Kazuo ,por sua vez, ficou
condoído da esposa, e procurou lhe dirigir um olhar meigo e doce, e acariciou- lhe
o rosto, enquanto respondia:
-Minha adorada, não precisa
se sentir culpada. Olha, nossa filha ainda está amadurecendo e ainda tem muito
a aprender...com certeza ela errou e você estava certa, porém vocês duas tem gênios
fortes, por isto acabam se atritando. Decerto que a Lune-san deveria parar de
te provocar, e a própria Ruri-san deve ter ficado muito chateada por ter sido
censurada em público, na frente da visita! Concordo plenamente que a Lune-san não
deveria ter feito isto com a irmã, e , consequentemente com a gente, e vou
conversar seriamente com ela sobre isto, e vou pressioná-la a lhe pedir
desculpas, está bem assim?
-Obrigada, amor, eu...eu
precisava muito deste apoio, estou muito fragilizada...agora eu vou tentar
dormir um pouco e descansar.
Sim, senhora, Capitã !
E Kazuo bateu continência
para ela, continuando:
-Pedindo permissão para ser
dispensado e bater em retirada, senhora
Capitã da minha vida !
Momiji soltou uma risadinha:
-Ai, Kazuo-kun, não é a toa
que te amo, sabia? Dispensado !
Kazuo beijou-lhe a testa com
carinho, colocou as cobertas na esposa já deitada, desligou a luz, se retirou e
fechou a porta.
Então foi bater na porta do
quarto de Lune, que distraída, escolhia novas roupas, completamente nua, nem
perguntou quem estava batendo e abriu a porta.
-Aaaaaaaaaah !
Lune gritou, fechando a porta
na cara do pai.
Ela corou de vergonha, pois
se esquecera de sua nudez, e não gostava que o pai dela a visse sem roupas. Instintivamente
colocou uma mão sobre a virilha e outra sobre os seios e teve vontade de
chorar.
Kazuo também corou de vergonha
e ficou totalmente sem graça, atônito, sem graça, sem saber como agir.
De ambos os lados da porta,
um certo gelo predominava.
Mas logo Lune se recuperou e
correu a vestir uma calcinha qualquer, e o primeiro vestido que viu na frente,
para poder ficar pronta o mais rápido possível.
Ela entreabriu a porta e
disse, ainda corada:
-Papai?
-Desculpe, filha, eu não
sabia que você estava se trocando!
Eu...eu que peço desculpas
,papai, fui abrindo e simplesmente esqueci que estava sem roupa alguma...que
vergonha...
-Tudo bem, filha, deixa para
lá...ah, você vestiu o vestido ao contrário, ele está de trás para a frente!
Disse Kazuo , em um risinho
meigo e carinhoso.
Lune olhou para baixo e só
então viu que o vestido tinha um decotão nas costas e as costas do vestido
estavam na frente, que estava sem sutiã e seus seios apareciam quase inteiros,
inclusive parte de seus mamilos rosados.
Ela corou mais ainda e cruzou os braços na frente do busto.
-Pode fechar a porta e se
arrumar direito, eu espero aqui fora, quando estiver pronta você abre a porta,
vou virar de costas para você agora.
Lune obedeceu incontinenti e
desta vez se trocou direito, e agora abriu a porta novamente.
-Filha, eu tenho uma conversa
muito importante para ter com você.
-É sobre minha briga de hoje
com a mamãe, não é?
-Muito bom, filha, adoro esta
sua inteligência ágil, você pega as coisas ainda no ar !
-Deduzir isto não é nenhum
feito atlético de inteligência, pai...
-Aham, claro que não. Bom,
mas de qualquer modo você está certa.É sobre isto mesmo.
-Fala, então...
-Filha, não fique com este
arzinho de entediada que leva sermão...
-E o senhor quer que eu fique
como, pai? Sorrindo de orelha a orelha, num sorriso falso, enquanto o senhor me
dá a maior bronca? O senhor sabe muito bem que não sou falsa assim ! Vai, fala
logo de uma vez, não tenho todo o tempo do mundo !
Kazuo suspirou, procurando
ter paciência.
-Mas eu tenho todo tempo da
minha vida para você, por que minha vida é devotada a você, por que a amo,
minha filha, então , tenho o maior prazer em ficar todo tempo do mundo na sua companhia...
Só então caiu a ficha e Lune
percebeu que estava sendo rude com o pai sem razão.
-Desculpe, papai! Eu também
te amo e adoro ficar ao seu lado, e sei que sempre tem muito a me ensinar...
Kazuo fez carícias no cabelo
da filha, com carinho e beijou-lhe a testa com ternura.
-Obrigado, filha. Então,
olha, sua mãe está muito mal, ela estava muito triste e chorando...filha, olha,
eu sei que ‘as vezes sua mãe é muito dura com você, mas sabe, ela é mais
experiente na vida que você, e no fundo ela só queria te ensinar, te ajudar,
por que ela te ama muito!
-As coisas não são bem assim,
pai. Ela é muito ligada nestas coisas de “o que os outros vão pensar”, das
convenções, senso comum, e eu não sou assim, não consigo ser falsa nem
preconceituosa, este é meu jeito de ser ! Não tem como ela só querer me amar do
jeito que ela quer que eu seja e não do jeito que eu sou!
Kazuo já percebeu que aquela
iria ser uma conversa bem difícil !
Ele suspirou fundo e
respondeu:
-Filha, eu a conheço desde
que você nasceu. Eu sei que seu jeito é assim e como é o jeito de ser de sua mãe,
pois a conheço de antes de você nascer. E sei que vocês duas tem gênios fortes,
por isto são tão conflitantes. São gênios diferentes, mas fortes e
conflitantes. Quem está certo? Quem está errado? Como você mesma diz, devemos
aplicar Pirandello aqui: só existem verdades relativas, a de cada um, não
existe verdade absoluta. Ela aderiu ‘as regras sociais, você já as rejeitou. E
ambas foram coerentes com suas próprias essências, naturezas, identidades. Mas
está havendo uma dicotomia positivista nesta relação de mãe e filha, que
deveria ser dialética, entende onde quero chegar?
-Sim, pai, mas por que só eu
tenho de ceder? Por que só eu tenho de procurar me conciliar com ela e não ela
comigo?
-Lune-san, sua mãe deve estar
se fazendo a mesma pergunta, sabia? Então te pergunto, o que você faria se você
fosse sua mãe e tivesse uma filha como você?
-Pergunta tendenciosa, esta,
pai ! Você está tentando manobrar meu raciocínio para as suas conclusões !
-Tenho a certeza de que, se
for este o caso, você saberá se desviar e me dar uma resposta que contrarie meu
raciocínio , então vamos, me responda !
Kazuo procurou desafiar a
filha, pois sabia que ela gostava de tentar provar sua sapiência, e sabia que
um desafio daqueles mexia com os brios e com o orgulho da filha, para quem, ele apostava, seria
irresistível de aceitar.
Lune percebeu, no entanto, a
estratégia do pai, e resolveu pensar um pouco antes de responder. Propositadamente,
desviou o olhar do olhar desafiador e auto confiante dele, que parecia lhe
oprimir e dominar.
Mas a questão é que agora ela
estava presa em um dilema: se respondendo contrariando a linha de raciocínio
dele, estaria aceitando o desafio dele e indo pelo caminho ditado por ele, o
que poderia conduzi-la para as conclusões dele, que ela já meio que adivinhava;
se ela respondesse seguindo a linha de raciocínio dele, também iria parar nas
conclusões dele do mesmo modo. E agora, como escapar desta, se ela queria provar
que o caminho de raciocínio dela é que estava correto?
Lune sentiu uma pontada de
complexo de inferioridade, e se debatia mentalmente ,angustiada, se perguntando
como iria sair daquela armadilha !
(Por continuar)
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