domingo, 10 de junho de 2018

Episódio 20- Sensibilidade de Viver:Gestação


-Ai, que vergonha, Lune-saaaan !
O sistema de autofalantes anunciou o desembarque do voo de Otaru.
-Ele está chegando. Lune fique atrás de nós!Maki-san, fique preparada!
-Sim, Akane-san!
Disseram as duas.
Dali a pouco a comitiva desembarcava. Seis homens de terno preto e óculos escuros, dois levando as malas, o restante escoltando Otaru. Eles pararam em frente ‘as policiais.
-Otaru Tamasuki, você está preso em nome da Lei, pelos crimes de pedofilia, estupro , assassinato e prostituição infantil !
O irmão de Lune ficou de cabeça baixa  e olhos baixos, em silêncio, enquanto Maki o algemava.
-Não tente nenhuma gracinha! Não somos as únicas policiais aqui, há uma dezena de outros cercando-o  mais distanciadamente.
Disse Akane, com firmeza.
Só então Otaru olhou para Lune. Um olhar frio, feroz, lúgubre, soturno,assustador!
Lune baixou os olhos imediatamente, assustada com aquele olhar terrível.
-Nem pense em ameaçar a Lune-san, rapaz ! Vamos indo !
Disse Maki, deixando sua pose alegre para uma expressão severa.
As duas o conduziram aos demais policiais, que o colocaram em uma viatura policial fora das dependências do saguão do Aeroporto.
--Nossa missão está cumprida, senhorita, vamos embora !
Disseram os seguranças e saíram logo dali.
-Também temos de ir agora, Lune-san, mas em breve nos reencontraremos, qualquer dia irei visita-la ! Ah, e parabéns pela sua gravidez !
-Obrigada, Maki-chan !
-Tchaaooo !Fui !
E lá se foram as duas.
Lune não quis acompanhar os procedimentos policiais e pegou seu carro, pagou o estacionamento e voltou para casa.
Assim que chegou em seu apartamento, Lune resolveu abrir o vitrô da sala e se sentou  numa das cadeira da sacada, onde, do sexto andar, onde morava, observava o trânsito na rua e o horizonte urbano imenso, aquele mar de prédios, após pegar um refrigerante na geladeira e se servir em um copo e colocar alguns cubos de gelo.
Havia um certo alívio, tanto em seu semblante como em sua mente, pela prisão do irmão, que, agora não seria mais condenado a morte, apesar de saber que, devido ‘a gravidade dos atos dele, provavelmente pegaria prisão perpétua.
O alívio era  também o de não mais ter de se ver frente a frente com um irmão que poderia abusar sexualmente dela ou mesmo violenta-la. Preferia manter na memória apenas a imagem cândida do irmão quando criança, do qual cuidara e que a respeitava. Eram estas as lembranças do irmão , que queria conservar e fixar na sua memória.
Mas se preocupava com o estado emocional de Momiji, sabendo que Otaru agora estava atrás das grades e não voltaria mais.Foi quando resolveu ligar na casa dos pais.
-Oi, filha, boa tarde !
-Boa tarde pai! O Onii-san já está detido e o processo dele já começou...
-Sim, estamos sabendo já, o Hayao-sama já nos avisou!
-E como vocês estão se sentindo?
-Muito tristes, filha. Sua mãe, depois que soube, vestiu luto e fica rezando para Buda em meio ‘as lágrimas.Para ela, como para mim também, e como se o Otaru-san tivesse falecido..bom, de certa forma, aquela imagem de filho que tínhamos dele, faleceu mesmo...
-Puxa, pai...fico triste em saber, será que ela vai aguentar?
-É uma dor para a vida inteira, sentimento de culpa, é muito pesado isto, não só para ela, mas para mim,que já estou velho, também.
-Melhor eu ir aí dar uma força para vocês?
-Não, filha, acho melhor não, o trauma ainda está muito forte, mas vai passar, a gente aos poucos vai se anestesiando, não/A vida não pode parar...deixa a poeira baixar, e a gente melhorar, aí você vem, ok?
-Ok, pai, fico feliz de o senhor pensar assim.
-Assim que estivermos mais inteiros, a gente te liga e te convida para cá!
-Ah, ok !Ah, mas se o senhor está em casa, e o Takeo-kun?
-Ele está no trabalho, mesmo sem mim. Eu não sou o único que trabalha lá, e estou colocando ele como meu braço direito, o segundo em comando, liderando a equipe enquanto eu estou fora!
-Que bom !
-Até mais então, filha !
-Até, pai...
E a ligação terminou.
Lune então resolveu tomar um banho, e estava tão distraída que foi tirando as roupas e as jogando no chão, deixando uma trilha de roupas atrás de si, no caminho até o banheiro do quarto.
Já nua, ela de repente teve um pressentimento, e voltou para a  sala:
Foi no momento exato em que viu sua calcinha levantar voo com o vento que entrava pelo vitrô aberto e voar pela cidade afora.
-Nãaao !
Ela gritou e tentou correr pelada até a sacada e parou no parapeito. Mas tarde demais: a calcinha já estava fora de alcance!
Só então percebeu que  estava nua, e que seus seios arfavam e balançavam com sua respiração ofegante.
-Mas que droga !
Ela gritou .
Quando levantou os olhos, percebeu que havia um homem olhando da janela do prédio em frente ao dela, de binóculos. Um voyeur !
-Aaaaai não !
Lune gritou, vermelha de vergonha da cabeça aos pés, correndo para dentro, fechando o vitrô e as cortinas, e tratou de tomar seu banho, ainda envergonhada. Dizia para si mesma:
-Ele me viu !Droga, ele me viu !Queria tanto apagar estas imagens da memória dele !Sujeito tarado, indecente, desalmado, se eu ver ele na rua, baterei nele sem dó nem piedade !Mas...não, não contarei ao Takeo-kun, ele ficaria com ciúmes, eu sei, era só para ele e mais ninguém me ver nua, só ele...se bem que nem foi culpa minha, mas...ai, não, que vergonha!E se algum homem tiver pegado minha calcinha e a ficar cheirando...e se ele souber onde moro e vier me entregar?Minha intimidade...exposta deste jeito..quantos viram?Não posso ser tão descuidada, a culpa é minha, devia ter me trocado no quarto !Mas como eu podia saber que haveria um pervertido vasculhando a vizinhança?
Dúvidas, dúvidas, dúvidas, eram o que permeavam a mente de Lune durante o banho!
Tão envergonhada ficou, que vestiu uma camisa preta de manga comprida, sem decote algum, e uma saia comprida, que ia quase até os calcanhares, sapato fechado, com meias grossas, e colocou um lenço no pescoço cobrindo o busto, e depois tratou de recolher as roupas do chão correndo, pois não demoraria muito a Takeo chegar.

(Por Continuar)

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