O cheiro conferia com o da roupa, e
era o de uma fêmea ainda filhote.
Só então ele se acalmou, frustrado.
-Melhor deixar os dois separados por
uns dias, até que eles se acostumem um com o outro!
Disse Lune.
Depois de uns três dias, Lune
carregou Sartre na mão e o colocou na frente de Simone, protegida pelas grades.
Os dois felinos se viram, e a
gata de início parecia nervosa e
amedrontada, mas sentiu o cheiro dele.
Enquanto isto,Lune não largou Sartre
um só minuto.
Mais três dias se passaram, com o
macho visitando a fêmea com frequência.Depois, Lune passou a deixar a porta da
Biblioteca aberta e observava atentamente o comportamento dos dois, que foram
se acostumando um com o outro aos poucos.
Após uma semana, Lune concluiu que a
relação dos dois era amistosa o suficiente, e soltou Simone.
Como a gata era ainda filhote, Sartre
assumiu uma espécie de papel de protetor dela, e elaagora se sentia mais a
vontade na casa e com ele.
Em todo caso, Lune manteve os
percences dos dois felinos bem separados, para evitar brigas territoriais.
Ela ficava encantada com os dois e
procurava dar o mesmo amor e carinho a eles na mesma medida.Porém, se Sartre
escolhera Lune como sua predileta, Simone escolheu a Takeo, que igualmente a
procurava mimar o quanto podia.
Agora era uma época de harmonia e
felicidade para os caisais humano e felino.
Porém, a gravidez de Lune avançava e
seu ventre se dilatava, as dores nas pernas e nas costas aumentavam, o fôlego
diminuía e a dificuldade de respiração aumentava.Rina continuava chutando
bastante e se movimentando muito dentro do útero, e os últimos exames pré-natais
revelavam que ela seguia saudável e forte. A saúde de Lune se mantinha boa e
estável, com as implicações naturais de toda gravidez, e esta já avançava para
a vigésima quinta semana , ou seja, seis meses e meio.Já estava ficando
difícil, portanto, Lune sair de casa.
Mas ela era teimosa, e não abria mão
de ir na livraria perto de casa.
Lune então , naquela manhã, fez Takeo
acompanha-la para ir comprar seus livros e ver as novidades literárias, e,
depois que, já na livraria, leu e comprou tudo o que quis, já iam embora,
quando ela, já do lado de fora,na calçada, lembrou que esquecera de pegar um porta livros que ganhara de
brinde na compra de um livro, e pediu para Takeo ir buscar para ela.
Nisto, para sua surpresa, passou por
ela sua velha amiga Sasami, que a reconheceu.
-Oi, Lune-san, quanto tempo !Tudo bem
com você?E aí, de quantos meses já?É menino ou menina?
-Oi, Sasami-san, tudo bem comigo.
Seis meses e meio já!Menina !
-Opa, então não demora !Vai sair do
jeitinho que você sempre sonhou !
-Sim, meu sonho é o de que ela seja
Autista como eu sou !
-Autista?Você enlouqueceu?Todo mundo
sonha é com um bebê saudável !
-E desde quando Autista não é
saudável?Que preconceito é este?Autismo não é doença, Autismo é uma Diferente
Natureza de ser que faz parte da Diversidade Natural Humana ! Outra coisa:eu não me chamo “todo mundo”! Eu tenho Direito de
ser Diferente ! E por acaso sonhar que o filho seja neurotípico é lá
obrigação?Eu não tenho obrigação de sonhar que minha filha vá ser neurotípica,
eu tenho direito de sonhar que ela seja Autista, e mais, tenho o direito de não
ser chamada de errada, nem doente, nem de insensata só por sonhar que minha
filha seja Autista !A filha é minha e eu sonho o que eu quiser com ela e ninguém
tem nada que se meter com minha vida e minhas decisões, muito menos criticá-las
!
-Eh...eh...
Sasami ficou estupefata, de queixo
caído, totalmente constrangida e surpresa pela reação inesperada e
surpreendente (para ela) de Lune.
O alívio veio quando Takeo chegou e a
cumprimentou, assim, ela pôde se desviar do assunto, evitando tentar responder aos argumentos de Lune.Afinal,
ela sabia que não conseguiria !
Lune, por outro lado, sorria,
vitoriosa, ela amava vencer debates e jogar as adversárias nas cordas, prestes
a se render.
Mesmo que isto arriscasse a perda de
uma longa amizade, pelo risco da outra pessoa achar que ela tenha sido
grosseira e agressiva para com ela.Inclusive por que, aos olhos de Lune, este
perigo não existia, ela acreditava piamente ter feito o certo e da maneira
certa, e achava que as outras pessoas tinham de seguir o mesmo raciocínio que
ela, pois ela considerava isto a reação lógica a ter.Porém, neurotípicos nem
sempre se pautam pela lógica, e sim pelo ego e vaidade,deixando o emocional
dominar o racional.Isto fazia parteda imprevisibilidade deles e esta é de sua
própria Natureza, de modo que julgar se fora uma atitude correta ou grosseira
depende muito do ponto de vista e é muito relativo.
(Por Continuar)
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