segunda-feira, 26 de março de 2018

Episódio 189- Sensibilidade de Viver :Interlúdio ETP




Já quanto ao carro perseguidor, as duas escaparam vivas, mas muito feridas, e uma ambulância chegou e as levou, escoltada pela polícia.
O carro delas ficara destruído.
Lune e Mercedes chegaram na faculdade com outro clima. Agora não mais brigadas, a adrenalina da situação de perigo tão recente as deixou trêmulas e lívidas.
Ao chegarem, quase que instintivamente se abraçaram, caladas e só depois de algum tempo se desgrudaram, ainda no carro, conseguiram voltar a conversar:
-Nuestra Madre de Diós, esta eu achei que vuelveria muerta !
-Não entendi, Mercedes-san, eu ainda não aprendi espanhol...
-Minha mãe de Deus, esta eu achei que voltaria morta, não sairia viva desta...
-Ah, agora sim...eu também, fiquei bem amedrontada e insegura !Aquelas duas são loucas !
-E aprontaram uma armadilha para a gente !
-Já deviam estar planejando este ataque, pois sabiam onde nos pegar, só não contavam que a polícia aparecesse, Mercedes-san !
-Foi a nossa sorte, desta vez escapamos!E as curvas que você fez?Juro que achei que iríamos capotar !
-É, eu também, mas era o que eu podia fazer...
-Acho que a gente nem teria cabeça para estudar agora, mas, não tem jeito...vamos entrar logo que a aula já vai começar !
-Vamos correr então, Lune-san !
Entraram na sala de aula, e o clima parecia normal. No intervalo, enquanto comiam na lanchonete, viram a reportagem na televisão sobre a perseguição a elas:
“...-O carro perseguidor ficou destruído, mas as duas meliantes escaparam com vida, embora muito feridas, e foram atendidas no hospital, onde ficarão até se recuperarem, para depois serem conduzidas para a penitenciária, já que elas já tinhas uma extensa ficha criminal anterior e eram procuradas...”
-Olha, eu não desejo amorte de ninguém, mas fico temerosa em saber que elas ainda estão vivas...
-Idem, Mercedes-san, teria sido melhor para nós se tivessem falecido! Agora elas querem nossas mortes e não duvido que escapem da prisão, inclusive, a Kotomi já escapou várias vezes...
-Tomara Deus que não, Lune-san...
-Vejo que você é muito religiosa, Mercedes-san...
-Eu sou sim, católica, como a maioria dos espanhóis, aliás. A Espanha é um país predominantemente católico, e meus pais sempre me levaram na igreja desde criancinha.
-Entendo, é uma questão cultural, respeito.Eu já sou atéia, não tenho qualquer religião e não acredito em nenhuma divindade.
-Será mesmo, Lune-san? Você acredita muito em seus filósofos e o que eles lhe dizem lhe parece ser sagrado...será que eles não seriam uma espécie de deuses para você?
-Sabe que eu nunca tinha pensado por este lado?Não, eu acho que não, minha relação com a filosofia é outra, diferente disto. Eu não acredito neles no sentido religioso, por que eu questiono o que dizem e debato o tempo todo, minha amiga...bom, mas as religiões não deixam de serem uma forma de filosofia, apesar de serem uma forma com a qual não me identifico, mas, por exemplo,  São Tomás de Aquino e Santo Agostinho foram grandes filósofos, sem dúvidas. Eu até poderia discorrer sobre Descartes e sua relação com a religião, negação ou aceitação  de Deus, mas acho que ficaria chato para você.
-Melhor mesmo, ou viraria uma discussão interminável.Mas , se não tens crença religiosa, como vives?Para mim, ela é parte integrante da minha vida, um Norte a orientá-la....
-Mercedes-san, veja, eu entendo a simbologia e o sentido do que você quis dizer.A filosofia no entanto, nos leva questionar o que se aprende, então, não tenho crenças, mas constatações. E a estas constatações eu chego analisando pela lógica e pelo conhecimento adquirido, se o aprendizado não inclui o questionamento do que se aprende, o que se aprende não é mais conhecimento, mas um dogma.E desafiá-lo passa a ser um tabu, uma heresia, por que foi imposto...
-Ah, Lune-san, imposto acho uma palavra muito forte, nem todo mundo que tem crenças as considera impostas, acredita não por que seja imposta, mas por que precisa acreditar, é a necessidade natural das pessoas de acreditar em alguma coisa, a inconformidade com a vida como ela é em constraste com a vida que se gostaria que se fosse, existe sim uma espontaneidade das pessoas em relação ‘a fé religiosa, em relação ‘a crença, a maioria não são forçadas...
-Você está parecendo a minha falecida amiga Rina-san quando fala assim, Mercedes-san...e é mais inteligente que eu pensava!Terei eu a subestimado?Se o foi, por favor me desculpe...devo reconhecer que são bons seus argumentos, tem lógica...sabe, antigamente, quando eu era muito mais racional que emotiva, e não conseguia lidar com minhas emoções direito por pura inexperiência com elas, eu não aceitaria seus argumentos e tentaria rebatê-los , e hoje vejo que isto seria uma infantilidade...mas eu mudei, mudei muito nos últimos anos, espcialmente depois que comecei a namorar o Takeo-kun! Claro, hoje sei que muita gente tem esta necessidade de crer, esta inconformidade, e que eu não tenho por que simplesmente não faz parte da minha natureza, as naturezas de ser das pessoas são tão variadas, tão diversas, é uma insensatez buscar uma “normalidade” nisto tudo, cada ser humano é úncio e tem sua própria natureza peculiar, própria, coma qual se identifico. Então, não creio, me identifico e questiono. Sou assim, este é meu jeito de viver, por isto consigo viver sem crenças, sou centrada em mim, devotada na direção do meu próprio interior a que exploro, esta é a minha vida e minha razão de ser, este é meu sentido de viver, entende?

(Por Continuar)

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