Horas se passavam, e nada de notícias
de Tana.
O duro é que não tinham qualquer
informação da família dela, telefone,endereço, email, nada.
Lune permanecia calada e triste, sem
nem saber o que pensar e se recriminava ao se lembrar de cada discussão com
Tana.
Enfim, o médico chegou:
-E aí, doutor, como está ela?
-Ela passou por duas operações, e
teve várias paradas cardíacas durante os procedimentos.O estado dela se agravou
e ela está em coma profundo. É imprevisível quando ela sairá do coma, e, se
sair, acreditamos que as sequelas serão bem graves:perda de memória,
paralisação de boa parte do corpo,perda da capacidade cognitiva parcial,
potencialmente bem grave, perda da visão, audição e prejuízo acentuado no
reflexo da deglutição.Ela respira por aparelhos, mas se a respiração dela
voltará a ser saudável, é difícil dizer, imprevisível, é possível que venha a
ter sérios problemas respiratórios...
-Mas por que tantas sequelas,
doutor?Por que ela entrou em coma profundo?
-Senhorita Lune, não necessariamente
ela terá todas estas sequelas ao mesmo tempo, provável que não, mas é difícil
garantir com segurança. A probabilidade maior é que ela tenha ao menos uma, ou
alguma delas. Agora, o problema do coma foi que, como ela perdeu muito sangue,
houve um grave déficit de irrigação sanguínea do cérebro, e uma quantidade
significativa de tecido cerebral faleceu.Agora, ´revisão de quando ela sairá do
coma, como eu disse antes, não tem previsão possível.
-Mas o tipo de coma que ela teve,
doutor, estatisticamente falando, costuma voltar e depois de quanto tempo em
média?
-Olhe, senhor Takeo, não posso
precisar, cada caso é um caso e não posso garantir nada. Estatísticamente,
comas do tipo que ela sofreu , quando as pessoas se recobrem, é dentro de duas
a tr~es semanas, em média.Isto , quando recobrem, pois, novamente, estatisticamente
falando, neste tipo de trauma e com esta intensidade, com pacientes jovens, a
média é de apenas 22 em cada 100 pessoas
se recobrarem do coma, mas sempre com sequelas bem sérias e incapacitantes. Só
uma em cem se recobra sem sequela significativa.
-Então temos de ficar velando por
ela...
-Não recomendo, senhorita. Melhor
voltarem para casa e qualquer notícia eu lhes contactarei, nada há nada que
possam fazer por ela...
Lune olhou para o rosto de Takeo.
-Desculpe, amor, mas ele tem razão.
Ficarmos aqui só vai atrapalhar o tratamento dela e dar trabalho aos
funcionários do hospital. Depois, você está grávida, não pode ficar semanas
esperando num saguão de hospital.Doutor, muito obrigado por tudo!
O médico agradeceu e se despediu do
casal.
Eles foram ao caixa do hospital
e pagaram a conta, bem salgada, por sinal, depois, pegaram o carro e foram
embora.
Lune não conseguiu dormir naquela
noite.Chorou a noite toda, abraçada com Takeo, que teve de convencê-la a comer,
a duras penas, pois nem apetite ela tinha-estava fortemente deprimida.
A preocupação era constante, mas
outras preocupações a atormentavam:a possibilidade de ficar sob tanto stress,
tanta depressão, que pudesse perder sua bebê, ou mesmo ter um aborto espontâneo.
Até Sartre sentiu o clima pesado
daquele apartamento, e estava bem carente. Mas foi justamente o carinho de seu
gato para com ela que a ajudou a suportar sua provação.
Não adiantava Takeo lhe dizer que ela
não tinha culpa, que ela não tinha nada a ver com o que acontecera.Ela não
aceitava estes fatos. Ela sentia que precisava
se culpar.
Ela ia tristonha a seus exames e suas
consultas pré-natais, em um desãnimo preocupante, e Takeo já não sabia mais o
que fazer para agradá-la, distraí-la e consolá-la.
Dez dias após o acidente, o celular
de Takeo tocou.
-Alô?Pois não?
-Gostaria de falar com o senhor Takeo
ou a senhorita Lune, por favor. Aqui é o Doutor Katagiri, do Hospital.
-Aqui é Takeo Soryu. Pode falar ,
doutor!
-A senhorita Tana se recobrou do coma e está respirando sem
ajuda de aparelhos.
-Puxa, que notícia maravilhosa,
Doutor !Iremos aí já visita-la !
-Por favor, calma, senhor Takeo, eu
ainda não acabei de dar as notícias. Ela ficou com algumas sequelas: ela perdeu
a capacidade de falar, está com paralisia parcial na perna afetada pela queda,e,
ao menos por enquanto, será incapaz de caminhar sozinha ou se equilibrar de pé.
A perna quebrada ainda está se recuperando, mas aos poucos o osso está se
soldando. Porém, a parte cognitiva dela foi muito afetada.Creio que ela está
com um déficit cognitivo severo, realmente grave, e definitivo.Provável que se
vocês falarem alguma coisa com ela, ela não entenda quase nada.
-Entendi, Doutor. Bom conversarei com
meus pais, que são os patrões dela quais as providências a tomar.Estamos a
caminho !
Takeo se despediu, agradeceu e
desligou.
-Querido, o que foi, o que aconteceu?
Takeo explicou o acontecido.
-Puxa, que tragédia...coitada...
vamos ver a ela sim. Mas fale sim com seus pais, por favor!
Takeo ligou para seus pais em
seguida, e desta vez, que atendeu foi seu pai.Após ouvir a explicação do filho
sobre Tana, ele respondeu:
-Puxa, filho, muito triste o que
aconteceu com ela. Vou pedir a minha governanta que traga ela de volta para a
nossa casa assim que ela receber alta.
(Por Continuar)
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