Episodio 2: Fuga,
Solidão, Razão de Viver
Mas o canto dos animaizinhos voadores logo foi
abafado, por estrondos ensurdecedoras que pareciam trovoes, ainda ao longe, mas
por quanto tempo?
A Paz ali era um sonho diáfano e fugaz,e longe
dali a vida cessava sem parar.
Canhões
de partículas ecoavam, destruindo tudo o que se julgara um dia perene,
ordens insanas, gritos desesperados, corações que paravam de bater, sangue que
escoava generosamente, vida escorrendo entre os corpos, cheiro
insuportável,bombas explodiam, fazendo vidas em pedaços, pedaços de historia
humana que se queimavam, derretiam, desapareciam.
Mitthu já não lutava mais pela Gloria do Império,
já não lutava mais pela Liberdade dos Oprimidos,pela vitória da Saga dos
Revoltosos, por mais nada, lutava pela dor de ter de continuar a viver, e
tirava vidas para preservar a sua própria.Não suportava mais tanta dor, não só´
física, mas da constatação de em que sua vida tinha se transformado, e de não
saber se ela poderia ser melhor um dia, não sabia mais o que poderia vir a ser
uma vida melhor ou pior, queria apenas viver, já não se importava mais que na
verdade quem parecia assim tão obcecado pela continuidade da vida era seu
corpo, não sua mente confusa e horrorizada.
Mitthu, o soldado, resolveu fugir.
Em meio ‘a tanto ribombar, tanta lama, tamanha
destruição, tanta desolação, tanta falta de razão,Mitthu não esquecia, ignorar
não podia, seu passado tempestuoso e sofrido, ainda que breve ,o acompanhava em
sua jornada de consternação.
Queria fugir,ir para longe dos demais homens,
para longe da guerra, e voava em sua imaginação , para as poucas imagens de sua
vida que julgava alegres.
Automático e condicionado por anos de
treinamento,matava mecanicamente,em exaspero, sentia que alguma coisa dentro de
si o levava cada vez mais longe daquele pesadelo.
Na verdade não mais sabia distinguir se vivia
ou sonhava.
Se viver e´fazer parte de um sonho, e sonhar
e´ter sensações assim tão vividas que enganam fazendo-me pensar que vivo,
pensou Mitthu, qual a razão para viver?
Ele sabia que não suportava mais ver o mundo
so´em vermelho, e sentia que haveria algo extraordinário esperando por ele para
vivenciar em sua vida, apenas ainda não tinha acontecido.
Quando deu por si, o campo de batalha estava
longe, e vislumbrou então uma floresta densa, com arvores imensas.Quando
questionou a si próprio se ali não residiriam feras horrendas,respondeu a sua
própria consciência:
-Não existe fera que não seja humana, a besta
humana, besta-fera,que tudo mata e tudo destrói, primeiramente a si mesma.
Em meio ao breu e da complexidade intrincada
dos cipoais, espinhaços e mata fechada por onde perpassava,sentia-se só em meio
a tantos olhos que o observavam.Não existia um caminho, só obstáculos,
farfalhar de folhas há muito putrefatas,todo tipo de zumbidos e ruídos estranhos, gargalhadas histéricas e
sem sentido,suor, calor, ar carregado, abafado, úmido, triste, dor de
viver,agonia, melancolia negra como a escuridão,embrenhado no núcleo da
floresta, coração.
Então irrompeu o silencio em meio às trevas.
Suor gelado, calafrio,apreensão: a ausência, o
vazio da floresta o aterrorizava, parecia que alguma coisa medonha estava por
acontecer.
Mitthu mal conseguia segurar sua arma,
tremulo.Sentia-se agora tão mínimo , e a Natureza tão assim dominante e
majestosa, que não suportou não apenas o peso da pressão da opressão,o pesadelo
que se acercava dele por todos os lados,mas igualmente o seu próprio peso, e
caiu de joelhos.Suas próprias lágrimas lhe pareciam pesadas demais, a esperança
parecia se esvair de sua alma.
Um grito parecia estar preso em sua garganta
sufocada, um uivo grandioso,um sentimento lhe pesava em seu coração.Como
pássaro engaiolado que anseia por liberdade, assim estava seu grito
emudecido,retido e oprimido.Porem , uma sensação de profundidade, tudo
escurecendo, tudo girando, o vazio da falta de uma referencia, com o intenso
vazio como única presença, sua alma se rebelou e os grilhões de sua esperança moribunda e mortificada se
estilhaçaram, e o brado ecoou pelos labirintos da floresta como nunca antes
ouvidos:
-Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!!!!
Então a voz se calou, e o guerreiro,
vencido,aos pés da Natureza tombou.
(Por Continuar)
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