sábado, 14 de julho de 2018

Episódio 34-Sensibilidade de Viver:Gestação


Não demorou, Lune já estava novamente em casa. Encontrou Takeo se distraindo no computador.
-Oi, meu amor, sejas bem vinda !
-Obrigada, meu bem !Já jantou?
-Sim, jantei direitinho !
-Lavou a louça ou deixou para eu lavar?
-Lavei sim, querida!
-Ainda bem, estou super cansada...
-Como foi seu jantar com sua amiga?
-Foi legal, Takeo-san, foi bom para eu me distrair das pressões  e stress do trabalho !
-É, não é fácil mesmo...
-Bom, dar aulas, embora seja cansativo, é muito bom, mas...o que pega mesmo é a inveja das colegas e o autoritarismo da direção !
-Ah, empresas são assim mesmo, fofa, sempre tem disto. Mas olha, procura descansar, se distrair...
-Querido, olha, me desculpe não te fazer companhia hoje, mas...prefiro já ir tomar um banho e ir dormir!
-Sem problemas, já deixei a cama prontinha, do jeito que você gosta !
-Vc é um doce, maridinho...
Lune deu um beijo na testa dele e acariciou os cabelos dele, depois se sentou no colo dele de ladinho.
Ele lançou um olhar meigo para ela e acariciou o rosto dela com delicadeza.
-Você está se revelando um grande companheiro, sabia?
-Você também, minha linda !
Lune deu um selinho nele, e ele em seguida deu um nela.
-Boa noite, durma bem e até amanhã,querido...
-A você também, querida, você me faz bem !
-Você também !
Lune então foi para o quarto do casal, tirou suas roupas, tomou um banho, colocou uma camisola, vestindo por baixo apenas uma calcinha de algodão sem decotes, macia e com elástico suave para não oprimr a pele, e se deitou. Não deu vinte minutos, já roncava, de tão profundo o seu sono.Seu ronco, no entanto, era baixinho e delicado.
Takeo foi dormir meia hora depois de Lune pegar no sono.
No dia seguinte,como sempre, Takeo acordou antes da esposa, e deixou o café da manhã meticulosamente preparado para os dois.
Lune se levantou um pouco mais tarde e tomou outro banho, e colocou um shorts e um bustier, pois não queria correr o risco de sujar sua roupa de trabalho, a qual deixou pronta em cima da cama.
Então foi tomar o café da manhã e encontrou Takeo já de saída para o trabalho.
-Bom dia !Puxa, não terei sua companhia para o café da manhã hoje...
-Ah, minha esposinha, não fiques tristonha...eu já tomei o meu café da manha, mas eu fico mais um tiquinho para você não tomar seu desjejum sozinha !
-Mas você não vai se atrasar, Takeo-kun?
-Não, estou até um pouco adiantado, mas você seria melhor não se demorar na refeição ou chegará atrasada...
-É verdade !Então, tratar de comer !
Ela comeu o mais rápido que pôde, e depois correu a escovar os dentes e se arrumar.
Ainda só de calcinha sentada na cama, viu Takeo chegar até ela e lhe dar um selinho:
-Agora tenho de ir mesmo, meu bem, bom trabalho e boa sorte a você !
Ela correspondeu ao beijo e acariciou o rosto dele, e ele se foi.
Ela então correu a se trocar, se perfumar, se maquiar e colocar os sapatos, pegou sua bolsa, seu celular, seu material didático e correu para o elevador, depois para a garagem, pegou seu carro e foi para a universidade.
No caminho, ficou pensativa: dar aulas era legal, mas não era algo que ela queria fazer a vida toda. Na verdade, o objetivo profissional dela era trabalhar em campo, e fazer pesquisa histórica, como historiadora. Por isto, pensava na possibilidade de fazer uma aplicação para trabalhar em pesquisa.
Chegou na universidade com isto na cabeça, e decidiu-se; iria se informar sobre isto no final do expediente, na secretaria da Reitoria.
Como sempre, o clima na sala dos professores estava pesado e azedo, mas Lune resolveu simplesmente ignorar as provocações maldosas das colegas e sorrir para elas.
Ficou o menos tempo possível lá, e foi direto para a sala de aulas.
Mas lá, o clima não estava melhor. Foi quando então que seu olhar passou por Sato, e ela percebeu que ele estava com um olho roxo, o nariz sangrando, e tinha contusões nos braços.
Ela parou a chamada imediatamente.
-Sato-kouhai ! O que aconteceu?
-Foi um acidente, sensei...
Ele disse, todo envergonhado.
Lune olhou nos rostos de outros alunos e viu a expressão cruel de prazer sádico na cara deles.
-Não foi acidente coisa nenhuma, não minta para sua professora !Está literalmente na cara que seus colegas te bateram !Muito bem, tem poucos alunos homens aqui nesta classe, então não será difícil identificar: quem foi que bateu nele?
Silêncio sepulcral.
Mas Lune percebeu também, que era uma chance de ouro para a garota que queria namorar a ele se aproximar dele.
-Makoto-kouhai, por favor acompanhe o Sato-kouhai até a enfermaria e cuide dele !
-Sim , senhora, sensei !
Lune definitivamente não estava acostumada a ser chamada de senhora !
A jogada de Lune foi estratégica: ao mesmo tempo, “empurraria” Makoto para cima de Sato para ver se eles conseguiriam formar um casal, e assim, fazer Sato a esquecer,; por outro, ela deixando de leva-lo pessoalmente ‘a enfermaria, dissiparia os boatos de um suposto romance entre ela e ele, que não existia, nem nunca existiu.
Sato, por sua vez, claro, preferia mil vezes que Lune o levasse para lá, e foi de cara fechada e mau humor.
Já Makoto ficou toda feliz, e o pegou pelo braço e praticamente o arrastou ‘a força pelos corredores.
E a universidade inteira ver esta cena, por sua vez, reforçaria a falta de fundamento dos boatos sobre Lune, e geraria novos boatos sobre Makoto e Sato, o que teria o potencial de fazer os alunos esquecerem de Lune e se distraírem com outra coisa.
O sorriso de Lune era indisfarçável diante do sentimento de frustração da classe, que esperava que ela conduzisse o rapaz;
Mas este sorriso logo desapareceu, seguido por um semblante sério e severo:
-Muito bem, insisto: Quem foi que bateu em Sato-houkai?
Mana, uma das alunas, desta vez disparou uma provocação:
-Por que tanto quer saber, sensei?Acaso o ama tanto assim, para tentar proteger a ele?
Lune respondeu de bate e pronto:
-Por que bullying contra qualquer pessoa eu considero vergonhoso e de uma falta de caráter, de um fascismo inaceitável!Eu não o amo, eu sou casada e amo o meu marido, e você, o ama, Mana-kouhai?
A aluna corou da cabeça aos pés, não só pela provocação de Lune, mas também, e principalmente, pelo olhar de chacota das demais colegas.Era como se existisse uma norma na classe:era proibido amar a Sato, ou quem desafiasse este tabu seria imensamente ridicularizado e humilhado por todos.
-Ora, se não é uma reação sociológica de preconceito e aversão social aos Diferentes que estou vendo aqui...
Exlamou Lune em tom de ironia crítica ‘a classe.
-O bullying é uma tradição no Japão, da qual nos orgulhamos !Não toleramos os fracotes, só os fortes dominam !
-Ah,agora pronunciou-se o senhor machão garanhão todo poderoso fascista hipócrita, com seu falso moralismo e seus pseudo valores neoliberais, heim, Katahiro-houkai? Tinha mesmo de ser um homem metido a valentão, troglodita  e ignaro, machista e homofóbico mesmo !Covardes adoram defender suas machistices...
Katahiro, o aluno mais valentão e musculoso da turma, verdadeiro brutamontes, viciado em musculação,ficou furioso!
Ele se  levantou da cadeira, inconformado, e, para espanto da classe, berrou:
-Professora Comunista! Feminista !Feminazi !
Agora o semblante de Lune mudou de ironicamente sorridente para colérico:
-Respeite sua professora, Katahiro-houkai ! Que insubordinação e insolências são estas?Já para a Diretoria !Você está expulso da classe !
Katahiro, revoltado, chutou sua carteira e cadeira e saiu rosnando  xingamentos em murmúrio, e deixou a classe, que jazia em  um silêncio espectral, ninguém esperava um arroubo de autoridade destes de Lune,acharam que ela iria  se abater, se deprimir e chorar na frente da classe, mas ela era muito mais forte do que eles pensavam !
Mas agora a situação de Lune na universidade se complicava, pois ficaria com fama de comunista e feminista  no ambiente universitário todo. Afinal, a tradição da cultura japonesa, muito machista, demandava que as mulheres fossem submissas e introvertidas, e que nunca reagissem violentamente, sobretudo quando um homem gritasse com ela, ela teria de ouvir calada. Mas quem esperasse tal comportamento de Lune , não a conhecia, ela não era, nem nunca foi, mulher de se submeter a jugo de ninguém !

(Por Continuar)

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