Episódio
4
Ele, desconfiado,
abriu a gaveta. D efato, haviam papéis ali, que pareciam muito antigos.
Ele começou a ler,
e ficou assombrado:
-Mas é o que estou
vivendo hoje ! Aqui tem você, a morta, a descrição do ambiente, o que
aconteceu, tudo !Não, não é possível, não posso ter escrito isto !
-E não escreveu
mesmo, papai.
-Como não escrevi,
se você me disse que eu que escrevi?
-Depende de qual
lado você está. Aliás, tudo depende de qual lado você está, papai...
-Ainda não
consegui entender o sentido de sua pergunta, filha...
A menina abriu um
sorriso:
-Chamastes a mim
de filha ! Estou muito feliz ! Já é um progresso !
-Como assim?
-Estás me aceitando
e aceitando a ti mesmo também. Isto o ajudará no futuro a se decidir de qual
lado você está...
-Ou seja, ficando
louco, devo ter virado esquizofr~enico...ou eu sempre fui e não sabia?
-Depende, como
sempre, do lado em que você está...são e louco são dois lados que se misturam,
consegue definir o que os separam?
-Se se misturam,
não são mais dois lados...
- Não há uma só
existência para nenhum dos lados, eles podem existir inexistindo, e inexistir
existindo...ao mesmo tempo !
-Mas isto é
loucura, não faz sentido !
-E por que tudo
precisa fazer sentido?Por que a falta de sentido é associada ‘a loucura, se a
sanidade por vezes, dependendo do lado, não faz sentido tampouco?
-Isto tudo é
insano, insano, deste jeito eu não vou aguentar, é muito para mim !
-O que vives aqui
é real, e faz-lhe algum sentido?
-Como uma ilusão
pode me dizer que ela é real?
-Se sou uma ilusão
ou se você é minha ilusão, ou ainda se somos a ilusão da menina morta, é tudo
questão de em qual lado nós estamos...
-Espere aí, dizem
que fantasmas não tem reflexo nos espelhos, preciso tirar esta dúvida !
Ele foi defronte
ao espelho do seu quarto.
Apareceu a imagem
da menina que lhe falava- e da morta, mas não apareceu sua irmagem !
Em desespero, ele
começou a dar pulinhos e arrancar os próprios cabelos!
-Não é possível,
não é possível, então estou morto e não sabia !
Olhou no espelho
outra vez. Agora apreceu apenas sua imagem.
Depois olhou de
novo. Só apareceu a imagem da menina que lhe falava. Olhou uma terceira vez e
apareceu só a morta. E na quarta vez, apareceu a imagem dos três !
-Como eu poderia
ser um fantasma, se eu nem sequer morri? Muito menos aqui?A morta até poderia
ser, mas eu...
-Você está
querendo me enlouquecer, não pode ser...
-Você não quer ler
como terminam seus escritos?
-Não, não, é
temerário demais !
-Ah, papai, deixe
de ser medroso...
A menina pegou os
papéis em suas mãos e entregou a ele, e os foi virando.
-Viu?
-Mas os escritos
terminam comigo os lendo, depois só tem
folhas em branco...
-Por que você
ainda os escreverá...olhe de novo os papéis, papai...
Ele olhou. Os
papeís ainda estavam quentes da mão dela e exalavam o perfume dela.
-Mas agora são só
folhas em branco...
-É por que o
senhor nunca escreveu nada neles, onde está o que e escrevestes, senão nos papéis?
Bertrand olhou
para suas mãos, Não havia mais papel algum ali, nem nas mãos dele, nem dela,
nem na gaveta, em lugar algum.
-Sim, sim, papai,
não os encontrou por que estes papéis nunca existiram. Está tedioso ficar
respondendo suas questões, sabia?
Agora é que
Bertrand não sabia mais se estava vivo, morto , sonhando, dormindo, se estava
na realidade ou se estava tendo delírios. A única questão era o que ele fazia ali, afinal.
-Como sempre digo,
papai. O porquê também depende de qual lado você está e só quando você
responder esta questão, você saberá todas as respostas...
Agora, bom, tirem
suas próprias conclusões, leitores e leitoras....
-
FIM
Nenhum comentário:
Postar um comentário