Enquanto
a Diretora e as demais professoras conspiravam malevolamente contra ela, Lune,
alheia a tudo isto, que por enquanto mantinham secreto para ela, após mais um
dia cansativo de trabalho, pegava seu carro e voltava para casa.
Takeo
ainda não tinha chegado, então Lune foi na geladeira e pegou os kombinis do
dia, e os deixou no balcão da cozinha ao lado do micro-ondas.
Não
obstante, como já estava com fome, pegou no armário um pacote de salgadinhos
tipo chips sabor camarão, que adorava, e um copo de refrigerante, e ligou a
televisão, sentando-se na poltrona da sala para descansar.
Ficou
assistindo um anime romântico até que cansou e viu que não demoraria a seu
marido chegar.
Embora
já estivesse meio sem fome de tanto beliscar salgadinhos, ela voltou ‘a
cozinha, abriu os combinis, arrumou a mesa e
esquentou a comida.
Takeo
chegou logo depois de estar tudo pronto e foi recebido com um selinho
carinhoso.
Os
dois começaram a comer.
-Como
foi seu dia hoje, querida?
-Ah,
meu bem, a mesma brigaiada de sempre com as outras professoras...
-É ,
universidades são ambientes competitivos mesmo!
-Muita
inveja, mesquinhez, futilidades...gente
rasa, tóxica, Takeo-kun!
-Precisa
tomar cuidado então, querida, este tipo de gente é perigoso...são pessoas
traiçoeiras !
-O
ambiente está horrível lá, amor, todo mundo me olhando torto, desconfiado...só
por que não gosto de ficar na sala dos professores, nem na cantina dos
professores, e prefiro fazer companhia aos meus alunos e minhas alunas no
intervalo! Mas eu estou sim, desafiando este povo e vou desafiar mais ainda!
Estou pensando seriamente em abolir os livros didáticos e apostilas, que tem
montanhas de erros, e preparar minhas aulas ou mesmo fazer minhas próprias
apostilas em casa e distribuir para minha classe e ensinar-lhes corretamente ! Sabe, estive dando uma olhada
no material que a Universidade me passou e tem horrores ali...por exemplo:
sobre a segunda guerra mundial, fala que os EUA é quem venceram a Alemanha e
que teriam sido os primeiros a chegar em Berlin e clamar para si a vitória, mas
na verdade foram os russos que chegaram primeiro e que foram os mais decisivos
na reta final da guerra para vencer Hitler. Outra coisa, nas apostilas deles,
eles são muito benevolentes para com o belicismo e imperialismo japonês na
China e Coréia, e falam do episódio das Bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki
como se fossem os EUA nos salvando e nos punindo por mau comportamento, como se
tivéssemos sido crianças malvadas e desobedientes, e está tudo errado, não foi
assim !
-É,
querida, eu também não consigo entender esta admiração absurda que nós
japoneses temos, como Nação, pelos EUA, e
pelos americanos, como se nem tivéssemos perdido a guerra, não sei se
seria Síndrome de Estocolmo ou complexo de vira latas, mas não acho correto.
Ok, não sou nenhum nacionalista, mas fomos vítimas de um genocídio tenebroso!
-Fico
feliz que concordes comigo, Takeo-kun,claro que rancor contra os americanos não
leva a nada de mais, mas perdoar é uma coisa, mas idolatrar assim, é estúpido
!Quanta gente nossa não sofreu, não morreu?Minha família mesmo, meus
antepassados, muitos foram perdidos em Hiroshima e Nagasaki, minha avó viu tudo
isto de perto e sentiu o cataclisma terrível que foi...isto sem falar nos que
nasceram deformados, nos que tiveram má-formação, doenças radioativas, um horror
!Ah, mas chega deste assunto, não quero ficar lembrando destas coisas agora,
afinal, estamos jantando...
-Você,
por que eu...Termineeeei !
-Você
já notou, Takeo-kun, como você tem mania de avisar tudo o que você faz, ou vai
fazer? Ou quando terminou de fazer alguma coisa?
-Sim,
é uma necessidade imperiosa dentro de mim ! Eu sinto que as pessoas precisam
saber, sei lá...
-Ah,
amor, só você mesmo ! Bom, eu também já terminei, e decidi colocar minha idéia
em prática: vou no computador escrever minhas próximas aulas, depois vou
reunindo e faço delas uma apostila para os próximos semestres!
Enquanto
Lune trabalhava fervorosamente no seu computador, Takeo se divertia no dele.
Eles
tinham colocado uma grande mesa em um dos quartos, com uma divisória vertical
no meio, e colocaram os dois computadores
na mesa, um de cada lado: o de Lune, na esquerda, o de Takeo, na
direita.
A
divisória era para que ambos pudessem ter certa privacidade e um não ficasse
bisbilhotando o que o outro estava fazendo.
Já
era meia noite quando os dois resolveram ir dormir.
Mas
antes, Takeo fora tomar banho, e Lune só tomou logo antes de ir se deitar.
E
ambos levaram salgadinhos e refrigerantes para os computadores.
No
dia seguinte, ambos tomavam café da manhã , pegavam seus carros e iam cada um
para seu trabalho.
Quando
Lune chegou na Universidade, no entanto, encontrou um clima ainda pior do que o
do dia anterior:
Tomo
mundo cochichando e olhando feio, ou espantado para ela.
Na
sala dos professores, foi ela chegar e todos se retirarem imediatamente, em
silêncio, com olhares reprovadores.
Na
sala de aulas, os irritantes cochichos e risinhos irrompiam pela sala, até que
Lune perdeu a paciência:
-O
que é que está acontecendo aqui , afinal? Por que está todo mundo cochichando e
olhando para mim primeiro e depois para o Sato-kouhai?
Silêncio
sepulcral.
Ela
insistiu na pergunta, mas ninguém quis responder.
Ela
retomou a aula então, contrariada.
Quando
o intervalo chegou, ela notou que um monte de alunas cercou Sato e ficavam
fazendo perguntas para ele, e ela notou claramente, que ele estava vermelho de
vergonha.
Depois
as meninas foram embora e agora eram rapazes que cercavam Sato e ficavam
fazendo perguntas a ele, cumprimentando-o e o parabenizando.
Imediatamente
Lune achou aquilo tudo muito suspeito, afinal, ele continuava rubro de
vergonha.
Então
, assim que saíram, Lune foi falar com ele, que já estava quase saindo, quando
ela puxou o braço dele e disse:
-Pode
me dizer, Sato-kouhai, o que está acontecendo aqui? Por que seus e suas colegas
estão te atormentando?
-É
que...são os boatos, sensei...
-Boatos?
Que boatos?
-Eu
não posso falar não, sensei, tenho muita vergonha !
E ele
saiu correndo.
Lune
estava intrigada e desconfiada, tinha alguma coisa de muito errado ali !
A
caminho da cantina, encontrou, no entanto, sua aluna Makoto, sentada sozinha em
um banco, chorando.
-Makoto-kouhai,
o que aconteceu?Por que está chorando?
-Sensei...é...eu
sabia...sabia que eu não tinha como concorrer com a senhora pelo Sato-san...
-Concorrer
comigo?Pelo Sato-kouhai? Ficou louca, menina?Eu sou casada ! Não tenho nada com
ele, nem quero nada com ele não !
-Não é
o que todo mundo está falando , sensei !
-Ah,
devem ser os tais boatos que o Sato-kouhai me falou, mas ele não quis me
revelar quais eram...
-Ele
nem precisa ! A senhora sabe muito bem !
-Eu,
sei? Não estou é entendendo nada, Makoto-kouhai...
-Não
se faça de desentendida !Não seja cínica ! Admita que ...que você beijou o
Sato-san na boca e o levou para o Motel ontem a noite e transou com ele !
Os
olhos de Lune se arregalaram e ela ficou de queixo espantada!
-Eu?Eeeee?Quem
te disse uma estupidez destas?
-A
Universidade inteira está sabendo ! E uma colega minha bisbilhotou no celular
dele e viu uma foto da senhora nua ! Nuazinha em pelo ! E está no mural dele
nas redes sociais !
-Eu
nunca, jamais posei nua para foto nenhuma na minha vida, e ontem depois da aula
eu estava com o meu marido em casa!Isto é alguma armação que estão fazendo
contra mim !Makoto-kouhai, me ouça: você está tendo ciúmes a toa, eu não tenho
nada a ver com o Sato-kouhai, nunca beijei ele, muito menos jamais fui para a
cama com ele !E vou provar a minha inocência! Seja lá quem está divulgando
estes boatos mentirosos , é uma pessoa criminosa, que irei processar por
calúnia e difamação !
Mas
Makoto não quis continuar a conversa, e saiu correndo, chorando.
Agora
Lune entendia por que estava todo mundo daquele jeito com ela. Mas ela sabia
que era inocente, e estava firmemente determinada a não só descobrir que
espalhava e criava tais boatos, como a punir quem o fazia !
(Por continuar)
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