Não
demorou, Lune já estava novamente em casa. Encontrou Takeo se distraindo no
computador.
-Oi,
meu amor, sejas bem vinda !
-Obrigada,
meu bem !Já jantou?
-Sim,
jantei direitinho !
-Lavou
a louça ou deixou para eu lavar?
-Lavei
sim, querida!
-Ainda
bem, estou super cansada...
-Como
foi seu jantar com sua amiga?
-Foi
legal, Takeo-san, foi bom para eu me distrair das pressões e stress do trabalho !
-É,
não é fácil mesmo...
-Bom,
dar aulas, embora seja cansativo, é muito bom, mas...o que pega mesmo é a
inveja das colegas e o autoritarismo da direção !
-Ah,
empresas são assim mesmo, fofa, sempre tem disto. Mas olha, procura descansar,
se distrair...
-Querido,
olha, me desculpe não te fazer companhia hoje, mas...prefiro já ir tomar um
banho e ir dormir!
-Sem
problemas, já deixei a cama prontinha, do jeito que você gosta !
-Vc é
um doce, maridinho...
Lune
deu um beijo na testa dele e acariciou os cabelos dele, depois se sentou no
colo dele de ladinho.
Ele
lançou um olhar meigo para ela e acariciou o rosto dela com delicadeza.
-Você
está se revelando um grande companheiro, sabia?
-Você
também, minha linda !
Lune
deu um selinho nele, e ele em seguida deu um nela.
-Boa
noite, durma bem e até amanhã,querido...
-A
você também, querida, você me faz bem !
-Você
também !
Lune
então foi para o quarto do casal, tirou suas roupas, tomou um banho, colocou
uma camisola, vestindo por baixo apenas uma calcinha de algodão sem decotes,
macia e com elástico suave para não oprimr a pele, e se deitou. Não deu vinte
minutos, já roncava, de tão profundo o seu sono.Seu ronco, no entanto, era
baixinho e delicado.
Takeo
foi dormir meia hora depois de Lune pegar no sono.
No
dia seguinte,como sempre, Takeo acordou antes da esposa, e deixou o café da
manhã meticulosamente preparado para os dois.
Lune
se levantou um pouco mais tarde e tomou outro banho, e colocou um shorts e um
bustier, pois não queria correr o risco de sujar sua roupa de trabalho, a qual
deixou pronta em cima da cama.
Então
foi tomar o café da manhã e encontrou Takeo já de saída para o trabalho.
-Bom
dia !Puxa, não terei sua companhia para o café da manhã hoje...
-Ah,
minha esposinha, não fiques tristonha...eu já tomei o meu café da manha, mas eu
fico mais um tiquinho para você não tomar seu desjejum sozinha !
-Mas
você não vai se atrasar, Takeo-kun?
-Não,
estou até um pouco adiantado, mas você seria melhor não se demorar na refeição
ou chegará atrasada...
-É
verdade !Então, tratar de comer !
Ela
comeu o mais rápido que pôde, e depois correu a escovar os dentes e se arrumar.
Ainda
só de calcinha sentada na cama, viu Takeo chegar até ela e lhe dar um selinho:
-Agora
tenho de ir mesmo, meu bem, bom trabalho e boa sorte a você !
Ela
correspondeu ao beijo e acariciou o rosto dele, e ele se foi.
Ela
então correu a se trocar, se perfumar, se maquiar e colocar os sapatos, pegou
sua bolsa, seu celular, seu material didático e correu para o elevador, depois
para a garagem, pegou seu carro e foi para a universidade.
No
caminho, ficou pensativa: dar aulas era legal, mas não era algo que ela queria
fazer a vida toda. Na verdade, o objetivo profissional dela era trabalhar em
campo, e fazer pesquisa histórica, como historiadora. Por isto, pensava na
possibilidade de fazer uma aplicação para trabalhar em pesquisa.
Chegou
na universidade com isto na cabeça, e decidiu-se; iria se informar sobre isto
no final do expediente, na secretaria da Reitoria.
Como
sempre, o clima na sala dos professores estava pesado e azedo, mas Lune
resolveu simplesmente ignorar as provocações maldosas das colegas e sorrir para
elas.
Ficou
o menos tempo possível lá, e foi direto para a sala de aulas.
Mas
lá, o clima não estava melhor. Foi quando então que seu olhar passou por Sato,
e ela percebeu que ele estava com um olho roxo, o nariz sangrando, e tinha
contusões nos braços.
Ela
parou a chamada imediatamente.
-Sato-kouhai
! O que aconteceu?
-Foi
um acidente, sensei...
Ele
disse, todo envergonhado.
Lune
olhou nos rostos de outros alunos e viu a expressão cruel de prazer sádico na
cara deles.
-Não
foi acidente coisa nenhuma, não minta para sua professora !Está literalmente na
cara que seus colegas te bateram !Muito bem, tem poucos alunos homens aqui
nesta classe, então não será difícil identificar: quem foi que bateu nele?
Silêncio
sepulcral.
Mas
Lune percebeu também, que era uma chance de ouro para a garota que queria
namorar a ele se aproximar dele.
-Makoto-kouhai,
por favor acompanhe o Sato-kouhai até a enfermaria e cuide dele !
-Sim
, senhora, sensei !
Lune
definitivamente não estava acostumada a ser chamada de senhora !
A
jogada de Lune foi estratégica: ao mesmo tempo, “empurraria” Makoto para cima
de Sato para ver se eles conseguiriam formar um casal, e assim, fazer Sato a
esquecer,; por outro, ela deixando de leva-lo pessoalmente ‘a enfermaria, dissiparia
os boatos de um suposto romance entre ela e ele, que não existia, nem nunca
existiu.
Sato,
por sua vez, claro, preferia mil vezes que Lune o levasse para lá, e foi de
cara fechada e mau humor.
Já
Makoto ficou toda feliz, e o pegou pelo braço e praticamente o arrastou ‘a
força pelos corredores.
E a
universidade inteira ver esta cena, por sua vez, reforçaria a falta de
fundamento dos boatos sobre Lune, e geraria novos boatos sobre Makoto e Sato, o
que teria o potencial de fazer os alunos esquecerem de Lune e se distraírem com
outra coisa.
O
sorriso de Lune era indisfarçável diante do sentimento de frustração da classe,
que esperava que ela conduzisse o rapaz;
Mas
este sorriso logo desapareceu, seguido por um semblante sério e severo:
-Muito
bem, insisto: Quem foi que bateu em Sato-houkai?
Mana,
uma das alunas, desta vez disparou uma provocação:
-Por
que tanto quer saber, sensei?Acaso o ama tanto assim, para tentar proteger a
ele?
Lune
respondeu de bate e pronto:
-Por
que bullying contra qualquer pessoa eu considero vergonhoso e de uma falta de
caráter, de um fascismo inaceitável!Eu não o amo, eu sou casada e amo o meu
marido, e você, o ama, Mana-kouhai?
A
aluna corou da cabeça aos pés, não só pela provocação de Lune, mas também, e
principalmente, pelo olhar de chacota das demais colegas.Era como se existisse
uma norma na classe:era proibido amar a Sato, ou quem desafiasse este tabu
seria imensamente ridicularizado e humilhado por todos.
-Ora,
se não é uma reação sociológica de preconceito e aversão social aos Diferentes
que estou vendo aqui...
Exlamou
Lune em tom de ironia crítica ‘a classe.
-O
bullying é uma tradição no Japão, da qual nos orgulhamos !Não toleramos os
fracotes, só os fortes dominam !
-Ah,agora
pronunciou-se o senhor machão garanhão todo poderoso fascista hipócrita, com
seu falso moralismo e seus pseudo valores neoliberais, heim, Katahiro-houkai? Tinha
mesmo de ser um homem metido a valentão, troglodita e ignaro, machista e homofóbico mesmo !Covardes
adoram defender suas machistices...
Katahiro,
o aluno mais valentão e musculoso da turma, verdadeiro brutamontes, viciado em
musculação,ficou furioso!
Ele
se levantou da cadeira, inconformado, e,
para espanto da classe, berrou:
-Professora
Comunista! Feminista !Feminazi !
Agora
o semblante de Lune mudou de ironicamente sorridente para colérico:
-Respeite
sua professora, Katahiro-houkai ! Que insubordinação e insolências são estas?Já
para a Diretoria !Você está expulso da classe !
Katahiro,
revoltado, chutou sua carteira e cadeira e saiu rosnando xingamentos em murmúrio, e deixou a classe, que
jazia em um silêncio espectral, ninguém
esperava um arroubo de autoridade destes de Lune,acharam que ela iria se abater, se deprimir e chorar na frente da
classe, mas ela era muito mais forte do que eles pensavam !
Mas
agora a situação de Lune na universidade se complicava, pois ficaria com fama
de comunista e feminista no ambiente
universitário todo. Afinal, a tradição da cultura japonesa, muito machista,
demandava que as mulheres fossem submissas e introvertidas, e que nunca
reagissem violentamente, sobretudo quando um homem gritasse com ela, ela teria
de ouvir calada. Mas quem esperasse tal comportamento de Lune , não a conhecia,
ela não era, nem nunca foi, mulher de se submeter a jugo de ninguém !
(Por Continuar)
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