quarta-feira, 27 de maio de 2015

A Garota de Cabelos de Estrelas






Conto: 



A garota de cabelos de estrelas

Silêncio. Escuridão. Profundidade sem limites, tanto quanto a solidão. No limiar de sua vida, o astronauta refletia.
O que antes lhe parecia um intenso, imenso vazio, agora o preenchia. Definitivamente ele não mais sabia, se vivia, se morrera, se sonhava, delirava ou existia.
As memórias empoeiradas de sua vida lhe pareciam distantes, pequenas, todo o sentido se perdia.
Ejetado de sua nave, em seu traje , espacial ele navegava à deriva pela perenidade infindável.
Mas ele estava inconformado: se ali era o espaço, onde estavam as estrelas, os planetas, meteoros e cometas?
Subitamente ele já não sabia mais se seus olhos estavam abertos ou fechados, se via ou se imaginava, ou ainda, quem sabe, se devaneava loucamente.
Teria ele perdido a consciência?
Sua mente era simplesmente pequena demais para avaliar !
Meio tonto, pelo universo a regirar, não encontrava referências, ou um solo a se firmar.
Em mais uma destas loucas voltas, finalmente percebeu uma imensa luz a brilhar.
Ansioso por se localizar, o que ele viu, ou achou que viu o deixou de queixo caído:
Na sua frente, lá fora, no espaço sideral, com apenas um largo vestido, sem traje espacial, estava uma menina, que aparentava dez, talvez doze anos de idade!
Pensou consigo mesmo se não seria uma ilusão, de sua filha uma saudade.
Mas não , não podia ser, definitivamente não podia, pois centenas de metros ela media e parecia translúcida, pois a luz por ela passava como se ela sequer existisse.
Talvez uma holografia? Não, a nenhuma lógica aquela visão correspondia.
Porém não fora só sua surpresa, ela era explêndidamente bela, com seus longos cabelos negros esvoaçantes.
E ela lhe sorria. Com tal doçura, tal meiguice, tamanha delicadeza, que o encantava, e ele tinha maior vontade do que nunca que ela fosse de verdade!
Ao reparar-lhe os cabelos, ele ficou ainda mais extasiado: apesar de todo o breu da maior parte do espaço, salvo pela intensa luz que ela emitia, aqueles cabelos tornaram-se parcialmente transparentes quando neles o seu olhar se fixou,e o que sua retina fixou lhe deslumbrou!
Todas as estrelas, todas as galáxias, as nebulosas e nuvens de gás brilhantes de coloridas, planetas mil,estava tudo lá, nos cabelos da menina, de um preto brilhante enfeitado, cravejado de estrelas tal como diamantes !
Não era para ter vento ali, mas estes cabelos esvoaçavam e flutuavam no éter, balançavam-se no etéreo, oh, intrigante mistério !
Tal sua miséria, tão insignificante diante dela, e ela lhe sorria!
Nada falava, nada dizia, e ao que tudo parecia, nada ouvia.
Entretanto, quando ele fixou nela seu olhar, dela recebeu também o olhar.
Um olha de profundidade interminável, inesgotável, de brilho celeste, estelar.
Mais pareciam pulsares e quasares dentro de buracos negros a brilhar, aqueles olhos gigantes, maiores do que uma pequena nave espacial.
Ela parecia feliz, e seu largo sorriso era disto o sinal.
Então sentiu que a mão dela o pegava com delicadeza e o elevava até um dos olhos dela, bem de pertinho, e naquele olho ele também via as galáxias e suas estrelas.
Mas o sentimento que daquele olhar emanava era de uma doçura abissal, uma bondade infinita, e ele se sentia seguro e confortável e na palma da mão dela se deitou.
Outra mão veio até ele e com delicadeza o acariciou. Ele queria dormir e sonhar com a menina estelar,se sentia aninhado, querido amado.
Foi um pouco depois, ou muito, nem ele sabia dizer, que ele se sentiu flutuar novamente e a menina dele se afastar, a claridade aconchegante desvanecia como a diáfana menina de cabelos e olhos de estrelas, e ao longe viu chegar uma enorme astronave humana e suas luzes duras e insensíveis.
A menina lhe acenou um adeus, e foi ficando cada vez mais distante menor, até desaparecer. Ele logo fora resgatado, mas o que lhe aconteceu ele jamais iria por toda a sua vida esquecer!
Ela janelinha da nave ele ainda viu a menina, que piscou um olho para ele, e lhe sorriu docemente antes de desaparecer de vez.
-Muito obrigado!
Ele disse, ou pensou dizer, e respondeu com um aceno carinhoso ao último aceno dele, e ela lhe assoprou um beijo. Uma sensação de imensidão, de deleite e carinho lhe percorreu o corpo em um frêmito, e ela desapareceu, enquanto ele era levado para o hospital da imensa nave, que era, no entanto, muito menor do que era a menina. Ele nunca se sentira tão amado e querido em toda a sua vida, e sorria, sorria, lembrando do sorriso de anjo estelar da Menina de Cabelos e olhos de Estrelas...

                                                   FIM

                                       Cristiano Camargo

Nenhum comentário:

Postar um comentário