Conto:
A
garota de cabelos de estrelas
Silêncio. Escuridão.
Profundidade sem limites, tanto quanto a solidão. No limiar de sua vida, o
astronauta refletia.
O que antes lhe
parecia um intenso, imenso vazio, agora o preenchia. Definitivamente ele não
mais sabia, se vivia, se morrera, se sonhava, delirava ou existia.
As memórias
empoeiradas de sua vida lhe pareciam distantes, pequenas, todo o sentido se
perdia.
Ejetado de sua nave,
em seu traje , espacial ele navegava à deriva pela perenidade infindável.
Mas ele estava
inconformado: se ali era o espaço, onde estavam as estrelas, os planetas,
meteoros e cometas?
Subitamente ele já
não sabia mais se seus olhos estavam abertos ou fechados, se via ou se
imaginava, ou ainda, quem sabe, se devaneava loucamente.
Teria ele perdido a
consciência?
Sua mente era
simplesmente pequena demais para avaliar !
Meio tonto, pelo
universo a regirar, não encontrava referências, ou um solo a se firmar.
Em mais uma destas
loucas voltas, finalmente percebeu uma imensa luz a brilhar.
Ansioso por se
localizar, o que ele viu, ou achou que viu o deixou de queixo caído:
Na sua frente, lá
fora, no espaço sideral, com apenas um largo vestido, sem traje espacial,
estava uma menina, que aparentava dez, talvez doze anos de idade!
Pensou consigo mesmo
se não seria uma ilusão, de sua filha uma saudade.
Mas não , não podia
ser, definitivamente não podia, pois centenas de metros ela media e parecia
translúcida, pois a luz por ela passava como se ela sequer existisse.
Talvez uma holografia?
Não, a nenhuma lógica aquela visão correspondia.
Porém não fora só
sua surpresa, ela era explêndidamente bela, com seus longos cabelos negros
esvoaçantes.
E ela lhe sorria.
Com tal doçura, tal meiguice, tamanha delicadeza, que o encantava, e ele tinha
maior vontade do que nunca que ela fosse de verdade!
Ao reparar-lhe os
cabelos, ele ficou ainda mais extasiado: apesar de todo o breu da maior parte
do espaço, salvo pela intensa luz que ela emitia, aqueles cabelos tornaram-se
parcialmente transparentes quando neles o seu olhar se fixou,e o que sua retina
fixou lhe deslumbrou!
Todas as estrelas,
todas as galáxias, as nebulosas e nuvens de gás brilhantes de coloridas,
planetas mil,estava tudo lá, nos cabelos da menina, de um preto brilhante
enfeitado, cravejado de estrelas tal como diamantes !
Não era para ter
vento ali, mas estes cabelos esvoaçavam e flutuavam no éter, balançavam-se no
etéreo, oh, intrigante mistério !
Tal sua miséria, tão
insignificante diante dela, e ela lhe sorria!
Nada falava, nada
dizia, e ao que tudo parecia, nada ouvia.
Entretanto, quando ele
fixou nela seu olhar, dela recebeu também o olhar.
Um olha de
profundidade interminável, inesgotável, de brilho celeste, estelar.
Mais pareciam
pulsares e quasares dentro de buracos negros a brilhar, aqueles olhos gigantes,
maiores do que uma pequena nave espacial.
Ela parecia feliz, e
seu largo sorriso era disto o sinal.
Então sentiu que a
mão dela o pegava com delicadeza e o elevava até um dos olhos dela, bem de
pertinho, e naquele olho ele também via as galáxias e suas estrelas.
Mas o sentimento que
daquele olhar emanava era de uma doçura abissal, uma bondade infinita, e ele se
sentia seguro e confortável e na palma da mão dela se deitou.
Outra mão veio até
ele e com delicadeza o acariciou. Ele queria dormir e sonhar com a menina estelar,se
sentia aninhado, querido amado.
Foi um pouco depois,
ou muito, nem ele sabia dizer, que ele se sentiu flutuar novamente e a menina
dele se afastar, a claridade aconchegante desvanecia como a diáfana menina de
cabelos e olhos de estrelas, e ao longe viu chegar uma enorme astronave humana
e suas luzes duras e insensíveis.
A menina lhe acenou
um adeus, e foi ficando cada vez mais distante menor, até desaparecer. Ele logo
fora resgatado, mas o que lhe aconteceu ele jamais iria por toda a sua vida esquecer!
Ela janelinha da
nave ele ainda viu a menina, que piscou um olho para ele, e lhe sorriu
docemente antes de desaparecer de vez.
-Muito obrigado!
Ele disse, ou pensou
dizer, e respondeu com um aceno carinhoso ao último aceno dele, e ela lhe
assoprou um beijo. Uma sensação de imensidão, de deleite e carinho lhe
percorreu o corpo em um frêmito, e ela desapareceu, enquanto ele era levado
para o hospital da imensa nave, que era, no entanto, muito menor do que era a
menina. Ele nunca se sentira tão amado e querido em toda a sua vida, e sorria,
sorria, lembrando do sorriso de anjo estelar da Menina de Cabelos e olhos de
Estrelas...
FIM
Cristiano Camargo
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