quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Episódio 3-Anjo de Aço !



 -Por favor, deite-se no leito direitinho, vou precisar fazer muitos exames em você agora...
-O senhor ainda não respondeu minhas perguntas. O que estou fazendo aqui com um senhor que nem conheço e que me manda deitar no leito? Está querendo se aproveitar de mim, do meu corpo? Eu não vou tirar minhas roupas...
-Depois te respondo com calma.Não, claro que não, sou seu pai, e não precisa tirar roupa nenhuma, vou apenas escanear seu cérebro para ver se está danificado!
-O senhor fala como se eu fosse uma máquina...eu sou uma máquina?
-Ah, mais ou menos...
-Como assim, mais ou menos?Eu sou uma máquina ou sou gente?
O Doutor tinha receio de contar a verdade para ela e ela se revoltar, mas viu que não havia outro jeito:
-Você sobreu um terrível acidente, foi atropelada por um veículo de carga pesado, e de seu corpo só sobrou sua cabeça. Voc~e morreu, então, eu retirei seu cérebro  de sua cabeça e a coloquei em um corpo de robô, o que você está usando agora, você agora é uma cyborg, ou seja, um robô com um cérebro humano dentro !
-O que é um robô?
O Doutor mostrou alguns robôs antigos, empoeiras, empilhados em um canto.
-Então sou uma máquina?Estes que você me mostrou são máquinas...
-Não é completamente uma máquina, por que seu cérebro está na máquina que é seu corpo.
-O que é um cérebro?
Doutor mostrou-lhe vários cérebros  que estavam em preservadoras de cérebro transparentes.
-Todas as pessoas tem isto dentro da cabeça. Só que o seu saiu do corpo ioriginal e foi para um corpo mecânico, artificial.
-Então não sou mais a Norminha que você conheceu, eu sou outra pessoa, com outro corpo, não sou sua filha, então não vou te chamar de pai, vou te chamar de Doutor.
Aquelas palavras soaram como uma facada no peito dele, que teve vontade de chorar...era como se tivesse perdido sua filha pela segunda vez ! De fato, aquele comportamento não lembrava nem um pouco o dela de antigamente, da qual ele já estava ficando com saudades, mas aí, veio a pergunta mais intrigante, que o tomou de surpresa:
-Se o senhor tirou meu cérebro de meu corpo, que morreu, e colocou em um outro corpo, mecânico, por que me ressuscitou? Por que não me deixou morrer em paz? Por que me trazer de volta a vida, se era para eu ter morrido?Para eu não me sentir eu mesma, ficar desorientada,sem saber quem sou?
Novamente os olhos lacrimosos dele se arregalaram- a inteligência dela funcionava, o raciocínio, mas a memória e as emoções pareciam ter desaparecido completamente !
-Eu não podia me conformar com a sua morte, filha...eu a amo, e queria te dar uma chance, uma chance a mais de viver, só mais uma vez !Você faleceu tão nova, e nem pôde realizar seus sonhos, como eu poderia?
-Mas eu não me lembro de nada, não sinto nada pelo senhor, como pode amar uma máquina com um cérebro dentro?
-Era minha filha que eu amava, não uma cyborg...
-Mas eu sou a cyborg, não sua filha !
-Mas sua identidade está em seu cérebro, sua personalidade está em seu cérebro, é você, o que você pensa, o que você sente, as suas opiniões, o modo como você vê o mundo !
-O que é identidade?
-É o com o qual você se identifica, é o que e quem você é.
-Mas eu a perdi, não sei de nada, não me lembro de nada!
O Doutor ouviu latidos  do lado de fora. Era o cachorro de Norma, um Jack Russel Terrier chamado Perseu.
-Espere um pouquinho aqui.
Doutor abriu a porta do laboratório e deixou o cachorrinho entrar.
-Lembra-se dele?Eu te mostrei nas fotos, é o seu cachorro!
Norma olhou para ele.
O cão, curioso, foi até ela e a cheirou.
Ela olhou para ele.
Ele subitamente virou a cabeça, balançando-a de um lado a outro, como quem não está conseguindo entender, e começou a rosnar e arreganhar os dentes, e teve uma verdadeira reação histérica, latindo sem parar !
-Viu?Ele não é o meu cachorro, é o cachorro da Norma! E eu não sou a Norma, sou outra pessoa !
-Perseu, o que é isto, rapaz?Por que está assim?
O Doutor pegou o tênis de Norma, que ainda tinha o cheiro dela, e o deu para o cão  cheirar.
Perseu imediatamente parou de rosnar e mostrar os dentes e ficou alaegre, abanando o rabo, mas ao sentir o cheiro de sangue, ele mudou de semblante , para triste, se encolheu todo, e ficou choramingando.

(Por Continuar)

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