segunda-feira, 23 de maio de 2016

Capítulo 22 -Minissérie: Adora- Alguém como você



Os dias iam-se passando, e rapidamente Damian aprendeu a combinar perfeitamente todas as letras e logo ela teve que tirar mais cópias do Dinalfabeto, pois ele já fazia textos cada vez mais longos. Foi quando ela percebeu que ele estava na verdade usando o método dela como forma de comunicação, e então, a cada frase que ele formava, ela respondia formando outra.
Mas aquilo estava ficando muito trabalhoso agora. Fora perfeito para dar a ele as primeiras letras e ele precisava sair disto.
Ela passou a usar os próprios livros de dinossauros dele para fazer ele ler. Mas como ela poderia saber se ele estava realmente lendo e entendendo o que estava lendo?
Novamente, ela pedia para ele ler um parágrafo e depois pedia que ele respondesse com o dinalfabeto o que ele tinha entendido.
Embora o livro fosse científico e difícil para ela, leiga em Paleontologia, entender, ela percebeu que ele entendia tudo perfeitamente e até ensinava a ela.
Imediatamente ela desconfiou que, na verdade ele já sabia ler há muito tempo, mas escondia esta habilidade de todos e fingia não saber ainda. Ela ficou atônita: Por que ele fazia isto?
Naquela mesma noite, depois da aula, ela ficou pensando sobre isto e percebeu que na classe, na escola, ele nunca estava ‘a vontade, e sofria bullying, e o comportamento dos outros alunos não era nada previsível, e pior, ele os interpretava como hostis a ele. A única exceção era Jeanne, a quem ele tinha se apegado e pela qual ele nutria simpatia. Mas com vinte e nove outros alunos na classe, ela não tinha tempo para prestar atenção nele e se dedicar a ele como agora.
Talvez ele escondesse suas habilidades com medo de ser hostilizado na classe, ou poderia ser timidez, um sentimento de deslocamento, de não estar ‘a vontade. Já em casa ele estava muito ‘a vontade, com alguém que ele confiava e gostava, então podia se soltar, e talvez ele só tivesse mostrado o que realmente sabia depois que passou a confiar plenamente nela!
Adora ficou emocionada, e disse em voz alta para as paredes, abraçando o travesseiro, quase gritando na cama:
-Eu conquistei a confiança dele !Eu conquistei a confiança dele !

No dia seguinte, já na aula, Adora resolveu que já era hora de ensiná-lo a escrever, e que podia aproveitar a habilidade de desenho dele para aprender a escrever.
Passar das combinações de letras lidas para as escritas não foi um passo difícil. Difícil mesmo era transformar aqueles garranchos ininteligíveis em uma letra legível.
Ela pedia para ele tentar desenhar cada letra, mas no início, usando as letras do Dinoalfabeto como modelos,  ele tentava desenhá-las, mas no exato tamanho e tentando copiar a mesma fonte utilizada, e aí ela se deu conta que a fonte utilizada, Baskerville, não era apropriada para ensinar ele a escrever.
Ela mesma procurou desenhar as letras, mas os garranchos continuavam persistindo.
Depois da Aula, á noite, ela se colocou a pensar novamente como faria para sair daquele estágio. Era inegável que ele já tentara escrever antes, e que conseguia, apenas a grafia era insatisfatória.
Inquieta, ela se levantou e foi ao computador, e foi quando ela viu que tinha esquecido um arquivo incompleto em um programa de desenho vetorial.
Foi quando surgiu a idéia: o uso do mouse poderia ajudar na coordenação motora dele, e se ele conseguisse desenhar por cima das letras, usando-as como modelo e copiando-as, ele logo levaria os mesmos movimentos com as mãos !
Ela começou a desenhar em cima de letras, primeiro fazendo um círculo, depois transformando o círculo em curvas, depois puxando ponto por ponto, pacientemente até copiar a letra igualzinho.
Ela então planejou usar deste artifício em um primeiro estágio, e depois, em um segundo estágio, usar a ferramenta mão livre para desenhar as letras. Era preciso explicar que não tinha necessidade das letras desenhadas ficarem iguaizinhas ‘as modelos, apenas de ficarem legíveis.
No dia seguinte, ela telefonou antes da aula e pediu autorização da mãe de Damian  de usar o computador dela e de instalar um programa de desenho vetorial nele.
Autorização concedida, Adora instalou o programa no computador de Madeleine, e começou a ensinar Damian.
Como de costume, ele aprendeu em uma velocidade de cair o queixo, e logo copiava as letras com perfeição.
As aulas foram se passando, assim como os dias, e a segunda fase chegou. Como de costume, fazer ele desenhar com o mouse não foi difícil, mas era preciso conseguir que ele firmasse o traço, então ela o incentivava a repetir a mesma palavra até ficar satisfatório, e a cada tentativa, ela o agradava e elevava seu ego com suas palavras alentadoras.
Cada vez mais confiante, devagar ele foi firmando seu traço, e as letras começaram a ficar bonitas e legíveis.
Depois disto, nas aulas seguintes, ela pedia para ele tentar novamente desenhar as letras no papel e escrever. A diferença era notória: agora ele, embora ainda não estivesse perfeito, escrevia muito melhor e coordenava muito melhor seus dedos!

(Por continuar)

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