Episódio
12 : Determinação
O
brilho das estrelas parecia se fundir ao brilho das águas , e por onde a vista
alcançasse, só se conseguia ter uma pequena noção da imensidão do oceano.
Em
meio a tão grandioso panorama, naquela noite perdida de lua cheia,uma megaloceta, mamífero marinho parecido com uma
baleia terrestre, mas um pouco mais primitiva,estava em meio ao difícil
processo de parto.
Ela
sofria muito, e o filhote ficara preso, e se não saísse logo, morreria
afogado.Ela também não agüentaria muito mais tanto esforço, e se afogaria
também.Sem falar que perdia muito sangue, e poderia chamar a atenção de muitos
predadores.
O
tempo passava e o seu desespero e o do filhote aumentavam.
Não
muito longe,cruéis répteis marinhos , predadores muito grandes e perigosos, já
farejavam a trilha de sangue, e nadavam na direção da megaloceta.
No
entanto, o desejo dela de ter aquele filhote e de sobreviver era muito grande e
ela não iria querer se entregar assim.
Quando
olhos brilharam na escuridão, e ela percebeu que eles estavam chegando, e não
eram um, dois, mas dúzias deles, seu desespero se tornou maior ainda. Ela e o
filhote pareciam fadados 'a morte certa, e seriam despedaçados num turbilhão de
sangue muito rapidamente.
A
descarga de adrenalina no sangue dela chegou ao máximo, assim como o instinto
maternal dela.
Mas
não eram só aqueles olhos que a observavam.
Muito
próximo estava um navio, e nele, um velho marinheiro.
Ele
estava na amurada do navio quando viu o movimento na superfície da água, e se
comoveu com a situação da megaloceta.
Armado
de um lança arpões de repetição, ele irrompeu em meio ao bando de répteis, com
seu navio, atropelando e ferindo seriamente vários deles. Parou o motor e começou
a atirar.
Os
predadores porém não se assustaram e continuaram a atacar, arrancando grandes
pedaços de carne da gigantesca presa de dimensões próximas ao do próprio navio,
que era de médio porte.
Orthuu,
o velho marinheiro, continuava atirando, matando mais e mais predadores, e
começou a concentrar-se nos que se aproximavam mais da sofrida cetácea.
Os
répteis predadores então mudaram seu alvo e começaram a atacar o navio,e assim
a megaloceta pôde descansar um pouco e prosseguir com o trabalho de parto.Apesar
de assim tão ferida, estava firmemente a ter aquele filhote e faze-lo
sobreviver, ainda que custasse sua própria vida.
-Luta!
Luta! Os desgraçados não vão conseguir vencê-la! Bradava o ancião, enquanto
vinham-lhe lembranças de soldados estraçalhando
sua mulher ainda viva, a golpes de machado de guerra, em pleno trabalho de
parto, pisoteando seu filho a meio caminho de nascer,esmagando-lhe a pequena
cabeça, tudo na frente dele.
-Eu
não pude ter meu filho, mas você terá o
seu, nem que eu tenha de morrer para isto!
Metralhava de arpoes os predadores, até que um deles
bateu mais forte com a cabeça na amurada do barco, e o velho caiu ao mar.
A
megaloceta viu, e interpôs- se heroicamente
entre o senhor de idade e os predadores.
Mas
ele sabia nadar, e sua arma continuava funcionado de baixo d ´água, então ele
continuou atirando.
Logo
o último dos predadores estava morto, e a cetácea , ainda que bastante ferida,
continuava a lutar para liberar seu filhote.Não faltava muito, porém , para que
os dois morressem afogados.
Orthuu
viu que ela não conseguiria sozinha, mergulhou e apoiou os pés no ventre dela e
, com toda a sua força puxou o filhote para fora.
Quando
já estava exausto, quase afogado, conseguiu, e num sacão, o filhote se libertou
e subiu 'a tona para respirar.
O
velho marinheiro começou então a afundar...
Mas
não por muito tempo. A megaloceta mergulhou e foi por baixo dele, acolhendo-o
com sua enorme cabeça.Levou-o para cima, e com um golpe forte da cabeça, o
jogou de volta ao navio.
Quando
ele recobrou os sentidos, o olhar dela para ele foi tão profundo e
impressionante que ele jamais se esqueceria.Era igual ao olhar da sua mulher
para ele antes de ela morrer.
As
lágrimas abundavam em seus olhos, e ele chorava copiosamente.
Uma
comunicação se fez, e não eram precisas palavras, apenas sentimentos.
Gratidão,
agradecimento eram pouco , muito para
exprimir os significados dos gestos e emoções que ali estavam ocorrendo!
Ele
não sabia se por miragem de fome ou cansaço, ou se estaria sonhando, mas ele
podia jurar que enquanto via a megaloceta indo embora aos saltos com o filhote,
via no horizonte a figura de sua esposa com seu filho no colo, caminhando sobre
as águas,lancando-lhe um olhar de orgulho, gratidão e alivio,como que liberada
de um grande fardo de dor e penitência, e um sorriso doce e meigo, e depois
caminhando em direção ao horizonte...
(Por Continuar)
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