-Não,
infelizmente não cumpriu, Doutor. Nós nem sabemos se foi por culpa deles ou se
deveríamos ter deixado o Teddy descansar em paz. Quando o recebemos de volta,
ele era fisicamente igualzinho, embora a pele dele não tivesse nenhum calor,
ele não suava, mas, enfim, era um corpo mecânico,
não? Como disse antes, ao recebe-lo, ficamos muito felizes, era como um sonho
realizado! Mas depois, logo depois, veio o pesadelo...
-Por
favor, senhora, não me poupe dos detalhes...sei que é muito doloroso para a
senhora, mas é necessário para que eu tente ajuda-la...
-Pois
não, sim, é muito doloroso sim, nem gosto de lembrar...nós o recebemos e o abraçamos, e ele, como aquela expressão séria
no rosto, aliás, séria não, neutra, inexpressiva, esquisita, ele parecia não
ter sentimentos mais... inicialmente, pensamos que deveria ser o trauma da
morte que mexera com ele, sabe-se lá o que sentira...mas, no mesmo dia, pouco
tempo depois, notamos que ele não tinha atitudes próprias, ficava parado, com
olhar perdido, meio que esperando ordens, e aquele silêncio, ah, como aquele
silêncio me doía !
Ele
não falava com a gente, não brincava, não interagia conosco nem com ninguém,
não se expressava, e não mostrava nenhum sentimento.Outras crianças o
empurravam, o derrubavam no chão e ele não tinha reação, não ficava nervoso,
não ria, não chorava, nada, nada, nada !Eu não conseguia entender !
Levamos
ele ao médico e para a fábrica, estava tudo perfeito, todos os exames e provas
deram funcionamento perfeito, então, por quê? Ficávamos aturdidos, preocupados,
ele realmente parecia um robozinho comendo, bebendo, ficava feito uma estátua
diante da televisão. Recebia carinho e nada. Andando na rua, nunca tropeçava,
fazia tudo com tremenda eficiência, mas
simplesmente não parecia humano!
Então,
foi coisa de duas semanas depois, ele começou a falar pela primeira vez depois
de morto, pedindo água, pedindo comida, pedindo permissão para fazer as coisas.
Era absolutamente obediente, muito mais do que Teddy fora antes de sua morte.
Mas não brincava, não aprontava, não fazia bagunça, nunca fazia nada de errado,
aquilo nem parecia uma criança !Um dia, resolvemos testar a memória dele, e lhe
mostramos um álbum de fotografias, e ele não reconheceu a ninguém na foto que
não fosse da família mais próxima, nem se lembrava do seu passado, parentada
então, não se lembrava de ninguém. Fotos dos amiguinhos dele, ele não
reconheceu. Descrevemos acontecimentos inúmeros da vida dele e nada.Quando
perguntamos como ele se chamava, ele nos disse que nós o chamávamos de Teddy.E
em seguida, nos perguntou quem eramos nós e o que ele estava fazendo na nossa
casa !
-Espantoso!Continue,
continue, por favor !
-Aos
poucos ele foi adquirindo uma personalidade própria, novas opiniões, novos
gostos, novos hábitos e...então percebi! Aquele não era o Teddy que eu
conhecia, que nascera de mim !Parecia outra pessoa completamente diferente,
irascível, constantemente mal humorado e estressado, nervoso, agressivo,
começou a ficar agressivo e desafiador, gritava com a gente e chegava a nos
agredir fisicamente !O Teddy de verdade, de antigamente , não era assim, era um
doce de menino, aprontava sim, mas era sempre respeitoso e carinhoso conosco.Ele
começou a se aproveitar de seu corpo robótico e começou a espancar os colegas
de escola e até os professores !Acabou sendo expulso da escola, chamaram-no de
delinquente, perguntaram se ele não estava envolvido com drogas !Aquilo me doeu
tanto, doutor, tanto...para mim, parecia que Teddy tinha morrido pela segunda
vez! Ele foi levado a um psiquiatra, que o diagnostico com Psicopatia
!Psicopatia, doutor !Meu filho ! Ele ia ficando cada vez mais agressivo e começamos
a ficar com medo dele. Eu e meu marido conversamos, e dolorosamente concluímos:
aquele era outra pessoa, não era o Teddy. Teddy falecera e tínhamos de aceitar
isto. Tínhamos um desconhecido agressivo e perigoso em casa. Físicamente
idêntico ao Teddy, mas aquele olhar de fera raivosa não era o dele.Aqueles
surtos descontrolados e agressivos não eram ele ! Com muito pesar, o internamos
em um hospital psiquiátrico. Ele está lá, numa cela acolchoada e numa camisa de
força, recebendo choques elétricos e muitos remédios.Para nós, fora mais um
falecimento. Mas, pior, de um desconhecido, aquilo não era nosso filho, era um
simulacro, era um monstro cibernético frio e insensível, sem sentimentos,
arrependimentos, nada...nada...nada...
A
senhora desandou a chorar copiosamente. Doutor ficou comovido, emocionado, com
uma grande dor e sensação de impotência. Seria tão cruel o destino reservado ‘a
sua filha? Seria isto que esperava por ele no futuro?
(Por Continuar)
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