domingo, 2 de setembro de 2018

Episódio 9- Anjo de Aço !




-Não, infelizmente não cumpriu, Doutor. Nós nem sabemos se foi por culpa deles ou se deveríamos ter deixado o Teddy descansar em paz. Quando o recebemos de volta, ele era fisicamente igualzinho, embora a pele dele não tivesse nenhum calor, ele não suava, mas, enfim, era um  corpo mecânico, não? Como disse antes, ao recebe-lo, ficamos muito felizes, era como um sonho realizado! Mas depois, logo depois, veio o pesadelo...
-Por favor, senhora, não me poupe dos detalhes...sei que é muito doloroso para a senhora, mas é necessário para que eu tente ajuda-la...
-Pois não, sim, é muito doloroso sim, nem gosto de lembrar...nós o recebemos e o   abraçamos, e ele, como aquela expressão séria no rosto, aliás, séria não, neutra, inexpressiva, esquisita, ele parecia não ter sentimentos mais... inicialmente, pensamos que deveria ser o trauma da morte que mexera com ele, sabe-se lá o que sentira...mas, no mesmo dia, pouco tempo depois, notamos que ele não tinha atitudes próprias, ficava parado, com olhar perdido, meio que esperando ordens, e aquele silêncio, ah, como aquele silêncio me doía !
Ele não falava com a gente, não brincava, não interagia conosco nem com ninguém, não se expressava, e não mostrava nenhum sentimento.Outras crianças o empurravam, o derrubavam no chão e ele não tinha reação, não ficava nervoso, não ria, não chorava, nada, nada, nada !Eu não conseguia entender !
Levamos ele ao médico e para a fábrica, estava tudo perfeito, todos os exames e provas deram funcionamento perfeito, então, por quê? Ficávamos aturdidos, preocupados, ele realmente parecia um robozinho comendo, bebendo, ficava feito uma estátua diante da televisão. Recebia carinho e nada. Andando na rua, nunca tropeçava, fazia tudo com tremenda eficiência, mas  simplesmente não parecia humano!
Então, foi coisa de duas semanas depois, ele começou a falar pela primeira vez depois de morto, pedindo água, pedindo comida, pedindo permissão para fazer as coisas. Era absolutamente obediente, muito mais do que Teddy fora antes de sua morte. Mas não brincava, não aprontava, não fazia bagunça, nunca fazia nada de errado, aquilo nem parecia uma criança !Um dia, resolvemos testar a memória dele, e lhe mostramos um álbum de fotografias, e ele não reconheceu a ninguém na foto que não fosse da família mais próxima, nem se lembrava do seu passado, parentada então, não se lembrava de ninguém. Fotos dos amiguinhos dele, ele não reconheceu. Descrevemos acontecimentos inúmeros da vida dele e nada.Quando perguntamos como ele se chamava, ele nos disse que nós o chamávamos de Teddy.E em seguida, nos perguntou quem eramos nós e o que ele estava fazendo na nossa casa !
-Espantoso!Continue, continue, por favor !
-Aos poucos ele foi adquirindo uma personalidade própria, novas opiniões, novos gostos, novos hábitos e...então percebi! Aquele não era o Teddy que eu conhecia, que nascera de mim !Parecia outra pessoa completamente diferente, irascível, constantemente mal humorado e estressado, nervoso, agressivo, começou a ficar agressivo e desafiador, gritava com a gente e chegava a nos agredir fisicamente !O Teddy de verdade, de antigamente , não era assim, era um doce de menino, aprontava sim, mas era sempre respeitoso e carinhoso conosco.Ele começou a se aproveitar de seu corpo robótico e começou a espancar os colegas de escola e até os professores !Acabou sendo expulso da escola, chamaram-no de delinquente, perguntaram se ele não estava envolvido com drogas !Aquilo me doeu tanto, doutor, tanto...para mim, parecia que Teddy tinha morrido pela segunda vez! Ele foi levado a um psiquiatra, que o diagnostico com Psicopatia !Psicopatia, doutor !Meu filho ! Ele ia ficando cada vez mais agressivo e começamos a ficar com medo dele. Eu e meu marido conversamos, e dolorosamente concluímos: aquele era outra pessoa, não era o Teddy. Teddy falecera e tínhamos de aceitar isto. Tínhamos um desconhecido agressivo e perigoso em casa. Físicamente idêntico ao Teddy, mas aquele olhar de fera raivosa não era o dele.Aqueles surtos descontrolados e agressivos não eram ele ! Com muito pesar, o internamos em um hospital psiquiátrico. Ele está lá, numa cela acolchoada e numa camisa de força, recebendo choques elétricos e muitos remédios.Para nós, fora mais um falecimento. Mas, pior, de um desconhecido, aquilo não era nosso filho, era um simulacro, era um monstro cibernético frio e insensível, sem sentimentos, arrependimentos, nada...nada...nada...
A senhora desandou a chorar copiosamente. Doutor ficou comovido, emocionado, com uma grande dor e sensação de impotência. Seria tão cruel o destino reservado ‘a sua filha? Seria isto que esperava por ele no futuro?

(Por Continuar)

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