Os dias iam-se passando, e rapidamente Damian
aprendeu a combinar perfeitamente todas as letras e logo ela teve que tirar
mais cópias do Dinalfabeto, pois ele já fazia textos cada vez mais longos. Foi
quando ela percebeu que ele estava na verdade usando o método dela como forma
de comunicação, e então, a cada frase que ele formava, ela respondia formando
outra.
Mas aquilo estava ficando muito trabalhoso
agora. Fora perfeito para dar a ele as primeiras letras e ele precisava sair
disto.
Ela passou a usar os próprios livros de
dinossauros dele para fazer ele ler. Mas como ela poderia saber se ele estava
realmente lendo e entendendo o que estava lendo?
Novamente, ela pedia para ele ler um parágrafo
e depois pedia que ele respondesse com o dinalfabeto o que ele tinha entendido.
Embora o livro fosse científico e difícil para
ela, leiga em Paleontologia, entender, ela percebeu que ele entendia tudo
perfeitamente e até ensinava a ela.
Imediatamente ela desconfiou que, na verdade
ele já sabia ler há muito tempo, mas escondia esta habilidade de todos e fingia
não saber ainda. Ela ficou atônita: Por que ele fazia isto?
Naquela mesma noite, depois da aula, ela ficou
pensando sobre isto e percebeu que na classe, na escola, ele nunca estava ‘a
vontade, e sofria bullying, e o comportamento dos outros alunos não era nada
previsível, e pior, ele os interpretava como hostis a ele. A única exceção era
Jeanne, a quem ele tinha se apegado e pela qual ele nutria simpatia. Mas com
vinte e nove outros alunos na classe, ela não tinha tempo para prestar atenção
nele e se dedicar a ele como agora.
Talvez ele escondesse suas habilidades com medo
de ser hostilizado na classe, ou poderia ser timidez, um sentimento de
deslocamento, de não estar ‘a vontade. Já em casa ele estava muito ‘a vontade,
com alguém que ele confiava e gostava, então podia se soltar, e talvez ele só
tivesse mostrado o que realmente sabia depois que passou a confiar plenamente
nela!
Adora ficou emocionada, e disse em voz alta
para as paredes, abraçando o travesseiro, quase gritando na cama:
-Eu conquistei a confiança dele !Eu conquistei
a confiança dele !
No dia seguinte, já na aula, Adora resolveu que
já era hora de ensiná-lo a escrever, e que podia aproveitar a habilidade de
desenho dele para aprender a escrever.
Passar das combinações de letras lidas para as
escritas não foi um passo difícil. Difícil mesmo era transformar aqueles
garranchos ininteligíveis em uma letra legível.
Ela pedia para ele tentar desenhar cada letra,
mas no início, usando as letras do Dinoalfabeto como modelos, ele tentava desenhá-las, mas no exato tamanho
e tentando copiar a mesma fonte utilizada, e aí ela se deu conta que a fonte
utilizada, Baskerville, não era apropriada para ensinar ele a escrever.
Ela mesma procurou desenhar as letras, mas os
garranchos continuavam persistindo.
Depois da Aula, á noite, ela se colocou a
pensar novamente como faria para sair daquele estágio. Era inegável que ele já
tentara escrever antes, e que conseguia, apenas a grafia era insatisfatória.
Inquieta, ela se levantou e foi ao computador,
e foi quando ela viu que tinha esquecido um arquivo incompleto em um programa
de desenho vetorial.
Foi quando surgiu a idéia: o uso do mouse
poderia ajudar na coordenação motora dele, e se ele conseguisse desenhar por
cima das letras, usando-as como modelo e copiando-as, ele logo levaria os
mesmos movimentos com as mãos !
Ela começou a desenhar em cima de letras,
primeiro fazendo um círculo, depois transformando o círculo em curvas, depois
puxando ponto por ponto, pacientemente até copiar a letra igualzinho.
Ela então planejou usar deste artifício em um
primeiro estágio, e depois, em um segundo estágio, usar a ferramenta mão livre
para desenhar as letras. Era preciso explicar que não tinha necessidade das
letras desenhadas ficarem iguaizinhas ‘as modelos, apenas de ficarem legíveis.
No dia seguinte, ela telefonou antes da aula e
pediu autorização da mãe de Damian de
usar o computador dela e de instalar um programa de desenho vetorial nele.
Autorização concedida, Adora instalou o
programa no computador de Madeleine, e começou a ensinar Damian.
Como de costume, ele aprendeu em uma velocidade
de cair o queixo, e logo copiava as letras com perfeição.
As aulas foram se passando, assim como os dias,
e a segunda fase chegou. Como de costume, fazer ele desenhar com o mouse não
foi difícil, mas era preciso conseguir que ele firmasse o traço, então ela o
incentivava a repetir a mesma palavra até ficar satisfatório, e a cada
tentativa, ela o agradava e elevava seu ego com suas palavras alentadoras.
Cada vez mais confiante, devagar ele foi
firmando seu traço, e as letras começaram a ficar bonitas e legíveis.
Depois disto, nas aulas seguintes, ela pedia
para ele tentar novamente desenhar as letras no papel e escrever. A diferença
era notória: agora ele, embora ainda não estivesse perfeito, escrevia muito
melhor e coordenava muito melhor seus dedos!
(Por continuar)
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