Jeanne ficou triste, se sentindo rejeitada, mas
resignou-se e foi ver televisão.
Quando Madeleine terminou a louça, ela foi para
a sala conversar com Jeanne, mas então resolveu bater na porta do filho:
-Damian, não quer ficar na sala com a gente?
A luz vermelha acendeu.
Madeleine suspirou e pediu desculpas para sua
visita.
Depois de algum tempo, vendo que não
conseguiria a companhia de Damian, Jeanne resolveu ir embora.
-Damian, a Jeanne vai embora agora, não quer
vir se despedir dela?
Desta vez a luz verde acendeu e ele saiu do
quarto.
Já na soleira da porta da sala, Jeanne tentou
dar-lhe um beijinho no rosto, mas ele desviou.
O movimento, no entanto foi tão rápido e
brusco, que ela teve de fazer um complexo malabarismo com o pescoço para que a
boca dela não fosse parar na boca dele, e acabou que o beijo saiu no outro lado
do rosto, quase na orelha.
Novamente ela estava corada de vergonha !
Ele viu que ela estava com os olhos baixos, e
uma única lágrima saiu de um dos olhos dela, e então ele pareceu aflito e
agitado.
Ele sentira que de alguma forma a tinha magoado
e ele sentiu necessidade de compensá-la.
Todo sem jeito e desengonçado, ele pegou meio
forte no pulso dela, e com os lábios próximos das costas da mão dela, corado de
vergonha, simulou um beijo, que no entanto, não tocou a pele dela. E ele sorriu
para ela.
-Nossa, mas que cavalheiro, beijando a mão dela
!
Exclamou, num sorriso, Madeleine.
O casalzinho corou de vergonha da cabeça aos
pés. Damian se virou de costas para as duas e Jeanne, num sorriso amarelo,
acenou um tchau e foi embora correndo.
Não deu nem uma hora depois, Adora chegava na
casa de Damian.
Madeleine a recebeu com alegria e pediu para
que ela esperasse na sala, que ela iria chama-lo no quarto.
Adora se sentou no sofá, cheia de expectativas,
sonhos e idealismos, com um sorriso no rosto.
Madeleine chamou-o, e para sua surpresa, a luz
verde se acendeu e logo ele abriu a porta.
Ela ficou estupefata, de olhos arregalados: ele
tinha tomado banho (seu quarto era uma suíte), estava bem barbeado, penteado,
dentes escovados e bem vestido, com suas roupas mais chiques !
O espanto era por que, no dia a dia, Damian não
ligava muito para sua aparência: ficava dias seguidos sem tomar banho, se
barbear, dificilmente usava perfumes, vivia despenteado e frequentemente usava
roupas amassadas e velhas, não raro com furos e/ou rasgos, mas que ele adorava.
Apesar de Madeleine sempre passar as roupas dele e guarda-las no armário na
ordem que ele queria, ele tirava tudo do lugar nos cabides e gavetas e acabava
amassando as roupas recém passadas no processo, e para ele pouco importava se
as roupas estavam amassadas ou não. Muitas vezes, experimentava uma roupa, não
gostava e a jogava numa cadeira ou em cima da cama e lá as esquecia, se não
fosse a mãe, por dias a fio.
Ele já sabia o horário que Adora chegaria,
então se preparou com antecedência. E estava contente por que ela chegara
exatamente no horário previsto, perfeitamente pontual.
Ele chegou na sala, e cumprimentou Adora com um
aperto de mão e um sorriso.
-Bom, vou deixar vocês aqui estudando, enquanto
vou ao supermercado fazer compras. E Damian, olha lá, respeite sua professora e
seja bonzinho com ela, obedeça a ela direitinho, ok? Até mais tarde, gente !
E Madeleine saiu da sala e foi para a garagem,
entrou no seu carro e foi embora.
Adora foi até a copa e colocou seu material
didático, e Damian trouxe seu inseparável gravador.
-Sabe que a Jeanne me ligou hoje e me disse que
você falou com sua mãe? Eu fiquei tão feliz de saber !
Damian acionou o gravador:
-Sim !
-Puxa , então você sabe falar , Damian !
-Sim !
-Então por que não fala normalmente? Poxa, você
entende tudo o que as pessoas dizem...
-Não !
-Entendi, você não quer falar sobre isto
agora...
-Sim !
-Tudo bem então. Damian, eu sei que você vai
estranhar e, bom, eu fico meio envergonhada com isto, mas...você poderia me
mostrar seu quarto? Eu gostaria de saber quais os assuntos de seu interesse, o
que você gosta de assistir, colecionar...
(Por continuar)
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