-Oi,
Makoto-Sama e Tana-san,por favor, sentem-se , fiquem a vontade!
Disse
Lune ao chegar.
Porém,
Tana não se sentou, permaneceu de pé , enquanto sua patroa se sentava bem no
meiodo casal, separando-o.
-Takeo-san,
está na hora de você ir a seu trabalho, não está?
-Mas
eu nem tomei café da manhã ainda, mãe...
-Ahaaaaam,
está na hora de você ir para o seu trabalho, você está atrasado !
Takeo
enfim entendeu que ela não o queria ali, e que a conversa seria reservada só
entre as mulheres. Ele então resolveu sair correndo, e nem selinho em Lune deu.
-Puxa,
Motoko-sama, a senhora não precisava ter dispensado ele assim deste jeito...
-Lune-san,
você sabe muito bem que tem um marido tarado, pervertido e louco por um rabo de saia, e que é um mal
necessário.Não nos sentiríamos a vontade para conversar na presença de meu
filho. Ele é bonzinho, mas se nem eu que sou a mãe dele, coloco a mão no fogo
por ele, imagine você...
Motoko-sama,
deste jeito você vai assustar a moça...olha, Tana-san, eu mantenho meu marido
sob controle, com rédea curta, não se preocupe, ok?Takeo-kun é um homem
responsável e honrado e sabe muito bem as consequências que poderiam advir de
um ato impensado.
Tana,
no entanto, ficou muda, imóvel, mais parecia uma estátua.Ela sabia como era a
patroa dela e a disciplina envolvida em seu trabalho na casa dos Soryu.
-Eu
entendo sua necessidade de tranquilizar sua nova cuidadora, sem problemas, porém
eu confio muito nela e sei que ela não precisa disto. Por isto mesmo,
continuarei falando por ela.Vamos começar então a explicar para ela como será o
trabalho dela.
E
assim a conversa continuou, como se Tana fosse invisível, ou nem estivesse ali.
É como se falassem para uma Tana teórica, um fantasma de Tana, como se ela nem
existisse, e onde ela sequer tinha voz.Ela ficou o tempo todo prestando atenção
e quieta.
Quando
terminaram, e Motoko já estava indo embora, Lune ouviu dela a última
recomendação, qual ordem:
-Não
se esqueça, Lune-san, na questão das refeições: primeiro comem você e seu
marido, depois come o gato e só depois será a vez a Tana-san comer, entendeu?Junte
o que sobrar dos pratos de vocês dois e deem para ela comer. Preciso ir agora,
e boa sorte, querida !
A
porta se fechou e Lune olhou para Tana, que desviou os olhos e olhou para o
chão.
Lune
estava revoltada com o elitismo e a desumanidade com que Motoko tratava suas
empregadas, aquilo não era emprego, era escravatura !Colocar a empregada em um
status social abaixo até do gato, era demais, era absurdo!
-Tana-san,
olha, desculpe, mas não seguirei todas as recomendações de sua patroa. Enquanto
trabalhares aqui, comigo, serás respeitada como pessoa humana e nunca
humilhada. Não quero te ver servil e rebaixada. Você não comerá depois do gato,
nem restos de comida, de maneira alguma!Nós mulheres temos de nos orgulhar, ter
a cabeça alta, nos dar ao respeito, e não nos deixar dominar pelo machismo e
elitismo fascista da sociedade !
-Lune-sama,
eu sei o meu lugar...
-Seu
lugar não é o que está pensando, seu lugar é onde voc~e mesma quiser, não
submissa desta maneira !
Lune
estava disposta a encarar o desafio de conscientizar aquela garota , para que
tivesse consciência de classe e visão crítica social, estava disposta a
transformá-la numa ativista de Esquerda !
Mas
enquanto isto, a casa estava uma bagunça e uma sujeira só, e Tana-san começou a
fazer todos os serviços domésticos sem que Lune desse uma só ordem.
Enquanto
a moça trabalhava, Lune sempre que podia, lia Marx, Engels , Thoreau e outros
filósofos para ela, procurando aumentar sua cultura.
Ela
tinha prazer em ensinar e tinha conversas feministas com ela.
Porém,
Tana só ouvia, tinha sido disciplinada a nunca conversar com os patrões. Mas
aquilo estava para mudar, pois Tana era como uma esponja, que ia absorvendo
conhecimentos e trabalhava pensativa, refletindo sobre o que aprendia.Admirava
a inteligência e cultura de Lune, e a simplicidade e o jeito de ser democrático
e humanista de sua nova patroa.
O
tempo foi passando, e com o tempo ela deixou de ser tão rígida e contida. Lune
de fato nunca a deixou comer depois do gato. Ela a convidava para comer na mesa
com o casal, mas ela se recusava e comia depois dele (e só então dava a comida
do gato).
A
casa ficou um brinco de organização e, uma semana depois de começar a trabalhar
lá, era aniversário de Tana, e Lune fez questão de lhe dar presentes e um bolo,
e cantar parabéns a ela, o que deixou Tana emocionada, com olhos marejados.Lune
a quis abraçar, mas ela se afastou
delicadamente.
Lune
arrumou o escritório, tirou o divã de lá, colocou na sala, e comprou uma cama
para que Tana lá dormisse, já que apartamentos japoneses não tem quarto de
empregada.
Uma
dificuldade foi a questão do banheiro. Não havia banheiro de empregada ali, e
Tana no início se recusava a usar o banheiro do corredor, e se recusava muito
mais ainda a usar o do quarto do casal.
Lune
acabou tendo de reformar o escritório e colocar um banheirinho ali, privativo
só para Tana, com direito a chuveiro e tudo.A moça ainda se sentia mal, pois
não estava acostumada a ser tratada como se fosse da família.
Agora
que Tana já tinha completado 18 anos, Lune fez questão de coloca-la na auto
escola e que ela aprendesse a dirigir. Com isto, agora Tana poderia dirigir
para ela, já que, como Tana se recusava a ir no banco do acompanhante com Lune
dirigindo,quando tinham de sair, Lune era obrigada a chamar um táxi.
Enfim,
chegou o dia de Lune ir para o exame de ultrassom, para saber o sexo de sua
criança.
(Por Continuar)
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