lhe pedir desculpas, está bem assim?
-Obrigada, amor, eu...eu precisava muito deste apoio, estou muito fragilizada...agora eu vou tentar dormir um pouco e descansar.
Sim, senhora, Capitã !
E Kazuo bateu continência para ela, continuando:
-Pedindo permissão para ser dispensado e  bater em retirada, senhora Capitã da minha vida !
Momiji soltou uma risadinha:
-Ai, Kazuo-kun, não é a toa que te amo, sabia? Dispensado !
Kazuo beijou-lhe a testa com carinho, colocou as cobertas na esposa já deitada, desligou a luz, se retirou e fechou a porta.
Então foi bater na porta do quarto de Lune, que distraída, escolhia novas roupas, completamente nua, nem perguntou quem estava batendo e abriu a porta.
-Aaaaaaaaaah !
Lune gritou, fechando a porta na cara do pai.
Ela corou de vergonha, pois se esquecera de sua nudez, e não gostava que o pai dela a visse sem roupas. Instintivamente colocou uma mão sobre a virilha e outra sobre os seios e teve vontade de chorar.
Kazuo também corou de vergonha e ficou totalmente sem graça, atônito, sem graça, sem saber como agir.
De ambos os lados da porta, um certo gelo predominava.
Mas logo Lune se recuperou e correu a vestir uma calcinha qualquer, e o primeiro vestido que viu na frente, para poder ficar pronta o mais rápido possível.
Ela entreabriu a porta e disse, ainda corada:
-Papai?
-Desculpe, filha, eu não sabia que você estava se trocando!
Eu...eu que peço desculpas ,papai, fui abrindo e simplesmente esqueci que estava sem roupa alguma...que vergonha...
-Tudo bem, filha, deixa para lá...ah, você vestiu o vestido ao contrário, ele está de trás para a frente!
Disse Kazuo , em um risinho meigo e carinhoso.
Lune olhou para baixo e só então viu que o vestido tinha um decotão nas costas e as costas do vestido estavam na frente, que estava sem sutiã e seus seios apareciam quase inteiros, inclusive parte de seus mamilos rosados.
Ela corou mais ainda  e cruzou os braços na frente do busto.
-Pode fechar a porta e se arrumar direito, eu espero aqui fora, quando estiver pronta você abre a porta, vou virar de costas para você agora.
Lune obedeceu incontinenti e desta vez se trocou direito, e agora abriu a porta novamente.
-Filha, eu tenho uma conversa muito importante para ter com você.
-É sobre minha briga de hoje com a mamãe, não é?
-Muito bom, filha, adoro esta sua inteligência ágil, você pega as coisas ainda no ar !
-Deduzir isto não é nenhum feito atlético de inteligência, pai...
-Aham, claro que não. Bom, mas de qualquer modo você está certa.É sobre isto mesmo.
-Fala, então...
-Filha, não fique com este arzinho de entediada que leva sermão...
-E o senhor quer que eu fique como, pai? Sorrindo de orelha a orelha, num sorriso falso, enquanto o senhor me dá a maior bronca? O senhor sabe muito bem que não sou falsa assim ! Vai, fala logo de uma vez, não tenho todo o tempo do mundo !
Kazuo suspirou, procurando ter paciência.
-Mas eu tenho todo tempo da minha vida para você, por que minha vida é devotada a você, por que a amo, minha filha, então , tenho o maior prazer em ficar todo tempo do mundo na sua companhia...
Só então caiu a ficha e Lune percebeu que estava sendo rude com o pai sem razão.
-Desculpe, papai! Eu também te amo e adoro ficar ao seu lado, e sei que sempre tem muito a me ensinar...
Kazuo fez carícias no cabelo da filha, com carinho e beijou-lhe a testa com ternura.
-Obrigado, filha. Então, olha, sua mãe está muito mal, ela estava muito triste e chorando...filha, olha, eu sei que ‘as vezes sua mãe é muito dura com você, mas sabe, ela é mais experiente na vida que você, e no fundo ela só queria te ensinar, te ajudar, por que ela te ama muito!
-As coisas não são bem assim, pai. Ela é muito ligada nestas coisas de “o que os outros vão pensar”, das convenções, senso comum, e eu não sou assim, não consigo ser falsa nem preconceituosa, este é meu jeito de ser ! Não tem como ela só querer me amar do jeito que ela quer que eu seja e não do jeito que eu sou!
Kazuo já percebeu que aquela iria ser uma conversa bem difícil !
Ele suspirou fundo e respondeu:
-Filha, eu a conheço desde que você nasceu. Eu sei que seu jeito é assim e como é o jeito de ser de sua mãe, pois a conheço de antes de você nascer. E sei que vocês duas tem gênios fortes, por isto são tão conflitantes. São gênios diferentes, mas fortes e conflitantes. Quem está certo? Quem está errado? Como você mesma diz, devemos aplicar Pirandello aqui: só existem verdades relativas, a de cada um, não existe verdade absoluta. Ela aderiu ‘as regras sociais, você já as rejeitou. E ambas foram coerentes com suas próprias essências, naturezas, identidades. Mas está havendo uma dicotomia positivista nesta relação de mãe e filha, que deveria ser dialética, entende onde quero chegar?
-Sim, pai, mas por que só eu tenho de ceder? Por que só eu tenho de procurar me conciliar com ela e não ela comigo?
-Lune-san, sua mãe deve estar se fazendo a mesma pergunta, sabia? Então te pergunto, o que você faria se você fosse sua mãe e tivesse uma filha como você?
-Pergunta tendenciosa, esta, pai ! Você está tentando manobrar meu raciocínio para as suas conclusões !
-Tenho a certeza de que, se for este o caso, você saberá se desviar e me dar uma resposta que contrarie meu raciocínio , então vamos, me responda !
Kazuo procurou desafiar a filha, pois sabia que ela gostava de tentar provar sua sapiência, e sabia que um desafio daqueles mexia com os brios e com o orgulho  da filha, para quem, ele apostava, seria irresistível  de aceitar.
Lune percebeu, no entanto, a estratégia do pai, e resolveu pensar um pouco antes de responder. Propositadamente, desviou o olhar do olhar desafiador e auto confiante dele, que parecia lhe oprimir e dominar.
Mas a questão é que agora ela estava presa em um dilema: se respondendo contrariando a linha de raciocínio dele, estaria aceitando o desafio dele e indo pelo caminho ditado por ele, o que poderia conduzi-la para as conclusões dele, que ela já meio que adivinhava; se ela respondesse seguindo a linha de raciocínio dele, também iria parar nas conclusões dele do mesmo modo. E agora, como escapar desta, se ela queria provar que o caminho de raciocínio dela é que estava correto?
Lune sentiu uma pontada de complexo de inferioridade, e se debatia mentalmente ,angustiada, se perguntando como iria sair daquela armadilha !

(Por continuar)

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