Durante este período preparatório de Damian,
Jeanne vinha sempre que podia e quando Adora não estava.
Seu amor por Damian seguia em frente, mas ela
vivia frustrada por nunca ser correspondida.Já havia tempos que ela desconfiava
que Damian secretamente amasse Adora,
talvez como uma forma de paixão platônica e inconfessa, o que a enchia de
ciúmes.
Mas ao mesmo tempo, e talvez por causa de ela
achar que ele amasse Adora, Jeanne nunca se confessava. Não tinha coragem, não
suportaria uma rejeição explícita dele, muito menos uma confissão do amor dele
por outra.
Naquele primeiro dia de Aulas na nova escola,
ela viu ele chegar no carro de Adora, acompanhado também de Madeleine.
Adora nunca foi hostil ou agressiva com Jeanne
e nunca fez voluntariamente nada que despertasse os ciúmes dela, ao contrário,
sempre foi amistosa e agradável com Jeanne, e não a via em absoluto como
“concorrente”, pois Adora fazia questão, sempre fizera, de manter seu
relacionamento com Damian num nível absolutamente profissional. E Adora sabia
muito bem do amor de Jeanne por Damian.
Adora saiu do carro , após estacionar, e Jeanne
viu Damian dando várias voltas em volta do carro conferindo várias vezes
seguidas se todas as portas e vidros estavam trancados, enquanto a mãe dele o
esperava impaciente, na porta de entrada da escola.
Mais distraída, Adora achou que os outros dois
já a acompanhavam e foi entrando.
Quando Damian finalmente convenceu-se de que o
carro estava rigorosamente trancado como um cofre, ele foi para a porta da
escola, acompanhado pela mãe.
Já na porta da classe, Adora disse:
-Madeleine, agora deixe tudo conosco, por
favor, como combinado, ok? Olha, aqui tem uma excelente cantina, por que não
aproveita para tomar um lanchinho? Eles tem um hot dog maravilhoso aqui, e
baratinho!
-Tudo bem, Adora, voltarei na hora que a aula
terminar. Hoje consegui folga para acompanhar o Damian em seu primeiro dia
aqui.
-Vai ficar tudo bem, mãe, não vou te dar
trabalho ! Depois vou querer comer este hot dog que a Adora falou ! Adoro estas
coisas !
-Ah, Damian, que fofo ! Está bem, filho, fica
tranquilo então, se precisar de mim , estarei por perto.
-Não precisarei da senhora, mãe. Sei me
defender e me virar sozinho, não sou criança. Agora preciso entrar. Tchau !
Aquelas palavras meio que machucaram um pouco o
coração de Madeleine, que já estava fragilizada da insegurança do primeiro dia
dele lá, e da dor no coração de deixa-lo lá na classe, “sozinho”, era duro se
sentir “dispensável”, lhe perspassava a alma um sentimento de rejeição, como se
Damian a rejeitasse ou deixasse de gostar dela, uma certa aflição corria seu
coração e lágrimas ameaçavam correr, mas ela se segurou, não queria que seu
filho a visse chorando e ela se recriminava a si mesma, chamando-se de chorona,
e sua consciência lutava para espantar a idéia de que ele ainda fosse a criança
que ela gostaria que ele ainda fosse, saudades de quando ele era uma criancinha
lhe invadiam a mente aos borbotões, a consciência de que ele era um adulto lhe
doíam demais, ‘as vezes ela tinha vontade de que o tempo nunca passasse...
Mas subitamente uma imagem a tranquilizou e lhe
causou intenso alívio: Jeanne estava chegando para entrar na classe também.
Madeleine então abraçou a atônita Jeanne com
toda a força e disse:
-Cuida de meu filho durante a aula, já que eu
não posso entrar e ficar com ele para cuidar dele, defenda-o por favor...
Surpresa, a menina respondeu:
-Calma, senhora Madeleine, ele está indo para a
escola, não para a guerra...
-‘As vezes a vida escolar é uma verdadeira
guerra...para quem é diferente, principalmente...promete que cuida dele?
-Prometo, pode ficar tranquila, confia em mim,
e principalmente, confia nele, Senhora Madeleine, ok?
-Queria tanto ser capaz, minha menina...mas
tenho minhas limitações, infelizmente...é algo que tenho de superar !Bom, eu
fico mais tranquila agora, qualquer coisa, estarei na cantina !Bom estudo !
-Minha mãe fala demais e chora a toa...amos
logo, Jeanne !
Disse Damian, ansioso por sua primeira aula.
E ele pegou na mão dela e a puxou para que ela
o seguisse, como gostava de fazer.
Jeanne corou de vergonha, mas com um sorriso no
rosto: ele espontaneamente pegou na mão dele e eles estavam entrando na sala de
aula de mãos dadas, aquilo significava tanto para ela !
Os dois se sentaram em carteiras vizinhas, na
linha da frente, lado a lado.
Adora viu a cena do casalzinho ainda de mãos
dadas, com o olhar apaixonado de Jeanne para o olhar distraído de Damian, que
explorava com os olhos a sala toda e gravava a imagem dos e das colegas ali,
para que os pudesse reconhecer mais tarde, com um sorriso e um olhar meigo e doce no rosto, ela mal se aguentava de
vontade de aplaudi-los !
Mas enfim, todo mundo já estava ajeitado em
suas carteiras e prontos para a primeira
aula e Adora se levantou de sua
mesa e disse para classe:
-Bom dia, classe, sejam todos e todas bem vindos
e bem vindas ! Como posso ver, todos
vocês estão curiosos para conhecer o nosso novo aluno Damian, e como vocês já
sabem, ele é Autista, então nada de gracinhas, vamos todos respeitá-lo e trata-lo
bem, certo? Lembrem-se que Autismo é apenas uma Diferente Natureza de Ser e
cada pessoa tem a sua própria Natureza, não somos todos iguais, todos temos
nossas diferenças a serem respeitadas. Vamos receber bem o nosso novo colega e trata-lo
como todos se tratam aqui, com a mesma amizade e lealdade que vocês tem entre
vocês!
Bom, hoje é meu primeiro dia de aulas nesta escola,
então vou me apresentar: sou a Professora Adora, e minha matéria é História!
Então, sem mais delongas, vamos começar !
(Por continuar)
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