quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Episódio 64- Sensibilidade de Viver: Gestação


-Oi, Makoto-Sama e Tana-san,por favor, sentem-se , fiquem a vontade!
Disse Lune ao chegar.
Porém, Tana não se sentou, permaneceu de pé , enquanto sua patroa se sentava bem no meiodo casal, separando-o.
-Takeo-san, está na hora de você ir a seu trabalho, não está?
-Mas eu nem tomei café da manhã ainda, mãe...
-Ahaaaaam, está na hora de você ir para o seu trabalho, você está atrasado !
Takeo enfim entendeu que ela não o queria ali, e que a conversa seria reservada só entre as mulheres. Ele então resolveu sair correndo, e nem selinho em Lune deu.
-Puxa, Motoko-sama, a senhora não precisava ter dispensado ele assim deste jeito...
-Lune-san, você sabe muito bem que tem um marido tarado, pervertido e  louco por um rabo de saia, e que é um mal necessário.Não nos sentiríamos a vontade para conversar na presença de meu filho. Ele é bonzinho, mas se nem eu que sou a mãe dele, coloco a mão no fogo por ele, imagine você...
Motoko-sama, deste jeito você vai assustar a moça...olha, Tana-san, eu mantenho meu marido sob controle, com rédea curta, não se preocupe, ok?Takeo-kun é um homem responsável e honrado e sabe muito bem as consequências que poderiam advir de um ato impensado.
Tana, no entanto, ficou muda, imóvel, mais parecia uma estátua.Ela sabia como era a patroa dela e a disciplina envolvida em seu trabalho na casa dos Soryu.
-Eu entendo sua necessidade de tranquilizar sua nova cuidadora, sem problemas, porém eu confio muito nela e sei que ela não precisa disto. Por isto mesmo, continuarei falando por ela.Vamos começar então a explicar para ela como será o trabalho dela.
E assim a conversa continuou, como se Tana fosse invisível, ou nem estivesse ali. É como se falassem para uma Tana teórica, um fantasma de Tana, como se ela nem existisse, e onde ela sequer tinha voz.Ela ficou o tempo todo prestando atenção e quieta.
Quando terminaram, e Motoko já estava indo embora, Lune ouviu dela a última recomendação, qual ordem:
-Não se esqueça, Lune-san, na questão das refeições: primeiro comem você e seu marido, depois come o gato e só depois será a vez a Tana-san comer, entendeu?Junte o que sobrar dos pratos de vocês dois e deem para ela comer. Preciso ir agora, e boa sorte, querida !
A porta se fechou e Lune olhou para Tana, que desviou os olhos e olhou para o chão.
Lune estava revoltada com o elitismo e a desumanidade com que Motoko tratava suas empregadas, aquilo não era emprego, era escravatura !Colocar a empregada em um status social abaixo até do gato, era demais, era absurdo!
-Tana-san, olha, desculpe, mas não seguirei todas as recomendações de sua patroa. Enquanto trabalhares aqui, comigo, serás respeitada como pessoa humana e nunca humilhada. Não quero te ver servil e rebaixada. Você não comerá depois do gato, nem restos de comida, de maneira alguma!Nós mulheres temos de nos orgulhar, ter a cabeça alta, nos dar ao respeito, e não nos deixar dominar pelo machismo e elitismo fascista da sociedade !
-Lune-sama, eu sei o meu lugar...
-Seu lugar não é o que está pensando, seu lugar é onde voc~e mesma quiser, não submissa desta maneira !
Lune estava disposta a encarar o desafio de conscientizar aquela garota , para que tivesse consciência de classe e visão crítica social, estava disposta a transformá-la numa ativista de Esquerda !
Mas enquanto isto, a casa estava uma bagunça e uma sujeira só, e Tana-san começou a fazer todos os serviços domésticos sem que Lune desse uma só ordem.
Enquanto a moça trabalhava, Lune sempre que podia, lia Marx, Engels , Thoreau e outros filósofos para ela, procurando aumentar sua cultura.
Ela tinha prazer em ensinar e tinha conversas feministas com ela.
Porém, Tana só ouvia, tinha sido disciplinada a nunca conversar com os patrões. Mas aquilo estava para mudar, pois Tana era como uma esponja, que ia absorvendo conhecimentos e trabalhava pensativa, refletindo sobre o que aprendia.Admirava a inteligência e cultura de Lune, e a simplicidade e o jeito de ser democrático e humanista de sua nova patroa.
O tempo foi passando, e com o tempo ela deixou de ser tão rígida e contida. Lune de fato nunca a deixou comer depois do gato. Ela a convidava para comer na mesa com o casal, mas ela se recusava e comia depois dele (e só então dava a comida do gato).
A casa ficou um brinco de organização e, uma semana depois de começar a trabalhar lá, era aniversário de Tana, e Lune fez questão de lhe dar presentes e um bolo, e cantar parabéns a ela, o que deixou Tana emocionada, com olhos marejados.Lune a quis abraçar, mas ela  se afastou delicadamente.
Lune arrumou o escritório, tirou o divã de lá, colocou na sala, e comprou uma cama para que Tana lá dormisse, já que apartamentos japoneses não tem quarto de empregada.
Uma dificuldade foi a questão do banheiro. Não havia banheiro de empregada ali, e Tana no início se recusava a usar o banheiro do corredor, e se recusava muito mais ainda a usar o do quarto do casal.
Lune acabou tendo de reformar o escritório e colocar um banheirinho ali, privativo só para Tana, com direito a chuveiro e tudo.A moça ainda se sentia mal, pois não estava acostumada a ser tratada como se fosse da família.
Agora que Tana já tinha completado 18 anos, Lune fez questão de coloca-la na auto escola e que ela aprendesse a dirigir. Com isto, agora Tana poderia dirigir para ela, já que, como Tana se recusava a ir no banco do acompanhante com Lune dirigindo,quando tinham de sair, Lune era obrigada a chamar um táxi.
Enfim, chegou o dia de Lune ir para o exame de ultrassom, para saber o sexo de sua criança.

(Por Continuar)

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