-Anjo,
me diz uma coisa...
-O
que foi, querido?
-Ninguém
no trabalho ficou reparando em você , não estranhou nada, não tentou chamar sua
atenção ou mesmo riram de você?
-Não,
ao menos ninguém que eu tenha reparado, Takeo-kun, por quê?
-Por
que você ainda está com o guardanapo gigante sujo pendurado no seu pescoço desde
o café da manhã até agora !
Os
olhos de Lune se arregalaram e o queixo caiu .
Ela
saiu correndo e foi ao espelho do banheiro.
Da
copa Takeo ouviu o grito dela:
-Aaaaaaaaaaah
!
Ele
foi correndo ver.
-Ai,
não, não acredito...como estou distraída !Nem percebi, dei uma de palhaça no trânsito,
no trem, no trabalho !Por que não me avisou?
-Eu
tentei, amor, mas você saiu tão correndo, que não me escutou...
-Droga,
mas que drogaaaa !A culpa é sua !Toda sua !
-Ahn?
Minha?
-Sim,
senhor ! Foi você que teve a brilhante idéia!
Takeo
percebeu que não adiantaria discutir com ela, pois ela estava tremendamente envergonhada
da situação que passou sem perceber, e resolveu fingir que concordava:
-Desculpe,
amor, a culpa é minha mesmo...
-Está
concordando fácil demais...
Disse
Lune, que lançou um olhar desconfiado para o marido, que soltou um sorriso
amarelo.
-Vai,
Takeo-kun, desembucha, fala logo, que este risinho torto te denuncia, você tem culpa no cartório !
O
marido soltou uma risada nervosa e algo descontrolada.
-Não
precisa dizer mais nada, meu marido. É, eu estava mesmo tentando colocar a
culpa em você e você estava tentando só
me agradar, fingindo que acreditava !
Lune
tirou o pano do pescoço e bateu de leve com o pano no rosto dele.
Takeo
corou de vergonha, não conseguia disfarçar.
-Não
precisa ter medo de mim, querido.Você não vai me perder, nem perder minha
amizade, nem meu amor por causa de uma bobagem destas. Mas se ficar fingindo
que concorda só para me agradar para não brigar comigo o tempo todo, aí sim,
pode! Isto pega terrivelmente mal, amor, por que fica parecendo que você não
confia em mim, e está inseguro de meu amor por você, entendeu?
-Sim,
querida...desculpe...
-Com
quantos perdões se perde um casamento, querido?
Agora
Takeo tremeu as pernas, que pareciam feitas de gelatina ! Olhar arregalado, queixo
caído, semblante lívido e pálido .
Ela
percebeu a reação dele e como viu que
ele não seria capaz de responder em sua angústia, ela emendou:
-Eu
não vou ficar perdoando para sempre, Takeo-kun, isto tem um limite, fui clara?
-Si..im...querida...
-Então
ok, esquece, vamos continuar a jantar, pois estou com fome. Coloque este
guardanapo enorme para lavar, no cesto de roupa suja!
-Tudo
bem...amor !
A
última palavra foi proferida com um sopro de suspiro profundo. Alívio !
Ele
correu a obedecer, e Lune foi para a mesa.
O
resto do jantar transcorreu no mais absoluto silêncio.
Takeo
pensava que Lune estivesse magoada com ele e que ele tivesse queimado o filme
com ela, e se censurava, ordenando a si mesmo que não cometesse mais o mesmo
erro, pois a próxima vez poderia ser letal para o relacionamento deles. Assim
ele pensava, mas na verdade, Lune nem ligava mais e o pensamento dela estava
imerso em outros assuntos, de ordem filosófica. Não estava magoada, nem achava
que o relacionamento deles corresse perigo, para ela, ele estava absolutamente
normal.
Depois
do jantar, cada um ficou numa cadeira na sacada, olhando cada um fixamente para
um ponto qualquer no céu,cada um numa direção diferente um do outro, em
silêncio, cada um imenso em pensamentos completamente diferentes. Cada um
imaginando profundamente em coisas diferentes: Lune pensava na pequenez humana
diante do universo e imaginando que
mundos existiriam nas imediações daquelas tantas estrelas. Takeo imaginava
estar transando com Lune. e, não raro, desviava o olhar do céu para o busto e
para a virilha dela.
Ele
achou que ela não perceberia, por estar distraída , mas ela percebeu, e repentinamente
o sorriso deu lugar a uma expressão severa:
-Takeo-kun
!
-Si...sim,
querida !
-Eu
sei exatamente o que você está pensando, querendo, e imaginando também, e a
resposta é: Não, hoje não ! Você não pensa em outra coisa, moleque?
Novamente
Takeo corou de vergonha.
-Só
vai ter quando eu quiser, e hoje, repito, não vai ser este dia ! Me respeite
!Meu corpo não é seu brinquedo, nem sua propriedade, para você ficar tocando
onde quiser, quando quiser ! Sou uma
mulher, não um objeto concebido para seu prazer !Pronto, você já estragou minha
meditação !Quer saber? Pegue um travesseiro e uma coberta, você vai dormir no
sofá da sala hoje como punição, para aprender a amadurecer !
(Por Continuar)
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