Quatro anos se passaram então, e Damian e
Jeanne resolveram levar sua filha Adora em um psiquiatra para tentar confirmar
o que ele já desconfiavam desde o nascimento.
Na consulta seguinte ele disse que daria o
resultado.
Os dois estavam visivelmente animados.
Adora ficou brincando em um canto do
consultório, onde haviam diversos brinquedos.
- Muito bem, após todos os procedimentos por
mim performados com a filha de vocês, tenho uma triste notícia para dar a
vocês: a filha de vocês é Autista !
Eles olharam um para a cara do outro. A
surpresa não era pela menina ser autista, isto eles já tinham certeza, apenas
queriam confirmar o que já desconfiavam. A surpresa se deu por ele ter falado
que a notícia seria triste.
-Ok, Doutor, a gente já desconfiava disto, mas
qual a notícia triste? Não entendemos!
-A notícia triste é justamente a de que ela é
autista, não entendem? Ela nunca vai falar, nunca vai ter amigos, nunca vai ter
namorado, nunca vai casar, nunca vai ter filhos, nunca vai aprender nada, nunca
vai ser feliz ! Ela tem retardamento mental, esta é a notícia triste!
Damian começou a rir na cara do médico.
-Você está rindo do quê? Isto é muito sério !
Ou vocês não estão me levando a sério?
-Ah, ah, ah, é que quando eu era criança, meu
psiquiatra falou exatamente a mesma coisa !Doutor, eu sou Autista, como minha
filha! E eu aprendi, estudei, me formei, sou paleo artista bem sucedido,
namorei, me casei e tive minha filha e tenho uma vida perfeitamente bem
sucedida ! Me desculpe, mas o senhor está errado, eu sou o exemplo vivo disto!
Mal humorado, o ranzinza senhor de barba e
bigode brancos, meio careca, de cabelos brancos, com óculos redondos, assinou
um documento e pediu para assinarem também.
-Este é o diagnóstico dela. Podem se retirar.
Jeanne foi buscar a filha.
-Um dia ,no futuro ,traremos nossa filha aqui
muito bem sucedida, como eu, doutor. Vamos, amor, vamos organizar uma festa
para comemorar o diagnóstico de nossa filha!
-Comemorar? Dar festa? Por uma sentença de
morte social destas?Mas vocês são muito irresponsáveis ! A menina vai estar
perdida na mão de vocês ! Ah, e aqui, a receita de Risperdal !
-Tchau, doutor. Ah, e não vamos dar remédio
nenhum para ela !
-Como não vão? Ela é hiperativa, vai ficar
agressiva !
O casal riu-se na cara do médico, que ficou
vermelho de raiva.
Eles foram embora do consultório. Não
acreditaram em uma só palavra que ele disse, a não ser a questão de Adora ser
Autista.
E na mesma noite, deram um festão para
comemorar o diagnóstico da menina.
Claro que a festa teve a música mantida em
volume baixo e os amigos foram orientados a falarem baixo, sem muita
barulheira.
Mais tarde, quando a pequena Adora completou
sete anos, foi estudar na escola que a Professora Adora ministrava suas aulas,
e esta, sempre bem vigilante, nunca deixava a menina sofrer bullying e aplicava
com ela o método que aprendeu com Damian.
E ela estava indo muito bem!
Mas em outras matérias as coisas não iam tão
bem: as outras professoras não tinham a paciência que Adora tinha com sua
pupila preferida, e queriam tratar a menina exatamente como tratavam as demais
crianças. A pequena Adora se esforçava, e aprendia rápido, mas as intolerâncias
e intransigências das outras professoras, que não queriam na verdade ter de
dar aulas para uma autista, prejudicavam seu desempenho. De nada adiantava a
Professora Adora intervir e conversar com as colegas- estas a hostilizavam,
insinuando que ela estava contra elas e o interesse da Escola.
Um belo dia, no entanto, estava programada uma excursão
ao Aquário Turístico , distante cento e quarenta quilômetros da cidade, e naquele dia,
ocorreu a infelicidade de a Professora chegar atrasada.
Quando chegou, o ônibus escolar já tinha
partido. Súbitamente, ela escutou um choro de criança dentro da escola, e
resolveu entrar.
Quando entrou no saguão principal, estava a
pequena Adora sentada no chão, com seu vestidinho de festa, chorando
desesperadamente !
A Professora não teve dúvidas e abraçou a
menina e a carregou no colo, e perguntou:
-O que foi, o que aconteceu, Adora?
-Professora, me falaram que eu não podia ir
porque eu sou Autista !
Só então a professora viu um bilhete na mão da
menina: era um recado para os pais com uma desculpa esfarrapada para não levar
a menina !
Adora ligou para uma colega, que viajava na excursão:
-Beth, o que aconteceu que a Adora não foi
junto com os outros alunos para a excursão?
-Nós resolvemos em conjunto que ela não iria, e
a Diretora concordou ! Não queremos uma autista nos dando trabalho !
-Ei, espere aí, isto é intolerância ! Os pais
dela sabem disto?
-Dissemos a eles que seria uma aula normal e
que a excursão foi cancelada! Preconceito? Processe a escola então, querida !
-Ah, não senhora, ela vai, e não quero nem
saber !
-Ela não vai ! Não vai mesmo, não foi, já
perdeu ! Já era, aceite que é melhor !
-Mas não mesmo ! Ela vai sim e vocês vão ter de
aceitar ela na marra !
Beth riu-se dela e desligou o telefone na cara
dela.
-Adora, meu amor, vem comigo, vou te levar para
a excursão, está bem ?Vamos fazer uma aventura !
A professora Adora ligou para Damian e Jeanne,
e os avisou do acontecido e logo eles estavam entrando no carro deles e pegando
estrada também !
Adora colocou a menina do banco de trás, com
cadeirinha e cinto de segurança e a
fixou bem firme e segura no banco, foi para o volante e disparou em alta
velocidade rumo a estrada, para alcançar o ônibus escolar !
A caçada 'a Excursão começara !
Conseguirão Adora, Damian e Jeanne alcançar o ônibus escolar a tempo?
(Por continuar)
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