Lune tratou de dar as costas a ele e ir logo para
o refeitório antes da próxima aula, pois já estava com fome.
Já Sato mergulhou a
cabeça entre os braços cruzados sobre a mesa e debulhou-se em lágrimas.
Embora professores
tivessem sua própria cantina, Lune preferiu a dos alunos, e pegou um sanduíche
de carne de porco e um refrigerante na lanchonete. Pagou e se sentou em uma das
mesas.
No entanto, uma das
alunas de sua classe a reconheceu e
disse:
-Sensei, posso sentar
com a senhora?
-Pode sim, Haruka-kohai.
-Obrigada ! Então, eu vi
a bronca que a senhora deu no Sato-san...
-Eu sou casada, e
preciso manter certa distância dos meus alunos, o relacionamento deve ser só
profissional, você entende, não é?
-Entendo sim, Sensei. Mas
por favor me permita te contar algumas
coisas de meu primo, da vida dele...
-Ele é seu primo?
-Sim, Sensei, estudamos
juntos a muito tempo e praticamente crescemos juntos, pois os meus tios eram
nossos vizinhos.Ocorre, Sensei, que ele foi diagnosticado com depressão
profunda. Ele é um eterno fracassado no amor e desde sempre tem sido recusado
pelas garotas da idade dele. Ele inclusive quis namorar a mim, mas eu sempre o
vi como se fosse um irmão, ele sempre foi um irmão para mim, e embora eu goste
muito dele, não sinto nada de romântico ou amoroso por ele. Ele se apaixona
muito fácilimente e vive se
desiludindo...
-Ninguém namora por dó,
Haruka-kohai, vc é mulher como eu e sabe bem disto. Eu nem sequer o conheço,
nada sinto por ele e não posso me aproximar dele....
-Então, Sensei, mas não
vim aqui pedir para a Senhora namorá-lo, mas para dar uma força para ele, ajuda-lo
a conquistar alguém...
-Virei cupido agora,
Haruka-kohai?
Disse Lune em um
sorriso.
-Sensei, agora a senhora
me fez sorrir, só de imaginar a senhora com asinhas nas costas e um arco e flechas...mas
falando sério, o Sato-san ele tem uma tendência séria ao suicídio, e os pais
dele não o compreendem, o acham um fraco e fracassado, só o colocam mais para baixo
ainda, e ele pode vir a se matar...e eu penso que se ele arrumasse alguém para
ele, ele melhoraria, entende?
-Sim, entendo, mas isto
foge completamente das minhas atribuições como professora! Não que eu não fique
com dó e não queria ajuda-lo, mas o que eu, como uma simples professora,
poderia fazer?
- Ele está apaixonado
pela senhora, Sensei, mas ele também, por outro lado não me escuta e me
incomoda com a insegurança e com a carência emocional e sexual dele.Sabe,
Sensei, no ano passado eu cheguei a cometer o erro de ter ido para a cama com
ele, e ele estava tão ansioso que....falhou comigo do modo mais frustrante
possível e depois disto brigamos feio e ficamos meses sem olhar um na cara do
outros, e depois ele passou a me assediar, tentar abusar de mim, sabe, fazendo
mão boba, olhando meus decotes,etc, só não o denunciei pelo meu medo de ele se
matar...mas existe uma garota na classe que é apaixonada por ele, mas que ele
sempre desprezou, a Makoto Myiagi, aquela menina obesa que sempre se senta ao lado dele,
justamente por ela ser obesa. Eu já tentei muitas vezes convencer ele a ficar
com ela, mas ele não me escuta, mas a senhora, acho que ele a escutaria, então queria que me ajudasse a
aproximar ele dela...não em plena classe, claro, mas nos intervalos, ou
conversando reservadamente sem ninguém ver...
-Bom, Haruka-houkai, não
te garanto nada, vamos ver...agora preciso ir para minha próxima classe, pois
já vai bater o sinal!
-Tudo bem, Sensei, até
amanhã, e obrigada !
-De nada...
Lune levantou-se, pegou
suas coisas, jogou os restos de seu almoço no lixo, e foi para a Classe 1-D.
O restante do dia dela foi tranquilo, lecionando
em outras classes.
Finalmente, no final da tarde, cansada, após a última aula, Lune
pegou seu carro e foi embora.
Ela pegou o maior
congestionamento na volta , mas ainda assim, conseguiu chegar antes de Takeo.
Exausta, comeu tudo o
que encontrou de doce na geladeira e depois desabou no sofá da sala e dormiu.
Nem percebeu a chegada
de Takeo duas horas depois, também
exausto de tanto trabalhar.
O que não tinha caído a
ficha para os dois até então é que, com exceção do Domingo e dos poucos
feriados, todos os dias seriam assim!
Takeo não quis
interromper o sono de Lune, mas ficou com dó dela dormir no sofá, e a carregou
para a cama.
Lá a colocou e colocou
as cobertas dela e ficou sentado pensativo no pé da cama.
O que fazer? Quem iria
fazer o jantar?Era preciso pensar em quem teria esta tarefa todos os dias, pois
não dava para ficarem saindo para comer fora ou pegar comida fora todo dia,
acabariam gastando demais, e também, as compras de supermercado iriam acabar
estragando.
Normalmente, no Japão, a
esposa fica em casa como dona de casa e o marido trabalha fora, e a esposa faz
todos os serviços domésticos.
Mas Takeo conhecia Lune
e sabia que ela jamais aceitaria um
papel submisso destes.Ela mesma já tinha avisado que queria divisão de tarefas.
O problema era que ambos
tinham pouco conhecimento de cozinha e pouca prática e ninguém dos dois jamais
foi muito interessado em aprender a cozinhar.Contratar uma empregada doméstica?
Domésticas são
absurdamente caras no Japão, e o pai de Takeo podia, pois era milion[ario, mas
Takeo e Lune viveriam de salários, e não mais de gordas mesadas, então teriam
de se virar só com o que ganhavam, pois os pais de nenhum dos dois os iria
ajudar financeiramente.Então, contratar uma doméstica estava fora de questão.
Mas Takeo não podia decidir sozinho, teria de ser em conjunto com Lune, então
ele preferiu esperar uma ocasião adequada para discutirem isto.
Por enquanto, ele acabou
decidindo mesmo por pedir comida em uma
fast food de hambúrguer mesmo.
(Por Continuar)
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