Já
quanto ao carro perseguidor, as duas escaparam vivas, mas muito feridas, e uma
ambulância chegou e as levou, escoltada pela polícia.
O
carro delas ficara destruído.
Lune
e Mercedes chegaram na faculdade com outro clima. Agora não mais brigadas, a
adrenalina da situação de perigo tão recente as deixou trêmulas e lívidas.
Ao
chegarem, quase que instintivamente se abraçaram, caladas e só depois de algum
tempo se desgrudaram, ainda no carro, conseguiram voltar a conversar:
-Nuestra
Madre de Diós, esta eu achei que vuelveria muerta !
-Não
entendi, Mercedes-san, eu ainda não aprendi espanhol...
-Minha
mãe de Deus, esta eu achei que voltaria morta, não sairia viva desta...
-Ah,
agora sim...eu também, fiquei bem amedrontada e insegura !Aquelas duas são
loucas !
-E
aprontaram uma armadilha para a gente !
-Já
deviam estar planejando este ataque, pois sabiam onde nos pegar, só não
contavam que a polícia aparecesse, Mercedes-san !
-Foi
a nossa sorte, desta vez escapamos!E as curvas que você fez?Juro que achei que
iríamos capotar !
-É,
eu também, mas era o que eu podia fazer...
-Acho
que a gente nem teria cabeça para estudar agora, mas, não tem jeito...vamos
entrar logo que a aula já vai começar !
-Vamos
correr então, Lune-san !
Entraram
na sala de aula, e o clima parecia normal. No intervalo, enquanto comiam na
lanchonete, viram a reportagem na televisão sobre a perseguição a elas:
“...-O
carro perseguidor ficou destruído, mas as duas meliantes escaparam com vida,
embora muito feridas, e foram atendidas no hospital, onde ficarão até se
recuperarem, para depois serem conduzidas para a penitenciária, já que elas já
tinhas uma extensa ficha criminal anterior e eram procuradas...”
-Olha,
eu não desejo amorte de ninguém, mas fico temerosa em saber que elas ainda
estão vivas...
-Idem,
Mercedes-san, teria sido melhor para nós se tivessem falecido! Agora elas
querem nossas mortes e não duvido que escapem da prisão, inclusive, a Kotomi já
escapou várias vezes...
-Tomara
Deus que não, Lune-san...
-Vejo
que você é muito religiosa, Mercedes-san...
-Eu
sou sim, católica, como a maioria dos espanhóis, aliás. A Espanha é um país
predominantemente católico, e meus pais sempre me levaram na igreja desde
criancinha.
-Entendo,
é uma questão cultural, respeito.Eu já sou atéia, não tenho qualquer religião e
não acredito em nenhuma divindade.
-Será
mesmo, Lune-san? Você acredita muito em seus filósofos e o que eles lhe dizem
lhe parece ser sagrado...será que eles não seriam uma espécie de deuses para
você?
-Sabe
que eu nunca tinha pensado por este lado?Não, eu acho que não, minha relação
com a filosofia é outra, diferente disto. Eu não acredito neles no sentido
religioso, por que eu questiono o que dizem e debato o tempo todo, minha
amiga...bom, mas as religiões não deixam de serem uma forma de filosofia,
apesar de serem uma forma com a qual não me identifico, mas, por exemplo, São Tomás de Aquino e Santo Agostinho foram
grandes filósofos, sem dúvidas. Eu até poderia discorrer sobre Descartes e sua
relação com a religião, negação ou aceitação
de Deus, mas acho que ficaria chato para você.
-Melhor
mesmo, ou viraria uma discussão interminável.Mas , se não tens crença
religiosa, como vives?Para mim, ela é parte integrante da minha vida, um Norte
a orientá-la....
-Mercedes-san,
veja, eu entendo a simbologia e o sentido do que você quis dizer.A filosofia no
entanto, nos leva questionar o que se aprende, então, não tenho crenças, mas
constatações. E a estas constatações eu chego analisando pela lógica e pelo
conhecimento adquirido, se o aprendizado não inclui o questionamento do que se
aprende, o que se aprende não é mais conhecimento, mas um dogma.E desafiá-lo
passa a ser um tabu, uma heresia, por que foi imposto...
-Ah,
Lune-san, imposto acho uma palavra muito forte, nem todo mundo que tem crenças
as considera impostas, acredita não por que seja imposta, mas por que precisa
acreditar, é a necessidade natural das pessoas de acreditar em alguma coisa, a
inconformidade com a vida como ela é em constraste com a vida que se gostaria
que se fosse, existe sim uma espontaneidade das pessoas em relação ‘a fé religiosa,
em relação ‘a crença, a maioria não são forçadas...
-Você
está parecendo a minha falecida amiga Rina-san quando fala assim,
Mercedes-san...e é mais inteligente que eu pensava!Terei eu a subestimado?Se o
foi, por favor me desculpe...devo reconhecer que são bons seus argumentos, tem
lógica...sabe, antigamente, quando eu era muito mais racional que emotiva, e
não conseguia lidar com minhas emoções direito por pura inexperiência com elas,
eu não aceitaria seus argumentos e tentaria rebatê-los , e hoje vejo que isto
seria uma infantilidade...mas eu mudei, mudei muito nos últimos anos,
espcialmente depois que comecei a namorar o Takeo-kun! Claro, hoje sei que
muita gente tem esta necessidade de crer, esta inconformidade, e que eu não
tenho por que simplesmente não faz parte da minha natureza, as naturezas de ser
das pessoas são tão variadas, tão diversas, é uma insensatez buscar uma
“normalidade” nisto tudo, cada ser humano é úncio e tem sua própria natureza
peculiar, própria, coma qual se identifico. Então, não creio, me identifico e
questiono. Sou assim, este é meu jeito de viver, por isto consigo viver sem
crenças, sou centrada em mim, devotada na direção do meu próprio interior a que
exploro, esta é a minha vida e minha razão de ser, este é meu sentido de viver,
entende?
(Por Continuar)
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