-Por favor, deite-se no leito direitinho, vou
precisar fazer muitos exames em você agora...
-O
senhor ainda não respondeu minhas perguntas. O que estou fazendo aqui com um
senhor que nem conheço e que me manda deitar no leito? Está querendo se
aproveitar de mim, do meu corpo? Eu não vou tirar minhas roupas...
-Depois
te respondo com calma.Não, claro que não, sou seu pai, e não precisa tirar
roupa nenhuma, vou apenas escanear seu cérebro para ver se está danificado!
-O
senhor fala como se eu fosse uma máquina...eu sou uma máquina?
-Ah,
mais ou menos...
-Como
assim, mais ou menos?Eu sou uma máquina ou sou gente?
O
Doutor tinha receio de contar a verdade para ela e ela se revoltar, mas viu que
não havia outro jeito:
-Você
sobreu um terrível acidente, foi atropelada por um veículo de carga pesado, e
de seu corpo só sobrou sua cabeça. Voc~e morreu, então, eu retirei seu
cérebro de sua cabeça e a coloquei em um
corpo de robô, o que você está usando agora, você agora é uma cyborg, ou seja,
um robô com um cérebro humano dentro !
-O
que é um robô?
O
Doutor mostrou alguns robôs antigos, empoeiras, empilhados em um canto.
-Então
sou uma máquina?Estes que você me mostrou são máquinas...
-Não
é completamente uma máquina, por que seu cérebro está na máquina que é seu
corpo.
-O
que é um cérebro?
Doutor
mostrou-lhe vários cérebros que estavam
em preservadoras de cérebro transparentes.
-Todas
as pessoas tem isto dentro da cabeça. Só que o seu saiu do corpo ioriginal e
foi para um corpo mecânico, artificial.
-Então
não sou mais a Norminha que você conheceu, eu sou outra pessoa, com outro
corpo, não sou sua filha, então não vou te chamar de pai, vou te chamar de
Doutor.
Aquelas
palavras soaram como uma facada no peito dele, que teve vontade de chorar...era
como se tivesse perdido sua filha pela segunda vez ! De fato, aquele
comportamento não lembrava nem um pouco o dela de antigamente, da qual ele já
estava ficando com saudades, mas aí, veio a pergunta mais intrigante, que o
tomou de surpresa:
-Se
o senhor tirou meu cérebro de meu corpo, que morreu, e colocou em um outro
corpo, mecânico, por que me ressuscitou? Por que não me deixou morrer em paz?
Por que me trazer de volta a vida, se era para eu ter morrido?Para eu não me
sentir eu mesma, ficar desorientada,sem saber quem sou?
Novamente
os olhos lacrimosos dele se arregalaram- a inteligência dela funcionava, o
raciocínio, mas a memória e as emoções pareciam ter desaparecido completamente
!
-Eu
não podia me conformar com a sua morte, filha...eu a amo, e queria te dar uma
chance, uma chance a mais de viver, só mais uma vez !Você faleceu tão nova, e
nem pôde realizar seus sonhos, como eu poderia?
-Mas
eu não me lembro de nada, não sinto nada pelo senhor, como pode amar uma
máquina com um cérebro dentro?
-Era
minha filha que eu amava, não uma cyborg...
-Mas
eu sou a cyborg, não sua filha !
-Mas
sua identidade está em seu cérebro, sua personalidade está em seu cérebro, é
você, o que você pensa, o que você sente, as suas opiniões, o modo como você vê
o mundo !
-O
que é identidade?
-É
o com o qual você se identifica, é o que e quem você é.
-Mas
eu a perdi, não sei de nada, não me lembro de nada!
O
Doutor ouviu latidos do lado de fora.
Era o cachorro de Norma, um Jack Russel Terrier chamado Perseu.
-Espere
um pouquinho aqui.
Doutor
abriu a porta do laboratório e deixou o cachorrinho entrar.
-Lembra-se
dele?Eu te mostrei nas fotos, é o seu cachorro!
Norma
olhou para ele.
O
cão, curioso, foi até ela e a cheirou.
Ela
olhou para ele.
Ele
subitamente virou a cabeça, balançando-a de um lado a outro, como quem não está
conseguindo entender, e começou a rosnar e arreganhar os dentes, e teve uma
verdadeira reação histérica, latindo sem parar !
-Viu?Ele
não é o meu cachorro, é o cachorro da Norma! E eu não sou a Norma, sou outra
pessoa !
-Perseu,
o que é isto, rapaz?Por que está assim?
O
Doutor pegou o tênis de Norma, que ainda tinha o cheiro dela, e o deu para o
cão cheirar.
Perseu
imediatamente parou de rosnar e mostrar os dentes e ficou alaegre, abanando o
rabo, mas ao sentir o cheiro de sangue, ele mudou de semblante , para triste,
se encolheu todo, e ficou choramingando.
(Por Continuar)
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