Logo Madeleine e Damian chegaram em casa.
Ao chegar e antes de descer do carro, ele
verificou diversas vezes sem parar se a mãe puxara o freio de estacionamento e
depois, ao sair do veículo, verificou, depois da mãe trancar o carro, todas as
portas e o porta malas, para ver se estavam bem trancadas diversas vezes, dando
várias voltas em volta do carro, conferindo.
Madeleine, já acostumada, foi logo entrando, e
um tempo depois Damian verificava com afinco se todas as portas e janelas da
casa estavam trancadas, caminhando pela casa toda várias vezes até ter certeza
absoluta de que a mãe dele tinha trancado a casa direitinho, se absolutamente
estava trancado devidamente.
Finalmente , para completar seu costumeiro
ritualzinho de toda vez que chegava em casa, fez uma nova e minuciosa ronda
pela casa para ver se todos os móveis e objetos estavam na ordem que ele tinha
deixado, na mesma organização e sequencia.
Depois de várias voltas, se convenceu de que
estava tudo ok, e, sem que sua mãe visse, de costas para ela , sorriu: era
muito satisfatório encontrar tudo como sempre
na casa. Ele tinha, sentia imenso prazer em fazer aquelas verificações
de rotina, eram algo que o faziam se sentir feliz.
E entrou no quarto dele, que, em contraste
total com o resto da casa, que ele mesmo organizava com tanta minúcia, estava
numa bagunça homérica. Não era por displicência da mãe dele: a bagunça era
proposital e , por incrível que parecesse, a bagunça tinha uma ordem perfeita
que só ele sabia qual era, e ele sabia exatamente onde estava cada objeto.Caso
alguém tirasse alguma coisa do lugar e mudasse a ordem das coisas, ele ficaria
completamente perdido e não acharia mais nada, e por diversas vezes ele teve
arroubos de revolta quando Madeleine tentou arrumar o quarto dele, então ela
acabou por desistir e deixava as roupas
limpas dele na cadeira que ele designara para isto, para ele guardar como
quisesse. As roupas sujas ficavam em um cesto plástico em um canto perto da
porta que a muito custo ela o convenceu a fazer parte da mobília e ele com o
tempo acabou aceitando colocar lá.
Ela só podia entrar no quarto dele com a
permissão dele, e como ela sabia quando ele permitia ou não?
Ele mesmo instalou um sistema com duas luzes,
uma vermelha e uma verde, que ficavam ao lado da porta,do lado de fora, e
outras duas, das mesmas cores, do lado de dentro, e tinham um botão de
acionamento do lado de fora e outro de dentro.
Quando ela queria entrar, ela apertava o botão
fora do quarto e a luz verde acendia dentro do quarto. Ele então apertava o botão da luz verde se ele autorizava ou da
vermelha se negava. Caso a luz verde acendesse, ela entrava. Mais tarde ele
instalou também uma terceira luz, amarela, o sinal para ela esperar para ele
responder depois.
Quantas vezes eles não “conversaram” um de um
lado da porta e outro do outro através das luzes coloridas? Muitas, Madeleine
já tinha até perdido a conta...
No dia seguinte, já que estava suspensa da
aula, Adora, agora já melhor e mais animada, pesquisou e descobriu o endereço
de Damian. Mas achou que seria mal educado ir na casa dele sem antes telefonar,
e como na ficha de seu aluno tinha o telefone dele, ela ligou na casa dele.
Difícil de acreditar, mas havia um aparelho de
telefone fixo no quarto de Damian. Porém, ele parara de falar desde muito
pequeno e ainda não voltara a falar, então como ele usaria o aparelho?
Ele o usava só para atender, pois ele nunca
telefonava para ninguém. Ele tinha um gravador de fita magnética, onde ele
gravara as falas de um velho filme, com várias respostas possíveis, como “sim”,
“não”, “alô”, “ela não está”, “eu vou chama-la”, “obrigado”, “tchau” ,
“entendi”, “repita por favor”, e assim por diante, e conforme o que ele ouvia
ele colocava a resposta que ele julgava adequada, colocando o gancho do lado do
alto falante do gravador, e quando ele achava necessário, ele gravava o recado
da pessoa e mostrava para a mãe ouvir, de modo que se ele vinha com o gravador portátil
na mão, na direção da mãe dele, ela já sabia do que se tratava.
Então Adora ligou na casa de Damian, que
atendeu e colocou o gancho junto ao gravador.
-Alô, é da casa do Damian?
-Sim !
-Ele está?
-Sim!
-A mãe dele está?
-Não !
-Quem está falando?
Silêncio. Damian ainda não tinha gravado uma
resposta para esta pergunta.
-Aqui é a Professora dele, a Adora, eu gostaria
de fazer uma visita a ele, será que posso ir aí?
-Sim !
-Posso ir agora?
-Sim !
-Ok, estou indo aí agora, chego em quinze
minutos !Tchau !
-Sim !Tchau !
Adora desligou o telefone e pegou o carro para
ir para a casa de Damian.
(Por continuar)
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