domingo, 23 de agosto de 2020

Episódio 47- Sensibilidade de Viver: Adendos Finais

 O dia que ora amanhecia era um fervilhante dia de trabalho.

O casal procurou mergulhar no trabalho e na rotina e se distrair com as peraltices de Rina e dos gatos para se distrair.

Mas Asuka continuava a olhar atravessado para Takeo.

Ela era de um passado de homens fortes, rudes,que não exibiam ou escondiam seus sentimentos, em uma era onde homens demonstrarem o que sentiam era considerado vergonhoso, em que nem mulheres podiam chorar para não serem consideradas fracas e receberem toda a antipatia  e todo o desprezo da Sociedade, imagine os Homens.

Por decerto os tempos tinham passado, não se vivia mais em1930/1940/1950, mas ela não se conformava.

Não que ela gostasse tanto assim daquela época- mas fora a época que realmente marcou a sua vida, a impactou e a forjo como a mulher que era hoje. Naquela época estava, morava, residia sua essência, fora ‘a aquilo, apesar de todo o sofrimento, ou talvez por causa dele,  a ele se prendia como o correto para se viver.Ao ver dela, todos deveriam continuar vivendo assim, e o resto era degradação-sobretudo de valores.

Era este o passado que ela teve, ela não conhecera nenhum outro, então, se o presente não era mais difícil como fora seu passado, não tinha valor,era desprezível, gerava a sua inconformidade , que tinha todas as razões do mundo, ao ver dela, para ser e existir.

Por isto ela não arredaria pés de seus princípios, de achar Takeo um fraco, “pouco-homem”, assim como via, inclusive o pai de Lune.Então, não pediria desculpas, preferia a morte a se resignar, se conformar com os novos e suaves tempos.

E por isto continuaria a ser severa com Takeo e um doce com Lune, afinal, ela era sua netinha querida e amada do seu coração, ainda que tivesse que guardar todo este amor e doçura por ela para si, para que não fosse vista como fraca e sentimental pelas outras pessoas, algo a que tinha horror, seria seu pesadelo.

O casal, por outro lado, tentava, em vão, e desesperadamente, não ligar para a teimosia e o orgulho de Asuka.

A única que não estava absolutamente nem aí com nada disto, com todo este clima ruim, era Rina- mas será?

Tudo isto, no entanto, não poderia ficar nesta tensão acumulada por muito tempo. Ambos trabalharam tensos, nervosos, preocupados, sem saber como colocar os pingos nos is para Asuka, sem magoá-la.

Afinal, ela já tinha 86 anos de idade, e também, precisavam dela como babá, e sobretudo por que Lune amava sua avó e não queria magoá-la jamais, muito menos a fazer sofrer.

E Lune sabia- sentia- que sua avó sofria por dentro sem poder externar, expressar.E lhe doía demais no coração ver Asuka sobrer, ela não merecia aquilo. Então tomou coragem e após um jantar silencioso e constrangedor, hostil, resolveu convocar uma reunião familiar para resolver aquela situação angustiante.

-Não tenho o que fazer aqui. Isto é assunto entre vocês dois!

-Vovó, envolve a senhora também !

-Lune-san, eu não vou...

-Claro que não, obaba, esta reuniãozinha não é para isto. Desculpas naõ se aplicam neste caso.

-É para quê, então?

-Para resolver este clima...

-Que clima?Estamos no inverno, não há nada o que fazer sobre isto, e a Rina-Chan já foi colocada para dormir...

-Vovó, por favor, a senhora sabe muito bem do que se trata...

Takeo ouvia tudo calado, mal se contendo, e esperando novas hostilidades por parte de Asuka, ao ver a postura altiva e orgulhosa dela.

-E daí?

-Vovó...

-Netinha, se vocês não estão satisfeitos comigo, com o meu trabalho, eu faço minhas malas e vou embora agora mesmo, tomo um táxi, pego um trem e rapidinho estarei de volta na minha casa...

-Claro que não, obaba ! Nós estamos super felizes e satisfeitos com a senhora aqui, não é mesmo, Takeo-kun?

O olhar de Lune para o marido foi desesperado, mas para alívio dela:

-Claro, com certeza, adoramos a senhora aqui, a senhora trabalha muito bem, e é uma pessoa humana muito bela e querida, queremos a senhora aqui sempre...e eu também gosto muito da senhora, e lhe peço desculpas...

O olhar de Asuka era atônito, e de Lune, também- não esperava tanto !

-Eeee? Disse a cansada senhorinha.

-- Eu fui fraco em me sentir daquele jeito, quando a senhora foi franca e disse a verdade para mim. Realmente, meu sobrenome não é Tamasuki e não faço parte da família de vocês, é uma realidade que tenho de encarar, então, já que a decepcionei como marido de sua neta, lhe peço desculpas e prometo ser mais forte e ter mais atitude !

Lune ficou surpresa com a reação de Takeo. Sim, ela sabia que ele muitas vezes demorava para “cair a ficha” (como acontecia com ela também), mas uma hora caía, e ela imediatamente percebeu a jogada dele e onde ele queria chegar.

Asuka e Lune tinham suas defesas e argumentos na ponta da língua, mas então, sobreveio Rina.

 

(Por Continuar)

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